Os vampiros que se mordam 2 escrita por Gato Cinza
Menos de cinco minutos depois de Bonnie sumir, aquela coisa de madeixas cor de fogo apareceu. Se perguntasse, Damon não saberia responder a razão de ainda estarem na clareira, Matt havia sentado numa pedra grande olhando para o ponto onde Bonnie desapareceu como se esperasse por seu retorno. Alaric se recostou a uma árvore e perguntou se tinham alguma teoria sobre como Vicki sumiu no ar sem deixar rastros. Então, quando aquela coisa apareceu, a reação dos três homens na mata foi se levantar olhando ao redor esperando talvez ver Bonnie e/ou Vicki, mas tudo o que viram foi a ruiva estranha usando um vestido marrom que podia ter saído de um filme de época.
— Cadê a Bennett? – perguntou para Matt.
— Ainda não voltou – disse ele um tanto hesitante.
— Voltou de onde? – os olhos verde-inumanos da ruiva parecia vasculharem a floresta toda, dali – Ela não está nos limites da cidade... Ela não esta em lugar nenhum.
Damon ficou em alerta. Bonnie disse a mesma coisa sobre a Vicki, ela não está em lugar nenhum, mas Matt se adiantou a ele e explicou que a bruxa tinha ido procurar sua irmã que estava desaparecida do outro lado do país. Pela expressão da ruiva, Damon concluiu que sua busca ia um pouco mais além que a América do Norte, algo em torno do mundo inteiro.
— Ela levou o livro?
— Grande e dourado de página preta? – Damon arriscou – Levou sim, por quê?
— Três motivos. O livro é meu. Ela não devia usar os feitiços dele e o mais importante, o livro não me deixa encontra-la e isso é muito ruim.
— Ruim quanto? – Alaric se apressou em perguntar.
— Digamos que a razão de estar com a Bonnie é que ninguém podia acha-lo. Se ela o leu em voz alta, alguém além de mim pode tê-lo sentido.
— Mas se o livro é seu e não consegue acha-lo, por que outra pessoa faria isso?
A ruiva esquisita se virou para Damon com uma expressão carrancuda, como se a presença do vampiro a enjoasse, irritasse, ferisse os olhos e causasse dor de estômago tudo ao mesmo tempo.
— Se eu o quisesse mal, Fext, o meio mais rápido seria ataca-lo aqui diante de seus amigos que possivelmente tentariam socorrê-lo. Contudo, eu podia atraí-lo para longe onde estaria vulnerável.
— Fizeram uma armadilha – concluiu Matt soando apavorado – Pegaram a Vicki para chegarem até a Bonnie.
— Enzo não...
— Faria sim – Alaric interrompeu o vampiro – Suponha que sua única chance de salvar a Elena fosse arriscar a vida Bonnie, você agiria do mesmo modo que o Enzo.
Não! Ele nunca faria isso com a Bonnie. Nunca a colocaria em perigo, nem mesmo pela Elena. Não o faria, não é?
— Descubram onde ela esta e me chamem – disse a ruiva começando a pegar fogo, literalmente – Pergunte para Estevão como.
— Estevão?
— Acho que ela quis dizer Stefan – explicou Damon incerto – Espere! O que há com esse livro que Bonnie precisou escondê-lo? E que a coloca em perigo?
A ruiva pegava fogo os pés a cabeça e nem parecia se incomodar respondeu com gravidade.
— Isso é assunto entre mim e a Bennett e quando ela me devolvê-lo será apenas problema meu.
Aquilo resolvia metade das questões, pensou Damon, pelo menos no que se referia á Bonnie. Então a coisa que com certeza não era humana, sumiu no fogo deixando só cinzas das folhas secas onde pisara antes.
◊
Tentando se convencer de que Alaric estava errado, de que Enzo não tramaria contra Bonnie, ele ligou para o amigo e pediu o endereço de onde estavam. Pediu que Stefan chamasse a bruxa-ruiva e a mandasse para onde os outros estavam.
— Não importa quem te implore nem como implore, só diga para aquela coisa ruiva a localização de Bonnie.
— Por quê? – o mais novo quis saber – Talvez eu possa ajudar.
— Fique aqui e mantenha os outros bem.
Stefan acatou o pedido á contragosto, Damon sabia que Stefan estava passando por algum problema no relacionamento com Elena, e conseguia entender ele querer dar um tempo. Matt já tinha contado aos outros, o que tinha acontecido com sua irmã e já tinham se disposto a ajudar, menos Klaus que confiava na capacidade de Bonnie em resolver os problemas alheios – não que alguém tivesse pedido a ajuda dele.
Damon ficou ligeiramente incomodado quando chegou ao hotel e achou Bonnie e Enzo sozinhos no quarto. A dupla repassou tudo o que tinha acontecido nos dias anteriores até o momento. Como alguém podia simplesmente desaparecer? Considerando que esse alguém não era sobrenatural.
— A faça ir comer alguma coisa – disse Enzo á Damon – Acho que já bebeu uns dez litros de chá e nada mais desde que chegou aqui.
— Bonnie o que achar de irmos almoçar?
— Peça serviço de quarto e Enzo mantenha sua presa longe do pulso dos funcionários do hotel.
O vampiro revirou os olhos e balançou a cabeça negativamente para Damon que compreendeu o gesto. Pedir comida para ela era perda de tempo. Por isso Damon insistiu até vencer por cansaço. O apetite de Bonnie surgiu assim que pisaram na cantina alemã há uma quadra do hotel, por alguns minutos o Salvatore distraiu o namorado e a amiga da desaparecida falando sobre a culinária alemã, a maioria era mentira e o resto era lendas e superstições. Pelo menos ele conseguiu distraí-los do fato de não terem noticias de Vicki.
— Lorenzo! – uma estonteante morena de imensos olhos pretos se aproximou deles sorrindo, ela tinha um sotaque forte, brasileira talvez.
— Elisa – o cumprimento de Enzo soou pesaroso, triste.
— Que houve? Parece-me... Como diz? Melancólico? Cadê a Victória?
Enzo não respondeu, em vez disso secou o copo de uísque. Depois de um constrangedor silêncio, Bonnie perguntou:
— Viu ela por ai? Estamos procurando por ela.
A morena balançou a cabeça, fazendo os cabelos longos e cacheados se moverem de um lado para o outro, seus olhos fixos em Damon.
— Não a vi. Mas se eu souber dela como posso entrar em contato com você? – perguntou para ele, especificamente.
Sério?— os lábios de Bonnie apenas se moveram, fazendo Damon sorrir internamente. O vampiro passou seu numero para Elisa que sorriu contente, passando a mão pelo rosto dele enquanto saia.
— Boa sorte em sua busca por Victória, Lorenzo – disse ela – Ligo para você mais tarde, Damon.
Bonnie tinha parado de comer e o olhava com um misto de raiva e... raiva homicida.
— O que eu fiz?
— Sério?
— Ela só esta querendo ajudar – disse inocente.
— Sei bem o que ela quer.
— Com ciúmes?
Ela comprimiu os lábios até eles se tornarem uma linha, Damon estava se divertindo com o olhar furioso da bruxa e esperou para contar á ela que o numero que deu para Elisa era aleatório, talvez nem existisse. Enzo se afastou ligeiramente, arrastando a cadeira para longe do amigo, como se não quisesse ser atingido por um garfo ou um aneurisma. De repente Bonnie mudou de expressão, ficou ereta e olhou para os lados como se procurasse algo.
— O que foi? – perguntaram os vampiros juntos.
— Nada.
Os vampiros trocaram um olhar desconfiado.
— Respondeu rápido demais – resmungou Damon ao mesmo tempo em que Enzo questionava:
— É sobre Vicki?
— Estamos sendo observados – ela sussurrou inclinando-se na direção deles.
— Estamos cercados por umas trinta pessoas e mais algumas câmeras de segurança – Enzo informou com ironia – Ser observados não é uma opção.
— Por acaso você a Vicki estavam sendo seguidos? – ela perguntou ignorando o comentário do amigo e olhando para o outro lado da rua.
Enzo ia dizer que não, então se lembrou de algo que aconteceu no começo da noite anterior ao sumiço de Vicki.
— Seguidos eu não posso afirmar, mas tinha um homem que aparecia em vários lugares que nós.
— Que homem?
— Era só um turista grego seguindo o roteiro indicado por um site qualquer que prometia diversão.
— Consegue descrever esse cara?
— A única coisa que o diferenciava dos outros eram os cabelos loiros muito compridos e os olhos que parecia roxo, mas devia ser uma daquelas lentes medonhas.
— Sentia frio perto dele ou muito calor?
— Não. Conhece alguém assim? Bonnie?
Ela olhava novamente para o outro lado da rua, os olhos fixos em um ponto só. Os vampiros não viam nada ali e pela expressão de Bonnie que estreitava os olhos, ela também não via ninguém. Ela se levantou sem se explicar e seguiu para o outro lado da cantina, olhando para todas as direções como que esperando alguém se materializar.
— Perdi ele – ela disse chutando uma pedrinha solta na calçada – Droga!
— Perdeu quem? – Damon perguntou ao seu lado.
— A pessoa que estava aqui, nos observando.
— Não tinha ninguém aqui, Bonnie.
♀
Ela fez o celular de Damon explodir, não tinha idéia de que era capaz de fazer aquilo, só que depois da terceira ligação de Elena para saber como todos estavam e se tinham noticias de Vicki, a bruxa desejou que o celular explodisse, assim, quando o aparelho tocou pela quarta vez no curto período de seis horas, ele explodiu.
— Melhor assim – ela murmurou para si mesma voltando a se concentrar no mapa em sua frente.
Já tinha feito aquilo dezenas de vezes e não estava tendo sorte nenhuma. Enzo e Damon ainda olhavam os restos queimados do celular tentando compreender o que aconteceu, defeito de fábrica, sugeriu a bruxa desinteressada e se esforçando para não rir. Alguém bateu na porta e os três se olharam, não tinham pedido nada e Enzo tinha hipnotizado todos os funcionários para não bater na porta deles – não queriam correr o risco de alguém entrar e ver o que não devia. Bonnie pegou o lançador de estaca que estava usando para localizar Vicki e o apontou para a porta enquanto Enzo mandava que a pessoa entrasse.
— Vai atirar em mim? – a ruiva perguntou parada sob o batente da porta.
— Talvez – respondeu a bruxa baixando a arma.
— Posso saber a razão de ter quebrado outra regra, Bennett?
Bonnie revirou os olhos.
— Estou ficando cansada de suas regras. E me disse em nossa última conversa que usar sua magia para ir de um lugar para o outro não era errado.
— Também disse para nunca ler essa coisa – ela apontou para a gaveta do criado mudo – Em voz alta.
— Não vou pedir desculpas por fazer o que é certo.
— Não quero suas desculpas, quero meu livro de volta.
— Achei que ele era meu.
— Bennett você está me dando dor de cabeça. Eu preciso voltar para minha casa e resolver problemas que eu desconfio que não existiria se você não quebrasse as regras. Me dê logo aquela coisa.
— Preciso dele para achar a Vicki, mande seu sei-lá-o-que ficar por perto, quando eu acha-la entrego o livro para ele e ele te entrega.
Mina fitou a bruxa-humana com uma expressão preocupada.
— Meu quem?
— O homem que estava nos seguindo esta tarde. Eu não o vi, mas tenho certeza que era um homem.
— Não mandei ninguém seguir você, acabo de falar com Stevan e vim para cá.
— Ele tinha sua energia, só que diferente, de um modo ruim.
Bonnie não sentia mais a presença estranha que a fez perder o apetite, mas recordava bem da energia perigosa que aquele espaço do outro lado da rua da cantina alemã, a fez sentir. Uma vontade imensa por violência, queria causar medo nas pessoas e ouvi-las gritar de pavor até o último suspiro. Uma sensação horrível. Que tipo de criatura podia se alimentar do medo alheio?
— Tem certeza disso Bennett? Como eu?
— Sim.
Mina franziu o cenho e se virou para Enzo.
— Viu alguém como eu recentemente?
— Ruiva? Deslocada?
— Diferente de todo resto sobrenatural que já viu.
— Não. Sim. Mas não sei se ele era sobrenatural.
E Enzo descreveu o homem que pensou estar á segui-lo.
— Maldição! – Mina reclamou.
— Quem é esse? – perguntaram os três.
— Alguém que não deve chegar perto desse livro para o nosso bem, Bennett. Eu não acredito que não percebi isso, todas aquelas viagens e nunca estava em alcance de ninguém como se sumisse no... Oh! Volto num segundo.
Literalmente, Mina desapareceu e retornou no segundo seguinte acompanhada de uma Vicki muito confusa que percebeu onde estava, se voltou a ruiva com um empurrão e correu para junto de Enzo.
— Vicki – o vampiro a virava de um lado para o outro – Você está bem?
— Estou, claro. O que aconteceu? Por que vocês estão aqui?
Bonnie olhou para Mina que deu de ombros e respondeu, olhando para o criado mudo.
— Tirei ela da cama e a trouxe para cá. Tenho que ir, vou devorar o coração de um traidor – e abriu um sorriso cheio de dentes serrilhados.
Nenhum deles teve duvida que ela fosse mesmo querer comer alguém, com aquele sorriso espectral.
— O livro – disse Bonnie quando Mina começou a se desintegrar.
Ela olhou para o criado mudo e disse num tom de ordem:
— Destrua-o.
Tão logo a visitante virou cinzas, se viraram para conversar com Vicki, exigindo uma explicação.
— Não sei o que aconteceu. Eu estava discutindo com Enzo quando aquela louca apareceu. Acho que pisquei, não sei, eu estava lá e agora aqui. O que está acontecendo?
— Alguma coisa envolvendo aquele turista loiro que nos seguia, com um livro de Bonnie e aquela bruxa esquisita. Onde foi que ela te levou? O que ela te fez?
— Nada. Eu já disse, ela me tirou da cama e me colocou ali, em pé.
— Quatro dias – Bonnie tentou explicar – Eu não sei o que ela fez ou por que, mas já passou quatro dias do segundo em que você estava ali deitada e agora.
— Tá brincado – Vicki riu.
Mas não era brincadeira, fosse lá o que estava acontecendo, Mina arrastou Vicki no tempo.
— Depois eu quem quebro as regras – resmungou indo pegar o livro dourado.
◊
O problema Vicki estava finalmente resolvido, Bonnie deu á ela um amuleto de proteção para evitar futuros transtornos relacionada com o povo de Mina ou qualquer outro sobrenatural. Agora só precisava destruir o livro, era fácil. Era só joga-lo na água. E ela estava encarando a pia cheia de água fazia mais de uma hora com o livro dourado nas mãos o segurando contra o peito. Não tinha coragem de fazer aquilo, destruir algo tão incrível...
— Estou virando o Gollum – disse apertando mais o livro nos braços.
Mina ia surtar se soubesse que ela não tinha destruído o livro. Mas a culpa era de Mina, quem mandou não tê-lo destruído quando teve milhares de chances?
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