Ressaca escrita por Senhorita Mizuki
Notas iniciais do capítulo
Já faz quase um ano?
Eu ainda estou com esse surto na cabeça, vou tentar desovar de novo...
Atravessou as escadarias de forma afobada, os longos cachos loiros ainda úmidos batendo contra a pele dos seus braços e ombros. Tomou o banho e secou-se rapidamente, limitando-se a esfregar a toalha na cabeça antes de enfiar as roupas no corpo.
Alcançou a casa de Aquário, a tempo de ver o dono dela sair, vestindo as costumeiras roupas de treino. Chamou seu nome fazendo-o parar e se virar com o cenho franzido. Parou a alguns passos do outro cavaleiro, dobrando o corpo e apoiando-se nos joelhos para tomar fôlego. A dor continuava dando pontadas na sua cabeça, endireitou-se e apertou os dedos contra as pálpebras.
— Camus, sobre ontem a noite… - começou.
O cavaleiro de gelo arregalou os olhos ligeiramente enquanto encarava alarmado as faces rubras de Milo. Gotas de água escorriam por elas.
— O que eu fiz com a grana que eu ganhei? - continuou.
Camus continuou olhando para ele, piscando algumas vezes antes de soltar o ar. Deu um riso debochado e virou os olhos para cima.
— Uma generosa doação para a Fundação Kido.
Gemeu. Apesar da resposta sarcástica, acreditou nele. O tipo de punição que era a cara de Camus.
Afastou a mão das faces, olhando o cavaleiro a sua frente parecendo incomodado e ainda muito irritado. Certo, dane-se o dinheiro. Geralmente não ligava para suas amnésias alcoólicas, sendo motivo de piada entre os amigos cavaleiros. O dia seguinte de bebedeira com eles era preenchido de comentários sobre o que Milo havia feito durante a beberagem. Provavelmente no meio dos relatos haviam mentiras, nem ele mesmo acreditava que podia fazer certas idiotices.
Mas daquela vez precisava saber o que havia feito para provocar tamanha irritação em Camus.
Conhecendo o amigo, iria dar evasivas até ele mesmo ficar irritado. Ignorando a dor insistente, Milo pegou-o pelo braço e o trouxe para dentro da moradia de Aquário.
— Não vou deixar você ir até me falar o que eu não lembro. - disse, ignorando a expressão fechada do outro cavaleiro.
oOo
A festa da Fundação estava enfim acabando e Camus se despedia de um grupo de convidados. Dedicou-se então a procurar Milo, esperando que não estivesse bêbado a ponto de passar vexame na frente dos preciosos ricaços do círculo de Saori Kido. Começou a ficar em pânico, o cavaleiro de Escorpião não estava no salão que ia esvaziando.
Se havia um pior companheiro para aquelas ocasiões, esse era Milo. Por mais que o grego tivesse um sorriso sedutor e soubesse ser muito convincente quando queria, não tinha paciência e costumava destilar sarcasmo quando estava entediado. Vê-lo virar as taças de champanhe deixara-o nervoso, era quase uma bomba ambulante sem supervisão.
Um dos garçons lhe lhe disse para que direção o havia visto seguir. Camus engoliu em seco ao se deparar com o cassino do hotel. Havia um grupo de pessoas amontoadas em uma das mesas de bilhar, e aquilo só podia significar coisa de Milo.
Abriu caminho pelas pessoas até conseguir ver um Milo todo sorridente, virando uma garrafa de uísque que estava pela metade. O grego empurrou um montinho de fichas, com a ponta da língua para fora da boca, bastava olhar para o rosto rubro pra Camus saber que Milo já tinha atingido seu limite alcoólico.
O crupiê anunciou que as apostas estavam encerradas, girando a roleta. As pessoas ficaram em silêncio, vendo a bolinha correr em expectativa. Parou no número apostado pelo grego, o mesmo e um grupo atrás dele gritaram. Camus ergueu as sobrancelhas, impressionado.
Uma mulher morena com um decote bastante generoso abraçou Milo nos ombros. Camus sentiu uma pontada desconfortável na testa, o grego correspondeu o abraço, a mão deslizando para apertar o traseiro da mulher, que riu extasiada. Muito bem, era o suficiente, decidiu Camus, se esgueirando até o companheiro.
— Milo, está na hora de ir para casa. - disse, o levantando pelo braço.
— Hey, Camus! Eu estou ganhando! - Milo disse rindo, pegando algumas fichas e mostrando para o companheiro.
— Como assim indo embora? - reclamou a morena e segurou o outro braço de Milo - Vamos tomar ao menos uma bebida!
Milo desequilibrou-se ao ser puxado e caiu estatelado no chão, a garrafa ainda na mão. Ficou calado por alguns segundos até estourar numa gargalhada. Camus sentiu as faces ficarem vermelhas, não era possível que estivesse sentindo vergonha pelo companheiro. A mulher pareceu mudar de ideia, pedindo desculpas e deixando-os.
Restou a Camus carregar um Milo que mal mantinha-se em pé, do hotel até o carro, subindo até a morada de Escorpião ao chegarem no vilarejo do Santuário.
oOo
— É isso? - disse Milo, um pouco decepcionado.
— Você me deu um trabalho danado. - Camus cruzou os braços - Sua sorte foi que não havia mais convidados da festa aquela altura.
O cavaleiro de Escorpião também cruzou os braços e estreitou os olhos, observando atentamente o rosto do outro. Camus manteve a expressão aborrecida.
— Tem mais… - Milo começou.
— Não. - Camus cortou - E está na hora do treino, eles já estão aqui.
Apontou para os dois garotos parados a alguns metros, observando-os de cenho franzido. Hyoga levantou a mão em saudação e Isaak assentiu levemente com a cabeça. O cavaleiro de Escorpião não era de desistir tão fácil, mas a dor estava conseguindo ser mais insistente que ele próprio. Apertou de novo os dedos contra as pálpebras.
— Vá pedir um dos chás do Afrodite. - Camus despediu-se, batendo no ombro de Milo.
Milo ficou parado onde estava, enquanto o trio se afastava.
— Mestre, o que é isso? - ouviu-se a voz de Hyoga.
— Wow, isso é um chupão? - seguiu-se a voz excitada de Isaak.
Súbito silêncio.
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