A Bela e a Fera escrita por Lilissantana1


Capítulo 1
Capítulo 1 - Prólogo - De repente, crescer.


Notas iniciais do capítulo

Dominic, Mabel, Elliot...
tirem suas conclusões a respeito deles.



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A residência de campo, e favorita, do marquês de Deeping estava sempre cheia de pessoas. Repleta de amigos, de parentes, de conhecidos, de sócios e colaboradores. O homem alto de cabelos louros e grandes olhos azuis, era gentil, dedicado e sempre cordial com todos. Adorava longas conversas, saraus, recitais, barulho de música e agitação.

Charles Draytor, marquês de Deeping era casado com Frances Elenor Cotgray, filha mais velha de um conde. E o feliz casal tinha apenas um filho homem. O jovem Dominic Draytor de nove anos. Um garoto alto para a idade, caracterizado por manter o sorriso sempre aberto e pelos olhos azuis iguais aos do pai.

Dominic era ativo, gostava de tudo o que podia lhe trazer prazer, tinha muitos amigos e estava, assim como o marquês, sempre as voltas com atividades que pudessem lhe proporcionar prazer. Apegado aos pais, ele recebia muita atenção, carinho e disciplina de seus progenitores, e por isso era uma criança geralmente amigável e generosa.

Seus melhores amigos no mundo eram dois irmãos, Floyd e Elliot Chowes, filhos de um visconde, primo da marquesa. O trio estava sempre reunido com outras crianças em alegres atividades.  O restante do grupo era formado por uma das irmãs de Dominic, Sophie, e suas grandes amigas Amy e Abigail Strang, filhas de um barão e Mabel Nagle, filha de um empregado e grande amigo de Charles. E esse pequeno grupo vivia reunido em momentos de alegria e diversão.

Apesar de ser um pouco mais velho que o restante do grupo, Dominic conseguia interagir com quase todos de forma adequada, entretanto, ele considerava que as garotas atrapalhavam o desenrolar das brincadeiras. Seu maior problema constava na necessidade de ser obedecido. Um defeito, que apesar de todos os esforços paternos, o jovem jamais conseguiu eliminar de sua personalidade.

Naquele dia de sol, o grupo de crianças corria pela campina em busca de borboletas quando Mabel escorregou e caiu. Os cabelos castanhos da garota, trançados adequadamente roçaram o chão quando esta se sentou chorando e apertando o joelho machucado.

Os amigos logo se aglomeraram em volta da pequena querendo ajudar. Elliot, sempre preocupado e gentil, acocou-se ao lado da menina e tocou-lhe o ombro num gesto de conforto.

— Como isso aconteceu? – Dominic perguntou parando junto ao grupo com as mãos na cintura e olhando a cena abaixo com ar de desaprovação.

Todos os olhares se seguiram para ele percebendo o tom incomodado. Pois Mabel, além de ser a mais nova da turma era também a menor, a mais miúda e franzina. O que geralmente atrapalhava as brincadeiras. Especialmente se fossem mais agitadas e exigissem força ou corridas longas. Por causa disso, algumas vezes o filho do marquês se recusava a aceitar a presença dela nas brincadeiras. E aquele incidente provavelmente atrapalharia sua aceitação às outras meninas também.

— Ela caiu. – Elliot informou ainda com a mão sobre o ombro magro da garotinha.

— Eu sei que ela caiu... – Dominic retrucou se acocando também – Por isso disse que era melhor que as garotas não viessem nesta expedição, apenas servem para nos atrasar.

— Dominic! – Sophie reclamou batendo com a mão no chapéu do irmão. – Você está sendo muito mal educado! Vou contar ao papai!

Ignorando a reclamação familiar, ele tentou ver o que acontecera no joelho da chorona, mas não conseguiu. A menina ainda reclamava de dor. E então, através dos dedos finos, os perspicazes olhos azuis notaram sangue. Imediatamente ele soube que precisaria voltar. Seu pai reclamaria no momento em que soubesse do ocorrido. Principalmente se ele não agisse como deveria agir.

Passando o braço atrás do corpo de Mabel e sob o joelho bom, ele a ergueu do chão provocando o pronto cessar do choro. Mais assustada do que sentindo dor, a menina passou um braço sobre o ombro dele sem questionar o que o menino fazia.

Mas alguém iria reclamar:

— O que você vai fazer? - Elliot perguntou em tom zangado.

Já caminhando Dominic respondeu:

— Levá-la para casa. Mabel precisa de curativo no machucado.

— Eu poderia fazer isso. – a voz de Elliot reclamou mais uma vez.

— Você logo se cansaria. – o mais velho explicou sem dar atenção ao grupo que lentamente o seguia.

Todos sabiam que era verdade. Elliot não era o tipo de garoto atlético, ele era mais intelectual. Gostava de livros e de passar horas estudando com o tutor. Sua estrutura física era menor e menos robusta que a de Dominic, mesmo que eles tivessem apenas oito meses de diferença, ninguém notava pois o filho do marquês era mais alto, mais encorpado e bem mais ágil que o primo distante.

Mabel travou o choro. Estava apavorada diante da proximidade imposta por Dominic ao carregá-la daquela forma. Eles eram amigos, não amigos como ela e Sophie, Amy e Abigail, nem mesmo como ela e Elliot. Jamais brincavam juntos, na verdade o filho do marquês geralmente reclamava da presença dela nas brincadeiras por considerá-la muito jovem e pouco hábil.

O trajeto não era tão curto quanto Mabel gostaria que fosse. Mas, Dominic o realizou com extrema facilidade, e quando finalmente a largou na cozinha, sentada numa cadeira diante de Ethel, a auxiliar da governanta, não parecia cansado.

— Ela caiu. – informou a mulher gorda que o observava detidamente. – Está com um machucado no joelho.

Ethel se aproximou rapidamente pensando no que aqueles dois estariam fazendo juntos, sozinhos e... de repente um grupo de outras crianças entraram esbaforidas na cozinha. A frente vinha um zangado Elliot que logo começou a falar sem parar.

— Você não nos esperou... sabe que Amy caminha devagar e...

Dominic não demonstrou qualquer alteração diante da reclamação do primo amigo. Apenas aproveitou o momento para reforçar seu argumento.

— Quando lhe digo que elas atrapalham, você não acredita em mim. – e dando as costas saiu da cozinha. Sua boa ação estava feita. Agora era com Ethel.

A noite o grupo se reuniu novamente, Mabel estava bem, mas permanecia sentada com o joelho enfaixado e erguido sobre um apoio. Os outros estavam sentados a sua volta, conversando e rindo. Dominic achou que também poderia se sentar lá, mas acabou não fazendo isso. E foi para o quarto decidir que tipo de brincadeiras eles fariam no dia seguinte.

Só que no dia seguinte, muitas coisas mudaram na residência do marquês.

Gritos acordaram o menino, tirando-o da cama muito cedo. Era Frances, sua mãe que acabara de encontrar o marido morto em seu quarto. Uma profusão de acontecimentos, que mais tarde se perderiam na memória de Dominic todas as vezes que ele pensava naquele dia, se sucederam depois disso. E culminaram com o enterro do pai, com sua ascensão a marquês aos nove anos, com sua pronta ida ao internado, e com o final de sua infância.

As brincadeiras acabaram. Os amigos se dispersaram. E ele só voltou a entrar na residência de campo do marquês de Deeping aos dezoito anos, quando sua mãe o chamou para conversar sobre a apresentação da irmã que aconteceria em dois anos.

Retornar à casa onde vivera as melhores e a pior experiência de sua vida não foi exatamente uma tarefa fácil. Ficar longe afastava a saudade que sentia do pai, dos amigos, da antiga vida de brincadeiras. Mas, ele se manteve seguro e firme como sabia que sua mãe esperava que fosse.

Sophie aos dezesseis anos era uma moça linda, alta, tão loura quanto o pai. A caçula, Lily, estava ainda com treze anos, mas já dava sinais de que seguiria a mesma linha da mais velha. Ao vê-las, Dominic soube que teria problemas. O dote das duas era generoso, mas como irmão mais velho e, chefe da família cabia a ele decidir quem seria bom o suficiente para merecer não apenas o dinheiro que suas irmãs levariam para o casamento, como e especialmente também elas próprias.

Com a liberdade suficiente para elaborar da melhor forma possível a apresentação da filha, Frances liberou o rapaz para retornar à escola. E ele só voltou ao lar, na casa principal do marquês, na capital, aos vinte anos. A esta altura da vida, Dominic não era mais um menino, nem um jovem, era um homem acostumado a tomar decisões que determinavam a vida de sua família e a dele próprio.

*****************

Mabel Nagle vivia muito bem com a família ainda na mesma casa e mantinha ainda as mesmas amizades de quando criança. Sophie, Amy e Abigail, com as quais tinha a chance de conviver praticamente diariamente. Sua aparência não mudara tanto. Os olhos e cabelos continuavam escuros, o corpo delicado e miúdo como o de uma menina. Mas, ela era mais forte do que aparentava. Mais resoluta e mais determinada que demonstrava.

Naquele manhã sem sol Mabel estava sentada em seu quarto relendo a última carta recebida de Elliot Chowes há dois dias. Seu coração saltitava no peito ao reler as palavras carinhosas, as declarações, os desejos que o rapaz demonstrava cada vez mais abertamente, desde que eles eram crianças.

Ela sabia que enquanto ele não fosse o visconde de Chowes, eles não poderiam contar ao mundo sobre o amor que sentiam um pelo outro, já que ela não tinha dote ou nome para ser a noiva dele. Mas, a certeza de ser amada pelo homem amado já lhe trazia muita segurança e esperança durante a longa espera.

Sua esperança de vê-lo era o baile de apresentação de Sophie em poucos dias. Mabel, não teria uma apresentação formal, seus pais não tinham condições para isso. Ela precisaria de um bem feitor para tanto, mas, ir ao baile significava ver Elliot e isso já seria muito bom.

A mãe preparara com todo o cuidado o vestido, Sophie viera para ajudá-la com os detalhes finais da roupa. A garota loira estava eufórica. Falava sem parar em todos os preparativos.

— Dominic já está em casa. – Sophie falou se acomodando ao lado da amiga no banco do jardim. – Veio especialmente para minha apresentação.

Mabel a observou rapidamente pensando em perguntar se Eliot também já chegara, mas nada disse no fim. Apenas continuou a escutar o que a amiga falava sobre o irmão. Ela lembrava pouco de Dominic, na verdade sua mais forte lembrança sobre ele se relacionava ao dia em que caíra e fora carregada até em casa. Até aquele momento, a garota não compreendia porque ele fizera aquilo. Mesmo assim, nunca chegou a agradecer pela gentileza. E talvez, durante esse baile tivesse essa oportunidade.

— Como ele está? – perguntou guardando aquela memória no lugar de sempre, no passado.

— Está bem... como sempre foi. – a garota loira suspirou levemente – Na verdade, pior do que antes. Antes, meu irmão ria com freqüência, era alegre e brincalhão. Agora, mal sorri.

Sophie parecia realmente chateada com as mudanças do marquês.

— Ele tem muitas responsabilidades. – Mabel tentou explicar.

— Sim, eu sei. – Sophie concordou afagando o vestido com as mãos enluvadas – Mesmo assim, sinto falta das nossas brincadeiras... você lembra como ele era? – os olhos azuis da garota se fixaram nos seus. - Estava sempre rindo e se divertindo.

Era bem verdade que Dominic ria e se divertia muito, mas geralmente fazia isso com os garotos. Para as meninas guardava restrições. Considerava que a presença delas muitas vezes atrapalhava as brincadeiras. E quando falou sobre isso com a amiga, Sophie tratou de explicar o motivo:

— Ele achava que eu contava a papai as coisas que ele aprontava conosco.

— Como assim?

— Oras... ele estava sempre inventando expedições, passeios... lembra?

A outra gesticulou afirmativamente.

— Papai não gostava muito dessas ideias, dizia que poderiam ser perigosas, especialmente para nós...

A mão de Sophie se moveu entre elas indicando de quem falava.

— E Dominic achava que era eu quem contava.

— E você contava? – Mabel perguntou quase sorrindo.

— Não... era Floyd Chowes!

— Floyd! – Mabel admirou-se, o irmão mais novo de Elliot, - Mas ele estava sempre nas brincadeiras, por que fazia isso?

— Maldade eu acho... papai reclamava com Dominic porque acabaria machucando alguém com as brincadeiras dele e por isso ele não queria que fossemos.

— Então foi por isso que ele me carregou para casa naquela tarde...?

Só poderia ser esse o motivo. Mabel pensou e recebeu um olhar estranho da amiga.

— Não lembro disso. – Sophie falou se recostando no encosto do banco de madeira.

— Claro que lembra! – Mabel começou e logo explicou em detalhes tudo o que acontecera.

— É verdade! Havia esquecido. Mas, você deve ter razão.

As duas garotas, tão diferentes sorriam alegremente lembrando dos bons momentos vividos na infância.

— Sinto falta de papai... – Sophie falou de repente – Gostaria muito que ele estivesse aqui... mas, ainda bem que Dominic virá. Tive medo que ele não pudesse vir.

Mabel se aproximou da amiga, passou o braço por seus ombros e as duas se recostaram amigavelmente.

— Há anos não vejo seu irmão. Mas acredito que ele jamais deixaria de vir em seu baile de apresentação.

Sophie sorriu concordando e novamente apertando as mãos da amiga soltou um longo suspiro, se acomodou e tratou de mudar de assunto:

— Agora vamos falar de assuntos mais agradáveis. Seu vestido está pronto?

— Sim! Está! Ficou lindo!

O sorriso se ampliou nos rostos das duas.

— E estará ainda mais lindo em você! – Sophie sentenciou ansiosa pelo baile. Certamente que muitas coisas agradáveis aconteceriam naquela noite.


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Notas finais do capítulo

É isso, começamos. Espero por vcs. Grande BJ e até o próximo capítulo.