— Entre — disse Namjoon, quando ouviu a batida na porta. Continuava lendo sobre as regras, o que nunca era demais pra ele. Jin estava lendo uma sugestão dele, um livro sobre como aproveitar todas as partes dos legumes. Jungkook entrou na sala pela porta da direita, ficando de frente para Namjoon e de lado para Jin.

— Vim saber se precisam de alguma coisa.

— Achei que tivesse te designado para levar Yumii ao aposento.

— Já levei.

— Já levou? — Perguntou Jin, fechando o livro, incrédulo. — Devia ter ficado com ela.

— Devia?

— Ué, Jungkook, eu não trouxe a menina do outro mundo pra você deixar ela num quarto sozinha.

— Eu a deixei com um espectro, na verdade. Pensei que você estivesse bravo comigo.

— Com você não. Com ela. E estava, não estou mais. Achei que tivesse sido claro.

— Você foi bem claro, hyung — opinou Namjoon, sem tirar os olhos do livro. — Jungkook tem estado muito desatento.

— E tem sido um péssimo anfitrião.

— E um péssimo namorado.

— Eu nem sei como a Yumii me trocou por você.

Namjoon tirou os olhos do livro e riu para Jin. Ele deu de ombros, segurando o riso, e olhou para Jungkook, que encarava tudo com cara de quem não estava entendendo nada.

— Ralaxa um pouco, Jeon Jungkookie! — Disse Jin, rindo.

— Tá tão tenso… — Disse Namjoon. — O peso de ser um juiz está te afetando.

— Estamos só brincando com você! — Jin colocou obviedade em sua voz. Jungkook ainda parecia confuso.

— Hyung… Não se sente mesmo incomodado pelo que existe entre eu e Yumii?

Jin começou a rir muito e bater em sua perna. Olhou para Namjoon como se Jungkook tivesse contado uma piada excelente.

— Ah, essa criança… Jungkookie… — Chamou ele, largando o livro de lado e se levantando. — Você e a Yumii são um casal! — Disse ele, como se dissesse que o céu é azul. — Eu não tenho motivos para me sentir incomodado.

— Jin Hyung… — reclamou Namjoon com reprovação. — Tem certas coisas que crianças como Jungkook não entendem se você não disser com todas as letras.

— Ah, é isso? Eu não tenho mais nada a ver com a Yumii, Kookie. Não sinto nada por ela, e ela não sente nada por mim.

— Mas você… tentou se matar…

— Isso foi quando eu não sabia que ela só me escolheu porque Abraxas sussurrou em seu ouvido. Ela nunca sentiu nada por mim, de verdade, e eu não a culpo. Mas chega desse assunto, coisa mais enjoativa… Vamos lá ver a Yumii.

— Perfeito, hyung — disse Namjoon, satisfeito e voltando os olhos para seu livro. — Se não acompanhar essa criança, é capaz de fazer alguma besteira. Ofereceu uma água, pelo menos?

— Não — Jungkook riu, finalmente entrando no clima.

— Ah, não acredito! — Disse Jin, apoiando a mão em seu ombro e conduzindo-o para fora. — Assim você me quebra, Jeon Jungkook! Vem, vou te ensinar a ser um bom namorado e um bom anfitrião. Até logo, Moni!

— Esta é a sala do órgão. Cuidado para não bater com a cabeça.

— A cabeça? Ah, esses tubos. — Yumii abaixou e passou. Em seguida. Girou, admirada com a sala.

— Senhor Min já bateu a cabeça uma vez.

— Yoongi? Então esta sala é dele.

— Na verdade, não pertence a ninguém específico. Mas o senhor Min é quem mais frequenta a sala. A senhorita gosta de instrumentos de teclas?

— Sim. Mas não sei tocar. Jungkook tocou para mim, algumas vezes. Ele… — Ela riu com a lembrança. — Tentou me ensinar. Mas não sou boa com instrumentos.

— A senhorita gostaria de tentar?

Os dois foram até o aposento onde Jungkook deixara Yumii, mas ela não estava lá. Eles chamaram um espectro que disse que ela havia saído com o seu espectro responsável para conhecer a casa.

— Teremos que procurá-la — concluiu Jungkook.

Logo em seguida, eles ouviram as notas ressoarem. Eram notas únicas, sem acorde, e duravam pouco.

— É ela? — Perguntou Jin, duvidoso.

— Provavelmente — disse Jungkook, com um sorriso travesso. — E ela não deve saber que o órgão ressoa na casa toda.

— A sorte dela é que Yoongi dorme como uma pedra. Vamos lá?

— Vamos.

Os dois meninos voaram rapidamente até a sala do órgão. De fato, Yumii estava sentada no banco estofado, experimentando o piano enquanto o espectro esperava pacientemente ao seu lado.

— Aí está vo… Aish!

— Kookie, você não tá normal — concluiu Jin, passando com sucesso pelos tubos. Em seguida, fez uma flor brilhante na testa de Jungkook, acabando com sua dor imediatamente.

— Goma wo — disse Jungkook.

Yumii já estava de pé. Tinha se levantado em um segundo ao notar a aproximação.

— Vocês me assustaram. Achei que fosse Yoongi.

— Ele está dormindo — disse Jin — Devíamos aproveitar para tentar alguma música.

Yumii percebeu que o humor de Jin estava muito melhor. De alguma maneira, parecia ter esquecido completamente o que houve.

— Eu sou péssima tocando — lembrou Yumii.

— Mas você canta bem — disseram os dois meninos juntos, e em seguida olharam um para o outro. Yumii sentiu o clima pesar por alguns segundos, mas logo depois eles riram. Yumii não entendeu. Jungkook sentou-se no banco.

— Vamos ver o que temos de bom aqui — ele começou a folhear as partituras. Entregou algumas para Jin e algumas para Yumii.

— Ah, que conveniente! — Disse Jin. — Uma música sobre morte.

— Posso ver? — Perguntou Yumii.

— Sim — disse Jin, entregando a partitura.

— Qual é o título? — Perguntou Jungkook, procurando uma cópia em sua pilha.

— Even If I Die, It’s You. — Respondeu Jin.

— Você quer cantar essa? — Perguntou Jungkook.

— Posso cantar com o Jin? — Perguntou Yumii.

— Comigo? — Perguntou Jin.

— Sim. Ela tem muito a ver com a gente.

Jungkook ergueu as sobrancelhas, com curiosidade, não com ciúme.

— Eu vou tocar pra vocês, então.

Yumii entregou a partitura a Jungkook, que a colocou no suporte. Em seguida, tocou, e eles cantaram. No fim, foram aplaudidos pelos quatro que haviam ido para lá ao ouvir a música: Namjoon, Jimin, Taehyung e Hoseok.

— Uaau! — Comentou Hoseok. — Isso ficou bom.

— Deveriam ter nos chamado para a festinha — reclamou Jimin.

— Continuem, vocês — pediu Jin. — Tenho que ir pra cozinha.

— Pra cozinha? — Perguntou Yumii. — Achei que os espectros se responsabilizassem pela comida. Na verdade, não sabia nem que tínhamos que comer depois de mortos.

— Não temos que comer, na verdade — disse Jin, já indo em direção à porta. — Mas a refeição é um momento de união que não deve ser deixado de lado, então nós só jantamos. E… você me conhece, eu não vou deixar que alguém faça isso por mim.

— Claro que não.

— Nos vemos mais tarde, gente.

— Se precisar de ajuda é só chamar — falou Namjoon, rindo.

— Namjoon, não ouse botar os pés na minha cozinha.

Pouco mais tarde, os seis juízes receberam bilhetes do Jin.

“Meninos,

por favor, estejam bem-vestidos e comportem-se. Hoje é nosso primeiro jantar oficialmente como Juízo, e teremos uma hóspede importante à mesa conosco, como já sabem. Devemos causar uma boa impressão.

Beijinhos voadores,

Jin Hyung”.

Todos se recolheram para seus respectivos quartos, para se prepararem. Yumii teve a ajuda de um dos poucos espectros femininos da casa, que era muito gentil.

— Como devo me arrumar para este jantar? — Perguntou Yumii, enquanto se banhava.

— Bom, estou longe de ser especialista, mas, vamos analisar. É o primeiro jantar deles depois que se eles se oficializaram como Juízo. A expectativa deve ser ainda maior com a presença da senhorita.

— Por quê? Penso que a maioria deles não me vê com bons olhos.

— Não sei quanto a isso, senhorita, mas… Desculpe a intromissão… O senhor Jeon não é seu namorado?

— Sim.

— Então deveria estar deslumbrante. Porém, não muito.

— Não muito?

— Não! Porque é apenas um jantar. Devemos guardar o melhor para um evento ainda mais importante.

— Que evento seria esse? Não devo ficar por muito tempo.

— Se é namorada de um membro do Juízo, deve frequentar a casa. Eles disseram que pretendem fazer muitas coisas… interessantes. Eles gostam de cantar e dançar…

— Quer dizer que eles continuam mesmo com a música? Fazem shows e tudo o mais?

— Ainda não tivemos nada aberto para visitantes. Mas nós, espectros, nos divertimos muito durante a preparação.

— Interessante — disse Yumii, sorrindo. — Então… Deslumbrante, mas não muito. O que você tem para mim?