O cúmulo da solidão, para mim, sempre foi passar o Natal sozinho. Eu acabara de rever meus conceitos. O cúmulo da solidão era passar o Natal sozinho, em Nova York, num bar de quinta, depois de ser mandado embora pela sua mãe com a desculpa de que "Eu te falei no ano passado que se você não voltasse com uma namorada, não precisaria nem voltar! Travis Stoll, quando você vai se ajeitar?". Oh, obrigado mãe, feliz Natal pra você também!

Quando estiver velha e gagá e Connor quiser te colocar em um asilo e eu for a única pessoa que você tiver para recorrer, vou falar "Eu te falei no ano passado que se você não voltasse com uma coelhinha da playboy e um milhão de dólares, não precisaria nem voltar! Marie Stoll, quando você vai morrer de vez?".

Tudo bem, talvez eu não fosse tão cruel, minha mãe podia ter um pouquinho de razão, afinal, ela marcou encontros com filhas de suas amigas o ano inteiro para mim, mas eu simplesmente não queria uma namorada, era tão difícil aceitar? Sou um homem, posso ter voz quanto a minha vida amorosa, certo? Errado, quando se é filho de Marie Stoll.

Então o que eu fiz depois de ser enxotado da casa da minha mãe? Fui beber, como qualquer outro solteirão no Natal. Mas uma coisa que é realmente difícil de achar na noite de Natal é um bar. Pior ainda: Um bar sem aquelas famílias de motoqueiros ou casais adolescentes se pagando de rebeldes passando o aniversário de Jesus Cristo bebendo e cantando rock dos anos '60. Crianças.

Well, she was standing in a bar

I said: "hello how do you do? "

She handed me a beer with a kangaroo

Eu tive a sorte de nesse bar ter, pelas minhas contas, uma mulher gostosa e aparentemente solteira. Afinal, ela estava ali, tomando uma cerveja conversando com a senhora mal encarada do bar na noite de Natal. Ela só podia ser solteira! Me aproximei e na maior cara de pau a cumprimentei.

— Olá, como vai? - Ela sorriu pra mim e soltou um risinho dando um olhar cheio de significado para a atendente, a mulher do bar revirou os olhos e me passou uma cerveja igual a dela, com um canguru no rótulo.

— Já tomou dessa? - Ela perguntou tomando mais um longo gole do líquido. Olhei para a garrafa, intrigado.

— Não, de onde conhece essa cerveja? - Tomei um gole, era mais suave que as cervejas que eu costumava tomar, um pouco mais adocicada também. Combinava com o que a mulher a minha frente me passou, uma beleza suave, doce, mas marcante. Bebi mais um pouco.

She spoke of places I had never been

That she had travelled to

— Ah, eu fui pra Austrália. - Apontou o rótulo. - Lá eles não gostam muito de cerveja, na verdade, as pessoas costumam até brincar que a cerveja é tão ruim que eles exportam. - Bebeu mais um pouco lambendo os lábios em seguida e dando um sorriso tímido. - Não sei porque, eu gosto.

And we slow danced alone to faster tunes

I made her laugh, I made a pass

Era fácil conversar com Katie, ela gostava de falar e eu me divertia ouvindo-a. Quando já estávamos na terceira garrafa, mas não bêbados já que a suavidade da bebida não permitia, uma música rápida começou a tocar.

— Me concede a honra dessa dança, senhorita Gardner? - Brinquei fazendo uma reverência. O riso que ela me deu antes de revirar os olhos fez com que eu ganhasse meu dia, ela pegou minha mão e me arrastou para o centro da pista. Antes que ela começasse a pular junto de todos os outros fiz com que encostasse sua cabeça em meu peito e lentamente nos movemos em meio aos corpos pulsantes. Ela ria quando eu girava-a e fazia com que voltasse para perto de mim, por vezes quase éramos pisoteados, mas isso não fazia com que ela parasse de sorrir.

I showed her my half—dollar ring, she said

"That's pretty cool

But classy girls don't kiss in bars, you fool."

— Eu chamo esse passo de half-dollar ring. - Disse em seu ouvido enquanto pegava seu dedo e a girava, por fim pressionando seu tronco no meu, encostando nossos narizes.

— Isso é muito legal. - Ela respondeu com o nariz encostado ao meu e um sorriso radiante que era o reflexo do meu. - Mas garotas de classe não beijam em bares, seu bobo. - Ela riu e foi sua vez de me girar.

So later on the crowd calmed down

Não vi o tempo passar, e creio que ela também não, pois quando nos demos conta eram poucos os que ainda estavam na pista. Meus pés doiam e minha cabeça latejava, minhas pálpebras pesavam e de repente, quando a luz já estava mais clara, me dei conta de que seus olhos eram incrivelmente verdes, o rosto tinha formato de coração e a boca parecia duas pétalas de rosa suaves e rosadas.

And I believe it was as if

Something drew me closer to her lips

Picture my surprise when I had

Tried to lean in for a kiss

Não tenho tempo de pensar e antes que perceba estou me aproximando de seu rosto, segurando suavemente sua cintura, seus cílios piscavam involuntariamente e vi que ela queria aquilo tanto quanto eu. Seria apenas um beijo, mas eu estava nervoso. Fora uma noite maravilhosa e não queria estragar tudo beijando-a de modo brusco, queria que ela autorizasse aquele singelo toque.

And she just smiled and turned her head down quick

I asked her why, and she replied

Mas antes que eu conseguisse tocar-lhe os lábios com os meus ela abriu um sorriso tímido e olhou para o chão, posicionando as mãos em meu peito. E eu me preocupei por esse gesto, o que eu teria feito para que ela não aceitasse meu beijo?

It was nothing I was doing wrong

It's just what it is

But classy girls, don't kiss in bars like this

— Não é nada que você fez de errado. - Ela disse ainda sorrindo de canto, olhando para os pés. Subiu o olhar para meu rosto e abriu mais o sorriso, mas ainda tímida, como se estivesse sendo pega comendo um biscoito antes do jantar. - É apenas o que é, garotas com classe não beijam em bares como esse.

No, classy girls don't kiss in bars

Boys will break their backs and hearts

But it's all right

The hardest part is through

Eu nunca mais vi Katie Gardner. Sabia que se um dia nos víssemos eu não me controlaria e a beijaria, estivéssemos em um bar ou não. Poderiam se passar dias, meses, anos. E passaram. Na verdade, creio que ainda passarão muitos mais antes que eu encontre a garota por quem me apaixonei em uma noite.

E é por isso, que ainda hoje, todos os natais de minha vida eu ignoro por completo minha família e os insistentes pedidos da minha mãe para que eu encontre uma namorada e volto àquele mesmo bar, bebo aquela mesma cerveja e converso com aquela mesma mulher mal encarada, que agora me olha com um sorriso triste toda noite do dia 25.

Sim, garotas com classe não beijam em bares. Os homens podem tentar, quebram suas costas e seus corações, mas está tudo bem. A parte mais difícil é no meio, quando ela te olha com aqueles grandes olhos verdes e você sente que nada no mundo seria mais incrível que vê-los todos os dias pela manhã. [...]

Final Alternativo

[...] E uma noite ela realmente apareceu, com o cabelo agora curto, mas com o mesmo sorriso radiante. Ela olhou para mim e seus grandes olhos verdes demonstraram surpresa e reconhecimento. Na sua mão, uma garrafa com um desenho de canguru.

— O que faz aqui, rapaz? - Disse como se não me conhecesse, mas seu sorriso provava o contrário. - Saiba que não tem chances, garotas com classe não beijam em bares. - Me aproximei murmurando de forma que nossos lábios se tocassem enquanto eu falava.

— A parte mais difícil, é no meio. - Depositei um simples selinho, quase que imperceptível. - Depois você perde a classe.