Quando Cecilia chegou ao foodtruck, já eram quase onze da noite. O lugar estava relativamente calmo. Vitor servia algumas mesas, e Fátima começava a limpar o lugar. A ex-noviça seguiu direto para o balcão atrás da irmã, sem reparar muito no lugar, sorridente...

— Surpresa! - exclamou, fazendo Fátima dar um pulo para trás.

— Oi Cecilia...o que faz aqui? - perguntou a mais velha, forçando um sorriso, enquanto observava o casal ao lado de esguelha.

— Credo Fati...Vim te fazer uma surpresa e te buscar no seu primeiro dia! - explicou Cecilia.

— Ah maninha...Obrigada...Não precisava... Você deve estar cansada de ficar na rua o dia todo...

— Não para você que sempre se preocupa tanto comigo...Pensei que pudéssemos não sei...comemorar seu primeiro dia...

— Claro...eu já estou terminando aqui...

— Bom então eu vou me sentar em algum lugar e te espero...

— NÃO! - exclamou Fátima, alto, quando viu que a irmã ia se virar bem no momento que Gustavo acariciava o queixo de Verônica, aproximando seu rosto ao da moça.

— O que foi Fátima? Você está tão estran...- Cecilia não terminou a frase. Seus olhos azuis se arregalaram, atentos a cena que se desdobrava à sua frente. Gustavo estava muito, muito próximo de Verônica. Os olhos de ambos se fecharam. Naquele instante Cecilia sentiu algo que nunca se permitira sentir. Ciúmes. No momento que Gustavo encostara seus lábios nos daquela mulher, o sangue da ex-noviça ferveu em suas veias e suas mãos se fecharam em punho.

— Maninha...- tentou Fátima. Vitor que voltava para o balcão, parou no meio do caminho, observando.

Cecilia deu um passo para trás, esbarrando em uma das mesas. Ela não queria, mas seus olhos se encheram de lágrimas quentes que lhe embaçaram a visão. Virou-se sem pensar e saiu correndo para longe dali. Vitor fez um sinal com as mãos, para Fátima parar o que estava fazendo e seguir a irmã.

Quando alcançou o carro, a ex-noviça abriu a porta, enxugando as primeiras lágrimas que caiam, com a manga da blusa. Colocava a chave no contato quando Fátima a alcançou.

— Ei ei...me dê as chaves, eu dirijo...- pediu a mais velha, autoritária. Cecilia pulou para o banco de passageiros e Fátima fechou a porta - Cecilia...

— Conversamos em casa, pode ser? - pediu.

— Tudo bem...- concordou a cozinheira.

...

Ao chegar em casa, Cecilia foi logo para o quarto. Fátima foi atrás da irmã, sentando-se na cama ao seu lado...

— Maninha não fique assim...- pediu.

— Assim como? - perguntou Cecilia, sentando-se, encostando as costas na cabeceira.

— Triste...- continuou a mais velha, acariciando os ombros da irmã.

— Não estou triste...- declarou a ex-noviça, enxugando novamente o rosto.

— Não? - estranhou Fátima - Está até chorando...

— D-de raiva...estou chorando porque eu nunca senti isso na vida...não quero sentir! Essa...essa raiva tão grande de alguém...é horrível! - reclamou Cecilia.

— Faz parte maninha...parte de estar apaixonada...- riu Fátima - Mas vai passar...e essa "raiva" que você está sentindo, é ciúme...E se prepare, porque se você quiser ter um final feliz com o papai bonitão, vai se sentir assim a vida toda...- brincou.

— Prefiro esquecer tudo...

— Cecilia...Eu sei, é difícil estar apaixonada e não ser correspondida...mas o tempo coloca tudo nos eixos...agora vamos dormir...

— Desculpe por estragar nossa comemoração...

— Esquece isso... - respondeu Fátima, dando um beijo de boa noite na irmã - E olha só...o Gustavo será um idiota se não quiser nada  com a minha irmãzinha tão linda...Boa noite...

— Boa noite...e obrigada...