Ironia do Destino escrita por Marry Moon


Capítulo 11
Capítulo 9- Um Jantar Quase Perfeito


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥ Preparem seus corações!



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   Hoje, finalmente, é sábado. Há sete dias atrás deveria ter ocorrido o jantar na casa de John. Acontece que minha mãe ficou encarregada de fazer uma viagem de negócios de última hora. Seu emprego é (quase) tudo para ela. Foi com muita dificuldade que Lucya chegou onde está e, havia grande possibilidade de seu cargo ser rebaixado se ela não comparecesse na reunião na qual foi encarregada. Então marcamos para o sábado seguinte, (que já é hoje).

   Estou encarando o meu guarda-roupa faz meia hora e não consigo decidir que roupa ir. Enviei algumas fotos com as combinações que tinha feito para Beatrice, mas ela desaprovou todas. Não sou de me importar com o que os outros pensem da minha roupa, porém, esse jantar é muito importante; minha mãe vai assumir seu relacionamento com John e preciso causar uma boa primeira impressão para a família dele. Foi por isso que pedi à Bia para que viesse em casa me ajudar com o look.

   _De todas as suas roupas, o vestido vermelho é o mais apropriado. Uma pena que você já usou ele na festa de Duncan. -Disse Beatrice, mexendo no guarda-roupa do meu quarto.

   _E qual o problema de usá-lo de novo? Não é para isso que serve a máquina de lavar, para podermos usar as roupas novamente?

   _Acontece que Henry já te viu com esse vestido.

   _Então vai me dizer que desde que você e Fred estão namorando, você nunca repetiu uma roupa perto dele?

   _Até o primeiro mês, sim.

   Dei risada.

   _Só você mesmo para se preocupar com uma coisa dessas! Eu vou com o vestido vermelho mesmo, sei que Henry gosta dele.

   _Bom, já que vai repetir o vestido, pelo menos use um salto e uma jaqueta diferente.

   Então coloquei meu salto agulha preto, que só uso em casamentos pois detesto andar com salto muito alto e fino, e minha jaqueta jeans.

   _Está perfeita! Agora, antes de ir, preciso te dizer alguns dos erros que não pode cometer quando estiver lá.

   _Okay.

   _Se houver alguma mulher “cheinha” lá, não pergunte se está grávida! Se precisar adivinhar a idade de alguém, sempre chuta para um número menor. Nunca reclame da comida, mesmo se não estiver muito boa; coloca bem pouco no prato, se estiver bom, repete e elogie quem fez, mas se não estiver, faz um esforço para comer e não largar a comida, por isso tem que pegar pouquinho! E se fala-

   Eu tive que colocar a mão em sua boca para impedi-la de falar mais.

   _Bia!! Eu sei que suas dicas são “ótimas”, mas eu tenho noção do que dizer ou não. Você está até parecendo minha mãe! -Desatei a rir. Eu estava tão nervosa para esse jantar, pelo menos ela consegue me acalmar com seu ‘falatório’.

    _Está bem! Só o que tenho a te dizer é: vai dar tudo certo!

   Nesse instante, minha mãe bateu na porta do quarto.

   _Ande logo Emma! Não vamos nos atrasar!

   _Já vou! -virei novamente para Bia-  Obrigada pelo apoio. -disse, enquanto ela segurava minhas mãos.  

   Assim que me despedi de Beatrice, fui embora com minha mãe. A casa de John não é tão longe da minha, então não demorou muito até chegarmos na entrada. Antes mesmo de Lucy apertar a campainha, John já abriu a porta para nós. Acho que ele ficou plantado na sala só nos esperando chegar.

   _Lucy! Como você está maravilhosa essa noite! -Disse John, logo na sequencia lhe dando um beijo.

   Fiquei com cara de paisagem até eles terminarem o “cumprimento”.

   _Olá Emma, boa noite! -Disse, me dando um aperto de mão.

   _John. -Disse, acenando com a cabeça.

   _Por favor, entrem. Estão todos esperando na sala de jantar.

   _Querido, chegamos muito atrasadas? -Cochichou minha mãe para John.

   _Apenas cinco minutos, mas somos uma família muito pontual.

   De fato. Henry nunca atrasava nos horários de estudo combinados. Apenas quando tinha imprevistos.

   Nós seguimos John até a sala de jantar, passando antes pela sala de entrada. Haviam quatro pessoas nos esperando: uma mulher de altura média, dos olhos cor de mel e cabelo castanho claro; um homem pouco alto de cabelo loiro e com olhos azuis; um cara de cabelo loiro e olhos cor de mel, e por fim, Henry. Eles estavam sentados frente à mesa, que estava repleta de delícias: frango assado, macarrão com molho branco, batatas fritas, salada, vinho e suco de uva. John puxou uma das cadeiras para minha mãe sentar e depois fez o mesmo comigo. Então, nos apresentou.

   _Boa noite, família! Essa é Lucy -disse, apontando para ela com a mão- Minha chefe da empresa. Pessoa na qual admiro muito! Além de chefe, é uma grande amiga, na qual tenho imenso privilégio em convidar para jantar conosco essa noite. E essa é Emma, sua amada filha.

   “Amada filha”, que descrição formidável para mim.

Depois, ele apresentou cada membro de sua família ali presente.

   _Esse é Carlos, meu irmão, e sua esposa Alice. E aqui, meus queridos sobrinhos, Lorenzo e Henry.

   Como deveria impressioná-los, tentei ao máximo ser educada. Sorri (por mais que detestasse sorrir sem um bom motivo aparente), e disse que era um prazer conhece-los.

   No começo, fiquei nervosa, com medo de falar ou fazer alguma coisa errada. Mas ao longo da noite a conversa foi fluindo naturalmente. Primeiro conversamos sobre comida, o que começou com um elogio de minha mãe (e devo concordar que o jantar estava mesmo delicioso!), virou uma aula de culinária. Alice e Carlos sempre cozinham juntos, com a ajuda dos filhos. Trocamos algumas receitas, e depois falamos sobre o clima. Então começamos a falar sobre a cidade natal de cada um e como era, o que acabou se tornando uma conversa sobre histórias de infâncias e quando fui ver, já estava participando daquilo sem a menor dificuldade. Eu me senti à vontade ali. A família de Henry é muito acolhedora e por um segundo, desejei que aquela família também fosse minha. E seria.

   A conversa estava muito agradável, porém teria que me retirar. Tinha tomado muito suco de uva e precisava dar uma aliviada.

   _Hm, Alice -Disse, me dirigindo à mãe de Henry- Poderia me dizer aonde fica o banheiro?

   _Claro! É só seguir por aqui. É a primeira porta à direita. -me respondeu, apontado o corredor.

   _Obrigada. Com licença.

   Levantei um pouco sem jeito e caminhei até o banheiro. Não entendo muito de finanças, mas poderia chutar que Henry é classe média alta. O Banheiro é bem maior que o de minha casa, com direito à banheira, um belo armário com espelho e até aromatizantes. Fiz minha necessidade e, após lavar as mãos, me encarei no espelho. O meu cabelo estava com uma mecha rebelde. Depois de algumas tentativas tentando colocá-la do seu lado certo da divisão, percebi alguém me olhando no corredor. Assim que virei, me deparei com Henry.

   _O que foi? -Perguntei.

   _Nada. É que você está muito linda, ainda mais nesse vestido.

   Com ele me olhando daquele jeito, era quase impossível não corar.

   Henry foi se aproximando aos poucos, então, ajeitou minha mecha rebelde, colocando-a atrás de minha orelha. Sem hesitar, puxei-o pelo colarinho de sua camisa para mais perto, fazendo nossos narizes se tocarem. Com aquela proximidade, consegui perceber sua respiração acelerar. Não resisti, e lhe dei um beijo. Senti suas mãos percorrerem minhas costas, e seus braços me envolverem num abraço. Àquela altura, já não tinha mais nenhum espaço entre nós, e dava para sentir o calor de seu corpo radiar sobre o meu.

   _Tire minha jaqueta. -Sussurrei em seu ouvido.

   Estendi os braços para trás para lhe ajudar. Ele retirou minha jaqueta lentamente. O toque de suas mãos deslizando por meus braços me causaram arrepios. Então Henry fechou a porta atrás de si. Não sei porque, mas isso me causou uma estranha sensação no estômago. Estávamos trancados no banheiro, sozinhos.

   _Por que fez isso? -Perguntei, perplexa.

   Foi quando Henry me olhou maliciosamente. Aquele olhar me deixou sem fôlego. Para mim, ele sempre foi um garoto tímido; já havíamos nos beijado antes, mas, aquele olhar parecia demonstrar muito mais voracidade do que ele costuma ter.

   _Queria que eu prosseguisse com a porta aberta? -Perguntou.

   É claro que não queria. Apesar de estarmos no banheiro de seu tio, aquilo foi ideia minha. Eu sempre ajo por impulso; não deveria tê-lo puxado pelo colarinho, ou pedido para arrancar-me a jaqueta. Eu o provoquei e agora teria de continuar o que comecei, não iria voltar para trás, não agora. Respondi à sua pergunta balançando negativamente a cabeça.

   _Continue de onde parou. -Mandei.

   Henry tomou uma de minhas mãos para si. Ele começou beijando meus dedos, depois a palma da mão, os pulsos e percorreu todo o caminho de meu braço subindo cada vez mais, até chegar nos meus ombros e por fim, na clavícula. Eu nunca fiquei tão grata por estar usando um vestido tomara que caia na vida. Naquele momento, eu desejei que ele explorasse todo o meu corpo com sua boca.

   _Continue. –Eu queria soar autoritária, mas estava tão desesperada pelo seu toque que acabou sendo uma súplica.

   Para minha surpresa, ele continuou, porém, foi por um caminho diferente do que eu estava pensando. Normalmente ele beijaria meu pescoço, mas dessa ve-

   _Henry! -Arfei.

   Ele tinha acabado de me dar um chupão bem na parte exposta dos meus seios, que o vestido permite que apareça. Coloquei a mão em minha boca para conter o som que emiti, que nunca pensei ser capaz de reproduzir.

   _Desculpe.

   O que? Ele tinha acabado de me pedir desculpas!?

   _Desculpas pelo quê? -Respondi ofegante.

   _Eu não devia ter explorado essa sua região, fui muito insolente.

   Eu gostaria que Henry fosse mais insolente, então.

   _Não se desculpe; eu coloquei minha mão na boca para abafar meu... você sabe. Não quero que seus familiares escutem.

    _A SOBREMESA!

   _A o que?! -Perguntei, meio desnorteada.

   _Faz quanto tempo que estamos aqui? Minha mãe pediu para eu buscar a sobremesa na cozinha, então passei pelo corredor e te vi, acho que perdi a noção do que estava fazendo porque tomei mais vinho do que deveri-

   Coloquei meu dedo indicador em sua boca para que parasse de falar.

   _Henry, calma. É só ir lá buscar, ninguém vai perceber.

   _Está bem.

   Ajeitei o colarinho de sua camisa social para que ele pudesse sair, porém, assim que Henry se retirou do banheiro, Lorenzo, seu irmão mais velho, nos pegou no flagra.

   _O que os dois estavam fazendo trancados no banheiro?

   Senti o calor se esvair de minhas bochechas ao lembrar o que estávamos fazendo.

   _A mãe vai surtar. Você agarrou nossa convidada na casa do tio John! Caramba, você não era assim.

   _Espera, não é como se eu não quisesse. -Respondi.

   Não acredito no que tinha acabado de falar. Mas do jeito que Lorenzo disse, parecia que Henry tinha me pegado à força.

   _Abram o jogo comigo: vocês estão namorando?

   Eu e Henry nos entreolhamos. A gente tem um relacionamento recíproco, mas não se tornou um namoro, eu acho.

   _Olha, eu não quero nem saber. Vou contar para a Alice.

   _Lorenzo, espera! O que quer que eu faça? -Disse Henry.

   _Quero que diga para nossos pais o que está acontecendo. Desde quando você esconde as coisas de nós?

   _Eu não escondo nada de vocês. -Respondeu Henry.

   _É mesmo? -Perguntou Lorenzo, olhando rapidamente para mim, depois para Henry. -Eu te acobertei aquele dia na festa de Duncan, pois achei que você merecia um pouco de diversão depois de passar tanto tempo sendo um aluno tão eticamente correto, mas ainda assim, você mentiu para os nossos pais. Vai me dizer que ela é o seu projeto escolar que exige que você saia todas as tardes da semana também?

   Fiquei imóvel. Eu realmente era seu projeto escolar, mas vindo da maneira como ele disse, era como se Henry fosse me ver sempre com segundas intenções. Lorenzo está distorcendo todos os acontecimentos e sinto que a boa primeira impressão que causei quando cheguei aqui acabou.

   Ouvimos passos de alguém se aproximando. Carlos chegou no corredor onde estávamos e falou:

   _Será que essa sobremesa vai sair hoje? -Brincou ele- A mãe de vocês quer saber o que está acontecendo. Não é tão difícil assim pegar uma tigela de pavê.  

   _Eu só estou aqui porque o Henry estava demorando. -Lorenzo se justificou.

   _E eu estou aqui por quê você também está demorando. -Respondeu Carlos. -E por que essa demora toda?

   Todos olharam para mim. Ao que parece, eu sou a fonte do problema. Como explicar o que houve?

   _Pai, eu tenho que lhe contar uma coisa. -Disse Henry.

   _Diga, meu filho.

   Henry me olhou, como se estivesse pedindo permissão, e eu concedi.

   _É que... eu estava passando pelo corredor e vi Emma. E bem, eu a beijei. Então o Lorenzo nos viu e ficou chateado comigo pois eu não contei para ninguém que estou namorando. Eu pretendia contar, mas parece que vocês descobriram antes da hora e estragaram a surpresa.

   Nossa, ele é realmente bom com argumentos. Conseguiu contar a história sem mentir (apenas ocultando partes desnecessárias), e ainda os fez parecerem culpados por estragarem a surpresa.

   _Fico feliz que você tenha achado a garota certa para você, meu filho. -disse Carlos, apertando seu ombro- Depois tenho que te dar alguns conselhos, e você- ele se virou para mim- bem vinda à família! Cuide bem do nosso Henry.

   _C-claro! -Respondi, sem saber muito bem como reagir.

   Lorenzo ficou calado. Não tem como ir contra a palavra de seu próprio pai. Especialmente de Carlos, que parece ser um homem de respeito.

   Voltamos para a cozinha, com a sobremesa (finalmente!). Colocamos o pavê em cima da mesa e instantes depois, John disse:

   _Mas é pavê ou pacomê?

   Todos deram um riso meio forçado, menos eu. Acabei me lembrando de quando Henry me disse: “ele faz algumas piadas sem graças às vezes”, e isso foi o suficiente para eu me acabar de rir.

   Quando todos terminaram de comer a sobremesa e a noite já estava quase no fim, foi a hora das revelações. John pegou sua taça de vinho e bateu nela com uma colher para que todos prestassem atenção.

   _Família, como devem saber, eu não reuni todos vocês nesse jantar à toa. Estamos unidos aqui para celebrar uma conquista! Hoje, eu me declaro oficialmente, namorado de Lucya, a mulher mais maravilhosa que já conheci em toda minha vida!

   Ele se colocou de joelhos na frente de minha mãe, e abriu uma caixinha, que continha duas alianças de prata. Emocionada, minha mãe estendeu sua mão para John e permitiu que ele lhe colocasse o anel, depois, fez o mesmo em John. Enquanto isso, todos aplaudiam e parabenizavam.

   Quando pensei que estaria livre de confissões, Carlos pegou a mão de Henry e o fez bater na taça de vinho também.

   _Acho que Henry também tem algumas palavrinhas para vocês. -Disse Carlos.

   Tive que conter a risada, Henry iria se declarar por livre e espontânea pressão!

   _Ér... Além da conquista do nosso querido tio John, eu também fiz algo na vida além de estudar.

   Todos deram uma risadinha.

   _É com muita alegria que lhes digo que nossa convidada Emma é minha namorada.

   Novamente, todos aplaudiram e nos deram palavras de apoio. Porém, também ouvimos muitos conselhos. “Coisas de mãe”. E agora, pude provar a sensação de ouvir “coisas de pai”. É muito bom saber que a família de Henry (agora minha família também), é acolhedora. Eles me receberam aqui de braços abertos e foram gentis comigo. Agora tenho um pai, que faz piadinhas sem graças às vezes, mas que realmente, é uma pessoa na qual posso confiar. O único que não me aceitou muito bem foi meu cunhado Lorenzo, porém, ele não fez nada de mais, deve estar apenas com ciúmes do irmão.

   O final da noite foi tranquila, conversamos mais um pouco e por fim, Lucya e eu voltamos para casa. Aliás, tive que contar como eu e Henry nos tornamos tão próximos no caminho de volta. É claro que ela não iria deixar essa passar.

   Hoje me senti uma pessoa nova, mais feliz. Desde que Henry chegou as coisas não são mais as mesmas. Estou tirando notas melhores na escola; tenho uma companhia agradável nas minhas tardes; recebo os melhores beijos e abraços; tenho uma família nova e o melhor de tudo isso é saber que agora minha mãe também tem alguém com quem contar. Ela nunca precisou de nenhum homem para subir na vida, mas, saber que tem mais alguém além de mim, torcendo pelo seu bem, é gratificante. Agora só me resta esperar pelas provas finais, e o melhor, o baile de formatura!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! ♥



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