A queridinha do Olimpo escrita por Emily Hardwell


Capítulo 2
Garotas crescidas não choram


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo ;)



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Olho para trás e, ao invés de ver a madeira pintada de branco desgastado, vi algo que me fez lembrar de um livro que já lera para Rob, cujo título era... "Histórias Greco-romanas", mas um simples desenho de um livro antigo não se compara com a realidade. Eu tenho um péssimo defeito de lembrar de coisas inúteis nas horas mais inoportunas, e, definitivamente, não havia momento mais inoportuno para lembrar daquilo que agora.

Um fuking bicho com corpo de leão, asas de morcego e ferrão de escorpião ARRANCOU minha fuking porta.

Será que me drogaram no trabalho? Não deve ter sido isso, afinal, só bebi água.

Sem nem pensar duas vezes, gritei para minha mãe correr até o quarto de Robbin e me lancei em direção a cozinha, onde teria mais chance de matar aquele... ser, já que lá tinha facas.

Peguei todas que consegui, pequenas, grandes, afiadas e serradas e as segurei com força, esperando que a coisa me seguisse e, por sorte, me seguiu.

Nunca fiquei tão grata por trabalhar naquela boate que me dava dor de cabeça todos os dias por conta da música alta, já que, no quarto dos funcionários, havia um jogo de dardos e, por treinar com aquilo praticamente todo dia em meu horário de folga, minha mira melhorara bastante nesses últimos tempos. A única diferença é que ele não era um alvo, não estava parado e queria me matar.

Só tinha que acertá-lo. Só isso (recitava isso em minha mente para me acalmar), até que, finalmente, lancei as facas.

Uma ficou no pescoço, três pegaram nas asas e muitas espetaram o tronco, mas sua cauda de ferrão de escorpião ainda estava livre. Ela estava preso na parede, espetado por várias facas, por isso não faço a mínima ideia de como ele poderia continuar vivo, mas, com certeza, morto ele não estava, já que me jogou contra a parede com a única parte de seu corpo que ainda estava livre, me fazendo bater a cabeça.

A parte mais irônica daquilo tudo era que, o animal que mais temo é o escorpião e, depois de hoje, essa fobia seria justificada.

Não estava enxergando direito graças a pancada e, talvez, também pudesse estar delirando, mas eu vi uma garota morena e um garoto loiro entrando no recinto, ambos com armas. O garota estava com uma espada, devido ao tamanho e, a garota, com algo do tamanho de uma faca. Não pude distinguir seus rostos, já que enxergava tudo embaçado. Essa foi a última coisa de que me lembro antes de apagar.

 

Meus sentidos despertam ao som doce de uma vozinha dizendo "Acorda, maninha"e então, por um momento, pensei que tudo fosse apenas um sonho e que, ao abrir meus olhos castanho escuro, notaria que dormi no sofá, tive um pesadelo e que já estaria de manhã, mas, como já mencionei antes, isso não se compara com a realidade.

E, a realidade, era que eu estava desmaiada no chão da cozinha, com Robbin tentando, desesperadamente, me acordar, com as facas ainda presas a parede, mas não havia nenhum bicho ali, apenas poeira negra no chão e, ao olhar para a janela, vi que ainda estava escuro.

Quando percebi que tudo tinha acontecido, que nada era mentira, sentei-me corretamente e analisei o pequeno garoto de cabelo castanho claro, quase loiro, olhos castanho claro e corpinho esguio, para ver se nada acontecera com meu protegido.

—Você está bem? O que houve com você? _Perguntei atropeladamente, me preocupando caso tivesse acontecido algo com ele. Ele me abraçou e falou que isso era inútil, já que nem vira tal ser. Eu estava muito ocupada respondendo suas perguntas (não estava com paciência, mas ainda fazia meu máximo para não ser rude), que nem vi minha mãe se aproximando da porta. Assim que Rob terminou de me ajudar e levantar, Minha mãe disse sem pesar:

—Você tem que sair daqui! Ainda hoje, antes dos policiais chegarem aqui. _Acho que alguns parafusos do cérebro da minha mãe saíram junto com os da porta, afinal, como ela espera viver sozinha, sem minha ajuda, sendo que ela não faz absolutamente nada além de ficar em casa e, de vez em quando, esquentar a comida? Minha mãe usa a desculpa de não poder encontrar emprego para ficar em casa cuidando de Robbin, mas sei muito bem de que ela apenas não quer pegar no pesado.

—Você enlouqueceu?

—Aquele monstro estava atrás de você, não de nós e, indo embora, ficaremos mais seguros.

Ajeitei minha postura e comecei a falar friamente, porém irritada.

—Não vou deixar Rob sob sua proteção! Você sabe muito bem que quem faz TUDO nessa casa sou eu, ou será que se esqueceu de quem compra a comida, quem paga o aluguel, quem paga as contas, quem paga a merda mensal do hospital, quem cuida do Robbin e até mesmo de você, então, se alguém for sair dessa casa vai ser você! _Estava cansada de ver a maioridade da minha mãe, afinal, ela pode ter me dado à luz, mas nunca fez mais que isso. Ela deu uma risada em resposta da minha irritação.

—Esse apartamento está em meu nome, não no seu. A guarda legal de Robbin está no meu nome, _ela fez uma pausa dramática e continuou _não no sei, agora, se quiser mudar isso, vai ter que entrar na justiça, mas, agora, você vai ter que sair daqui.

Odiava admitir, mas ela estava certa. Ela ganhou essa batalha, mas não ganhou a guerra. De qualquer jeito, ela não iria conseguir o que queria.

—Irei pegar minhas coisas. _Ao sair da cozinha, nem tive que olhar para trás para saber que minha mãe estava com um sorriso de êxito.

Gostaria de poder dizer que ela nem sempre fora assim, mas estaria mentindo. Desde que me lembro, ela era manipuladora, mentirosa e que faria de tudo para conseguir o que quer. Dou graças a Deus por nem eu ou meu irmão termos puxado seus genes ruins.

Já no quarto, pude escutar meu irmão chorando e gritando "EU TE ODEIO" para minha mãe repetidamente. Um ponto positivo de ter pouca coisa é que não demora nem um pouco para arrumar tudo.

Um casaco fino, um casaco grosso (um sobretudo, para ser mais correta), duas blusas, uma calça jeans e outra de moletom, roupas íntimas, a sapatilha que já estava no meu pé e um tênis, que ganhara de amigo oculto que os empregados da boate fizeram, o que acabou me incluindo, mas o que dei para o meu amigo oculto não havia sido somente um chaveiro. Por incrível que pareça, tudo coube em minha mochila preta.

Assim até parece que tenho apenas isso, mas fui pegando o que mais uso, o que foi até conveniente usar geralmente as mesmas peças de roupa.

Peguei minha carteira que estava sobre o criado mudo, peguei todo o dinheiro que estava separado ali e a coloquei na mochila também. Indo para a saída, vi meu irmão soluçando, com o rosto vermelho e inchado de choro sentado em um canto do corredor. Me abaixei a seu lado e depositei o dinheiro em suas mãozinhas pequenas.

—Olha, quero que me escute com muita atenção. Na última sexta feira do mês, você vai ter que ir no hospital que a gente sempre vai pagando o táxi, o que eu sei que vai conseguir pois é muito bom em matemática e você já conhece o caminho, então não vai se perder, entregar o resto desse dinheiro para a Juliet _que seria a recepcionista, mas nós já a conhecemos bem demais para chamá-la apenas de "recepcionista" _e falar que quer ver o Sebastian, _que seria o médico que cuida de Rob_ ele vai saber o que fazer._ Dei um beijo em sua testa e levantei, mas ele segurou minha perna e falou:

—Você não pode me dar todo o seu dinheiro! _Na verdade, pensei comigo mesma, esse dinheiro, desde quando o recebi, nunca fora meu, pois ele era a quantia exata para todas as despesas da casa e o tratamento de Robbin e, agora, a única coisa que poderia pagar era, no máximo, sua viagem de ida e volta para o médico e seu atendimento. _Como você vai se sustentar?

Estava com a ideia de dormir no casa de Lucy, minha amiga DJ do Club em que trabalho, mas ainda não sabia se realmente faria isso.

—Você sabe que sempre dou um jeito. _Aleguei com confiança, esperando passar esse mesmo sentimento para ele, o que, aparentemente, deu certo, já que ele concordara com a cabeça, mas logo me pediu para esperar ali, voltando com uma quantia considerável de dinheiro que nunca pensaria que meu irmão poderia ter.

—Já que estou com seu dinheiro, acho que não há nada mais justo do que você ficar com o meu. _Terminou me estendendo aquilo, o que agarrei ainda confusa.

—Como você conseguiu todo esse dinheiro? _Perguntei preocupada com as milhares de teorias que começara a formar em minha mente, como ele ter roubado ou até mesmo vendendo suas coisas, mas tive que me acalmar, afinal, ele não é assim.

—Sempre em alguma data especial, você me dá um pouco de dinheiro porque não teve tempo de comprar alguma coisa e eu guardei tudo até agora. _Em um gesto rápido, tentei devolver o que estava em minhas mãos.

—Eu te dei, o que significa que é seu, não meu. _Ele fechou meus dedos, guardando o capital na minha palma.

—E agora eu estou te dando, o que significa que não é mais meu. _ Dei um sorriso afetado por tudo que estava acontecendo e o abracei novamente.

 

Já na porta, virei-me para minha mãe e falei:

—Eu ainda vou buscá-lo, então não vá achando que ganhou. _Assim que disse isso, escutei uma sirene longe daqui, mas teria que me apressar para sair do prédio. Enquanto descia as escadas, Rob correu atrás de mim, tropeçando nos degraus.

—Você não pode me deixar aqui!, você não pode ir embora como o papai foi!

—Eu não sou nem um pouco parecida com o papai, porque eu vou voltar e, nunca, nem por um segundo, pense que eu te deixei. _Meu irmão me deu um última abraço apertado e me deixou com os olhos marejados, mas então olhei para cima, vi minha mãe e me segurei, afinal, garotas crescidas não choram.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse novo capítulo e, só uma observação, eu imagino a Ellie como a Nina Dobrev de cabelo longo :).



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