After All This Time escrita por Pietrah


Capítulo 2
What are we talking about?


Notas iniciais do capítulo

Não sei o porquê dos títulos em inglês, mas achei bonitinho, então deixa.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722490/chapter/2

Quando acordei, ainda no sofá macio, só consegui me espantar. Senti como se houvesse piscado os olhos, mas o relógio marcava o transcorrer das horas mais rápido que meu cérebro. Meu cochilo durara cinco horas e o céu lá fora era escuro, ao longe se dava ao luxo de conter estrelas pequenas, há anos luz da mediocridade de nossos seres.

Em meu primeiro dia, já tinha trocado o dia pela noite. E tudo o que eu queria agora era um passeio tranquilo pelo sereno do luar e, caso encontrasse algum lugar aberto, talvez um sanduíche. Avisei aos meus pais que estava tudo bem e deixei o celular em casa, levando apenas a chave. 

Quando me aproximava da praia, tirei minhas sandálias para sentir a areia fofa nos meus pés. Mesmo com o clima nebuloso que tomava conta da região durante o dia, o céu limpo e estrelado que eu fitava parecia nunca ter sido diferente. Andei por muito tempo apenas olhando para ele, depois passei a analisar as pequenas construções, algumas com as luzes acesas. Sentei-me em um tronco úmido à beira do mar e entrei numa espécie de transe. A hipnose decorrente dos fatores naturais, da caverna rochosa visível, da lua brilhando branca e das árvores balançando com o vento fraco que soprava. Passando as mãos pela areia, cavando levemente com os dedos, senti algo se sobressair. Peguei o objeto com cuidado em minhas mãos, molhando-o na água para limpá-lo e identificá-lo. 

Era um colar prateado, com espaços para fotografias em cada lado do coração. Um dos lados estava vazio, e o outro continha uma foto de uma mulher de cabelos negros e pele morena. Apesar da aparente idade, o olhar jovial se ressaltava com as maçãs do rosto,  altas pelo sorriso. A foto tinha rasgos nas pontas e sabe-se lá a quanto tempo o colar havia sido deixado ou esquecido. Guardei comigo. A cidade era pequena, talvez encontrasse a dona.

Passei a noite ali, esperando o amanhecer para ir à um café, enfim. O dia oficial me esperava. Talvez eu reencontrasse Jacob, seria bom ter ajuda para socializar por aqui. E eu iria Visitar Charlie, não poderia mais procrastinar. Não mais. 

Minha To Do List incluiria a ida à escola, a procura de um emprego, a visitação a Charlie, a procura pela dona do colar e, talvez, algumas horinhas de troca de conhecimento com Billy Black. As lendas Quileute sempre me fascinaram, mas não sei se é um assunto que ele gostaria de tratar comigo. Alguns lobisomens ainda se sentem ameaçados por uma híbrida. 

Quando minha família e eu fomos visitar a Nova Zelândia, conheci uma tribo de lobisomens. Não sabia sequer que existia outra além dos Quileute, mas eu deveria ter imaginado. Todos os lobos Onhari tinham pelagem entre o branco e o preto. O líder da matilha era o mais claro; de reluzir aos olhos de quem o visse. Eles tinham lemas de respeito e reciprocidade, e aceitaram os vampiros em seu lar. Eles, como toda sociedade, também possuíam lendas. De uma, lembro-me lucidamente. Ela começava assim: 

No alto de um antigo e sagrado cume, o lobo mais antigo da aldeia tinha as forças do Oráculo. Sem a capacidade de enxergar, ele guiava seus visitantes pela energia que transmitiam. 

Um viajante perdido, certo dia, parou por lá, e perguntou para o xamã: -Senhor, o que devo fazer para que me hospedes aqui?

O ancião, com um sorriso serelepe no rosto, respondeu: -Terá moradia nessa noite fria. Mas, amanhã, me trará a melhor sopa que puder fazer, para aquecer-me e demonstrar-me gratidão. Então sua estadia se estenderá.

O viajante, surpreso pela simplicidade da proposta, concordou. No dia seguinte, seguiu a receita de sua família e estendeu ao idoso. Este, provou calmamente, sem falar nada.

—E então, o senhor gostou?

O ancião abriu o mesmo sorriso do dia anterior e disse: Não. Terá mais uma chance. Mostre-me algo melhor amanhã.

No outro dia, o mochileiro, dedicado, acordou cedo para colher das melhores hortas e apreciar os melhores temperos. Ao final, estendeu a porção para o mestre, que permaneceu calado.

—E agora? O que o senhor achou? Está bom?

O idoso, abrindo pela terceira vez o sorriso infantil, respondeu: Não.

E por mais um dia a proposta foi prolongada. No terceiro dia, o garoto passou horas aprendendo os segredos culinários das mulheres da tribo,  pegou os melhores temperos e plantas, se utilizou de ritos e finalizou a sopa. Novamente, ao provar, o Oráculo calou-se. 

Desta vez, respeitoso porém impaciente, o rapaz proferiu: Eu sinto muito que o senhor não tenha gostado dessa sopa, mas estou orgulhoso do resultado que tomei. Colhi dos melhores frutos, recebi aconselhamento das mais experientes e me pus à prova para orgulhar o senhor durante estes três dias. Entendo se não quiser mais me conceder moradia, mas estou contente com o resultado.

O senhor diminuiu a intensidade de seu sorriso e disse: Como, meu jovem, posso aprovar uma coisa se você mesmo não tem certeza de que está boa? 

E por ter provado sua confiança e capacidade, o jovem conseguiu sua hospedagem.  

 

Era a tribo mais unida e cheia de valores que eu já vira. E estava ansiosa para saber como isso funcionava para os lobos de La Push.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alô, curtiram?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "After All This Time" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.