Alice In My Heart escrita por Yokichan


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Não resisti a essa one depois de assistir o filme Alice In Wonderland, de Tim Burton. *--*
Johnny Depp está simplesmente fantástico como Chapeleiro Maluco, e a Alice é uma graça. Queria que ela tivesse ficado pra sempre no País das Maravilhas, wee. ;-;

Espero que gostem, e deixem reviews.

Se possível, leiam o capítulo ao som da música tema do filme, que é linda: http://www.youtube.com/watch?v=h8JMSN4IJ_0



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/72311/chapter/1

“Quando eu acordo, o sonho não está acabado.”

 

 

 

         As brumas púrpuras da noite manchavam as nuvens que daquele céu jamais iam embora, mesclando a tardinha em sombras enevoadas. Ele, como sempre, tomava seu chá. O Chapeleiro Maluco e sua longa mesa revirada sobre a relva, nada mais. Pires partidos, xícaras sem fundo, bules sem alças, e ainda assim, tudo dançava na mais agradável perfeição. O chá fora derramado sobre a toalha desalinhada, gotejando mesa abaixo enquanto a música animada – e melancólica – se perdia no sorriso da lua minguante. Ele, no entanto, não precisava de mais nada... Não até aquele momento.

 

- Olá? – chamou uma voz doce vinda de longe.

 

         Ele lançou seus grandes e insanos olhos verdes para frente, mas nada havia ali além das sombras que planavam sozinhas. Seus desgrenhados cabelos ruivos de um vivo estonteante, escapavam de baixo do grande e respeitoso chapéu sobressaindo-se na semi-escuridão. Não, ali não havia escuro. Ali, só havia a feliz loucura do tempo que não passa. E então, ele a viu chegar.

          Delicadas ondas louras de cabelo desciam por ombros pálidos de marfim, tão brancos quanto aquele doce rosto inocente que surgia da noite. Sim, ela havia voltado, Alice – e seu coração de chapeleiro tiquetaqueava freneticamente.

         Com passos de fada, ela assustadamente se aproximou daquela desastrosa mesa. Olhava ao redor, investigava, imaginava ainda estar em um de seus sonhos sem explicação. Como poderia o País das Maravilhas ter uma explicação, afinal?

 

- Alice! – saudou ele em brilhante euforia. Seus olhos reluziam.

 

         E antes de mais nada, o louco chapeleiro ficou de pé em sua cadeira do outro lado da mesa, colocou um dos pés coloridos sobre a toalha e aventurou-se em uma lenta e descuidada corrida sobre pratos e xícaras até alcançar o outro lado da mesa. O ruído de louça quebrada debaixo de seus pés era insignificante, se comparado à felicidade de reencontrar sua bela e doce Alice. Ela observava curiosamente aquela entusiasmada recepção, certamente imaginando como aquilo era possível.

 

- Quem é você? – perguntou ela, arqueando as sobrancelhas.

 

         Ele saltou da mesa com toda a sua falta de jeito, postando-se diante da menina confusa que lhe analisava. Olhou-a bem de perto esboçando seu divertido sorriso escarlate, e então soube que estava verdadeiramente diante da Alice de muito tempo atrás. Sim, ele costumava ser seu melhor amigo de aventuras quando aquela menina não passava de uma criança. No entanto, entristecia-lhe saber que ela agora não se lembrava de nada. Ainda não.

 

- Oh, então você voltou! – sorriu ele animadamente, pegando-a pela mão.

 

- Eu voltei? – repetiu ela, confusa.

 

         Ignorando sua pergunta, o Chapeleiro tornou a subir na mesa, levando Alice consigo pela mão. Tudo novamente tremia enquanto eles caminhavam sobre a louça, e o chá continuava a gotejar pela toalha branca. Envolta em seu vestido esfarrapado, a menina deixou-se cair sentada em uma cadeira ao lado daquele estranho homem, que também acomodava-se na sua. E sem fazer cerimônias, ele pegou o bule de chá e serviu uma xícara para sua recém-chegada convidada. Oh, era uma convidada especial!

 

- Ah, seu braço. – ele observou, verificando os arranhões no pequeno e delicado braço dela.

 

         Alice virou o rosto para encarar os três riscos vermelhos em sua pele de giz, feitos por um animal gigantesco e feroz que ela nem mesmo sabia o nome. Conseguira escapar, escondendo-se na estranha floresta e então chegando até aquele lugar, onde a música que parecia vir do “nada” lhe preenchia os ouvidos. Tocou a ponta dos finos dedos sobre a ferida, constatando que não doía. Talvez, quando ela acordasse, aquilo tudo acabaria.

 

- Não dói. – comentou ela, fitando novamente o curioso Chapeleiro.

 

- Deixe-me enfaixar, ou seu braço entrará em estado de putrefação. – disse ele.

 

- O quê?! – alarmou-se em imaginar seu braço em degradação.

 

         Aquela estranha criatura cujo vestuário parecia remendado por diversos pedaços de tecidos coloridos, tirou da manga de seu casaco uma faixa branca. Inclinou-se sutilmente na direção de Alice, passando cuidadosamente a faixa ao redor de seu ferimento e finalizando a atadura com um rápido e perfeito tope. Seu sorriso vermelho nasceu novamente, repleto de adoração, e desta vez a menina loira agradeceu da mesma maneira.

 

- Mais um pouco de chá? – perguntou ele, risonho.

 

- Não, obrigada. – assentiu Alice, encarando sua xícara transbordante.

 

- Açúcar? – ofereceu o Chapeleiro com o açucareiro na mão.

 

- Ahn, não. – sorriu ela, delicadamente.

 

         Como se descartasse qualquer objeto inútil, ele atirou o açucareiro de louça para longe, que perdeu-se na escuridão. Bebericou animadamente seu chá, sorrindo satisfatoriamente. Sentia vontade de dançar, de gargalhar, de comemorar aquele dia com toda a pompa de que podia dispor. Alice estava ali, e aquilo era tudo o que importava.

 

- Para onde está indo? – sondou ele, encarando-a com seus grandes orbes.

 

- Eu não sei. Eu apenas estou sonhando. – sorriu ela, assentindo.

 

- Ainda acredita que isso é um sonho, Alice? – perguntou ele, curioso.

 

- É claro! Tudo isso vêm da minha mente. – afirmou com divertimento, mexendo nos cabelos longos.

 

- Significa que eu não existo. – constatou ele, melancólico e cabisbaixo.

 

         Por um momento, Alice quis acreditar que estava realmente vivendo naquele mundo onde tudo era loucura. Quis acreditar que coelhos com ternos e flores falantes não eram coisas anormais, e que habitar o País das Maravilhas poderia ser perfeitamente possível. Quis acreditar que o gentil e animado Chapeleiro Maluco era real, e que sempre que desejasse, ela o encontraria ali.

         Alice suspirou pesadamente, pousando sua mão sobre a dele.

 

- Infelizmente sim. Você é fruto da minha imaginação. – comentou ela, recebendo o olhar assustado do Chapeleiro. – Eu sonhava com alguém como você, meio maluco. – e então seu sorriso iluminou-se.

 

- Você também deve ser meio maluca pra sonhar comigo. – opinou ele, risonho.

 

- Acho que sim. – assentiu ela, divertidamente.

 

         A lua sorriu sobre suas cabeças, escondendo-se nas nuvens travessas e escuras. A pequena mão de Alice ainda repousava sobre os dedos do Chapeleiro, consolando-o por meio do silêncio de que logo ela precisaria partir, mesmo que um pouco de si resolvesse ficar.

 

- Irei sentir saudades. – confessou ela, arqueando tristemente as sobrancelhas.

 

         Mas ele nada disse, nada tinha para responder. Seus grandes olhos apenas injetaram-se assustados no momento em que percebeu que ficaria sozinho quando Alice fosse embora. Ficaria terrivelmente sozinho, como sempre esteve naquele sonho sem fim. Pela primeira vez sentiu como era bom aquele sentimento, aquele fantasioso e doce sentimento.

         A menina levantou-se e caminhou de volta para as sombras, mas antes de desaparecer por completo, olhou novamente para seu amável Chapeleiro. Ele sorria largamente, sentado em sua cadeira, prendendo entre os dedos sua pequena xícara de chá que já esfriara. Alice sorriu então pela última vez, se é que podia chamar de “última”, e lançando a longa cascata loura e ondulada sobre os ombros, desapareceu no escuro. No entanto, nem seu sorriso doce nem o toque suave de sua mão desapareceriam do coração de um esperançoso Chapeleiro Maluco.

 

 

 

 

“Se nada é real, o que mais eu posso fazer?”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Alice In My Heart" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.