I Want To Be Your Girlfriend escrita por Kyra_Spring


Capítulo 8
You can do so much better




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/72306/chapter/8

–Vocês viram só a cara dele? – mais tarde, naquele mesmo dia, o grupo de conspiradores foi para a casa de Riza, discutir os resultados do plano até agora. Falman e Havoc ainda não se falavam: depois do filme (e de resgatarem Roy da multidão ensandecida) eles decidiram que tinham que brigar por causa da irmã de Falman. Depois de alguns catiripapos dos dois lados, Maes os separou e os arrastou para a casa da primeira-tenente. Ele mesmo falava – Parecia que ele ia botar um ovo a qualquer momento! Acho que está dando certo.

–Tem razão... – concordou Fuery, que admirava maravilhado o seu recém-roubado pôster de Keira Knightley – A propósito, Melissa, onde está o Ed, hein?

–Foi embora – respondeu ela, não dando atenção à explosão de risadas que sucedeu a pergunta aparentemente inocente de Kain – Ele disse alguma coisa sobre ter que fugir de uma chave inglesa, mas isso não vem ao caso. E ele também disse que está pronto para ajudar quando precisarem.

–Pois bem, as últimas fases são as mais decisivas – Riza, de pé entre eles, tomou a palavra – Elas vão ter que acontecer mais ou menos ao mesmo tempo. Rapazes, vocês sabem o que fazer.

–Queimar o filme da Trista, não é? – Havoc acenou com a cabeça – Não vai ser difícil. Sejamos realistas, ela é uma porta!

–Gente, hoje vai chover! Havoc criticando uma mulher? Essa é boa! – galhofou Falman.

–Cala a boca ou te quebro os dentes – o outro ergueu um punho, ameaçador – Você não tem envergadura moral pra me dizer uma coisa dessas!

–Tá a fim de levar uma mão na cara? – o primeiro também não gostou do comentário – A gente pode resolver isso lá fora, se vocês quiserem!

–CALEM A BOCA VOCÊS DOIS! – Sciezka subiu na mesa e berrou – SE NÃO PERCEBERAM, TEMOS COISAS MAIS IMPORTANTES PRA TRATAR DO QUE ESSA BRIGUINHA ESTÚPIDA DE VOCÊS!

            Os dois observaram a bibliotecária, agora vermelha e descabelada, e arregalaram os olhos. Aquela era a última pessoa do mundo que eles esperavam ver tendo um surto... quer dizer, a penúltima, Riza também era bem calma, mas ela já tinha tentando assassinar Jean uma vez, e por isso não entrava na conta. Ela teve a leve impressão de ver os olhos de Havoc brilharem, mas não deu importância.

–Agora que os dois meninos resolveram parar de brigar, posso continuar – num tom muito mais controlado, ela desceu da mesa e continuou falando – Saibam que, quando fui buscar pipoca, passei perto dos pais do Roy, e ouvi a louca da mãe dele dizer qualquer coisa sobre estarmos tentando empurrar a Riza pra ele pra fazer um motim e tomar o controle do país quando ele for marechal. Acho que ela sacou o nosso plano, mas não posso afirmar com certeza. Já previa que ela ia logo tomar uma atitude, mas por enquanto não podemos fazer nada, apenas ficar espertos.

–Se bem a conheço, ela é capaz de cometer um assassinato pelo filhinho amado dela – disse Melissa, concordando com a amiga – Eu já estava prevendo que, a essa altura do campeonato, ela ia ficar desconfiada, mas duvido que seja capaz de provar qualquer coisa. Então, tomara que nenhum de vocês seja vacilão o bastante para entregar a gente pra ela.

–Por que algum de nós entregaria o plano? – disse Fuery, dando de ombros – A gente tem pavor dela, isso sim! Parece que, a qualquer hora ela vai nos transformar em sapos de lagoa, pegar sua vassoura e sair voando até a sua caverna secreta!

–Além do mais, a gente conhece a Riza há muito tempo – foi a vez de Maes se manifestar – Ela é extraordinária, acha que não preferimos que o Roy fique com ela ao invés daquela tapada?

            Riza deu um sorriso de gratidão ao amigo, que o retribuiu. Então, ela deu as coordenadas:

–Bem, é o seguinte: vocês tem que começar a falar na cabeça do Roy. Você também, Melissa, afinal você é a irmã dele e ele vai te ouvir – olhou para os rapazes – E vocês, a mesma coisa. Façam com que ele veja quem é a noiva dele.

–A gente podia mandar o Havoc beijá-la no corredor, tirar uma foto e mostrar para o Roy, que tal? Sempre funciona nas novelas! – alfinetou Falman.

–Diga mais uma palavra, Falman, e eu mando o seu nariz para a sua nuca! – reagiu Jean, furioso.

–Parem os dois! – Mellie ameaçou, erguendo o punho – Sou alquimista federal e irmã do superior de vocês, o que quer dizer que posso fazê-los passar o resto da vida na fronteira com Drachma, o que acham? Será que dá para voltarmos para a pauta?

–Apesar de a intenção do Falman ser má, a idéia foi boa – opinou Breda – Mas tem que ser espontâneo, ou ele pode dizer que a noiva dele foi seduzida. Temos que obrigar a dizer que ela não o ama, que não quer se casar com ele.

–É bom que aqui ninguém banque o Ed para embebedá-la, tá bem? – Sciezka olhou cada um dos presentes, ameaçadora – Não creio que vá ser difícil. A gente roubou o diário dela, e não vimos ela dizer nenhuma vez que o amava. Mas precisamos de alguém em quem ela confie plenamente.

–Eu posso tentar perguntar se ela tem alguma amiga ou irmã – disse Maes – Sei lá, é só dizer que a Gracia ficou feliz em conhecer a família dela e...

A gente nem conheceu a família dela – cortou Gracia na hora – Lembra que eles não apareceram no jantar?

–Não importa. Sei que ele não vai desconfiar de mim, afinal sou o melhor amigo dele.

–Pode dar certo – Riza acenou com a cabeça afirmativamente – E, Arthur, vamos descobrir se você é mesmo um bom ator. A gente tem que, primeiro, bancar os namorados. Telefonemas, bilhetinhos, conversas... nada de beijos ou mãos dadas, se você não quiser.

–Ótimo – concordou Arthur – Se a minha namorada souber, eu... – mas imediatamente tampou a boca, percebendo que tinha falado demais.

Você tem uma namorada e não contou nada pra mim? – berrou Mellie, rindo alto – Ah, cara, estou tão feliz! E quem é, aquela moça de Xing que trabalha com você?

–Como adivinhou? – ele corou furiosamente – É ela sim, a Lin!

–O jeito que vocês se olhavam é auto-explicativo – respondeu ela – Se vocês não ficassem juntos, não ia ter graça alguma!

–É melhor que você explique tudo a Lin para que ela não pense nada errado de você – observou Riza – E, alguns dias depois, a gente tem que brigar. Na frente dele, viu?

–Isso vai ser divertido – Arthur riu – Tá bem, eu topo. Diga-me o dia e eu estarei pronto.

–Ótimo. Parece que está tudo acertado – Riza se levantou – É melhor vocês irem embora. Fiquem espertos com a bruxa malvada do norte, ela é perversa.

            Os amigos trocaram um olhar cúmplice, e acenaram com a cabeça. Foram saindo um de cada vez, para não despertar suspeitas, prontos para agir de acordo com o plano.

 

Enquanto isso, no hotel Ritz, na rua Olmo, 519...

–Você tem certeza disso, Odete? – no recém-reformado quarto de hotel, Odete e Trista debatiam sobre um assunto de suma importância – Eles querem mesmo tirar o meu Royzinho?

–Infelizmente sim, querida – respondeu a (nota da autora: sapa velha, bruxa, mal-amada) sra. Mustang – Eu já estava desconfiada há algum tempo, mas hoje tive certeza.

–E por quê fariam isso? – a ruiva não conseguia acreditar – Ah! Foi isso que o Espírito dos Casamentos Passados disse! Meu casamento estava amaldiçoado, mas eu o eliminei!

–Do que está falando? – Odete não entendeu nada – Ah, também não importa. Percebi que quem está coordenando esse plano diabólico é a Hawkeye, auxiliada pela Melissa.

–E você sabe de algum jeito de tirá-las do caminho?

–Na verdade, eu sei sim. Vou precisar de algum tempo, mas não vai ser muito difícil. Siga as minhas instruções à risca e você não perderá o seu noivo. Cada um deles tem uma fraqueza e, por sorte, eu as conheço. Eles vão pagar por tentar estragar a sua vida, querida. Vão pagar muito caro...

–Não quero que nada muito grave aconteça com eles, viu? Ninguém deve sair machucado.

–Garanto que todos vão sobreviver – a mulher deu um sorriso perverso – E já sei até por quem começar... Tomei a liberdade de tomar algumas providências, e amanhã colocaremos o nosso plano em prática.

 

No outro dia, no quartel...

–Gente, acho que perdi a minha bolsa! – bem cedo, Melissa apareceu no quartel, esbaforida. Ela não tinha a menor idéia do que fizera com sua bolsa e nem do último lugar onde ela havia estado, e agora procurava desesperada por todo lugar.

–Mellie, sua cabeça-de-vento! Como você consegue perder uma coisa dessas? – disse Riza, rindo, enquanto a ajudava a procurar – Não adianta procurar aqui, tenho certeza que, ontem, você foi embora com ela.

            As duas haviam trocado uma manhã de sábado em casa com as flores e com Black Hayate para ir atrás da bolsa da alquimista de mármore. Havia alguns militares lá, alguns dos subordinados de Roy, que resolveram adiantar as tarefas (ou colocar em dia as tarefas atrasadas, que era o que parecia mais plausível). Riza tentava fazer a amiga lembrar do trajeto que havia feito:

–Será que você não a deixou no cinema?

–Não levo minha bolsa para lá porque já a esqueci antes – replicou Mellie – Algo me diz que ela não está aqui, mas preciso ter certeza.

–Talvez esteja em algum lugar no alojamento – sugeriu a primeira-tenente – Aquele lugar é tão bagunçado que eu não me surpreenderia que sua bolsa estivesse lá.

            Então, elas procuraram nas gavetas da sala de Roy, onde boa parte dos seus subordinados passava a maior parte do dia. Não havia nada lá, mas a bolsa estava displicentemente colocada sobre a cadeira do coronel. A alquimista suspirou aliviada, mas algo deixou Riza desconfiada. O que diabos a bolsa dela estaria fazendo ali? Roy havia saído depois delas, no dia anterior.

–Agora preciso ver se não me roubaram nada – disse Mellie, abrindo a bolsa, animada. Mas logo o rosto dela adquiriu um tom mortalmente pálido, ao ver o que havia lá dentro.

            De repente, baratas começaram a sair, muitas, todas pretas e cascudas e enormes. Melissa começou a gritar, desesperada, e jogou a bolsa no chão. Algumas baratas subiram em sua mão, e ela gritou ainda mais alto. Riza estava paralisada, observando a cena, até perceber que a amiga começava a passar mal e ver que ela tinha que tomar uma atitude. Imediatamente, tirou Melissa de lá (pisando em um monte de baratas pelo caminho) e a levou para a sala anexa à sala do coronel.

            Melissa, desmaiada, estava muito pálida e suava frio, além de tremer violentamente. Riza conhecia o pavor que Mellie tinha de baratas, e estava muito claro que aquilo tinha sido uma brincadeira de mau gosto. A pobre alquimista ofegava cada vez mais, e era óbvio que passava mal. Só havia uma coisa a fazer naquele caso... Rapidamente, colocou-a numa posição confortável sobre a cadeira e disparou pelo quartel, procurando alguém que pudesse ajudá-la a levar a um médico.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

–Ela passou por um susto muito grande – disse o médico, após examinar Melissa – Por sorte, não houve conseqüências mais graves, mas por ela já ter uma saúde frágil, poderia acontecer algo muito pior do que um simples desmaio. Ela está sendo medicada, e poderá voltar para casa hoje mesmo.

–Pelo amor de Deus, o que houve? – enquanto o médico falava, Roy, pálido e desgrenhado, apareceu na porta – Cadê a Mellie?

–Você deveria saber – disse Riza, entre os dentes – Você é um rato, sabia?

–Do que é que você está falando? – reagiu o coronel, pasmo – Não tenho nada a ver com isso!

–então quer me explicar o que a bolsa dela estava fazendo em cima da sua cadeira, considerando que, ontem, você foi embora depois de nós? – a loura estreitou os olhos, furiosa.

            Ela pensava que Roy havia feito aquela maldade com a irmã, talvez por ciúme, talvez por raiva ou talvez por simplesmente querer pregar uma bela peça nela. Não lhe passava pela cabeça qualquer outra possibilidade, embora parte dela se esforçasse ao máximo em acreditar que Roy não tinha absolutamente nada a ver com aquilo.

–Mas ela levou a bolsa dela! – exclamou Roy – Eu fui com ela até o alojamento, e vi claramente ela deixando a bolsa sobre a cômoda. Pelo amor de Deus, Ri, eu jamais seria capaz de colocar a vida da minha irmã em risco! Eu a amo, sabia? Ela é uma das pessoas mais importantes do mundo pra mim!

–Até o alojamento, você disse? – Riza o estudou de cima a baixo, então suspirou – Olha, eu acredito em você, tá bem? Acontece que ela não encontrou a bolsa dela em lugar nenhum e me pediu para ajudar a procurar no quartel. Aconteceu tudo na minha frente, e eu fiquei assustada. Se algo acontecesse com ela, eu... eu... – mas parou, e se virou, porque uma lágrima escorria pelo seu rosto. Mellie era uma amiga tão leal e valiosa que a simples idéia de algo acontecer a ela já lhe fazia passar mal.

–Tudo bem, Ri, tudo bem – então, Roy a abraçou, parecendo-se menos com o coronel da Cidade Central e mais com o amigo de infância dela – Entendo sua preocupação, e farei de tudo para descobrir quem foi o autor dessa brincadeira idiota. O que o médico disse?

–Ele disse que ela está bem, e que não vai acontecer nada mais grave – respondeu ela – Vamos poder vê-la daqui a pouco.

            Mais tarde, o médico deu autorização aos dois para visitarem Melissa. Ela já parecia bem melhor e, apesar de ainda estar um pouco pálida, recebeu os dois com um grande sorriso, o que era típico da alquimista. Assim que os viu, disse:

–Parece que mais uma vez preguei um belo susto em vocês, não é? Me desculpem não poder levantar para recebê-los, mas essa maldito soro está ligado, então...

–Nunca mais faça isso comigo! – disse Roy, que ainda não havia se refeito do susto – Tem idéia do que eu passei, sua desmiolada?

–Calma, calma! – ela deu uma gargalhada. A moça já conhecia os chiliques de Roy, e se divertia um bocado com eles – Agora está tudo bem. Talvez eu tenha esquecido alguma coisa dentro da minha bolsa que atraiu as baratas da sua sala. Eu vivo te dizendo que você precisa mandar dedetizar aquele lugar, mas quem disse que você me ouve?

–Mellie, me ouça – Riza o cortou – Roy jura que viu você deixando sua bolsa dentro do alojamento. Talvez alguém a tenha pego enquanto estávamos no cinema, ou depois. Lembra que você foi até a minha casa depois do filme? – ela lançou à alquimista um olhar significativo, que dizia claramente “isso deve ser coisa da sua mãe”.

–Agora eu me lembro... sim, foi isso que aconteceu! – Mellie se sentou – Sim, assim que o expediente acabou, fui para o meu quarto, deixei a bolsa lá e me arrumei para ir ao cinema. Cheguei tão cansada que nem prestei atenção, e hoje de manhã, quando a procurei, ela tinha sumido. Riza, você não acha que...

–Tenho certeza, Mellie – cortou a loura, sem dar à outra a chance de terminar a frase. Roy as observou com um olhar inquiridor, mas nada disse. Ele já havia percebido que as duas andavam muito cheias de segredos ultimamente, e pensava no que aquilo queria dizer – Vou falar com a Sciezka, depois. E você, trate de se cuidar, viu? Roy vai ficar aqui tomando conta de você enquanto eu resolvo alguns assuntos.

            Ela saiu do hospital a passos apressados, decidida a tirar aquela história a limpo. Agora tudo ficava claro: com certeza, Odete Mustang estava metida naquilo. Eram poucas as pessoas que sabiam o medo de Melissa, e ela certamente era uma delas, afinal de contas era a mãe da alquimista. Talvez, no cinema, ela tivesse percebido alguma coisa e quisesse intimidar os conspiradores. Quem seria o próximo? Ela mesma, talvez? Não, a sra. Mustang não teria essa audácia toda... ou teria? Na certa, queria fazer de tudo para que aquele casamento acontecesse, e para isso era capaz até de assustar a própria filha, de uma forma que poderia botar a vida da moça em risco.

            Ela parou na rua Olmo, número 519, onde ficava o Hotel Ritz. Perguntou rispidamente em que quarto a sra. Mustang estava hospedada e correu até lá, depois esmurrou a porta com força uma, duas, três vezes. Por fim, a porta foi aberta por Trista, que a cumprimentou jovialmente.

–Olá, Riza! Como vai?

–Saia da minha frente! – a primeira-tenente a empurrou – E então, onde está a sra. Mustang?

–Ela está lá no quarto dela, mas eu acho que... – respondeu a ruiva, mas antes que pudesse deter a outra, ela foi na direção apontada pela noiva de Roy.

            Assim que ela chegou, batendo os pés no chão com força, Odete se virou, e a expressão facial dela ganhou um desprezo incalculável. Com a voz rouca e rascante, sussurrou:

–Você aqui? Fora do meu quarto, agora!

–Espero que esteja feliz, Odete – dessa vez, ela não arredou pé, e ficou encarando a mulher com um profundo ódio – Graças à sua brincadeirinha, a sua filha está no hospital nesse exato momento! Você não sabe que ela é doente, e que um susto desses pode provocar uma desgraça?

–Foi apenas uma brincadeira. E um aviso, é claro! – a sra. Mustang estreitou os olhos – Já percebi o seu planinho, Hawkeye, e farei tudo para acabar com ele. Se não parar com isso agora, cada um dos seus amiguinhos vai pagar caro.

–Qual é o seu problema, hein? – Riza perdeu o controle – Você é egoísta, manipuladora, cruel e totalmente demente! Está tentando empurrar essa porta da Trista para o seu filhinho adorado só pra que você possa controlá-la! Você passou a vida toda tentando impedir que eu fosse amiga dele, e não conseguiu! O que te faz pensar que vai conseguir me tirar do jogo assim tão fácil?! Além do mais, o que você fez com a Melissa não tem perdão!

–Melissa sabe que eu não a considero mais uma Mustang! – retrucou Odete, com desprezo – Ela pagou pela traição, isso sim.

–Vou te ensinar o que é traição! – Riza ameaçou pular sobre ela e ensinar o significado das palavras “fraturas generalizadas”, mas Odete tirou do bolso uma lata que Riza reconheceu como sendo a do Spray Afasta-Ladrão, o mesmo que deixara Edward fora do ar alguns dias antes, e parou na hora.

–Parece que você tem medo disso, não é? – os lábios da senhora Mustang se torceram num sorriso maldoso – Então, se não quiser que eu despeje tudo isso aqui no seu rosto, dê meia-volta e saia do meu quarto agora mesmo!

            Riza hesitou. Seu orgulho lhe dizia para enfiar um soco na cara debochada da outra, mas seu bom-senso lhe dizia para obedecer. Por fim, bufando de raiva, deu as costas e saiu em direção à porta. Antes de sair, porém, disse:

–Se pensa que vou desistir, esqueça. Vamos ver quem vai rir por último, sua bruxa!

            Saiu quase correndo, e assim que chegou à rua, diminuiu o passo. Ela estava com uma vontade louca de atirar em alguma coisa. E também estava com uma vontade louca de comer alguma coisa bem cheia de chocolate, mas sabia que tinha outras prioridades. Foi para casa, devagar, e resolveu esfriar a cabeça cuidando do jardim e arrancando as plantas daninhas, mas percebeu que era uma péssima idéia ao perceber que começava a arrancar também as tulipas premiadas que havia plantado na semana anterior. Desolada, sentou-se na grama e chamou Black Hayate para ficar junto com ela.

            O cãozinho subiu no colo dela. Riza afagava carinhosamente as orelhinhas dele, que retribuía lambendo-lhe o braço. Ele era sempre tão doce e compreensivo... A verdade é que ela nunca agradecera a Kain Fuery adequadamente por ter dado a ela o bichinho. Às vezes, parecia que ele era mais do que um cachorro normal, que a entendia mais do que ela pensava.

–Se as pessoas fossem simples como você, Blackie... – ela suspirou, e ele a encarou, como se concordasse plenamente.

            Ela resolveu entrar em casa. Estava confusa: será que continuava com o plano ou cedia às ameaças da sra. Mustang? Por um lado, todos a apoiavam, por outro seria egoísmo delas arriscar os amigos. Odete provou do que era capaz, e agiu com uma frieza inacreditável. Talvez fosse melhor desistir, admitir a derrota e continuar agindo como sempre, mesmo sabendo que aquilo partiria seu coração em milhões de pedaços.

            “NÃO!”, ouviu uma vozinha berrar desesperada em sua cabeça. “NÃO SE DÊ POR VENCIDA AGORA, OU NUNCA MAIS TERÁ A CHANCE DE CONSERTAR TUDO!”.

            “Me deixe em paz...”, respondeu Riza, entediada. “Você viu o que ela fez com a Mellie... Não posso deixar ela repetir isso com outra pessoa”.

            “Sem rendição, sem arrependimentos, não é esse o lema da divisão de infantaria do Exército amestriano?”, insistiu a Consciência. “No amor e na guerra vale tudo. Você não pode desistir agora!”

            “Seu plano é um belo fracasso!”, retrucou a primeira-tenente. “O tempo está acabando, e está vindo tudo contra mim. Além do mais, no único momento em que ele baixou a guarda, ainda fui atrapalhada. Por favor, vê se me esquece!”.

            “Por favor, apenas termine as duas últimas fases. Está tudo correndo bem até agora, e garanto que a Melissa quer uma vingança à altura. Além do mais, algo me diz que teremos um novo aliado em breve, alguém que pode virar essa mesa.”

            Antes que Riza tivesse tempo de responder, a campainha tocou. De má vontade, ela se arrastou até a porta e a abriu, não sem um grande choque. Quem estava na porta era Adrian Mustang, o pai de Roy, Arthur e Melissa, pálido e levemente esbaforido. Ela o fez entrar e se sentar, e depois pediu que dissesse qual era o motivo da visita inesperada.

–Acabei de vir do hotel. Ouvi o que você disse. É verdade que a Mellie está no hospital?

–Receio que sim, senhor – respondeu a primeira-tenente – Não é nada grave, mas a sua esposa pregou nela uma peça que quase a fez ter um piripaque.

–Um dia desses mando interná-la num hospício! – exclamou o senhor, exasperado – Ela veio falando desde ontem sobre uma conspiração que envolvia você se casando com o Roy e um golpe de estado, alguma bobagem desse tipo.

            Riza sentiu as faces corarem. Então mais alguém sabia! Não tardaria até toda aquela história chegar aos ouvidos de Roy, e aí sim a sua vida estaria acabada. Tentando manter-se calma e aparentar naturalidade, ela conteve-se. Não queria que Adrian interpretasse de maneira errada toda aquela preocupação.

–Se quer saber, até gostaria que fosse assim! – então, ele disse a frase que a fez quase soltar fogos de alegria – Não quero parecer grosso nem nada, Trista é uma moça adorável mas, pobrezinha, é um pouco lenta das idéias. Você, por outro lado, é inteligente e animada, e sei que é totalmente confiável. Vocês formariam um lindo casal.

            Se antes Riza corou, agora ela atravessara todas as matizes de vermelho que o olho humano é capaz de detectar. E dessa vez Adrian percebeu, e deu um sorrisinho cúmplice. Ele havia percebido que ela também considerava a idéia com muita atenção, se é que vocês me entendem, e disse, num tom de confidência:

–Talvez eu possa tentar ajudar o nosso amigo Roy a recobrar o juízo, o que acha?

–O-o-o senhor qu-quer dizer o quê? – ela gaguejou, emocionada. Finalmente, um aliado no meio das fronteiras inimigas! Era quase inacreditável.

–Se quer saber, desde o dia do jantar eu já havia percebido uma movimentação diferente. Ao que me parece, vocês dois tem muito em comum – explicou ele – Posso ajudá-la, protegendo-a das loucuras da minha mulher e impedindo-a de fazer outras besteiras. Não posso prometer nada, mas farei o possível. Agora, preciso ir, ainda tenho que ver como a Melissa está.

–Obrigada, obrigada, obrigada! – ela não parava de agradecer – O senhor não sabe o quanto isso é importante para mim!

–Não se preocupe – já na porta, ele deu de ombros – Juízo, hein? Confio em você!

            E saiu, deixando Riza no mais pleno estado de graça. Naquele momento, suas hesitações desapareceram. As fases quatro e cinco poderiam acontecer sem problemas, e não seria uma mulherzinha insignificante e metida a besta que a desviaria de seus objetivos. Ela poderia cuidar da fase quatro, e os amigos, da fase cinco. O dia do casamento estava cada vez mais próximo, mas haveria tempo de sobra. Um sorriso passou pelo seu rosto. Agora, nada mais a impediria. Se ela tentasse fazer qualquer coisa contra qualquer um dos seus amigos... ah, ela pagaria um preço alto. Afinal de contas, não era assim que a troca equivalente funcionava?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "I Want To Be Your Girlfriend" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.