O Caso da Cliente Inesperada escrita por Saori


Capítulo 1
Capítulo Único — O Caso da Cliente Inesperada.


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira oneshot sherlolly aqui no site, espero que gostem, de verdade. Vamos surtar um pouquinho, porque eu já surtei bastante sozinha.



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Lembrava-se de ter se sentido inseguro em um, ou talvez dois, casos. Mas nada chegava perto daquela sensação de insegurança que sentia naquele dia. Insegurança. Indecisão. E, por mais que detestasse admitir, medo. Ora, ora, então aquele era o famoso sociopata altamente funcional Sherlock Holmes? Não, nem de perto. Altamente funcional, sim, mas não o sociopata. Não desde que Eurus decidira lhe pregar a mais cruel das peças.

Não, ele não lembrava sentir-se assim em nenhum caso, nem sequer em algum outro momento da sua existência. Era estranho. O único detetive consultor do mundo, suposto sociopata altamente funcional e expert das deduções deveria, no mínimo, entender a si mesmo. Contudo, de um tempo para cá, tudo tem andado meio conturbado.

Aquela era, no mínimo, a quarta vez naquela semana que ele saíra de casa com uma decisão tomada e decidira mudá-la. Imagine o que pensariam os meros mortais caso vissem o famoso detetive consultor naquela situação lamentável. Lá estava ele, caminhando pelas ruas de Londres naquela noite de sexta-feira, com a cabeça tomada por pensamentos completamente humanizados. A tentativa de brincadeira da sua irmã, afinal, havia sido um tanto quanto perturbadora. Já estava na Baker Street quando avistou a luz do apartamento 221B acesa. Naquele horário, aquilo só podia significar uma única coisa — cliente. Ele suspirou, impaciente. Aquele não era o melhor dia, tampouco o melhor horário. Na verdade, nenhum dos dias da semana teria agradado o instável estado de espírito de Sherlock Holmes. Ou quase isso, se ele acreditasse em espíritos.

Adentrou o pequeno apartamento às pressas, impaciente. Por mais que não estivesse satisfeito com a ideia de ter alguém esperando-o para aceitar um caso às 22 horas da noite daquela sexta-feira em específico, detestava deixar qualquer que fosse o cliente esperando. Isso sempre lhe rendia reclamações sem fundamentos ou resmungos desnecessários que ele odiava ter que presenciar e preferia poder evitar.

— Ora, John, por que não me ligou? Sabe que eu detesto quando não me avisa que temos clientes. — Ele proferiu enquanto adentrava o cômodo da casa.

Entretanto, uma expressão surpresa tomou conta de sua face. Ele não esperava encontrá-la ali. Lá estava, Molly Hooper sentada na cadeira em que qualquer cliente — sem exceção — sentava-se para revelar os seus casos. Então, Molly tinha um caso? Que estúpido ele seria se não deduzisse que aquele suposto caso estava estreitamente ligado aos fatos sucedidos na noite em que passara entretendo-se — para não dizer o oposto — com os joguinhos de sua irmã.

— Anda, sente-se, Sherlock. Temos uma cliente. — John falou, encarando a feição pálida e indecifrável do detetive.

— Muito bem. — O homem respondeu e, em seguida, sentou-se sobre a poltrona destinada a ele.

Alguns segundos de um silêncio constrangedor tomaram conta da sala. Sherlock manteve-se estático enquanto encarava um ponto fixo do ambiente em que se encontrava. Molly, por sua vez, manteve um olhar voltado para o chão, negando-se a dizer qualquer palavra que fosse. John, em um ato súbito e inusitado para os outros dois companheiros na sala, limpou a garganta, buscando despertá-los dos próprios devaneios e evitar o evidente constrangimento.

— Muito bem, Molly. — Ele disse e deu uma pausa, voltando seu olhar para Sherlock que, por sua vez, também olhava para John. — Diga-nos o seu caso, vamos dizer se iremos aceitar ou não.

— Eu preciso mesmo dizer qual é o meu caso? — Ela indagou, como se a resposta fosse óbvia.
E era. Tanto para Sherlock — embora ele preferisse fingir que não — quanto para John. O médico acenou positivamente com a cabeça, indicando que era necessário que ela expusesse seu caso.

A patologista suspirou, demonstrando parte do nervosismo e da aflição que sentia naquele momento.

— O meu caso… — Ela iniciou em um tom de voz baixo e trêmulo. — O meu caso é o Sherlock. — Ela completou, com a voz mais firme, embora um pouco desajeitada. — Quer dizer, o meu caso é…

— Nós aceitamos o caso. — John respondeu rapidamente ao perceber o estado de aflição no qual ela se encontrava. — Sherlock, eu deixo o resto com você.

O médico levantou-se de sua poltrona e dirigiu-se até a porta, enquanto Sherlock o encarava com uma feição de quase desespero, inevitavelmente, deixando escapar uma pequena porção do que ele sentia naquele momento. Ah, sim, ele sentia. Nervosismo, aflição, um misto de sentimentos impiedosos e torturantes que ele jamais imaginaria sentir e que não desejava sentir novamente.

Então o silêncio voltou a invadir o lugar. O constrangimento inevitável tornou-se presente novamente, até que Sherlock decidiu pôr um fim naquela situação pouco agradável.

— Vejamos… — Ele fixou seu olhar sobre ela, de forma a analisá-la atentamente. — As vestes são simples, o que indicam que você não saiu andando pela rua ou em público. Não, você não veio caminhando, veio de carro, e você não pegaria um táxi assim. Você também não tem carro, o que me resta deduzir que… John Watson lhe trouxe até aqui.

Ele falou, tentando parecer normal e calmo. Ou melhor, tentando fingir estar em seu estado normal. Afinal, mesmo com aquela confusão dentro de si, ele ainda era capaz de realizar suas deduções magníficas e corretas.

— Já que você foi capaz de deduzir tudo isso, por que não simplificar as coisas? — Ela suspirou. — Você sabe porque eu estou aqui, Sherlock.

— Sim, você tem um caso, é óbvio. — Ele respondeu.

— Sherlock, eu não estou a fim de brincadeiras. Você sabe muito bem qual é o meu caso.

Silêncio. Mais uma vez aquela situação apavorante que consumia ambos. Ele mal conseguia compreender a própria inquietação mental inédita que estava vivenciando. Ela, por sua vez, sentia medo do rumo que a conversa poderia tomar. Não queria se machucar, não novamente, mesmo sabendo que não deveria esperar qualquer sentimentalismo do detetive consultor.

— Eu sinto muito. — Sherlock proferiu em um tom de voz baixo e sincero.

— Dias, Sherlock, se passaram dias. — Ela falou, em um tom de voz com um misto de tristeza e decepção. — Nenhum telefonema. Nenhuma visita. Nenhuma palavra. Tem noção de como isso tem sido? Tudo o que eu soube foi o que o Lestrade me contou, ou o que o John me contou e…

— Molly, o que eu quero dizer é…

De repente, ele foi interrompido pela voz feminina.

— Que foi um código. Sua irmã disse que me mataria caso você não me fizesse dizer… — Ela respirou fundo, tentando não se lembrar daquele momento doloroso e constrangedor. — Aquelas três palavras. — A legista pausou, voltando o próprio olhar para o chão. — Não foi a sua culpa, mas… Foi cruel. — Ela disse com a voz embargada.

Ele congelou por um momento. Lembrava-se da promessa que fizera a si mesmo naquela mesma noite apavorante. Ele jamais, sob qualquer circunstância, faria Molly Hooper chorar novamente.

— Molly, eu…

— Sente muito, eu já entendi. — Ela respondeu, antes de sequer deixá-lo terminar a frase.

— Não, Molly, eu quis dizer aquilo. — Ele falou, assim que reuniu coragem o suficiente para fazê-lo.

Quem diria que o frio e sem emoções Sherlock Holmes falaria aquelas palavras algum dia. A legista, na verdade, o encarava com uma feição extremamente surpresa, embora os olhos se estivessem levemente marejados devido à situação anterior em que se encontravam. Estática, ela permaneceu sem palavras, embora um intenso conjunto de informações passasse pela sua mente. Talvez ela estivesse apenas sonhando, como já sonhara inúmeras vezes anteriormente.

— Na verdade, foi ali que eu realmente me dei conta, Molly Hooper. — Ele disse, com um pequeno sorriso singelo e sincero presente em seus lábios.

A menina voltou o seu olhar para ele calmamente, passando a fitá-lo. A timidez tomava conta de si, o que resultava em uma constrangedora falta de palavras, enquanto ela buscava processar todas as informações ditas por ele. Balbuciou algumas vezes, buscando qualquer coisa que pudesse fazê-la sair daquela situação levemente vergonhosa, mas não obteve sucesso.

— Bom, você podia falar alguma coisa, sabia? — Sherlock disse, tranquilamente, como se não tivesse dito nada que fosse capaz de mudar a vida da menina sentada a sua frente por completo.

— O que você quer dizer com isso? — Ela perguntou, ainda incerta.

— Eu quero dizer que eu te amo, Molly Hooper. — Disse, deixando tudo mais claro e acompanhado do mesmo tom de voz sincero anterior.

Ela sentiu o coração parar por alguns segundos ao ouvir aquelas três palavras novamente, dessa vez, com mais convicção. Deu um suspiro, retomando toda a coragem que ainda sobrava dentro de si para que pudesse, por fim, respondê-lo.

— Eu também te amo, Sherlock Holmes. — Ela lhe disse, tomada por uma alegria que jamais seria capaz de explicar.

Após ouvir aquelas palavras, Sherlock pôde sentir-se relaxado novamente. O pavor, por fim, havia o deixado. Não tinha mais medo, não após ouvir aquela confirmação sincera. Lembrava-se do quanto a fizera sofrer por causa do falso perigo que ela correra e, de repente, a sensação de culpa deixava de ser um incômodo. O alívio era resultado daquelas simples três palavras as quais ele jurara que jamais iria aceitar ou acreditar.

De repente, por um segundo, a ciência deixou de fazer sentido para a mente complexa do rapaz. Talvez, o amor não fosse uma desvantagem tão grande quanto ele imaginava. Mãos levemente trêmulas, lábios ressecados, garganta seca, batimentos cardíacos acelerados. Não se tratava de Molly Hooper. Ele podia não entender de amor, mas conhecia a ciência bem o suficiente para afirmar que estava apaixonado. Havia uma ciência no ato de amar e Sherlock estava disposto a desvendá-la. Na verdade, esse era o seu mais novo objeto de estudo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, obrigada por lerem. ♥



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