Ressaca escrita por Senhorita Mizuki


Capítulo 3
Ficlet 3


Notas iniciais do capítulo

Já faz quase um ano?
Eu ainda estou com esse surto na cabeça, vou tentar desovar de novo...



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Atravessou as escadarias de forma afobada, os longos cachos loiros ainda úmidos batendo contra a pele dos seus braços e ombros. Tomou o banho e secou-se rapidamente, limitando-se a esfregar a toalha na cabeça antes de enfiar as roupas no corpo.

Alcançou a casa de Aquário, a tempo de ver o dono dela sair, vestindo as costumeiras roupas de treino. Chamou seu nome fazendo-o parar e se virar com o cenho franzido. Parou a alguns passos do outro cavaleiro, dobrando o corpo e apoiando-se nos joelhos para tomar fôlego. A dor continuava dando pontadas na sua cabeça, endireitou-se e apertou os dedos contra as pálpebras.

— Camus, sobre ontem a noite… - começou.

O cavaleiro de gelo arregalou os olhos ligeiramente enquanto encarava alarmado as faces rubras de Milo. Gotas de água escorriam por elas.

— O que eu fiz com a grana que eu ganhei? - continuou.

Camus continuou olhando para ele, piscando algumas vezes antes de soltar o ar. Deu um riso debochado e virou os olhos para cima.

— Uma generosa doação para a Fundação Kido.

Gemeu. Apesar da resposta sarcástica, acreditou nele. O tipo de punição que era a cara de Camus.

Afastou a mão das faces, olhando o cavaleiro a sua frente parecendo incomodado e ainda muito irritado. Certo, dane-se o dinheiro. Geralmente não ligava para suas amnésias alcoólicas, sendo motivo de piada entre os amigos cavaleiros. O dia seguinte de bebedeira com eles era preenchido de comentários sobre o que Milo havia feito durante a beberagem. Provavelmente no meio dos relatos haviam mentiras, nem ele mesmo acreditava que podia fazer certas idiotices.

Mas daquela vez precisava saber o que havia feito para provocar tamanha irritação em Camus.

Conhecendo o amigo, iria dar evasivas até ele mesmo ficar irritado. Ignorando a dor insistente, Milo pegou-o pelo braço e o trouxe para dentro da moradia de Aquário.

— Não vou deixar você ir até me falar o que eu não lembro. - disse, ignorando a expressão fechada do outro cavaleiro.

oOo

A festa da Fundação estava enfim acabando e Camus se despedia de um grupo de convidados. Dedicou-se então a procurar Milo, esperando que não estivesse bêbado a ponto de passar vexame na frente dos preciosos ricaços do círculo de Saori Kido. Começou a ficar em pânico, o cavaleiro de Escorpião não estava no salão que ia esvaziando.

Se havia um pior companheiro para aquelas ocasiões, esse era Milo. Por mais que o grego tivesse um sorriso sedutor e soubesse ser muito convincente quando queria, não tinha paciência e costumava destilar sarcasmo quando estava entediado. Vê-lo virar as taças de champanhe deixara-o nervoso, era quase uma bomba ambulante sem supervisão.

Um dos garçons lhe lhe disse para que direção o havia visto seguir. Camus engoliu em seco ao se deparar com o cassino do hotel. Havia um grupo de pessoas amontoadas em uma das mesas de bilhar, e aquilo só podia significar coisa de Milo.

Abriu caminho pelas pessoas até conseguir ver um Milo todo sorridente, virando uma garrafa de uísque que estava pela metade. O grego empurrou um montinho de fichas, com a ponta da língua para fora da boca, bastava olhar para o rosto rubro pra Camus saber que Milo já tinha atingido seu limite alcoólico.

O crupiê anunciou que as apostas estavam encerradas, girando a roleta. As pessoas ficaram em silêncio, vendo a bolinha correr em expectativa. Parou no número apostado pelo grego, o mesmo e um grupo atrás dele gritaram. Camus ergueu as sobrancelhas, impressionado.

Uma mulher morena com um decote bastante generoso abraçou Milo nos ombros. Camus sentiu uma pontada desconfortável na testa, o grego correspondeu o abraço, a mão deslizando para apertar o traseiro da mulher, que riu extasiada. Muito bem, era o suficiente, decidiu Camus, se esgueirando até o companheiro.

— Milo, está na hora de ir para casa. - disse, o levantando pelo braço.

— Hey, Camus! Eu estou ganhando! - Milo disse rindo, pegando algumas fichas e mostrando para o companheiro.

— Como assim indo embora? - reclamou a morena e segurou o outro braço de Milo - Vamos tomar ao menos uma bebida!

Milo desequilibrou-se ao ser puxado e caiu estatelado no chão, a garrafa ainda na mão. Ficou calado por alguns segundos até estourar numa gargalhada. Camus sentiu as faces ficarem vermelhas, não era possível que estivesse sentindo vergonha pelo companheiro. A mulher pareceu mudar de ideia, pedindo desculpas e deixando-os.

Restou a Camus carregar um Milo que mal mantinha-se em pé, do hotel até o carro, subindo até a morada de Escorpião ao chegarem no vilarejo do Santuário.

oOo

— É isso? - disse Milo, um pouco decepcionado.

— Você me deu um trabalho danado. - Camus cruzou os braços - Sua sorte foi que não havia mais convidados da festa aquela altura.

O cavaleiro de Escorpião também cruzou os braços e estreitou os olhos, observando atentamente o rosto do outro. Camus manteve a expressão aborrecida.

— Tem mais… - Milo começou.

— Não. - Camus cortou - E está na hora do treino, eles já estão aqui.

Apontou para os dois garotos parados a alguns metros, observando-os de cenho franzido. Hyoga levantou a mão em saudação e Isaak assentiu levemente com a cabeça. O cavaleiro de Escorpião não era de desistir tão fácil, mas a dor estava conseguindo ser mais insistente que ele próprio. Apertou de novo os dedos contra as pálpebras.

— Vá pedir um dos chás do Afrodite. - Camus despediu-se, batendo no ombro de Milo.

Milo ficou parado onde estava, enquanto o trio se afastava.

— Mestre, o que é isso? - ouviu-se a voz de Hyoga.

— Wow, isso é um chupão? - seguiu-se a voz excitada de Isaak.

Súbito silêncio.


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