Zen Noel escrita por Mizuki Shimizu


Capítulo 1
Zen Noel


Notas iniciais do capítulo

Tenha uma ótima leitura!



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O grande aglomerado de mulheres das mais variadas faixas etárias estava atrapalhando minha passagem. Perguntei-me no mesmo instante se algum tipo de k-idol estava por perto, pois, para mim, não fazia sentido todas ficarem no frio, com a neve sem parar de cair.

Tentei me esquivar e uma delas acabou me derrubando. Deixei cair meus livros e os doces que havia comprado para dar de presente. Apressadamente, juntei tudo para sair logo de lá.

Uma mão pegou o último livro que faltava, limpando um pouco o embrulho. Nervosa, levantei e peguei o presente. Murmurei um “obrigada”.

— Você não vai nem ao menos dar um “olá” para o bom velhinho? – perguntou a pessoa que me ajudou. Eu levantei a cabeça para olhá-lo. Era o Papai Noel mais bonito, e aparentemente, mais musculoso que eu havia visto. O rapaz que estava fantasiado sorria para mim, ao mesmo tempo em que tentava ficar o mais sexy possível. Aquela apresentação não era um pouco demais para as crianças?

— Obrigada! – falei mais alto, com receio de ele não ter escutado da última vez. Escutei uma mulher atrás dele exclamar o quanto o Papai Noel era sexy. Ele, ouvindo também, desviou sua atenção para ela e começou sua atuação.

Não sabia bem o porquê, se o motivo foi ele ter me ajudado, se foi curiosidade sobre como alguém bonito, talentoso, gentil e inteligente (convenhamos, ele conseguia atrair clientes) como o rapaz de cabelos brancos não era famoso.

Observei, de perto, a maneira como ele agia com cada uma, a cada cantada, trecho de canção, sorriso, ele fazia com que elas, uma a uma, sentissem que eram especiais. Apesar de geralmente ter repúdio de alguns homens quando eles faziam isso, não tive raiva daquele.

Pouco a pouco, elas se dispersaram, sobrando apenas um pequeno círculo. A noite tinha caído completamente, e a neve aumentara. Tive uma ideia.

— Eu apenas vou dar presentes para as garotinhas boas esta noite. – continuou ele, antes de eu sair de perto. – Qual presente eu deveria dar?

— Um beijo! – pediram algumas.

— Seu número – sugeriu outra.

— Noites loucas de amor – gritou uma.

— Um encontro! – exclamaram umas garotas.

— Eu posso ir na sua cama quando todos estiverem dormindo e te dar um beijo de boa noite? – perguntou ele. – Ou... você quer algo mais profundo que isso?

Todas as mulheres ao redor dele gritaram histéricas. Eu comecei a me afastar. Quando estava a uma distância segura para não ser vista, corri em busca de uma padaria. Achei uma a alguns quarteirões.

Voltei com ainda mais velocidade para o lugar onde antes estava cheio de mulheres, e, frustrada, arfei. As garotas, assim como o Papai Noel de cabelos brancos, sumiram. Com raiva de mim, sentei no pequeno banco em frente à loja para qual o Papai Noel trabalhava, segurando a bebida quente com as duas mãos. Se eu tivesse aquela ideia um pouco antes. Eu queria tanto ter pensado mais cedo sobre aquilo.

Ouvi uma porta bater atrás de mim, levando um susto. Virei rápido para conferir se a loja estava mesmo fechada e eu não levaria uma bronca por estar ali, quando um rapaz musculoso e alto estava parado, acenando para alguém na loja escura. Ah, pensei, é claro que algumas pessoas ainda estão trabalhando, a loja fechou apenas para os clientes.

O rapaz virou e me olhou. Piscou algumas vezes, confuso, e então sorriu. Foi só aí que percebi. Aquele era o Papai Noel.

Senti meu rosto ficar tão quente quanto à bebida que eu segurava. Abri a boca, na tentativa de balbuciar alguma cosia qualquer uma, tornando a fechá-la em seguida. O rapaz riu da minha reação, andou um pouco e parou na minha frente. Observei cada movimento seu, o seu belo rosto parecendo calmo, seu sorriso travesso, ele olhando para as minhas bochechas provavelmente vermelhas. Ele não usava nenhum casaco, apenas um moletom um tanto velho, e, ainda assim, continuava sexy.

Ele olhou para o espaço vazio ao meu lado.

— Posso me sentar? – perguntou com um ar de inocência. Eu olhei para a rua quase branca, e então para o toldo acima de mim. Ele pegaria um resfriado logo se fosse para aquela neve. Não que ficar ao meu lado ia ajudar a aquecê-lo, porém, era melhor do que ir para a rua.

— C-claro! – respondi um pouco mais rápido que o normal.

Ele riu, sentando-se ao meu lado. Parecia tão normal, não fosse, bem, não fosse ele. Seu all-star preto estava gasto, sua calça jeans tinha alguns rasgos e seu moletom azul marinho não combinavam com o homem que os vestia. Seu cabelo branco era tão lindo que eu tinha vontade de tocá-lo, mas não tanto quanto eu tinha vontade de tocar suas mãos, sem luvas, para aquecê-las.

Fiquei ainda mais vermelha quando ele me olhou, e me perguntei se ele podia ler pensamentos.

— V-você não está com frio? – tentei puxar assunto. Quis me enfiar em um buraco e morrer. Como assim? Que tipo de pergunta idiota?

O rapaz sorriu. Naquele momento me dei conta do perigo que eu estava correndo. E se ele fosse alguma espécie de criminoso? Eu tinha perdido a noção?

— Eu estou acostumado, obrigado por perguntar – Ele continuou sorrindo. – E você? O que está fazendo por aqui? Está perdida?

Balancei a cabeça negativamente. Não mesmo.

— Não, não estou – respondi, com o coração acelerado. Eu não tinha me dado conta do órgão batendo tão rápido até aquele dado instante. – Na verdade, eu queria te entregar isso.

Estendi para ele o chocolate quente gigante que eu havia pedido. Eu não fazia ideia do que ele gostava, então comprei algo que eu gostaria de receber. Ele encarou o copo, surpreso. Tive vergonha de vestir minhas luvas mal tricotadas por mim quando vi que ele também encarava minhas mãos.

— Por quê? – perguntou ele, sem reação.

Eu olhei para baixo. Ele ia me achar uma louca.

— É que você foi tão legal comigo, com todas aquelas pessoas, na verdade. E estava tão frio, você estava tão pouco agasalhado. Pensei que uma bebida ia te aquecer. Pensei que, você trouxe alegria para tanta gente, sem pedir nada em troca, e que algumas daquelas pessoas podiam ter tido um dia ruim. Você, um total estranho, deu a elas um pouco do brilho de natal. – murmurei tudo com uma velocidade enorme, morrendo de vergonha da minha ideia sem sentido. – Eu sei que pode parecer estranho. Se eu fosse você, não beberia algo que um estranho me entregou, então, só finja que nada aconteceu.

O rapaz segurou as minhas mãos. Olhei para ele. Parecia muito feliz. Seu rosto estava corado e me perguntei se era o frio. Ele pegou a bebida e começou a bebê-la. Parou um pouco, limpou os lábios com as costas das mãos, e então disse:

— Muito obrigado! Ninguém nunca tinha feito e falado nada disso. – Ele estendeu o copo e ficou analisando-o. Então virou o rosto para mim, sorrindo o sorriso mais bonito do dia. – Você é uma pessoa maravilhosa.

Fiquei sem graça e balancei a cabeça negativamente outra vez.

— Ah, a propósito, eu sou o Zen – disse ele, falando normalmente.. – É o nome artístico que eu usarei quando for famoso. – Então ele realmente queria ser famoso. Estava completamente certo. Ele pegou uma das minhas mãos, e beijou-a, mesmo estando com luva. – É um prazer conhecê-la.

— M-meu nome é MC. – gaguejei.

Zen conversou comigo durante muito tempo. Era uma situação completamente estranha, apesar de nós dois estarmos super confortáveis com aquilo. Ele me esperou pegar um táxi, pois “uma garota não pode ficar sozinha à noite, é perigoso”.

Eu mal consegui dormir aquela noite. Só pensava em como Zen era gentil e como eu queria que ele realizasse seu sonho.

No dia seguinte, corri para comprar um último presente. Após as compras, fui onde Zen trabalhava, e, para minha surpresa, ele não estava lá. Entrei na loja e perguntei dele para o gerente. Este contou que o dia anterior havia sido o último de Zen, pois ele tinha audições, não teria mais tanto tempo para trabalhar como ele gostaria. Cruzei os dedos para que ele saísse bem, apesar da minha frustração de não dar um adeus.

Prestes a sair, o gerente me chamou.

— Ele ainda passará aqui para devolver a fantasia. Você não quer esperá-lo? – Fiquei comovida com a bondade do gerente. Ele provavelmente viu a tristeza estampada em meu rosto.

Sorri, recuando alguns passos, e estendi o embrulho para o gerente, que o aceitou.

— Por favor, entregue para ele. – pedi, curvando-me. O gerente aceitou.

— Quem é a senhorita? – perguntou ele.

Pensei um pouco.

— Pode falar que é a primeira fã dele. A fã número um. – falei. – Ah, e espero que o chocolate quente tenha sido bom.

O gerente assentiu. Agradeci novamente.

Quando saí pela porta, não pensei em quão chateada eu estava, e sim, no quão feliz eu estava por ter encontrado meu primeiro amor. Olhei para minhas luvas, as mesmas do dia anterior, como se pudesse sentir o toque dele. Fechei os punhos para tentar prender o momento e sorri. Senti que ainda o encontraria. Algum dia.


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