A Bela e a Fera escrita por Lilissantana1


Capítulo 20
Capítulo 20 - Minha Estupidez!


Notas iniciais do capítulo

Mais demora. Gente, não estou conseguindo cumprir meus prazos, aqueles q dou a mim mesma. Atolada em trabalho por aqui, o que não tem me deixado tempo para escrever. Espero contar com a paciência de vcs. Desculpem. BJO meninas.



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Dois dias totalmente improdutivos se seguiram. Mabel e Dominic não se encontraram, exceto na presença de um grande grupo de pessoas. O marquês se mostrava reservado com ela, mal lhe dirigindo algumas poucas palavras. Apenas seus expressivos olhos e seus sorrisos permaneciam iguais, o que garantiam a Mabel a quase certeza de que, provavelmente, ele ainda a via da mesma forma.

O retorno para casa se aproximava assustadoramente rápido. Dias e horas voando de encontro ao derradeiro final do passeio. Junto a isso, outras coisas se mostravam assustadoras. Como a aproximação de Elliot Chowes e Abigail Strang. Estranha ou desconcertantemente, a dupla era vista com cada vez mais frequência. Em conversas íntimas, sorrisos cúmplices, olhares espichados e melosos. A viscondessa agia como se tivesse conseguido finalmente o que desejava, afastar o filho da moça sem dote e dar a ele a chance de se casar com uma mulher a “sua altura”. E a escolhida para colocar Mabel em seu devido lugar não ficava escondida, era amplamente exibida em todas as ocasiões possíveis. Para que ficasse totalmente claro que a filha de Sir Nagle perdera de vez a chance de um dia se tornar a viscondessa de Chowes.  

Mabel se surpreendeu com o quão pouco se importou com essa demonstração clara de vitória da viscondessa bem como com o ar esnobe e afetado com o qual Elliot lhe presenteava sempre que se cruzavam. Principalmente quando o rapaz conduzia a senhorita Strang pelo braço. Confirmando a derradeira conclusão de sua primeira incursão amorosa. Bem como dos sentimentos que um dia pensou nutrir por sir Chowes.

O maior motivo de alegria, naquelas horas sem graça, ficou por conta de Sophie e seu novo “amigo”. Sir Philip era encantador, gentil e extremamente educado. Logo se aproximou de Mabel e esta pode perceber que a irmã do marquês tinha razões claras e firmes para se sentir feliz e desejava ardentemente que Sophie não se decepcionasse novamente. Eles passavam bons momentos juntos conversando, passeando e trocando brincadeiras amigáveis. A jovem Nagle se distraia e também acompanhava a amiga, já que a marquesa não pretendia que sua filha passasse muito tempo a sós com o rapaz.

A penúltima noite na casa foi um momento destinado aos jogos. Nada de músicas ou danças. Apenas horas alegres e divertidas com brincadeiras e conversas. Mabel se acomodara em um sofá estreito, próximo a janela, para buscar o ar fresco da noite num dia que fora especialmente quente quando Elliot e Abigail ingressaram de braços dados na sala. Imediatamente o ex noivo lhe dirigiu um olhar superior esperando com certeza atingi-la, mas ao contrário da intenção do futuro visconde, aquele gesto apenas lhe provocou pena. Pena e a bem da verdade um pouco de abatimento por ter perdido tanto tempo e sentimentos com alguém que não merecia sua atenção.

Era certo que Abigail e Elliot formavam o casal perfeito. Mabel via isso com clareza naquele momento. Um representava para o outro o que os dois sempre buscaram. Posição social, berço, nome, dote, e até beleza. Por que não? Afinal, ninguém poderia dizer o contrário. Tanto Chowes quanto Strang eram belos espécimes de seus respectivos sexos... ao menos por fora.

A noite estava agradável, a conversa amena, Philip se mostrava um acompanhante gentil e extremamente engenhoso na arte de distrair moças. Além de parecer não se incomodar com a presença constante de Mabel junto deles, pois, em vários momentos, ele apenas via e ouvia Sophie. A jovem Nagle não se ressentia por ser praticamente ignorada pelo advogado, afinal, era uma demonstração clara de verdadeiro interesse. E só Deus sabia o quanto a irmã mais velha do marquês merecia tal deferência.

Dominic não viria, ela teve certeza quando percebeu que a noite estava próxima de seu fim e o rapaz ainda não dera o ar de sua graça como acontecera na anterior. Aquela falta estava sendo muito sentida. Especialmente nessas horas em que seus olhos observavam a porta com insistência, Mabel percebia que estivera profundamente errada no momento em que o rechaçara por medo. E que fora orgulhosamente estúpida em não atender o pedido da marquesa e colocar de lado aqueles melindres bobos.

Pela milésima vez se remexeu no estofado verde musgo, acomodando a almofada em tons de marrom e dourado ao lado de seu vestido.  Graças aos céus Sophie e Philip estavam tão entretidos um com o outro que não perceberam o tanto que ela se movera naquelas parcas horas em que passaram a conversar. Mas, era certo que estava em tempo de se recolher. Sir Deeping não viria, e ela era a culpada pelo afastamento dele. Olhando Frances com o canto dos olhos a garota pensou que a mulher talvez tivesse mudado de opinião a seu respeito depois de ver seu filho se ausentar do grupo apenas motivado por um pedido dela.

— Acho que vou me recolher. – falou com a voz levemente embargada.

Sophie a encarou como não tivesse entendido ou sequer ouvido o que a amiga dissera. Mas no final, sorriu e concordou com a cabeça.

— Boa noite. – sir Philip desejou ficando em pé, antes que Mabel tivesse se afastado.

Tentando escapar da sala com o máximo de discrição e rapidez possível, Mabel caminhou próximo a parede, deslizando suavemente por detrás dos grupos e mesas até atingir a porta principal. O hall estava bem iluminado e caminhar até seu quarto seria ainda mais fácil. Em passos rápidos tomou a direção das escadas que a levariam ao andar desejado quando viu quem esperava e desejava ver. Uma breve e gostosa sensação de aquecimento tomou conta dela. Dominic parou de caminhar e lhe sorriu. Um sorriso encantador, iluminado e contagiante.

Ele estava vestido de maneira informal. Sem casaca, sem lenço e os cabelos pareciam despenteados. Ela estranhou tal comportamento, nunca o vira assim, nem mesmo naquela manhã no jardim quando provavelmente passara a noite fora.

Mas de resto, tudo lhe parecia igual. O modo de parar, os longos braços ao lado do corpo, o rosto claro, os olhos, os lábios, o sorriso... foi um segundo, um segundo apenas e ele lhe ofereceu uma breve reverência e as costas. O homem alto caminhava firme em direção à saída, ela sabia para onde o marquês pretendia ir, para a cavalariça. E sem pensar no que fazia, o seguiu.

Acompanhar os passos longos de Dominic não era tarefa fácil. Então, para detê-lo antes que atingisse a rua de cascalhos, ela fez a única coisa possível, o chamou:

— Sir Deeping... sir Deeping.

Quando ouviu a voz de Mabel logo atrás de si, Dominic quase não acreditou. Talvez, aquele chamado fosse ainda a expectativa que mantivera aprisionada dentro de si nos últimos dias de isolamento, que estivesse produzindo.  Mas contrariando o bom senso, se voltou. E lá vinha ela, quase correndo, segurando o tecido do vestido um pouco acima dos joelhos, deixando a mostra parte da canela e os pés.

Assim que estacou diante dele, Mabel se mostrava levemente ofegante. E talvez ainda mais linda do que nas outras vezes em que se encontraram. Ela nada lhe disse. Apenas o fitou diretamente nos olhos. Depois, num gesto afoito deu um passo longo, e parou a pouco mais de um metro do corpo dele.

— Parece que não o vejo há dias... – ela começou com a voz demonstrando uma breve vibração.

— Temos nos encontrado pouco. – ele concordou. Era óbvio que a culpa não era dele. Pois se dependesse de sua vontade, teria passado as últimas horas, dos últimos dias, todas ao lado dela. Como Philip fizera com Sophie.

— E eu sinto muito por isso. – Mabel rebateu sentindo o rosto arder pelo rubor. – Sei que com o meu pedido o afastei do convívio de sua família e amigos.

— Afastar-me de bailes, saraus e jogos nunca foi um problema para mim senhorita Nagle. A senhorita deve saber muito bem desse fato. – apesar da voz serena, o modo como ele falava lhe indicava claramente a distância imposta por ela.

Mabel silenciou por breves instantes. Depois concordou:

— Sim, eu sei... não apenas pelas suas irmãs, ou pelo incômodo que a marquesa demonstra diante de sua ausência nas atividades sociais, mas pelo seu modo de ser.

O marquês se empertigou. Mabel estava entendendo errado o pesar que ele sentia por se manter longe.

— Mas a tarefa da qual me incumbiu não dizia respeito aos meus amigos e familiares, dizia respeito a senhorita. – a voz masculina explicou enquanto o homem diante de Mabel estreitava os olhos.

— Indiretamente atingiu seus amigos e familiares. – ela rebateu séria.

— Se me importasse com a “falta” que eles sentem de mim. De minha ilustre figura. Ou o que pensam sobre minha presença ou ausência, acataria com mais frequência os pedidos de minha mãe para me fazer presente nas reuniões. Mas... ultimamente apenas um motivo me levava a comparecer quase que pontualmente as atividades...

Acreditando que ele falava sobre ela, Mabel estremeceu brevemente, sem saber se era a brisa da noite ou as palavras dele que provocavam aquele involuntário movimento.

— Portanto senhorita Nagle, fique tranquila quanto a impressão que outras pessoas possam ter sobre minha ausência em atividades sociais. Todos estão acostumados ao meu “modo de ser”, como a senhorita tão bem salientou.

Novamente o silêncio se instalou por breves instantes. Dominic esperava que aquela conversa tomasse um outro rumo. Mas pelo jeito, Mabel apenas se sentia culpada por ter afastado o dono da casa das atividades sociais promovidas pela mãe dele. Decidido ele pensou em seguir seu caminho e praticar seu esporte noturno favorito, um longo, longo, longo passeio a cavalo.

Percebendo que não fora clara em seus argumentos, ou que talvez ainda estivesse colocando empecilhos diante de como deveria ou queria agir, Mabel tentou ser mais clara.

— Sei que seus amigos, conhecidos... seus parentes, estão habituados a sua ausência... acredito até que a própria marquesa já sabe que exigir sua presença constante em atividades sociais seria pedir demais... – estava enrolando Mabel pensou remexendo nas mãos – porém, neste momento estou me sentindo culpada.

Culpada! Ele pensou espremendo a testa, constatando não ter errado em sua suposição. Será que Mabel pretendia acabar de vez com sua paciência? Mas, ela continuou:

— Mais do que culpada... estou me sentindo como uma estúpida! – os olhos que por breves instantes haviam vagado pela camisa dele de repente se fixaram nos masculinos.

Dominic silenciou na expectativa do viria.

— Minha total e completa estupidez se mostra a cada instante mais clara diante de mim, em todas as oportunidades perdidas destes últimos dias.

O que ela queria dizer? Pelos céus! Aquela conversa estava lhe provocando a paciência.

— Pelas oportunidades que o senhor perdeu de estar com seus amigos, familiares e... – ele moveu a cabeça quase sem acreditar no que ouvia e, ela continuou – também, pelas oportunidades que eu perdi de estar com o senhor...

Dominic sentiu as armas caírem por terra dias de uma dúzia de palavras. Mabel estava admitindo que sentira sua ausência?

— E a culpa é única e exclusivamente minha sir Deeping. Será que há meios de reverter essa situação?

Será que a garota finalmente percebera que poderiam se aproximar sem que ela se sentisse pressionada ou obrigada a alguma coisa apenas porque ele a amava? Embasbacado o marquês não conseguiu falar de imediato. Mabel continuou, impulsionada por uma coragem inusitada:

— Desculpe-me por meu comportamento indeciso e... inseguro. –  precisava falar, se não fizesse aquilo naquele momento, talvez jamais se perdoasse no futuro.

Sim, ela estava dizendo o que ele esperava ouvir. Dominic se aproximou um pouco mais, e não recebeu qualquer indicativo de que não deveria fazer isso. Com a esperança preenchendo seu peito falou:

— A parte racional e consciente do meu cérebro aceitou seus argumentos... mas, ficar por tantos dias afastado de atividades sociais, de pessoas, nunca foi tão penoso para mim. Porque me afastar do convívio público, também me afastava da senhorita.

Os olhos dele, escuros pela penumbra da noite, encaravam os dela diretamente.

— Creia que não apenas o senhor foi penalizado pela minha insegurança. – Mabel pronunciou de forma ardente, sem saber de onde provinha toda aquela coragem. – Espero não ter perdido de vez a oportunidade de conhecê-lo melhor.

Se segurando para não ultrapassar todos os limites e beijá-la, o marquês explicou claramente como ela deveria perceber a situação:

— Se esse pensamento a perturba senhorita Nagle, devo lhe informar que será preciso mais do que isso para evitar que nos conheçamos melhor... estou apenas a espera de uma palavra sua.

A postura dele mudara completamente. O corpo masculino se inclinava para ela fazendo com que o timbre forte e profundo que Mabel tão bem conhecia dançasse ao seu redor como uma música.

— Apenas uma...? – a voz de Mabel saiu baixa e sussurrante. Havia um buraco imenso ocupando a distância entre o estômago e a garganta. E esse buraco retumbava dentro dela.

Ele encerrou de vez a distância que os afastava. A garota pode sentir a firme e quente pressão do peito masculino contra o vestido fino de verão.

— Sim... e a senhorita acaba de me oferecê-la.

— Realmente fiz isso sir Deeping? – sim, fizera, e sabia disso. 

Os lábios masculinos não se abriram para oferecer uma resposta. Ele apenas moveu a cabeça de modo afirmativo. Hipnotizada pelos olhos azuis ela percebeu sua breve aproximação, e quando Dominic os fechou, agiu como um espelho e também se perdeu na escuridão completa para permitir que outros sentidos aflorassem.

Era o segundo beijo deles. E trazia consigo mais do que emoção retirada do perigo, do medo, da dor, da decepção. Vinha repleto de... saudade. De falta, de ausência.

O homem diante dela tinha lábios macios, mãos carinhosas que seguravam seu rosto com gentileza e um gostoso aroma de banho. Ela não viera em busca de beijos, de carícias, de carinhos. Mas era inegável que se percebia muito bem ali, entre os braços de Dominc, sentindo a boca dele na sua e as mãos dele a descerem, quentes, por seus braços nus e se instalarem no meio das costas. Espalmadas, pressionando seu corpo contra o masculino.

A garota se entregara novamente, e desta vez parecia diferente. Ou ele desejava tanto que fosse diferente que assim cria que fosse. Mas, seus temores se foram completamente quando Mabel o enlaçou pela cintura, permitindo que ele pudesse segurá-la com mais firmeza.

Nenhum deles se importava com a possibilidade de serem vistos. O que era bem possível dado o lugar onde estavam, na saída principal do hall, de frente para a sala onde todos os convidados se encontravam. Dominic pretendia aproveitar ao máximo aquela oportunidade e desta forma provar a Mabel que eles certamente seriam felizes juntos. Mesmo que ela não o amasse naquele momento, com a convivência isso poderia vir a acontecer. O fato de se darem bem era um ótimo indicativo. Bastava apenas deixar de lado todos os medos e assumir a real possibilidade de que o amor muitas vezes não vem de onde esperamos.  


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Notas finais do capítulo

Será q ninguém vai voltar atrás desta vez?
Esperemos q não!
BJO meninas, muito obrigada pelos reviews, pela opinião de todas vcs e pelo apoio sem fim, sem ele não sei se conseguiria escrever. Estava com saudades!