Carly escrita por Coffee


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722411/chapter/1

 

— Prólogo:

Hospital de Liverpool, 18:56, New York.

        Eu gosto da chuva. Gosto das gotículas de água escorrendo pelo vidro. Gosto de como é inconstante e sem escrúpulos. Gosto de esquecer o mundo e apenas me concentrar em qual gota chega primeiro, e era isso que eu estava fazendo no meu último dia, antes da minha psiquiatra me chamar.

— Olá, Carly. Por favor, sente-se.

Escolhi um dos pufs vermelhos que estavam de frente para mesa da Dr. Rudson e me recostei da melhor maneira possível.

— Achei que seria uma boa ideia te ver antes de te liberar. Quis me certificar que você realmente tinha tido melhora e estava preparada para tomar as atitudes certas, dessa vez. — ela olhou por cima de seus óculos e lançou um sorriso de encorajamento. — Carly, querida, eu sei que nem de longe me vê como uma amiga, mas se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, pode me ligar nesse número. — e então me estendeu um papel que enfiei no bolso.

— Obrigada, Anabeth. — depois desse tempo todo, de fato, Anabeth Rudson se importou comigo mais que qualquer outra pessoa havia feito em toda minha vida, e apesar dela achar que não era minha amiga, ela era. Em um momento me lembro de odiá-la com todas as forças e em outro, não exibir a carranca com tanta frequência enquanto conversávamos. Depois de escutá-la me aconselhar pela última vez, levantei, apertei sua mão e fui pegar meus pertences no quarto.

O enfermeiro bateu na porta e disse que já estavam me esperando, calcei minhas botas e coloquei o moletom, acompanhei ele até a entrada do hospital e pude dar o dedo do meio para Mrs. Carmen, sorrindo abertamente quando ela retribuiu o gesto obsceno.

Assim que saímos porta à fora, chovia muito. E sim, de fato eu amava chuva, mas naquele momento eu não gostava dela, não gostava como ela estava arrepiando minha pele, de como até seu pequeno toque causava calafrios, as gotículas de água gelada batiam sobre meus braços descobertos assemelhando-se a lâminas, ensopando minhas botas curtas e meus cabelos.

E, em algum momento cogitei a hipótese de olhar para trás, para recordar de todos os momentos que tinha passado naquele lugar que durante nove meses fora meu lar, porém tudo que fiz foi acompanhar o enfermeiro com guarda-chuva até o carro preto parado do outro lado da rua. Assim que entrei, não recebi nem um tipo de “oi”. Longe de mim esperar um “como você está Carly? Sentimos muito por não ter lhe visitado, estávamos com saudade”, ou algum tipo de sentimento que não fosse desprezo ou vergonha por eu estar viva.

Diferente do que imaginei por toda minha existência, nenhuma palavra era bem pior que os xingamentos diferidos diariamente durante dezesseis anos.

— É bom te ver também, mamãe. —sussurrei encostando a cabeça na janela e trilhando novas corridas com gotas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo