Ônix escrita por LightB


Capítulo 2
Capítulo VI – Answers


Notas iniciais do capítulo

Hello my little wolfies ♥



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Capítulo VI

Estava tomando meu café da manhã tranquilamente, degustando meu café preto e forte, comendo as panquecas que mamãe havia feito antes de sair para o trabalho, que aparentemente passou a começar mais cedo.

Estava tudo tranquilo até demais, mas é claro que nada parecia permanecer assim durante muito tempo, logo meu celular começou a vibrar loucamente em cima da mesa, com inúmeras notificações da minha melhor amiga que parecia disposta a me irritar logo cedo.

Terminei o café sabendo que ela devia estar do lado de fora me esperando, segui em direção a porta imaginando o que ela queria sem nem ao menos abrir alguma das mensagens. Peguei a mochila e sai trancando a porta sem dar atenção a sua voz me chamando repetidas vezes.

—Liah Becrole como assim vocês e o Erick terminaram? - Nanda me confrontou assim que ousei olhar em sua direção.

—Tecnicamente não terminamos – ergui os braços me rendendo e deixando claro que eu era inocente, ou nem tanto - ele disse que eu mudei Nanda, e não parecia feliz com isso, apenas deixei claro que se esse era o problema eu saia de sua vida.

Nanda parou de andar me fitando furiosa.

—Liah, ele só estava tentando te entender – ela colocou as mãos na cintura e me fitou como quem estava prestes a voar em meu pescoço, o que era realmente normal entre nós duas – caramba será que não da pra perceber o quanto nos afastou nesses últimos tempos?

—Você também não Nanda – revirei os olhos e voltei a andar.

—Liah, você é minha melhor amiga, e eu não consigo começar a entender o que você passou – ela pegou meu braço me fazendo parar e ouvir o que tinha a dizer - sei que tudo isso afetou você, me afetou também. Não estou dando razão para o Erick, mas você se afastou de tudo.

—Como assim?

—Liah você saiu do coral, do comitê de boas-vindas, do comitê organizador e desistiu do desfile anual da escola.

—Bem, eu preciso de um tempo para mim. Além disso estou cansada de todas essas coisas. Nunca nem quis desfilar, você que me importunou durante quase uma semana até que eu me inscrevesse também.

Essa era uma verdade inegável e ela sabia disso.

—Isso sim, mas você amava decorar a escola para os bailes, qual desculpa para isso?

—Cansei de decorar e de qualquer jeito, não teremos mais bailes – dei de ombros e ela bufou, claramente irritada.

Mas sua pose não durou muito, logo começamos a rir da minha falta de criatividade para inventar uma boa desculpa, sempre fui uma péssima mentirosa e era exatamente por isso que Erick sempre sabia quando eu escondia algo dele.

Depois de alguns minutos rindo como as duas idiotas que éramos, finalmente fomos encarar mais um dia de aula, só que hoje seria diferente, uma garota havia se matado naqueles corredores e aposto que ninguém se esqueceria disso tão cedo, era a coisa mais assustadora que já havia acontecido naquela escola e com certeza geraria péssimas historias de terror aos novatos.

Para uma segunda-feira as pessoas estavam bem mais agitadas que o normal, os professores passavam matéria a cima de matéria e não nos davam tempo para nada, nem mesmo para pensar em como estava cansada de escrever e ouvi-los falando sem parar.

O intervalo foi a única verdadeira pausa que nos permitiram, e aparentemente não foi o suficiente para tentar explicar a Nanda tudo o que havia acontecido ontem com o Erick, e ouvi-la dizer todas as razões pelas quais nós iriamos voltar, que éramos perfeitos juntos e todo a conversa sobre universo que eu não ligava nem um pouco.

Destino era algo completamente absurdo em meu ponto de vista.

E realmente, Erick tentou falar comigo durante o intervalo, mas o treinador o chamou e ele deu meia volta antes mesmo que pudesse dizer meu nome.

Erick é um dos melhores jogadores de futebol de toda a escola, e aparentemente ele quis matar o técnico, por atrapalhá-lo, mas ainda assim o seguiu em direção ao campo. Nanda disse que falaria com ele durante a aula de cálculo, e que colocaria juízo em sua cabeça, caso ele pretendesse falar algo de errado.

Ri imaginando a cena, mas o riso morreu quando ela disse que eu deveria conversar com ele na saída, já que não teríamos nenhuma aula juntos hoje. Não sei o motivo, mas um frio no meu estomago me dizia que não iriamos conversar no horário de saída.

Na última aula do dia tudo corria normalmente bem, até que uma coisa muito além de estranha aconteceu, o professor ia começar a escrever algo na lousa quando o giz começou a flutuar a sua frente e a escrever, sozinho.

Todos ficaram paralisados em seus lugares, sem mover um músculo, vidrados na lousa enquanto as letras eram lentamente escritas em uma caligrafia fina e tremida.

Respostas.

Quando o giz caiu praticamente todos saíram correndo, quase como se apenas naquele instante pudessem voltar a se mexer, mas antes que conseguissem passar pelas portas da sala, os vidros estouraram sobre nossas cabeças em uma tempestade de estilhaços.

Gritos podiam ser ouvidos, vozes chorosas e o som dos sapatos batendo contra o piso velozmente, se distanciando.

Demorei alguns segundos para me mover, meu braço ardendo, haviam alguns cortes causados pelo vidro, mas ignorei isso e sai da sala, correndo para o lado de fora junto com todos os outros, o sinal de incêndio havia sido acionado e muitos alunos saiam de suas salas confusos, mas passaram a correr quando nos viram fugir.

Ativando o instinto básico de sobrevivência de todo ser humano. 

Parei apenas quando cheguei em baixo de uma arvore do pátio, não conseguia mais me mover, estava paralisada pelo pânico. Minha respiração completamente irregular, os batimentos cardíacos tão desregulados que parecia a ponto de um infarto.

Encostei-me a arvore, deslizando pelo tronco e me sentando no chão, lembrando-me da palavra na lousa, o que aquilo queria dizer?

Erick me encontrou ainda encostada na árvore, tentando me acalmar, não perguntou o que havia acontecido ou mesmo se eu estava bem, ele já devia ter a resposta para ambas as perguntas, apenas me puxou para cima, na segurança de seus braços e me levou para casa.

Talvez agora ele acreditasse no que eu disse antes.

Estava sentada na sala, limpando os cortes no braço com  álcool, sentindo arder ainda mais do que quando foram abertos em minha pele, mas era necessário. Por mais que não fossem mais do que arranhões.

Podia ouvir sons vindos da cozinha, Erick estava fazendo algo, terminei de limpar os cortes e joguei o tecido manchado de sangue para longe, limparia aquilo depois, minha cabeça não parecia disposta a mais nada naquele momento.

—Aqui - Erick me entregou uma xícara de chá, fiz uma careta e ele revirou os olhos sabendo que eu preferia café a chá, mas ainda assim bebi um gole, apenas para satisfaze-lo - sente-se melhor?

—Não – respondi sinceramente, não fazia sentido mentir, bebi mais um pouco do chá, por mais que estivesse muito doce, era de certa forma agradável – ainda não consigo entender como aquela palavra foi escrita.

—Um fantasma? – ele arriscou e o fitei verdadeiramente confusa.

—Fantasma? Desde quando acredita em fantasmas? – era quase idiota dizer que aquilo era um fantasma, devia haver uma explicação melhor para aquilo.

Algo cientifico que pudesse explicar.

—Depois de ver uma garota se matando na minha frente e ouvir que o giz estava flutuando e escrevendo sozinho, eu estou abrindo minha mente para outras possibilidades.

—Então acredita no que eu disse sobre meu irmão? Não acha que estou inventando?

—Liah se você acredita que ele esta vivo, então eu vou acreditar em você – Erick segurou minha mão e a apertou, me passando confiança.

—Ainda não entendo o que aquilo significa – soltei pensativa, bebendo o restante do chá.

Erick me fitou por um momento, pensando no assunto, parecendo ainda mais confuso do que eu, aparentemente ele não havia parado para pensar sobre o significado de tudo aquilo.

—O que exatamente estava escrito? – ele soltou meio sem graça, teria rido se não sentisse esse medo insano.

—Apenas uma palavra, “Respostas”.

Erick ficou em silêncio por um tempo, cada um de nós presos em seus próprios pensamentos e teorias, tentando decifrar o significado daquilo, mas eu sabia, de alguma forma, que aquilo não havia aparecido coincidentemente em minha sala de aula.

Havia uma razão, e eu suspeitava que eu fosse o motivo.

—Não faz sentido, por que algo escreveria “respostas” em uma lousa de uma sala de aula?

—Não tenho a mínima ideia – mais uma mentira para a coleção.

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Erick recebeu uma ligação da irmã, Jessy estava sozinha em casa, assustada com o que havia acontecido na escola, por mais que ela tivesse penas doze anos, era muito inteligente, e por isso as vezes esquecíamos que ela ainda era praticamente uma criança.

Assim que ele saiu pela porta da frente corri em direção ao quarto, aquela palavra misteriosa me fez lembrar que eu mesma precisava de algumas respostas, e de acordo com o Tyler, Hayley poderia me explicar tudo aquilo.

Meus pais voltaram para casa mais cedo, haviam sido notificados pela escola sobre o que havia acontecido e basicamente todos os responsáveis pelos alunos do ensino médio haviam tido permissão de voltar para ficar com os filhos.

Uma das vantagens de se viver em uma cidade pequena onde absolutamente todas as pessoas parecem se conhecer e estar dispostas a se ajudar.

Lindo, se não fosse uma grande mentira, a maior parte apenas oferecia ajuda esperando retribuição no futuro, nada digno em minha opinião.

Se é que pode ser possível as coisas pareciam sempre piorar cada vez mais, como se o universo, que Nanda tanto acreditava e vivia a tagarelar sobre sua importante atuação, estivesse a brincar com nossas vidas da maneira que bem entendesse.

 No dia seguinte, ao chegarmos no estacionamento da escola, parecia que havíamos adentrado um cenário de filme apocalíptico, inúmeros carros em tons escuros com logotipos desconhecidos em suas portas ocupavam as vagas dos estudantes, pessoas de todos os tipos andando para todos os lados.

Seguimos em direção a porta e pelas janelas podíamos ver que algo realmente estava errado, todos os armários estavam abertos e todo seu conteúdo jogado no chão, inundando os corredores de papeis e livros. Parecia que um furação havia passado pela escola durante a noite.

Nanda queria ir embora imediatamente, mas ainda assim me seguiu em direção a parte de dentro, parei em meu lugar, estática ao notar que havia uma mancha vermelha tomando parte do piso do corredor, tingindo os papeis ao seu redor.

O cheiro me levou diretamente a noite do baile, quando Rachel havia se matado, e para piorar ainda mais a situação, aquilo estava exatamente onde seu corpo caiu, e eu tinha certeza que não se tratava de tinta.

Fomos retiradas da escola, assim como todos os outros estudantes que começavam a se acumular ao redor do local, as aulas foram canceladas pelo dia, para organizar e investigar o acontecido, mas por onde passávamos era possível ouvir as opiniões de todos, que eram sempre as mesmas.

A grande maioria acreditava que a escola estava sendo assombrada pelo fantasma da garota que se matou, considerando que todas essas coisas estranhas começaram a acontecer logo depois de sua morte, de alguma forma fazia sentido.

Eu nunca acreditei em fantasmas ou em qualquer outra teoria sobrenatural, esse universo fantasioso nunca havia me atraído, de certa forma me parecia bem idiota, mas realmente era difícil encontrar uma explicação lógica para tudo o que estava acontecendo.

Deixei Nanda na casa dela, sabendo que a mesma estava assustada de mais para andar até lá sozinha, sempre havia sido a mais corajosa de nós, e muito disso se deve ao fato de que ela sempre acreditava em tudo.

Segui em direção ao grill, andando calmamente, afinal ainda tinha muito tempo até que Hayley aparecesse, havia marcado perto do horário de saída da escola, pretendendo matar as últimas aulas, mas meu plano pareceu ser antecipado.

O grill estava cheio de adolescentes assustados falando sobre o ocorrido na escola, aquilo me irritou profundamente, deveria ter imagino que com o cancelamento das aulas todos iriam correr para um lugar familiar onde poderiam falar sobre suas teorias loucas e espalhar a noticia pela cidade.

Não que isso fosse meramente difícil, todos já deviam estar sabendo.

Passei pelas mesas ocupadas até a parte mais quieta, e foi só então que a vi sentada com um copo de bebida a sua frente, a mesma garota que estava jogando sinuca no dia em que o Ty foi declarado morto. Ela me olhou e sorriu amigavelmente, sinalizando com a cabeça para que eu fosse até ela.

—Era você aquele dia - me sentei a sua frente, a fitando de forma acusadora - por que não falou comigo?

—Tyler não havia me deixado falar com você ainda - Hayley revirou os olhos parecendo levemente revoltada – e antes que pergunte, eu soube do que aconteceu na escola e resolvi vir mais cedo.

—Sim, acho que agora todos já devem estar sabendo - dei de ombros e respirei fundo, precisava ir direto ao ponto, minha curiosidade não me permitia enrolar mais - o que você tinha para me contar?

—Okay, sem enrolação eu vejo? – ela sorriu animada, o que me confundiu - Primeiro de tudo, Tyler não pode ser encontrado, não ainda.

—Como assim? O que isso quer dizer? – minha voz saiu levemente mais alta e Hayley me fitou de forma repreensiva, em um aviso.

—Liah, Tyler está te protegendo – ela explicou calmamente, como se aquilo fosse acabar com todas as minhas dúvidas.

—Me protegendo? Do que?

—Do que não, de quem - Hayley me olhou por um momento, parecendo medir as palavras, pensar no que poderia ou não dizer e percebi que, do que quer que aquilo se tratasse, era mais importante do que eu poderia imaginar - Tyler esta fugindo de uma pessoa, e ele não quer que saibam sobre você, entendeu?

Parei por um momento, minha mente trabalhando em cima de suas palavras, tentando encontrar significado em tudo aquilo, tentando, de alguma forma, entender o que ela queria me dizer, mesmo sem usar todas as palavras.

Tyler estava fugindo de alguém, mas de quem? Porque? Ele nunca fez nada de errado, era apenas um estudante comum de engenharia, atolado em estudos e provas, sem tempo nem para sair de casa, quanto mais se envolver com alguém perigoso o suficiente para ter de desaparecer dessa forma.

Nada daquilo fazia sentido.

—Então por que ele te mandou aqui? Para dizer que está bem e que nunca mais vou vê-lo? – a revolta em meu tom de voz era evidente, Hayley se encostou na cadeira desconfortável, parecendo não saber exatamente o que fazer ou dizer.

Ela suspirou e fitou o teto, parecendo pensativa de mais. Quando seus olhos de um tom verde escuro voltaram a me fitar, eu sabia que ela me diria algo que Tyler não havia permitido e me questionei se aquilo era ou não uma boa ideia.

—Ele me mandou aqui para te proteger de você mesma – suas palavras me confundiram, aquilo sim não fazia o mínimo sentido – mas eu vim para te explicar quem você é.

Arqueei as sobrancelhas para ela, questionando em silêncio, o que isso significava? Quem eu sou? Hayley nem ao menos me conhecia bem o suficiente para dizer quantos anos tenho, havia deixado a cidade a mais de cinco anos e nunca mais voltei a vê-la.

O que ela teria a dizer a meu respeito que eu não saberia?

—E o que seria? – cruzei os braços e a fitei descrente, mas minha pose foi abalada ao ver seu sorriso irônico se formar, estava começando a me questionar se ela não era louca.

—Você tem genes de lobisomem Liah, e isso pode ser verdadeiramente perigoso se não souber o que fazer deles.

Minha risada foi impossível de segurar, agora eu entendia, aquilo era tudo uma piada, só poderia ser, genes de lobisomem? Por favor, aquela era sem dúvida a pior história que já havia ouvido em toda minha vida. Mas Hayley não riu, pelo contrário, revirou os olhos e permaneceu impassível enquanto esperava que eu parasse de rir.

—Isso não é uma brincadeira Liah – a confiança em sua voz me confundiu fortemente, ela parecia muito séria sobre o assunto e aquilo me assustou, não havia como ela estar me dizendo a verdade.

Por favor, lobisomens não existem, assim como vampiros, fadas, bruxas e gnomos, são mitos criados para assustar crianças, enganar tolos e explicar fatos sem explicações.

Eram apenas historias, certo?


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