Save Me escrita por yumesangai


Capítulo 1
Capítulo único




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Seokjin passava tantas horas no hospital, que sua sala estava mais para sua casa principal, a outra era apenas um lugar que ele tinha uma vaga lembrança e não conseguia achar nada nas gavetas ou nos armários.

Mas não no hospital. Jin amava o que fazia, ele preferia assim, não tinha ninguém o esperando em casa mesmo.

Seokjin se lembrava de todos seus pacientes, lembrava dos nomes, da expressão preocupada no rosto do pai, das lágrimas da mãe em pequenas consultas. Mas também havia as cirurgias e havia sempre a possibilidade do resultado não ser o esperado.

Ele era um médico, mas não era Deus.

Seokjin acreditava em Deus, por isso, as vezes ele ia até a capela e rezava. Numa certa ocasião, uma criança se sentou ao seu lado, suas pernas eram tão curtas que não alcançavam o chão.

― Doutor também está preocupado? – Ele perguntou com seus olhos brilhantes, ainda inocentes demais para esse mundo.

― Sim, e você? Onde estão seus pais?

Não havia mais ninguém na capela, além deles dois.

― Mamãe está internada, papai está falando com o médico.

Seokjin as vezes odiava hospitais.

― Você quer um pirulito?

O garoto abriu um sorriso tímido. E era por essas pequenas conquistas que Seokjin trabalhava tão arduamente nisso.

[...]

Quase seis anos depois, num dia catastrófico, Seokjin encontrou com o mesmo garotinho da capela, agora já um estudante. Um trem havia descarrilhado e se chocado contra outro.

― Seus amigos estão aqui?

O garoto ergueu o rosto. Ele não tinha mais aquele brilho nos olhos, era apenas um olhar opaco. O olhar de alguém que experimentou a vida e descobriu que o gosto é amargo.

Seokjin descobriu o nome do garoto pela primeira vez, Min Yoongi. Estava escrito na tag no uniforme.

― Não estão mais.

O médio assentiu e o deixou em paz, voltou para sua ala, para os pequenos, doces demais para esse mundo. Seus olhos se encheram d’água e ele chorou silenciosamente, por todas as crianças, pessoas e famílias.

Ao final daquele dia, Seokjin roubou o maço de cigarros de Namjoon.

[...]

― Parece que eu sempre te encontro aqui.

Seokjin se senta no banco de madeira ao lado do garoto. Ele não é mais uma criança, a primeira vez que o viu talvez ele tivesse uns cinco ou seis anos de idade, mas não agora.

― Talvez porque as pessoas que eu gosto continuam morrendo.

A voz do garoto era amarga, mas desde que Seokjin conseguia se lembrar era assim. Sem muita esperança, apenas cansado.

A capela do hospital estava vazia à meia noite, apenas eles dois. Seokjin as vezes encontrava com Yoongi pelos corredores, mas eles não conversavam naquelas ocasiões, talvez um leve aceno de cabeça ou um torcer tão leve dos lábios que nem poderia ser considerado um sorriso e isso era tudo.

Seokjin também nunca havia tratado nenhum parente ou amigo do garoto.

Eles ficam em silêncio.

― Pra quem você está rezando?

― Um amigo. – Disse mantendo a cabeça baixa, dedos entrelaçados.

― Eu posso rezar com você?

― Você não acha isso meio hipócrita, doutor? – Ele finalmente olhou na direção do médico. -  Nenhum de vocês consegue salvá-lo, eu rezo porque é a única coisa que posso fazer.

Seokjin não leva para o lado pessoal, ele apenas assentiu e o deixou sozinho.

O amigo de Yoongi faleceu às três da manhã daquela madrugada. Seokjin o viu receber a notícia com uma expressão neutra e mais tarde pegar uma mochila e seguir para fora do hospital como se caminhasse numa corda bamba.

No fim daquela madrugada, Jin sentou no banco da capela.

― O que está fazendo? – Namjoon, seu colega de trabalho, perguntou parado na porta.

― Pensando.

― Se vai rezar ou não? – Ele tenta fazer graça da situação, qualquer coisa que pudesse fazê-lo sorrir, mas consegue apenas um sorriso triste.

Não é o bastante

― O que nós fazemos quando sabemos que não podemos salvar alguém?

Namjoon se sentou ao lado de Jin.

― Nós continuamos fazendo o nosso melhor, é a única coisa que sabemos fazer.

― E se não for o bastante?

Namjoon não o respondeu, apenas o abraçou.

Era o bastante

[...]

Três meses depois, Seokjin estava andando pelo corredor quando reparou numa pessoa sentada no pátio, cigarro em mãos, não era incomum, a maioria dos acompanhantes fumavam, a maioria dos médicos também...

Mas o que chamou a atenção e Jin era a cor dos cabelos do garoto. Era uma verde bem clarinho, quase desbotado.

Era Yoongi.

Seokjin entrou no campo de visão do garoto assim que passou pelas portas duplas e começou a caminhar em sua direção.

― As pessoas pensam no inferno como um lugar com fogo e pessoas de preto, mas acho que as paredes são brancas e as pessoas usam jalecos igualmente brancos.

Ele apagou o cigarro na mesa de pedra.

Jin afundou as mãos no bolso do jaleco.

― Não vai rezar?

― Ninguém me escuta.

― Eu estou aqui.

―Você não é Deus.

― Não.

― Você é como um Deus da Morte.

― Prefiro não pensar assim, considerando que sou Pediatra.

Yoongi riu.

― Melhor mesmo. Você se parece com um anjo, doutor. – Ele falava se referindo aos cabelos loiros de Seokjin.

― Isso é bom? – Ele não tinha mais certeza se era possível ouvir qualquer tipo de elogio vindo dele.

― Lúcifer também era um Anjo.

― O que nós estamos discutindo aqui?

― Vida, Morte, tudo parece a mesma coisa num hospital. Talvez aqui seja uma área neutra.

― Não é desse jeito. Eu sei que não parece, mas não é a mesma coisa.

― A morte anda nos meus ombros, Doutor. É difícil pensar de outra forma.

Seokjin o abraçou, Yoongi se surpreendeu ao se ver relaxando contra o peito do médico.

― O que está fazendo?

― Eu sou o Deus da Morte, não é? Estou tirando isso dos seus ombros.

― Você é estranho Doutor. – Mas seus lábios se curvaram num sorriso.

Ele abraçou a cintura de Jin.

[...]

Algumas semanas depois, Yoongi jogou a mochila nas costas, mas ele não deixou o quarto sozinho, estava acompanhado de um outro garoto, o que era paciente, ele tem cabelos laranjas e um sorriso no rosto.

Yoongi também tem um sorriso no rosto.

Eles estão passando pela recepção quando Yoongi viu Seokjin novamente.

― Obrigado.

Era a primeira vez que eles se falavam nos corredores do hospital. Seokjin apenas devolve o sorriso, ele olhou na direção do outro garoto que estava com um largo sorriso.

Os dois vão embora, ombros batendo, mãos se esbarrando, era quase familiar demais aquela proximidade discreta.

― O que você fez? – Namjoon perguntou olhando dos garotos se distanciando para o sorriso bobo no rosto do médico.

― A única coisa que eu podia ter feito.

― Estou orgulhoso de você. – Namjoon aperta de leve seu ombro.

É definitivamente o bastante.


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Notas finais do capítulo

Alguém que eu conheço faleceu, não gosto de escrever me sentindo triste, mas acabou saindo isso, mas escrever é um remédio e no final não saiu tão deprimente quanto eu estava me sentindo.



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