Toalha Vermelha escrita por Napalm
— É a prova definitiva.
A detetive finalmente encontrou a peça-chave que incriminava o jovem Jean pelo assassinato da namorada. Formalmente ela apresentou suas descobertas à corte judicial. Já não havia mais como debater aquele caso. Chegaram a um consentimento mútuo.
— Emitiremos a nota ao poder executivo que Jean Charles Renault executou dolosamente Michelle Royce no dia vinte e três de agosto.
Uma das representantes da corte sorriu ao se lembrar que havia comentado com a sua vizinha, uma centenária senhora que lhe trazia legumes de sua horta todos os domingos, com a desculpa de tentar saber mais de casos que a judiciária tratava.
— Foi um crime passional, não foi?
— Não, não, senhora Roberts. Esse termo caiu por terra, nós não o utilizamos mais.
— Mas foi, não foi?
O fato é que ela comungava com as especulações da vizinha: Jean Charles Renault, num ataque de ciúmes, matara a namorada enforcada.
Agora que sua tarefa estava pronta, a equipe de investigação e a corte já se preparavam para uma noite regada de muita bebida e conversa, cada um com seus respectivos companheiros de festa. A noite seria tranquila. Mas não muito para o pai da assassinada.
Terrence Royce era um homem dos seus cinquenta, mantinha uma aparência bruta e costumava ficar muito vermelho quando tinha acessos de raiva. Logo, ele estava sempre vermelho aos olhos da maioria das pessoas que dispunham seu tempo a repará-lo. A mensagem chegou pra ele e ele descobriu que a sua noite só começara.
— Senhor Royce? Já temos um resultado.
Ele olhava para a secretária do tribunal como se olhasse para um médico obstetra.
— Culpado. – Ela disse.
Um tal misto de alegria e medo inundou suas veias. Ele olhou para a mulher e a sua sogra que esperavam junto a ele naquela saleta claustrofóbica. Suas feições também não eram muito diferentes. Talvez a da mais idosa fosse mais aliviada.
— Por favor, o executivo deve entrar em ação agora. – A secretária continuou. – Imagino que já tenham se decidido quem será o representante.
Terrence levantou o braço, tão vermelho quanto a tinta vermelha na parede. A secretária prontamente entregou-lhe um papel:
— Aqui está o formulário. O senhor pode usar o balcãozinho para apoiar e a caneta sobre ele para preencher.
A mãe da senhora Royce achou que Terrence precisou de muito tempo para preencher aquelas perguntas da folha:
— Vamos, Terry! Estou impaciente! – Ela dizia, mais para ela mesma do que para o genro. – Finalmente vamos ter nossa justiça. Justiça merecida. Pela nossa querida, pela minha netinha! Finalmente. É, já não era sem tempo.
A senhora Royce apenas balançava a cabeça apoiando a mãe, enquanto segurava a mão da idosa, sem ambas levantarem da cadeira. Em pensar que aquela cadeira desconfortável agora parecia tão aconchegante…
— Mamãe, tem razão, Terry.
— Eu sei! – Ele respondeu ríspido, cuspindo um pouco sobre o balcão enquanto gritava. – Já terminei.
— Por aqui, senhor. – A secretária o guiou por um corredor mal iluminado até uma sala ainda menor do que a anterior.
Antes de entraram pela porta, a secretária olhou para o formulário e buscou a arma marcada pelo senhor Royce na folha. Uma pistola semiautomática. Ela apanhou a arma de dentro do armário e também uma toalha vermelha. Colocou a tolha sobre um dos ombros e entregou a arma para Terrence.
— Aqui está, senhor. Pode entrar, já destranquei a porta.
Ele balançou a cabeça afirmativamente, mas não entrou de imediato. A secretária não conseguia esconder o aborrecimento em esperá-lo, por mais que tentasse. Passaram-se alguns segundos e ele girou a maçaneta.
Dentro da saleta, estava sentado sobre uma cadeira, algemado, o jovem Jean Charles Renault. Seus olhos chorosos e meio bambos pelo calmante balançavam contra a fraca luz, tentando focar o rosto do sogro.
— Por favor, senhor. Por favor! – Ele choramingou ao ver Terrence apontá-lo a arma.
A mão vermelha de Terrence tremia de maneira incontrolável.
— Por favor!
A secretária olhava no relógio a todo momento. Ela contou exatos catorze minutos, quando ouviu o tiro. Terrence naquele momento descobrira que a arma só tinha uma bala. Nunca comentaria tal fato com ninguém. Passaram-se mais uns cinco minutos e Terrence a encontrou do lado de fora e ela lhe entregou a toalha.
Ao voltar para a esposa e sogra, que o acolheram e o parabenizaram, ele percebeu que as palavras que elas diziam não tinha mais som. Elas apenas mexiam a boca. E na distância, um tiro ressoava. Sempre que ele fechava levemente os olhos, um relance de algo explodindo e sangue sendo jorrado para todos os lados pulava sobre seus olhos.
A noite seria longa.
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