Marcos

Estou absorvendo os acontecimentos dos últimos dias e do que acabei de saber.
Nunca imaginei que ele pudesse fazer algo contra a própria vida! E porque a Sabrina não me contou??
Não sei exatamente o que estou sentindo: raiva, ódio, solidão, rejeição? Nunca me senti assim, desamparado.

Sei que foi uma situação difícil pra ela, mas eu sou o namorado e nada mais justo que ela ser transparente comigo! Sim, a minha chateação é pela falta de confiança dela em mim. Por ela não ter se aberto e ter me deixado no escuro quanto ao que estava acontecendo. Pior ainda por eu ter sabido de forma tão fútil.
Recebi algumas mensagens dela, mas não quero falar com ela. Se ela se vê no direito de me ignorar quanto a um assunto tão importante, ela pode esperar também a minha vontade de não querer vê-la e nem falar com ela. A sua insistência me mostra que ela pode estar arrependida.
Não estou preparado para lidar com seu arrependimento. Minha magoa ainda está rasgando minha pele.

E pensando nessas coisas que nos fazem perder a noção do tempo, coisas em que não queremos pensar e em como relacionamentos são difíceis, adormeço tentando esquecer o porque me encontrava assim.

Acordo, não sei quanto tempo depois ao som da companhia insistente do meu apartamento. Quem seria uma hora dessas? Olho o relógio e já são quase 22 horas.

Ainda sonolento vou até a sala e abro a porta. E de novo ela está lá, parada na minha frente, assim como na vez em que ela saiu correndo quando viu a Helô na Praia.

— O que você está fazendo aqui?
— Marcos, por favor me deixa entrar. Precisamos conversar.
— Não sei se é uma boa ideia Sabrina.
— Por favor!
— Ok. Entra.
Me sento no sofá e a olho intensamente. Não sei o que meus olhos estão transmitindo, mas ela não consegue me encarar.

— Bom, queria me desculpar. Eu sei que a minha atitude foi imatura. Mas eu quero que saiba que não é porque eu não confio em você. Eu não sabia o que vc iria pensar se eu te contasse que o Ramon tentou algo na frente dos meus pais. - ela pausa, torcendo as mãos no colo. - não foi nada grave. Na verdade nem chegou a ter qualquer risco pra ele. Mas a situação foi, eu nem sei dizer. Minha mãe estava fora de si, convenhamos que isso não é uma coisa comum de acontecer, né.
— Sabrina, eu imaginava que fosse algo com ele e sinceramente o que me dói é saber que você não confiou em mim para me contar. Que tipo de relacionamento nós temos? Eu sinto muito pela sua mãe, pelo seu ex, mas eu fui largado em outro país pela minha namorada, fiquei sabendo o que o ex-noivo dela fez pela midia, não tive sequer uma explicação decente e só agora você vem até aqui pra tentar explicar alguma coisa? O que você quer consertar? A falta de confiança que você demonstrou, o fato de ter meu deixado sozinho em Portugal no escuro, o fato de eu ter sido abordado e bombardeado pelos jornalistas? O que?- ela está chorando, mas nem me manifesto para levantar e ir até ela.
— Eu sei que eu errei. Eu nunca devia ter feito o que fiz.
— Mas você fez. Em algum momento você pensou em nós? Em mim? Não Sabrina, você não pensou. Você simplesmente veio embora sem olhar pra trás, sem se importar como eu estava me sentindo. Você preferiu correr pra socorrer um cara que fez o que fez só pra chamar a sua atenção. Acho que as coisas ficaram muito claras pra mim naquele dia, como nunca estiveram. Talvez você ainda esteja ligada à ele. Afinal 5 anos não são 5 dias, não é mesmo?
— Marcos, eu amo você! Eu sei que agi feito uma idiota, sei que devia ter contado pra você, mas eu não o fiz e eu sei que errei. Agora eu estou aqui, implorando pra você me perdoar e entender.
— Eu entendo perfeitamente Sabrina. Nunca ia brigar com você por este motivo. Se você tivesse me contado, nós não estaríamos tendo essa conversa agora. Você entende onde eu quero chegar? Sem segredos, sem mentiras. Era só me deixar a par de tudo, eu nunca impediria você, nunca. Mas você não pensou assim.
— Marcos... eu nem sei o que dizer. Eu sei que estou errada, completamente errada! Mas eu te amo!
— Amor a gente demonstra de várias formas. Uma delas é confiando na pessoa que está ao seu lado e você não fez isso. Será que o que temos é amor realmente? Eu juro que não sei.
— Não duvide do meu amor, por favor. Eu quero consertar o que eu fiz.
— Não é tão simples. Eu estou muito confuso. Eu preciso pensar. Será que podemos ter essa conversa depois? Eu quero ficar sozinho.
— Marcos, por favor. Me escuta.
— Eu já escutei o você tinha pra dizer. Agora eu vou pensar. Quando eu tiver com as minhas ideias em ordem, nós nos falamos.

E assim nossa conversa se encerrou. O que eu estou sentindo é tão estranho que eu não sei dar nome. Estou magoado, desamparado. Porque amar é tão difícil? Porque relacionamentos tem que ser tão complicados? Meu coração cortou ao vê-la saindo daqui sem ao menos tocar nela, mas ela precisa perceber que tem que confiar em mim.
Eu já não dei provas suficientes do meu amor por ela?
Acho que dei mais motivos pra ela pensar.