We have each other escrita por Giovanna Prado


Capítulo 1
You're broken down and tired...




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Ainda sentia as mãos frias em contraste com seu sangue fervendo. “Where’s Phil? Where. Is. Phil? as pessoas ao seu lado ouviam sua voz aumentando, mas as palavras saíam de sua boca de maneira automática. Por mais que fosse sempre tão centrada, sua emoção falou mais alto que sua razão naquele momento. Estava desnorteada. E, caso fechasse os olhos, ainda se lembrava da sala cheia. Na hora todas as silhuetas não se passavam de mais que um borrão e, por um instante, nada mais parecia importar. Era irônico porque, ao mesmo tempo em que sua adrenalina estava a mil, seu coração parecia falhar algumas batidas. Não sentia aquilo desde... bem, desde Bahrein.

Engoliu seco tentando deixar de lado seus pensamentos. À sua frente, podia-se ler o nome Philip Coulson escondido entre as flores que cobriam a lápide. Acrescentou um buquê de margaridas na grama. Ao seu redor, a chuva caía ininterruptamente, molhando seu rosto junto com as lágrimas que escorregavam por debaixo de suas pálpebras. “Vamos, Melinda, recomponha-se.” Ela dizia para si mesma; sabia que Phil não iria querer todo aquele sofrimento. Logo ele, que sempre vinha com seu sorriso frouxo e sua mania de ver o melhor lado das pessoas. Se estivesse ali pelo menos para consolá-la, abraçá-la e dizer que ficaria tudo bem, igual fizera antes. Melinda estava longe de ser alguém que se deixa abalar, e muito mais longe de ser uma donzela indefesa. Mas mesmo assim, só de se lembrar dos olhos azuis que brilhavam tanto e hoje estavam apagados, perdia o sono.

Às vezes focamos tanto no futuro, naquilo que precisamos fazer e no que devemos conquistar, que acabamos nos esquecendo de nadar no presente, afundando-nos em um futuro incerto, sendo consumidos pelas horas perdidas. Se tinha uma coisa que Melinda May já sabia antes, mas que tinha certeza agora, é que o tempo é aquilo de mais precioso que temos nas nossas vidas. Porque um dia, o nosso tempo simplesmente acaba. E aquela situação toda, por mais que ela tentasse não admitir para si mesma, só forçava a ideia de que tinha ter aproveitado mais os segundos que teve ao lado de Phil. Não que estava infeliz com Andrew, ainda o amava do mesmo modo. Mas Coulson... sempre tiveram uma ligação que May jamais foi capaz de explicar.

Ele tinha uma maneira prática e simples de lidar com os problemas e, mesmo quando tudo parecia desmoronar, ele ainda conseguia ver a situação em uma perspectiva positiva. Era ele quem a fazia rir quando estava concentrada, e que lhe tirava sorrisos durante a maior parte das missões. Coulson estava presente em todas as suas memórias importantes, fossem elas boas ou ruins. Quando pensou que não aguentaria mais, que não daria conta, era ele quem estava ao seu lado, dizendo que dariam um jeito. A dor de pensar que tinha ido embora a única pessoa com quem ela podia ficar ao lado durante horas sem falar uma palavra e ainda assim se sentir bem, era muito forte.

Na sua cabeça, mil e uma considerações deixavam-na confusa. A raiva por não poder se vingar, a culpa por ter se afastado tanto depois de tudo que aconteceu, a saudade que invadia seus ossos de ponta a ponta, o sofrimento de não poder ouvir sua voz mais uma vez e o arrependimento por ter desistido dos dois anos atrás quando sempre soube que ele não teria o feito. Se tivesse, na época, o conhecimento que tinha hoje, tudo teria sido muito diferente. Estava cansada, perdida, confusa. Os dois pareciam metades diferentes de uma mesma laranja, e um parecia completar o que faltava no outro. Uma parte sua havia escurecido.

Todo aquele cenário infortúnio parecia ser um grande pesadelo, e o seu maior medo era que esse pesadelo não acabasse nunca. No entanto, a veracidade da situação a fazia questionar o que estava sentindo. Ela o amava? O que isso significava, afinal de contas? Amar era estar com uma pessoa que te conhece melhor que qualquer um? Ficar ao lado de alguém que ri de suas piadas ruins e aceita todos os seus lados, incluindo os ruins? Amar era ser você mesma? Porque se isso era amar, Melinda o amava ardentemente. Por isso estava quebrada.

Secou as lágrimas, deixando a mão trilhar de seus olhos para seus lábios. Beijou os dedos e esticou o braço, encostando a pele macia nas ásperas letras cravadas na pedra. Existe um provérbio chinês que diz: “Não declare que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado”. Por mais que aquilo estivesse a sufocando, tinha a sensação de que não era o fim. E não porque não conseguia aceitar a realidade, mas porque sentia que aquela luz que havia se apagado dentro de si, voltaria a se ascender.  Ela esperava que sim.

Ainda ajoelhada, sentiu um calor na nuca. As nuvens estavam se espalhando pelo céu, dando espaço para o Sol brilhar novamente. Seu pesar era indescritível, mas diante de tantas memórias boas, permitiu-se abrir um pequeno sorriso. Sussurrou: “You being here or not, you mean a lot to me. A lot”.


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