Sabrina

Chego no Rio pela manhã. Pra variar, está aquele sol maravilhoso que parece só ter aqui.
Ninguém sabe da minha chegada. Tenho certeza que se eu falasse com o Fred, ele diria ao Marcos e sinceramente não queria encontrá-lo, não ainda.
Preciso me preparar pra olhar novamente aqueles olhos que parecem ver através dos meus.
O cartão que ele me mandou junto com a pétala, estão sempre comigo. É uma forma que tenho de tê-lo perto de mim.
Nosso encontro é a noite, no bar Paris 6. Lugar aconchegante e ótimo para encontros.
Vou pro hotel e tento dormir, pra descansar um pouco, me preparar pra noite e apagar um pouco da semana tensa que tive. Ramon ainda não aceita nosso termino e fica me incomodando. Acho que ele está me vigiando.
Esqueço-o instantaneamente pensando no que me aguarda e acabo adormecendo.
O tempo voa. Quando percebo já está na hora de ir. O bar não fica tão longe do hotel. Coloco uma calça de cintura alta, um cropped laranja, saltos confortáveis e vou com a cara e a coragem pra vê-lo novamente. Passaram-se quantos dias desde o nosso beijo? Quatro? Pareceu uma eternidade. Resisti a não ligar pra ele. Resisti muito. Vamos ver como nos saímos essa noite.
Chego no bar e eles já estão lá!
Perco o ar quando o vejo: blusa branca, barba levemente aparada, jeans preto e aquele sorriso que faz eu perder o chão ! Como eu resisti tanto tempo a esse homem? Como?
Ele levanta e vem se encontrar comigo. Olhos nos olhos, Boca entreaberta , sorriso arrebatador... e um bouquet de orquídeas amarelas nas mãos!
Ele esta dizendo alguma coisa... - Sabrina? Ele me chama. - Ta tudo bem?
— Ah, oi! Tá sim! Desculpa! (Será que ele percebeu como me deixa sem reação?) O simples ouvir da sua voz, já me deixa trêmula!
— Vamos nos sentar, o Fred já está ansioso.
— Cla, claro! Gaguejo. Merda.
Nos sentamos e começamos a conversar sobre o projeto. Vez ou outra percebo ele me olhando e finjo que não vejo.
Fred quer que façamos mais intenso. Tipo comédia romântica, só que com mais sensualidade! E lá vamos nós pra mais um casal!
Se eu queria que isso acontecesse? No fundo sim! SIM!!!
Como eu posso simplesmente ignorar o que está se passando dentro do meu coração? Se só de chegar perto dele, começo a suar e imaginar como seria uma relação com Marcos Pitombo! Imagino aqueles braços em torno da minha cintura, como na noite do nosso beijo! Aquele corpo quente envolvido no meu, me fazendo carícias, me provocando, me torturando... Imagino suas mãos me acariciando e tentando encontrar tudo o que não está a vista de seus olhos. Sou interrompida de meus pensamentos impuros, ao ouvir Fred me chamar de volta!
— Sabrina, você ouviu tudo o que dissemos? Você concorda com o script da peça? Preciso saber se vocês estão dispostos a fazer. Já vamos começar a correr atras dos patrocínios e tentar entrar em cartaz no máximo no início do segundo semestre. Também tem a viagem de vocês pra Portugal e depois disso começamos com gás total. Se sim, vc precisará se mudar pra o Rio, pois todos estamos concentrados aqui. E então?

 Eu não sabia o que dizer. Meu Deus, eu não tinha ouvido nada do que ele disse! Que profissional eu aparentaria ser, se na primeira reunião só meu corpo estava presente? Não tenho outra alternativa a não ser...
— Eu concordo! Sim, eu me mudo pro Rio. Por mim tudo bem!
— Ótimo! Acho que terminamos então! Vou ao banheiro, aproveito pra pagar a conta e podemos ir. Com licença.
Ele sai e eu e Marcos permanecemos calados. Não sabíamos o que dizer um pro outro. Até que..
— Marcos..
— Sabrina...
 Rimos. Falamos juntos. Ele começa.
— Sabrina, queria me desculpar por aquele dia. Eu me excedi. Não queria causar nenhum problema pra você e acho que isso causou um estranhamento entre nós. Eu sei que pode ser difícil trabalhar juntos agora e vou entender se você só quiser se dirigir a mim de forma profissional. Eu já pedi, mas não custa reforçar, me perdoa mesmo, do fundo do coração.
Eu o olhei pela primeira vez naquela noite. Ele não tinha culpa de nada. Eu também o beijei. Preciso esclarecer.
— Marcos, não precisa se desculpar. Tá tudo bem, eu juro.
— Mas Sabrina, depois disso você me ignorou. Não disse nada do presente que mandei pra você, pensei que você estivesse me odiando!
— Odiar? Claro que não! Eu só não disse nada do presente porque naquele dia eu não estava nada bem. Na verdade, ainda não estou.
— Mas o que houve?
— Eu e Ramon terminamos Marcos. Naquele dia.
— Poxa Sabrina, eu não imaginava. Desculpa.
— Tudo bem Marcos. Nos já estávamos tendo alguns problemas. E obrigada pelo presente! Eu não imaginava que você guardava objetos que usávamos na gravação. Achei muito fofo.
— Eh, eu guardei sim. Teve um significado muito especial pra mim. Não só as pétalas, algumas outras coisas também. Ele diz envergonhado.
— Outras? Mas quais? Agora fiquei curiosa!
— Olha, não vai ficar chateada hein. Eu guardei a ...
— Prontinho gente! Já paguei, podemos ir! A fila estava enorme! - Diz Fred voltando e interrompendo nossa conversa.
— Ah, que bom. Vamos! Digo

Do lado de fora, já estava me dirigindo pra um ponto de táxi, mas Marcos aparece e diz que me deixa no hotel. Insisto não ser necessário, mas ele é teimoso!

Marcos

A Sabrina estava linda como sempre. Não tive coragem de dizer isso a ela. Não depois do que aconteceu. Entreguei as flores pra ela e só. Ela parecia desnorteada. Não disse nada, ficou apenas me olhando. A chamei varias vezes até ela sair do transe. Será que eu causava esse efeito nela? Isso me anima. Calma Marcos, não vá se precipitar.
Vamos pra mesa, o Fred já estava nos esperando. Ele explica como provavelmente será a peça. A Sabrina parecia estar em outro mundo, duvido que ela tenha ouvido uma só palavra do que ele disse. Parecia estar pensando... mas em que? Quando ele diz que ela teria que voltar pro Rio, ela apenas concorda. Bom sinal.
Ele sai pra pagar a conta e ficamos só nos dois e o silêncio dominante. Nenhum de nós sabe o que dizer. A chamo e peço desculpas. De novo.

Ela então explica que ela e Ramon tinham terminado, no dia em que mandei o presente! Por isso ela não me respondeu! Estava angustiada! Então de certa forma, ela não me odeia.
Isso me faz suspirar de alívio! Chega a hora de irmos e me ofereço para levá-la. Ela resiste, mas eu acabo vencendo.
Ela permanece calada a maior parte do trajeto. Ensaio uma conversa, mas desisto. Decido respeitar o momento em que ela está passando.

—Chegamos Sabrina. Nisso Ja estou parado em frente ao seu hotel.
Ela me olha, um olhar triste, suplicante. Percebo o quanto ela está sofrendo e eu só queria poder abraçá-la e mostrar pra ela que poderia contar comigo! Que eu estaria sempre com ela, precisando ou não.
— Sabrina, será que eu posso... te dar um abraço? Sem dizer uma palavra e sem oferecer resistência, ela me permite abraçá-la. O contato dos nossos corpos causa uma estranha sensação de estar em casa, de pertencimento. E ali, naquele momento, mais que tudo percebi que meu sentimento era maior que uma paixão... E não importava mais nada. Só queria estar ali com ela, nos braços dela...Ela se afasta de mim, calmamente, me olhando..
— Me desculpa Marcos. Não sei o que me deu...
— Não precisa se desculpar, estou aqui para o que vc precisar. - Digo isso e coloco uma mecha do seu cabelo atras da orelha. Nossos olhares se cruzam e por um instante não existe mais nada, somente nos dois e o barulho ensurdecedor dos nossos corações batendo descompassados. Me aproximo dela, acaricio seu rosto e lhe dou um beijo na testa. Colamos nossos rostos e permanecemos assim por longos minutos...
— Preciso subir Marcos. Me desculpe, boa noite!
A seguro pelo braço, deixando clara a minha intenção. Dou um beijo em seu rosto e me despeço.
— Se precisar de qualquer coisa, me ligue. Que tal irmos à praia amanhã cedo?
— Ok. Combinado. Boa noite.
— Sabrina, só mais uma coisa... Me deixa cuidar de você?
Vejo o esboço de um sorriso. Isso me deixa feliz. Ela se aproxima e para lentamente, bem próximo ao meu rosto e me olha intensamente....
—Deixo. - Ela diz. E antes que eu pudesse entender o que ela quis dizer, sou surpreendido por um beijo doce e calmo... Ela se afasta sorrindo e sai do carro, me deixando boquiaberto e com o coração saltando de alegria....