O Chapéu escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
o chapéu


Notas iniciais do capítulo

Para Vika (highonbooks), que me deu o prompt.

Possíveis spoilers mínimos da quarta temporada.



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Sherlock Holmes já havia estado cara a cara com muitas coisas ruins, coisas que fariam o estômago de qualquer um revirar, que fariam com que os pelos da nuca da pessoa mais corajosa se arrepiarem... Moriarty, Culverton, Euros e muitos outros. Mentes distorcidas cujo maior passatempo consistia em machucar e aproveitar o espetáculo. Já havia visto essas pessoas matarem, torturarem, atirarem, mutilares, afogarem inocentes. Mas tudo isso, todos os casos e todos essas mentes doentias não pareciam absolutamente nada perto da perspectiva de ter que correr atrás de uma criança de dois anos e meio.

Uma criança de dois anos e meio que não parecia ter o menor apreço por roupas.

“Rosie, querida,” ele ouviu a voz de John ecoar em algum lugar do flat da Rua Baker, 221B, enquanto subia as escadas. “Se quer visitar a Tia Molly, precisa colocar roupas.”

“Não!”

Era muito interessante como crianças tinham dificuldade para pronunciar coisas simples como ‘papai’ ou ‘titio’, mas ‘não’ era sempre uma palavra aprendida muito rapidamente. Assim como o seu significado... Bom, pelo menos o significado quando era falada pela própria criança, pois quando um adulto a falava, o ‘não’ perdia todo o efeito. John parecia estar aprendendo a forma certa de negar algo à uma criança, depois de Sherlock lhe explicar pelo menos cinco ou seis vezes.

“O segredo é usar afirmações para negar algo,” ele havia falado. “Ao invés de ‘Rosie, não fique correndo pelada por ai’, diga ‘Rosie, vamos colocar uma roupa’.”

Rosie Watson, no entanto, era mais esperta que isso e não se deixava ser manipulada por afirmações. Ela sabia que ‘não corra sem roupas’ era igual a ‘coloque roupas para visitar a Tia Molly’, logo, não fazia a menor diferença.

“Mas o que é isso?” perguntou Sherlock, assim que chegou ao topo da escada bem a tempo de pegar a menininha no colo antes que ela saísse rolando pelos degraus. “Por que é que tem uma criança indecente correndo por aqui?”

“A criança indecente aprendeu a ser teimosa com alguém,” veio a voz de Watson, antes de ele aparecer na porta do flat, corado e parecendo cansado.

“Vamos lá, Rosamund, não é tão difícil colocar uma calça e uma camiseta para ir visitar as pessoas,” disse Holmes, tentando não derrubar a menina que se debatia em seus braços. “Qual o problema das roupas?”

“É ruim!” a criança falou, parecendo desistir da luta enquanto o homem a carregava para dentro do flat e na direção do quarto dela.

As roupas já estavam jogadas em cima da cama, esperando para serem colocadas: roupa íntima, camiseta, calças, um casaco de chuva azul com gatinhos alaranjados (presente da própria Molly) e botas de borracha vermelhas, tudo pare enfrentar um dia chuvoso em Londres. Rosie pareceu se acalmar por um momento enquanto observava as roupas com cuidado.

“Muito bem, querida,” disse John, se esgueirando para dentro do quarto e pegando a criança dos braços do outro (ele sabia muito bem que deixar Sherlock vestir a menina ainda era um risco, desde a última vez que ela conseguiu convencê-lo de deixar que ela vestisse um sapato de cada cor ou quando eles decidiram, juntos, que seria interessante vê-la usando o máximo de suéteres possíveis antes de ela não conseguir se mexer mais). “Olhe, é o casaco que a Tia Molly te deu. Ela vai ficar muito feliz de vê-la com ele.”

Rosie não demonstrou nenhuma resistência enquanto o pai a fazia vestir a roupa íntima e nem enquanto colocava a camiseta (azul com uma estampa de baleia sorridente), mas enquanto John se distraía com uma mancha na calça da criança, a menina aproveitou a brecha. Nem mesmo Sherlock, que observava a cena do canto do quarto, conseguiu ver o momento em que a criança saiu correndo porta a fora, rindo.

“Como diabos ela já consegue correr tanto!? Ela não era assim,” resmungou Watson, fazendo como se fosse erguer-se do chão, mas desistindo na metade do caminho. “É a sua vez. Eu já fiz a maratona por hoje.”

Não era como se Holmes pudesse argumentar. Suspirou enquanto tirava o sobretudo e o cachecol.

“Crianças começam a conseguir ter coordenação para correr por volta dos dois anos,” disse Sherlock. “Daqui a pouco ela vi estar pulando com um pé só.”

Não foi difícil encontrar Rosie. Era só seguir o barulho dos pézinhos e as risadinhas. Sherlock realmente não sabia se era pior correr por Londres tentando evitar explosões causadas por Moriarty, ou correr atrás da menina dentro de seu flat. Ela era rápida e conhecia todos os melhores lugares para escapar ou se esconder, não era justo. Sem contar que ela tinha menos de um metro de altura, enquanto Holmes, com seus um metro e oitenta e três centímetros, claramente estava em desvantagem.

“Não!” ela gritou, parecendo desesperada, quando as mãos de Sherlock finalmente a alcançaram. Ela logo ficou em silêncio ao notar que o homem não a levava para o quarto, onde seu pai a esperava com a famigerada roupa, mas sim até a poltrona da sala (a poltrona de Sherlock Holmes), onde ele a colocou sentada e se ajoelhou em frente.

“Um acordo.”

A menina estreitou os olhos, fazendo uma cara que não devia pertencer à nenhuma criança de dois anos e meio. Holmes a imitou. Não iria se deixar intimidar por ela, ou menos, não queria deixá-la saber que estava se sentindo intimidado.

“Não roupa,” ela resmungou, cruzando os bracinhos.

“Sim roupa,” disse Sherlock, arqueando uma sobrancelha. “E, se você voltar para o quarto por conta própria para deixar seu pai te vestir, você pode usar o chapéu.”

Os olhos de Rosie brilharam e sua expressão se suavizou. O chapéu era sempre uma ótima barganha... Mas então ela voltou a franzir a testa, apontando para o homem.

“Você também.”

É claro que ela não iria aceitar algo tão fácil.

***

“Temos que tomar cuidado com a quantidade de tempo que deixamos ela perto de Mycroft,” murmurou Sherlock Holmes enquanto observava a filha se deliciar com o bolo que Molly havia preparado para eles. “Ela está começando a negociar mais.”

“Não foi Mycroft que a ensinou a barganhar,” disse John, bebericando o chá e sorrindo quando Rosie se virou para olhá-los, tendo que levantar mais a cabeça para enxerga-los devido ao chapéu de pirata que ficava caindo sobre seus olhos, mesmo que Molly ficasse arrumando o tempo inteiro.

“Mas foi ele quem ensinou a dobrar a barganha.”

O médico riu pelo nariz, antes de se virar para ver o outro homem ao seu lado. Sherlock usava o maldito chapéu que o deixara tão famoso e que a filha deles parecia adorar tanto. John apenas ficava feliz de saber que não havia nenhum chapéu ridículo que talvez tivesse que usar para chantagear Rosie... Ainda.


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Notas finais do capítulo

Sei lá... Fiquei com vontade de escrever alguma coisa de Sherlock e o tema que a Vika deu (Johnlock doméstico) caiu feito uma luva, porque eu sou o trash das coisas domésticas.