— A quarta guerra ninja é sem dúvidas a mais memorável. Foi a primeira em que os ninjas não lutaram contra si, mas se juntaram contra inimigos revividos. Inimigos tão poderosos que podem ser comparados com os deuses. — O velho senhor de cabelos brancos falava com a voz preguiçosa às dezenas de crianças com olhares ansiosos sentadas à sua frente.

Ocupavam um pátio da escola ninja que dava visão para o monte Hokage, no último rosto esculpido estava a imagem do herói.Mas não era sobre ele que elas queriam ouvir daquela vez.

— Kakashi-sensei — uma menininha de cabelos loiros e olhos verdes ergueu a mãozinha no meio dos alunos. Kakashi se lembrou de sua aluna quando a conheceu, não pela fofura ou o mesmo tom de voz, mas por ter batido na mão de um outro garoto que ia fazer uma pergunta e voltado a ficar meiga para o antigo Hokage. — O senhor poderia nos contar uma história de amor?

— Argh, me bateu pra falar isso, Huiri? — a reclamação do menino foi calado com um olhar feio da menininha.

— Não briguem, não briguem. Uma história de amor? Hmmm.

— Sim, dos Uchihas. — a garotinha fez ares de apaixonada e todas as outras suspiraram concordando.

Kakashi riu e acenou dizendo mais uma vez para se acalmarem.

— Ok, ok. Como estávamos falando da guerra, vou começar logo depois que ela acabou.

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Em frente aos cinco Kages, Sasuke se ajoelhou aceitando o seu castigo. Mesmo sendo herói de guerra ele entendia que seu passado não passaria impune. Ele aceitava aquilo, Sasuke era um novo homem, com as feridas cicatrizando e o amor dos amigos mais uma vez sendo bem recebido.

Sasuke se tornou receptivo, além de deixar seus olhos e sua alma abertos, deixou também seu coração e aceitou o amor que Sakura sempre nutriu por ele. Sasuke não disse imediatamente, estava sendo preso e não era isso o que ele queria para ela. Enquanto era levado para a cela, a viu chorando apoiada em Naruto, ela não conseguiu vê-lo, mas ele a olhava por todo o caminho, queria olhar em seus olhos e dizer que tinha um plano para os dois.

Sakura o visitava todos as semanas na prisão, durante todo aquele um ano. Ela cuidava de sua saúde, cicatrizando as feridas do corpo e do coração. Sasuke jamais disse a ela, mas as visitas dela eram as que ele mais ansiava.

Um ano havia se passado quando os grilhões caíram e os selos foram retirados de seus olhos. Sakura estava feliz, aguardando-o do lado de fora, porém ele se virou para mim e disse que no dia seguinte partiria.

Sakura sofreu, mas não como da primeira vez em que ele havia partido, ela entendia que ele precisava daquele tempo para refletir, para se sentir limpo de seus pecados, que ele precisava ver o mundo com seus novos olhos, com sua nova alma e seu novo coração. Ele partiu deixando a promessa de que voltaria.

Sakura não ficou sentada esperando-o. Ela ajudou o Hokage quando Hinata foi sequestrada e a lua quase caiu na terra, isso antes deles se casarem. Sasuke não havia dado notícias sobre seu paradeiro, ficávamos sabendo por outros ninjas onde ele estava, mas neste mesmo dia ele voltou a vila para salvá-la, disse-me que tinha que fazer aquilo se Naruto não estava lá. E desapareceu mais uma vez.

Sakura tornou-se ainda mais respeitada entre todas as vilas com seus cuidados para com as crianças depois da guerra. Sasuke continuou seu caminho de redenção, sem cortar realmente seu contato com a vila, pois ele sempre sabia o que acontecia com os seus queridos amigos, e com ela.

Alguns anos se passaram e ele retornou. Fiquei sabendo dois dias depois, quando um documento foi me entregue pelas mãos de Sasuke. Me lembro até hoje dos dois em pé na minha frente enquanto esperavam a minha resposta. Não acreditava no que eu lia, olhei para Sakura e perguntei se ela tinha certeza daquilo, diferente da euforia que eu sempre imaginei que teria, ela respondeu que sim com toda a maturidade e serenidade que ela plantava dentro de si. Assinei a certidão de casamento deles, e depois de uma rápida reunião com Naruto para celebrarmos a união, eles se foram.

Naruto me disse que não ficava triste por eles terem ido, porque sabia que voltariam. Konoha sempre seria o lar deles. Questionei sobre a pressa de Sasuke em se casar e voltar para sua viagem, realmente acreditei que ele ficaria quando voltasse para se casar com Sakura, mas então Naruto sorriu para mim e ele nunca me pareceu tão sábio quanto naquela hora: “A saudade venceu a pena de si mesmo. Ele não conseguiria chegar até o fim sem ela.”

Desta vez foi diferente, Sakura sempre mandava notícias e relatórios sobre os lugares e as “missões” que faziam. Sentíamos saudades, mas a garantia dela de que os dois estavam felizes era o nosso alívio. Então um dia uma nova carta chegou, mas não era a letra da Sakura, e sim do Sasuke.

“Estamos voltando”

Fiquei preocupado quando a li, mas só quando cruzaram os portões e chegaram até mim que fui entender porque tão repentinamente. Havia um bebê nos braços de Sakura.

Eu me emocionei muito naquele dia, segurei a pequena em frente aos portões porque eu realmente não tive outra reação. Sakura chegou a chorar de felicidade enquanto a duas pequenas mãozinhas se esticavam tentando capturar meu rosto, Sasuke mantinha o braço em volta de Sakura de olhos fixos em sua pequena. E se eu achei que tinha visto a felicidade nos olhos de Sasuke no dia em que se casou com Sakura, era porque ainda não tinha visto como ele olharia para sua família estando completa.

Dois anos foi o tempo de paz que Sasuke teve na vila, dois anos até que uma nova ameaça voltasse e ele se oferecesse para dizimá-la. Dessa vez Sakura não foi, os dois ficaram um bom tempo sozinhos no portão da vila. Não sei o que foi dito, mas o que vimos foi o suficiente para acreditarmos na reciprocidade daquele amor. Sasuke falou mais que Sakura, olhando nos olhos dela com a mão pousada na cabeça dela, antes de ir ele deu um beijo na testa de Sarada e bateu no local com dois dedos, o mesmo em Sakura, mas o beijo que deu nela foi tampado pelas costelas do Susanoo.

Muitos anos se passaram, as crianças cresceram, Naruto tornou-se Hokage e Sasuke ainda não havia retornado. A partir daqui vocês devem se lembrar do que aconteceu, não é? Sarada foi atrás de seu pai com dúvidas em seu coração. Ela não compreendia o que acontecia, e mesmo alimentando suspeitas infantis a emoção por conhecer o pai foi mais forte, tão forte que despertou seu sharingan. O que dizem sobre Uchihas amarem demais? É verdade.

Mesmo com os problemas que pai e filha encontraram no começo, logo Sarada entendeu algo valioso vendo seus pais juntos, que não importa a distância, nem as dificuldades ou o tempo, o amor sempre existiria e somente ele os manteria unidos. E que ela era o laço resultado desse amor, que fazia parte dessa união tão forte.

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As crianças bateram palmas assim que Kakashi acabou e se levantou. As meninas ainda queriam mais, queriam saber os detalhes da história, mas os senseis trataram de levar a turma para dentro da classe. Kakashi suspirou se sentindo bem leve em relembrar a história daqueles alunos em particular. Era motivadora.

Sorriu sob a máscara quando sentiu o chakra de Sasuke às suas costas.

— Achei que uma kunai voaria na minha direção quando comecei a contar. — disse ainda de costas para o ex-aluno.

Sasuke não se moveu, havia escutado toda a história e um sorriso permanecia discreto em seus lábios.

— Quando eu tinha o tamanho deles não imaginava que minha história seria assim. — a capa de Sasuke voava. Os dois homens olhavam para o monte Hokage.

— Eu também não imaginava. Nem a sua, nem a de Sakura e nem a minha. Naruto talvez, ele sempre foi muito teimoso quando queria algo.

Os dois sorriram ainda mais olhando para o último rosto esculpido, o rosto do Hokage e herói.

— Já está indo? — Kakashi virou apenas o rosto para trás.

— Sim. Eu volto.

— Eu sei que sim.

Kakashi sabia, pois enquanto o amor de um Uchiha vivesse, ele retornaria para ele.