2 Palavras escrita por TopsyKreets


Capítulo 1
Capítulo Único




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2 Palavras

 

Era chegada a hora. Igreja lotada. Todos os convidados, madrinhas e padrinhos em posição. O casamento estava perfeito. E não era para menos. Mabel ganhava a vida assim, e não se perdoaria se o próprio não estivesse dessa forma.

Sinos reluzentes badalavam ao som do vento. A emoção era sem fim, e podia ser sentida por todos.

Quase todos.

Dipper conhecia bem a irmã. Arriscava a dizer (mas não em voz alta) que a conhecia melhor que qualquer um, inclusive que o noivo. Mas esse não era o melhor momento para conflitos existenciais ou de ego.

Ele sabia que para onde fosse, Mabel sempre carregava porta-retratos consigo. Aquilo trazia felicidade e conforto nos momentos de necessidade.

 

Eu só tenho que trocar as fotos. Dá tempo. De sobra. Isso aí.

 

E manteve esse pensamento fixo. A foto em si não era em nada especial. Só mais uma das milhares que ela tinha com o irmão. Mas nesse caso, o que importava jazia atrás da foto. Uma mensagem deixada num momento de puro desespero. Quando recebeu a notícia do casamento.

E Dipper pensou com cuidado nisso.

 

Ela vai encontrar a mensagem, e vai se dar conta o erro que está cometendo.

Vai dar tudo certo.

 

Entretanto, com meses de preparação e gastos, ele se arrependia cada dia mais.

Ele não tinha esse direito. Não Ali. Não agora.

 

Ela está feliz. Com ele. O que eu vou ganhar com isso?

 

Esgueirando pelos corredores adentro da catedral, podia ouvir tudo o murmurinho dos convidados. Toda a movimentação gerava a perfeita distração. Ninguém notaria. Ele precisava apenas entrar na sala reservada da noiva e substituir a foto dela pela cópia dele.

Simples.

O que Dipper deixou passar (e raramente deixava) era a aflição da irmã.

Mabel estava, de fato nervosa. E com o maior zelo e discrição do mundo, pediu um momento sozinha as madrinhas.

Quando ele entrou no quarto, congelou.

Nunca havia visto Mabel daquela forma.

Num vestido branco, sem mangas, mas com um véu e grinalda incríveis, tricotados a mão. Com babados nas laterais (o que era impossível de faltar em qualquer vestido dela), a vestimenta fazia um contraste marcante com a beleza de Mabel. Com uma maquiagem leve, o traçado realçava sua beleza natural.

Dipper tentou dizer algo.

Não conseguiu, faltaram-lhe palavras.

Não havia uma expressão, nenhuma que ele lembrasse no momento, que poderia descreve com plena exatidão a beleza da irmã.

— E então, estou bonita?

E com isso, ele voltou a realidade. Ainda estavam ali, Juntos. Sozinhos. Uma última vez.

— Você sempre está bonita.

Ela soltou uma risada. Aquela mesmo que ele adorava.

— Você está mentindo. Mas eu vou aceitar, dessa vez. Achei que podia ter ficado melhor. Com um laço na cintura, sabe?

E num movimento rápido, ele escondeu a foto no bolso. Teve milhares de outros momentos para dizer a ela. E mais algumas centenas para fazer a troca.

Mas não, tinha que ter deixado para última hora.

No fundo, no entanto, ele sabia a verdade. Queria se apegar aquela ideia. A ideia consoladora que ela mudaria de ideia se descobrisse a mensagem por trás da foto.

 

Não, droga! Esquece isso, Dipper. Você não pode estragar tudo pra ela. Ela está feliz. E sem você por perto.

 

— Eu preciso fazer uma coisa Mabel, mas vai parecer estranho.

— Hum?

— Eu preciso daquela porta retrato, por um momento.

Ele sabia que era uma completa estupidez fazer a troca assim. Mas estava contando que, com o tempo curto, já perto de começar a cerimônia, ela pudesse deixar passar.

E se fosse qualquer outra, talvez deixasse.

Mas ela não era qualquer uma. Ela era Mabel Pines.

 

Pelo menos pelos próximos 12 minutos.

 

Mabel soltou uma risadinha leve. Olhou para o irmão que naquele momento, evitar o contato visual e focava na foto do porta-retratos, o único deles que era dourado, na imensidão dos mesmos que naquele momento ocupavam a mesinha de café da sala.

—  Acho que você já tem uma cópia dessa aqui.

— É sério, Mabel.

Ela podia notar o grau de seriedade na voz do irmão.

Quase que imediatamente, ela pegou a foto na mesinha. Com um gesto rápido, ela a estendeu a ele, e no momento em que Dipper se moveu para alcançar, ela soltou o porta retratos e segurou diretamente em sua mão.

O vídeo do porta-retratos se despedaçou. Cacos de vidros cintilavam pelo chão. Naquele momento, por apenas um segundo, ambos sentiam que o tempo havia parado. Só para eles.

— Quer me contar alguma coisa, Dipper?

— Não, eu não... Não.

— Entendo.  E se eu te dissesse que sei o que tem atrás da foto?

Ele estremeceu. A realidade voltou de imediato, aliada ao pânico. Mas Mabel se mantinha ali, de pé, mais forte do que nunca. Agora ela segurava com ambas as mãos na dele.

— Tem certeza? Última chance.

 

Última vez. Última chance.

 

Era tudo o que lhe passava na cabeça nos últimos dias. Era o primeiro pensamento antes de dormir, e o primeiro a levantar.

Ele a abraçou o mais forte que pôde. Ainda assim, segurou as lágrimas quanto pôde.

— Se cuida. Eu vou estar sempre por perto.

Com essas palavras, misturadas com lágrimas e uma forte dor no peito, nem mesmo ela aguentou. Agora ela abraçara de volta, se recusando a largar.

Ele protelou, mas no final, cedeu à irmã. Sempre cedia.

— Por que quando você diz isso eu fico meses sem te ver?!

Mabel rompeu em lágrimas. Chorou, e quando deu por si, ambo estavam da mesma forma.

Finalmente, Dipper a afastou. Não que quisesse. Mas lá no fundo, sabia que era necessário.

Embora cada fibra de seu corpo lhe dissesse para fazer o oposto, para continuar nos braços dela, e jamais soltar.

— É melhor você ir. Está na hora.

Espantada, ela olhou para o relógio. 16 horas em ponto. De fato, estava na hora de entrar pela porta da frente da igreja.

— Mas e a foto, Dipper? E tudo o que você escrev...

— Esquece.

— Mas eu não quero es...

— Você precisa.

Ela abaixou a cabeça. O momento havia terminado. E lá no fundo, sabia que provavelmente não haveria outro.

— E para onde você vai agora?

— Boa pergunta. Não tenho ideia.

Mais uma vez ele se aproximou. Aproveitou o momento, e com a maior delicadeza que podia, a beijou na testa.

— Tchau, Mabel.

Rapidamente, ele virou e se dirigiu para a saída.

Tomada pelo desespero, pela dor, pela emoção, por um pouco de tudo o que lhe passava pela cabeça naquele momento (ou no final dele), ela urrou:

— Por que você tem que ser sempre assim? Tão vago, tão misterioso? Por que?

Por que sempre assim?!

— Irmãos do mistério, lembra?

 

***

 

O casamento foi perfeito. Pelo menos foi o que ele ouviu dias depois. Não teve coragem de atender as ligações dos pais, no entanto. Sabia que ouviria pelo resto da vida por não ter ficado para a cerimônia.

Ficar rodando, no meio do nada, também não era exatamente algo produtivo. Mas não podia parar. Não agora. Do contrário a realidade do que fizera (ou no caso, do que não fizera) lhe acertaria em cheio.

São nesses momentos que fazemos coisas surpreendentemente estúpidas— Dizia a si.

A reflexão mental só foi cortada pelo barulho do toque do telefone.

Ele encostou o carro e atendeu. Uma coisa era certa: quando Darlene ligava, ele atendia.

Tinha que atender. E o timing dela era perfeito. Ele precisava trabalhar.

— Mr. Pines?

Mr. Pines. Darlene era a única mulher da terra que o chamava assim. Ela era uma secretária de respeito, com o dobro da idade dele. Mas ela sempre matinha esse toque de classe.

E sempre que ele ouvia tais palavras, a imagem dos tios gêmeos lhe vinham na mente.

Pela primeira vez em dias, Dipper sorriu.

— O que você tem para mim, Darlene?

— Para ser sincera, não sei bem senhor. Alguma coisa muito estranha. Requisitaram sua atenção.

— O FBI de novo?

— Não senhor. Uma mulher. Só um momento, deixe eu...

E a secretária procurou pelo papel em que tinha escrito o nome da requisitante, mas não encontrou.

— Desculpe senhor, não estou lembrando o nome dela agora. Mas ela pediu com certa urgência. Disse que conhecia o senhor.

— Lembra de algo mais específico do que “coisa muito estranha”?

Darlene passou a mão pelo queixo.

— Lembro que ela disse que o senhor a entenderia. Ela não forneceu muitos detalhes. Só um endereço.

— Pode passar.

— Uma cidadezinha no interior do Oregon, chamada...

— Tudo bem Darlene, entendi. Eu te aviso assim que chegar lá.

 

— Ah!, Encontrei, desculpe, o nome dela é...

 

Mas Dipper já havia desligado. Estava com pé no acelerador o mais fundo que podia, e as mãos fixas no volante. Só pararia quando chegasse ao aeroporto mais próximo.

 

Já não era sem tempo— Pensou.

 

***

 

Se você, em algum dia, tiver a honra e o deleite de trabalhar para Mabel Pines, saiba que ela é uma mulher flexível. Mas mantém sempre sua palavra.

Ao final de todo o evento em que esta se mantivesse no comando, tudo era bem preparado e bem alinhado. A limpeza pós – festas não ficava para trás.

E se você trabalhasse para Mabel Pines na equipe de limpeza do casamento da mesma, talvez poderia ter encontrado uma foto de sua própria chefe, jogada no chão, em meios a cacos de vidro, em uma pequenina salinha no fim do corredor.

A foto em si não era em nada especial. Só mais uma das milhares que ela tinha com o irmão. Mas nesse caso, o que importava jazia atrás da foto. Uma mensagem deixada num momento de puro desespero. Quando este recebeu a notícia do casamento.

E se você lesse com real atenção, não veria apenas uma mensagem de Dipper Pines para sua própria irmã. Não havia ali apenas uma declaração incondicional de amor.

Não era apenas um pedido do irmão para que Mabel aceitasse seus sentimentos mais  ocultos.

Essa parte em si já não era mais importante.

O conteúdo adicional, este sim era.

Com uma tinta cor de rosa, havia uma reposta à mensagem.

E essa parte da reposta, escrita de forma doce e meiga, com direito a pingos em formatos de coração nos i’s, começava com duas palavras. Duas palavras que, se tivessem sido pronunciadas por Mabel o dia do casamento, teria mudado tudo.

As mais importantes de toda a resposta.

***

 

 

 

Eu também.


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