Michelle nunca se imaginara voltando para o mesmo orfanato no qual fora criada. Entretanto, lá estava ela, ajoelhada no piso de madeira, secando uma poça formada por uma goteira. Secou, secou e secou mais um pouco, e, quando não havia mais nada para secar, continuou a esfregar o pano contra o chão. Não queria fazer mais nada- só queria ficar ali, naquele chão sujo, secando uma poça inexistente.  

Precisava manter a mente e o corpo ocupados, precisava impedir-se de pensar nos acontecimentos daquela fatídica terça-feira. Pingaram mais algumas gotas, e a garota esfregou com mais força. A esse ponto, já não conseguia mais diferenciar os pingos da chuva de suas próprias lágrimas.

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— Você vai ser meu novo papai? E você, minha mamãe?- A menina perguntou, um olhar brilhante e esperançoso em seu rosto negro. Os lábios tremiam, quase que hesitantes para mostrarem aquele belo sorriso infantil.

O homem e a mulher sorriram. Eram um casal simples- o homem, um arquiteto, e a mulher, uma professora. Ele era um francês puro, ela uma descendente de ingleses. Tinham uma casa de dois andares, um quintal grande e um aquário com dois peixes. Ele era gentil e brincalhão, sabia como tratar mulheres e crianças, ela, apesar de severa à primeira vista, tinha o coração mole como mel. Tinham tudo para providenciar um bom lar e família para uma criança.

— Exatamente, minha querida. A partir de hoje, você irá viver conosco- O homem respondeu, abrindo os braços, onde a menina jogara-se quase que imediatamente, saciando as suas saudades de um abraço afetuoso e paternal. Inspirou e expirou, deixando aquela fragrância entrar em suas narinas. Foram poucos segundos para que estivesse jogada contra o peito macio da mulher, sentindo os dedos suaves passearem por seus cabelos.

Michelle nunca imaginara que conseguiria uma família de maneira tão fácil. Entretanto, lá estava ela, sendo recebida por uma fragrância um tanto estranha, porém, ao mesmo tempo, deliciosa, e por carinhos em seus longos fios negros. Um pai e uma mãe. Uma família.

Ergueu a cabeça e duas mãos foram-lhe oferecidas. Aceitou as duas, um sorriso cobrindo todo o seu rosto. Sentia que, logo, lágrimas iriam cair por seus olhos e tinha a impressão de que seu pai e sua mãe sentiam o mesmo.