Ashes to Ashes escrita por Poison


Capítulo 1
Único.




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“Mamãe, me conte uma história?”

Não importa quanto eu tente, eu não me encaixo. Sempre triste e solitária, eu só queria alguém pra brincar comigo... Eu podia ouvir seus risos e deboches, eu nunca fui bem vinda e então, o corpo desabou do penhasco. O vento cortante esfriando a pele que em tão breve se tornaria branca, as bochechas rosadas já não tinham mais cor e a sensação de estar voando permitiu que eu fechasse meus olhos, pela primeira vez, em paz.

 Toda aquelas angustia foi embora, e então eu ri, ri como nenhuma outra criança riu antes. Era gritos de dor e desespero misturados com aquela falsa ilusão de estar morta. O estalo dos ossos quebrando foi a ultima coisa que ouvi, quando abri os olhos horas depois, estava deitada em um colchão macio de pétalas com um cheiro enjoativo e embriagante.

“Nesse mundo é matar ou morrer!”

  O aroma doce das flores deu lugar ao cheiro de carne podre, a lembrança do meu suicídio me levou além, eu estava morta... Então, isso é o que chamam de inferno? Conforme a consciência retomava, eu amaldiçoei tudo o que havia ao meu redor. As cores aos poucos voltavam para a visão anteriormente turva, e tudo o que eu vi foi um cenário desagradável de pessoas estraçalhadas ao meu lado com a queda. Adultos, crianças e pequenos animais que terminaram ali ao pular do penhasco para evitar a própria morte.

 Então mais uma vez eu gritei, esmurrei minha própria cara e soquei a cabeça contra o chão. Eu desejei mais uma vez estar morta, mas a dor dos meus atos provou que minha vida não havia acabado... Um novo começo, com um velho final.

 Sutilmente eu senti mãos quentes me tocar, agarrou meus braços e me puxou para cima. Enquanto eu gritava e esperneava com saudades da minha família que um dia eu tanto odiei, enquanto meu coração era arrancado de mim todas as vezes que olhava a minha volta e encarava aqueles olhos sem vida sendo comidos por larvas enquanto me encaravam em seu julgamento em silencio. Um abraço quente me aconchegou, e então eu dormi...

 “Acorde, minha pequena...”

 O ambiente era frio e o quarto era escuro, ainda assim, era uma réplica perfeita daquele cômodo que mamãe tinha feito para mim... Eu estava em casa! Tudo não havia passado de um sonho ruim, até que senti o cheiro de torta me puxar para fora daquele quarto. Não era minha casa, e a criatura sentada no sofá próximo a lareira, com certeza, não era minha mãe.

“Espero que você goste de canela... Sabe, não tive chances de te perguntar...”

 Era inevitável, mas não conseguia esquecer a sensação de angustia que florescia dentro de mim... Não tive medo, eu tinha ódio. Encarei sem interesse a criatura com aquele sorriso irritantemente dócil, algo dentro de mim me dizia que aquilo era demoníaco.

Maldita seja cada criança que não acredita em monstros.

Implorei para ir pra casa, mas ela me ignorou. Em meio aqueles choros ela tentava mudar de assunto falando sobre o livro imbecil que lia, repeti quantas vezes fosse necessário para que ela pudesse me ouvir, até que irritada gritou comigo e me fez calar a boca com um tapa forte. Eu vi estrelas brilhando acima de mim, meu corpo estava leve mais uma vez... Até que as vozes voltassem a sussurrar no meu ouvido.

“Morra! Morra! Mate...”

 Levantei cambaleante, a pele antes sem cor agora tinha suas bochechas vermelhas com o golpe que queimava em uma ardência,  ardência esta que esquentava meu corpo pequeno em um calor quase aconchegante, quase insuportável. Desci as escadas atrás daquela mulher com chifres... Paradas em frente a uma enorme porta nós nos encaramos por longos minutos...

 “Estive sozinha por tanto tempo... Você não pode me abandonar pequena... Eu a amo! Essa é a sua nova casa!”

 A voz estridente percorria meu corpo como uma onda de choque, os dedos pequenos eram enfiados contra a calça marrom suja de terra e sangue. Lentamente tombei a cabeça para o lado, aos poucos eu pude sentir o pouco de humanidade que existia dentro de mim ir embora. Toda minha felicidade fora drenada enquanto encarava fundo aqueles olhos grandes, até que igualmente a tudo que existia aquele mundo, eu não tivesse mais uma expressão viva. O corpo pesado e a cabeça latejando, tudo o que fiz naquele instante foi sorrir. Balancei o corpo de um lado ao outro, o sorriso alargando cada vez mais de ponta a ponta até que o ódio que vivia dentro de mim fosse demonstrado com uma neblina negra, como a fumaça de corpos queimados.

 Suas mãos maternas me envolveram em um abraço mais uma vez, Toriel me apertou contra seu corpo. Eu finalmente me senti amada... E ela prometeu brincar comigo, dia após dia... Noite após noite...

 Como se voasse, suas mãos empurravam meu corpo em um impulso. Naquele balançar suave eu podia sentir finalmente ter encontrado meu lar, para frente e para trás... Uma mãe que balançava sua filha em um final de tarde e o sorriso em paz de uma criança com a corda apertada em seu pescoço.

 Enforcada naquele balançar ritmado, naquele mundo tudo era apenas... Matar ou morrer.

 “E depois, o que acontece?”

Brincamos na balança... Frisk. 


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Notas finais do capítulo

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