Estefânia folheava algumas revistas de moda, enquanto aguardava a chegada do primo na sala de estar. Estava muito curiosa a respeito daquele jantar. No fundo torcia para que o primo encontrasse boa mulher boa, que o fizesse feliz, mas que acima de tudo acolhesse Dulce Maria como uma filha, e Cecilia tinha todas aquelas qualidades. Em sua cabeça fazia total sentido ajudar na construção daquela família. Achou estanho a campainha tocar. Quem seria aquela hora? Levantou-se e caminhou até a porta, arregalando os olhos com o que viu. Gustavo carregava a ex-noviça, aparentemente adormecida, nos braços.

— Boa noite prima, por favor uma ajudinha aqui...- pediu o empresário, dando um pequeno empurrão da porta com os pés.

— Opa! Posso perguntar o que aconteceu? - indagou a estilista.

— Champagne...- respondeu Gustavo, simplesmente - Vou levar a Cecilia até o quarto de hóspedes des e volto para te explicar tudo...sei que não vai dormir sem saber de nada...- riu, subindo as escadas.

— Aviso a Fátima que a Cecilia passará a noite aqui...e cuidado para não errar o caminho e encontrar só sua cama...- brincou.

Ao chegar no quarto, o empresário deitou a jovem cuidadosamente e sentou-se ao seu lado, tirando suas sandálias. Tinha certeza que a cabeça de Estefânia se encheria de minhocas ao presenciar seu gesto de cavalheirismo. Diminuiu as luzes do quarto e fechou as cortinas. Cecilia teria uma bela dor de cabeça na manhã seguinte e não queria que a claridade a incomodasse. Caminhou até a porta, mas parou no batente, dando meia volta e se aproximando novamente. Inclinou o corpo e beijou suavemente a fronte da ex-noviça. "Boa noite Cecilia, sonhe com anjos" disse antes de sair.

— Vou preparar um café, porque estou vendo que a noite será longa...- sorriu Gustavo, caminhando até a copa, quando voltou para sala e viu a prima aguardando.

— Quero todos os detalhes...- pediu a estilista.

— Não tem detalhe nenhum Estefânia. Nós apenas jantamos, dançamos um pouco, bebemos como bons amigos...e como a Cecilia não está acostumada, caiu no sono...- explicou sucintamente.

— Bons amigos? Desde quando? Dançaram é? Aonde vocês foram? - perguntou ansiosa.

— Ei vai com calma...Fomos ao Consolini...

— Consolini?! Mas esse restaurante era o...

— Favorito da Tereza...- completou Gustavo - Eu sei...mas eu achei que...que a Cecilia merecia já que ela ama tanto a minha filha...

— Sei...entendo...- riu Estefânia - E como foi? O que você achou?

— Ah...foi...bem foi meio surpreendente...- respondeu o rei do café, entregando uma xícara para prima, enquanto se sentava.

— Surpreendente é uma ótima palavra!

— Não achei que seria tão natural sabe...conversamos bastante e nem foi sobre a Dulce...eu conhecia muito pouco sobre a vida da Cecilia antes dela optar pela vocação religiosa...- Gustavo começou a se abrir, sabendo que a prima o bombardearia de perguntas que ele não gostaria de responder. Porém, sentia-se confortável com ela, que era como uma irmã. Resolvera apenas guardar a parte do quase beijo.

— E isso não é bom?

— Eu não sei...não quero passar a impressão errada e nem magoar ninguém! - exclamou.

— Primo...ai primo eu nem sei mais o que te falar...Eu tenho tentado tanto fazer você enxergar...- suspirou - Mas você é muito lerdo...Pronto falei...

— Estefânia!

— A Cecilia é uma moça jovem, bonita, com um coração enorme e tenho certeza que morre de amores por você!

— Não sei não...ela tem tanto carinho pela Dulce e....

— Quando você vai tirar a Dulce dessa história?! Isso é entre você e a Cecilia...eu tenho quase certeza que ela tem sim sentimentos profundos por você primo...Só não tem coragem de dizer, pois não sabe se é recíproco ...Agora eu não sei que drama todo é esse dentro da sua cabecinha, que te impede de tentar...Você parece lutar contra...credo...

— Eu já disse Estefânia...Não quero magoar ninguém...Eu amei muito uma pessoa que se foi, fiz outras tentativas e todas foram frustradas...

— Com a Nicole foi uma tentativa totalmente inútil né, porque aquela lá...nem quero falar! Só serviu para torrar seu cartão...

— Por que vocês querem tanto que eu me case com alguém hein? - riu Gustavo, tentando descontrair a tensão.

— Vocês quem?

— O fã-club da Cecilia...Você, Gabriel, Dulce, e tantos outros que nem sei...

— Porque você merece ser feliz com alguém que te ame muito e ame sua filha...

— É isso Estefânia...tenho que tomar muito cuidado, se eu me relacionasse com a Cecilia e não desse certo, muita gente sairia magoada...eu, ela, a Dulce, vocês...é difícil...E...e eu não sei ainda o que sinto de verdade por ela...

— E se não der certo com ela vai dar com quem mais? Com a Verônica?

— Talvez...ela é uma mulher madura...que já teve outros relacionamentos...

— Olha só! Se for assim a Rosana tem chance!

— O assunto é sério Estefânia...

— Olha primo....A Verônica é muito bonita, legal, madura...mas seus olhinhos não brilham quando a vê ou fala dela...- sorriu tia Perucas, levantando-se e dando um beijo no rosto do empresário - Vou dormir agora...por favor...Lembre-se que o arrependimento é a vergonha do orgulhoso...

— Pensarei no que me disse prima...obrigada...

— Boa noite...- concluiu a estilista, deixando o rei do café perdido em pensamentos.

...

No dia seguinte Cecilia acordou tarde. Estranhou a cor das paredes, a textura da cama, os móveis. Só se deu conta de onde estava, quando sentiu um corpo pequeno, porém, cheio de energia, pular ao seu lado.

— Ceci! Você dormiu aqui e eu nem sabia nadinha?! - perguntou Dulce, sorridente.

— Oi meu amorzinho...- cumprimentou, abraçando a pequena, apesar de se sentir ainda deslocada. Percebeu que estava com as mesmas roupas da noite anterior e seu coração começou a bater forte. O que teria acontecido?! Por que dormira naquela casa?

— Ceci? - chamou a menina, vendo sua protetora distraída.

— Desculpe Dulce...É que eu acabei de acordar....- explicou.

— Você vai morar com a gente agora? - continuou a garotinha, cheia de esperança.

— Bom dia Cecilia...com licença...- pediu Estefânia, entrando no quarto - Bonequinha eu não disse para você deixar ela dormir?

— Disse titia...mas eu fiquei com saudades...- explicou Dulce, derretendo o coração das duas mulheres.

— Tudo bem Estefânia...E nãopororom Dulce...não vou morar com vocês...

— Vamos tomar café? Eu trouxe uma troca de roupas e escova de dentes...Pode tomar um banho se quiser...- disse Estefânia, solicita.

— Obrigada, quero sim...- respondeu Cecilia, meio envergonhada com a situação.

— Vem Dulce, vamos deixar a Cecilia sozinha...

...

Após o banho quente e a noite bem dormida, a ex-noviça se juntou à família Lários. Deu graças a Deus quando viu que Gustavo não estava presente, pois não sabia com que cara ficaria na frente do empresário após a última noite.

— Ceci, você gostou de jantar com meu papi?

— Gostei sim Dulce...- respondeu, sem fome,bebendo apenas um copo de leite.

— Teve beijo de novela? - continuou Dulce, inocente, fazendo Cecilia enrubescer.

— Dulce! - repreendeu Estefânia rindo - Teve? - questionou, curiosa.

— B-be...beijo? - gaguejou a ex-noviça, após engasgar com o suco.

— Iiiih ficou vermelhinha...- riu a menina - Ceci...posso te perguntar uma coisa importante que tem aqui na minha cabeça?

— Pode minha linda...o que é? - dando graças a Deus que a menina emendava outro assunto.

— Agora que você não vai mais ser irmãzinha, você gostaria de ser minha mamãe?

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