Himawari

Escrito por Bruna Cassimiro

Boruto simplesmente não conseguia entender o que estava acontecendo. Há algumas horas encontrava-se no conforto de sua cama, dormindo, e então, como em um passe de mágica, acordou no Hospital de Konoha. Era um garotinho de quatro anos – um verdadeiro adulto, na visão dele – muito inteligente, no entanto não conseguia entender o que diabos fazia ali, em um hospital durante a madrugada. 

Seu pai andava de um lado a outro, desesperado e relativamente pálido, murmurando alguma coisa e com o semblante beirando o choro. Parecia que aquele homão ia desmaiar ali mesmo, na frente de todos e isso só fez com que a curiosidade do pequeno garoto aumentasse.

Hiashi, seu avô, também estava lá, juntamente de tia Sakura e tio Sasuke, que segurava a pequena Sarada no colo, absorta em um sono profundo e ainda vestindo pijama. Olhou para o próprio corpo e percebeu que também trajava pijama e, sabiamente, concluiu que tinha sido carregado até ali – o que não fazia sentido algum na cabecinha dele. Afinal, por qual motivo teria que ir para um hospital? Não estava doente ou coisa parecida. 

— Se acalme, Naruto. Ficar desesperado não vai ajudar em nada. – Hiashi parecia bastante calmo, a voz serena preenchendo o corredor vazio. – Não é como se você nunca tivesse passado por isso. – os olhos perolados se desviaram para o pequeno neto, que encarava o avô com um ar interrogativo.

— Ele tem razão. – Sakura entrou na conversa, concordando com o patriarca Hyuuga. – Tsunade sabe o que está fazendo. Vai dar tudo certo, Naruto, fique tranquilo.

Mas é óbvio que tais palavras não contribuíram com nada; nada, absolutamente nada, naquele momento, foi capaz de acalmar os nervos do Uzumaki mais velho. Ele tremia, suava e rangia os dentes, sempre olhando para a porta no final do corredor. Boruto, entediado e desistindo de entender qualquer coisa que acontecia ali, apenas voltou os olhos para a pequena amiga, que ainda dormia no colo do pai, e desejou com todas as forças ter um sono tão pesado quanto o dela.

Após alguns minutos de pura tortura e curiosidade, o desejo de dormir de Boruto estava prestes a se realizar, até que uma mulher loira apareceu na sala carregado um lindo sorriso no rosto e uma prancheta nas mãos. O pequeno Uzumaki, mesmo com a visão embaçada pelo sono, conseguiu ver que a loira era, na verdade, Tsunade, sua vovó.

Naruto, ao ver a loira, olhou-a com expectativa e medo.

— Ela está bem. Na verdade, elas estão bem.  Parabéns, Naruto.

Antes de se render completamente ao cansaço e ao sono, pôde ver seu pai abraçando a loira com força, soltando gritos de felicidade, enquanto seu avô se levantava carregando um sorriso enorme no rosto e Sakura, com uma alegria evidente no olhar, sacudia o marido. Boruto não entendeu o motivo de tanta felicidade, mas algo lhe dizia que não tardaria muito a compreender tudo.

»♥«

— Boruto, acorde. – a voz grossa ecoou, suave, no ouvido da pequena criança, que demorou para despertar. Sentiu uma leve sacudida no ombro e então resolveu abrir os olhos, que arderam com a luz forte. Sonolento, olhou para os lados, sem saber onde estava. – Venha. – apesar da ordem, Boruto não mexeu um músculo sequer, fazendo o loiro mais velho soltar um suspiro.

Sem muito esforço, Naruto o pegou no colo e o pequeno esfregou os olhos enquanto aconchegava a cabeça no ombro do pai. Olhou ao redor e viu que ainda estavam no hospital, no mesmo corredor. Porém, seu pai o levou para outro lugar que ele não sabia onde era. A única coisa que o loirinho sabia era que, para chegar até ali, tinha que atravessar várias alas e corredores. Tudo bem, não importava mesmo, estava com sono demais para se preocupar com qualquer detalhe.  

— Filho, olhe.

O garoto virou o rosto ainda sonolento, no entanto isso mudou quando seus olhos se fixaram no pequeno bebê, embrulhado em uma manta lilás, do outro lado da parede de vidro da maternidade. As mãozinhas balançavam no ar, a pequena quantidade de cabelo azulado no topo da cabecinha se encontrava totalmente desgrenhada e os olhos, tão azuis quanto os dele, estavam arregalados, encarando algo no teto que parecia muito interessante ao ver do pequeno bebê.

Boruto sentiu algo dentro de si aquecer seu coração, que batia acelerado no peito. De repente, seu corpo pareceu pequeno demais para conter todo o misto de emoções que sentiu no momento em que viu aquela coisinha fofa deitada no bercinho. A respiração estava descompassada e, com as costas encostada no peitoral do pai, percebeu que Naruto não se sentia tão diferente dele, já que o coração do Uzumaki mais velho batia igualmente descompassado.

— Ela é tão linda. – sussurrou, sem retirar os olhos do bebê.

Naruto acenou com a cabeça, concordando com o filho. – Se parece com sua mãe.

— É. – continuou a olhar a bebê com uma expressão abobada. – Ela é minha?

— Sim, é sua irmãzinha. E é pra cuidar bem dela.

— É claro que eu vou cuidar, ttebasa. Eu sou forte, pai. – olhou para o pai de forma surpreendentemente superior, cruzando os bracinhos – E serei mais forte que o senhor. –  Naruto gargalhou com as palavras do garoto, no fundo sentindo uma pontinha de orgulho.

— É claro que será mais forte que eu, até por que você é meu filho’ttebayo. – abriu um sorriso enorme, o que fez com que o pequeno em seus braços retribuísse o sorriso – Fique muito forte para proteger sua irmã.

Boruto voltou a olhá-la, pressionando o rosto contra o vidro que os separava. Sim, protegeria sua irmãzinha de todo mal, faria tudo por ela. Sorriu com tais pensamentos e voltou a olhar para o pai, que encarava a mais nova filha com um sorriso de pura felicidade.  

— Pai, – o chamou, fazendo-o voltar a atenção para o pequeno – qual é o nome dela?

— Himawari.

— Gostei do nome, tão bonito quanto ela.–  Boruto voltou a encarar a garotinha e sorriu, satisfeito. - Ela é nossa. Nossa Himawari.

Naruto encarou a filhinha, que agora dormia tranquilamente, e sentiu os olhos arderem, as lágrimas de felicidade prestes a cair, afinal, estava reencontrando o amor pela terceira vez.

 Sim, Boruto, falou para si mesmo no silêncio reconfortante de seus pensamentos. Nossa Himawari.