Preço do Amanhã escrita por Cristabel Fraser, Sany


Capítulo 6
Away From Me


Notas iniciais do capítulo

Boa noite...



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Eu seguro minha respiração,

Enquanto essa vida começa a me cobrar,

Eu me escondo atrás de um sorriso,

Enquanto esse plano perfeito revela-se...

...Rastejando por esse mundo...

...Eu olho para dentro de mim,

Mas o meu próprio coração mudou,

Eu não posso continuar assim,

Eu detesto tudo o que eu me tornei...

...Perdida em um mundo que está morrendo,

Eu procuro por algo mais,

Eu cresci tão cansada disso,

A mentira que eu vivo...

Eu acordei agora para me achar,

Nas sombras de tudo o que eu criei,

Estou desejando estar perdida em você...

(Away From Me – Evanescence)

Os três dias que seguiram foram um verdadeiro teatro já que, Peeta e eu passamos esse período em busca de patrocinadores. Obviamente os acordos só seriam selados no momento em que os Jogos começassem, mas enquanto os treinamentos aconteciam com os tributos tínhamos que preparar o terreno. Isso nos levou a um número considerável de conversas vazias, com pessoas consideradas influentes.

De certa forma, todo esse processo vinha me deixando mais ansiosa e nervosa do que no ano anterior. Afinal, não era mais minha vida que estava em jogo, era a vida de dois jovens que estavam nas minhas mãos. E, por mais que soubesse que não poderia trazer os dois com vida, queria pelo menos dar o meu melhor para trazer um deles. Tudo isso vinha tirando meu sono e toda vez que conseguia dormir tinha pesadelos horríveis e meu apetite estava um caos. Juntando isso ao fato de dormir ao lado de Peeta após aquele dia em que tivemos aquele momento pra lá de constrangedor – por sorte ele, como sempre é muito bom com disfarces, não fez nenhum comentário banal – minha aparência estava o que Effie dizia ser, inaceitável. Minha equipe já não sabia mais o que fazer para esconder as olheiras e fingir estar tudo bem, quando na verdade estava ficando cada vez mais difícil me deixar apresentável.

Quando as notas da apresentação individual foram divulgadas tentamos parecer o mais otimista possível com o cinco da Narah e o sete do Johan. De certa forma estávamos esperando por notas assim, o que não esperávamos eram os rumores que ocuparam grande parte da programação na manhã seguinte:

Primeiro herdeiro do casal sensação de Panem, a caminho?

 Foi Effie quem veio com a notícia do que estava sendo discutido na televisão aquela manhã. Então observei com atenção um apresentador que nunca tinha visto, falar sobre minha possível gravidez. Considerando minha aparência, segundo ele ligeiramente cansada como um sinal de que um bebê estava a caminho.

 Foi Peeta que tomou frente da situação e desligou a televisão, lembrando que tínhamos que manter o foco em preparar nossos tributos para a entrevista no dia seguinte. Tentei não pensar no assunto. Nosso plano era manter os dois o máximo de tempo possível juntos na arena e então os preparamos juntos para seus três minutos com Caesar.

Prepara-los não foi nada fácil. Ambos estavam nervosos demais, sem contar a timidez que parecia algo em comum entre eles. Peeta estava fazendo praticamente todo o trabalho de prepara-los, mas Effie estava ajudando bastante com dicas.

Durante a tarde sem qualquer contato com o resto do mundo foi fácil não pensar no que estava acontecendo. À noite, porém a história foi outra, já que, a cada intervalo sobre a cobertura dos Jogos era possível ver toda a especulação sobre minha suposta gravidez.

Durante o jantar quando foram me servir vinho, Effie impediu o Avox de encher minha taça fazendo com que todos os presentes olhassem em minha direção.

— Talvez fosse melhor você tomar suco. – pelo sorriso em seu rosto estava claro que ela já estava começando a acreditar em todos os rumores e especulações.

— Não estou grávida, Effie. – tentei soar calma, mas meu tom saiu ligeiramente rude.

— Tem certeza? Quer dizer e se estiver, talvez fosse bom consultar um médico só para garantir. Você anda tão cansada, não está comendo bem. Pode ser um sintoma. – minha vontade era de gritar que não precisava de nenhum médico e que não havia a menor possibilidade de estar grávida, considerando que Peeta e eu nunca estivemos juntos como marido e mulher. Antes que perdesse o controle, Peeta segurou minha mão com carinho e a levou aos lábios antes de responder por mim.

— Katniss só está cansada, Effie. Muitos acontecimentos importantes. – ele assentiu para o Avox que esperava com a garrafa de vinho por alguma ordem e o mesmo logo encheu minha taça antes de sair. – Seria bom se vocês conseguissem dormir cedo hoje, amanhã será um dia cheio... – ele continuou conversando com Johan e Narah enquanto eu, me perdia em pensamentos. Os boatos dessa gravidez estavam com cara de que me traria problemas.

Quase não dormir aquela noite. Sonhos de um bebê na arena me deixaram agitadas demais, então passei a maior parte da madrugada acordada vendo Peeta dormir ao meu lado. O sono dele estava ligeiramente agitado, mas era assim quase todas as noites. Para ser sincera noites como estas, é o que poderíamos considerar como boas noites, já que as noites ruins eram marcadas por pesadelos que nos faziam acordar assustados ou no meu caso gritando.

Estava amanhecendo quando consegui dormir um pouco e acabei acordado mais tarde do que o costume. Estranhei ninguém me acordar, mas segundo Effie, Peeta havia pedido para que não o fizessem. Ele passou a manhã com os tributos antes que eles fossem encaminhados para a equipe de preparação e os estilistas.

Após comer alguma coisa, me surpreendi com Octavia, Flavius e Venia vindo me preparar. Octavia me informa que, Narah estava com Cinna enquanto eles estavam ansiosos para me preparar. No fundo sabia que, o que queriam era saber sobre os boatos, mas não os levo a mal. Apesar de tudo, os três não passam de marionetes e nem ao menos se dão conta disso.

Eles cuidam do meu cabelo, fazem minhas unhas em meio a comentários diversos que tento não prestar atenção. Venia estava terminando meu cabelo quando vejo o presidente aparecer na televisão. Flavius logo aumenta o volume e sinto meu coração apertar, quando após responder brevemente perguntas sobre os Jogos e as entrevistas daquela noite perguntam a ele a opinião sobre minha suposta gravidez. 

— O senhor acha que, Katniss Mellark está mesmo grávida? O que acha dessa novidade?

— Sinceramente, ainda não tive o prazer de falar com nenhum dos dois, mas espero que sim. Um filho é sempre bom para um casamento e espero que, se não for verdade, isso se torne realidade para eles o mais breve possível. — o modo como ele olhou para câmera enquanto falava mexeu comigo.

Talvez fosse loucura. Talvez estivesse vendo coisas, mas o modo como ele disse as últimas palavras me apavoraram.

— Chamem, o Peeta. – pedi.

— Como? Katniss, você não está pronta ainda.

— Chamem o Peeta, Flavius agora, por favor. – estava sentindo o ar faltar, aquilo era um recado, não tinha outra explicação. – Chama meu marido...  Agora!— após meu grito, ele saiu em disparada pela porta do quarto. Ninguém estava entendendo o que estava acontecendo, mas não disseram nada.

Quando Peeta apareceu na porta estava sem gravata e sem o terno. A camisa estava para fora da calça e seu olhar mostrava preocupação. Apesar de tudo, não me importei de estar apenas de robe na frente dele.

— Vocês podem nos deixar sozinhos? – os três saíram apreensivos e ele fechou a porta atrás deles. - O que houve? – se aproxima notando a tremulação que se iniciou por todo meu corpo.

— Você não viu, Peeta?

— Ele não...

— Não, Peeta... ele nos obrigará a ter um filho... – expressar o que estava em pensamentos era horrível, parecia ainda mais real.

— Daremos um jeito, ele não pode simplesmente forçar isso. – meus olhos já se encontravam embaçados pelas lágrimas quando o encarei.

— Ele já fez e ninguém esquece do dia em que nos casamos, agora isso! – quase passei as mãos em meu cabelos, mas logo lembrei que já se encontrava penteado.

— Nós vamos prolongar o tempo que for necessário. – ele me segurou pelos ombros, pois eu não parava de andar de um lado para o outro – Diremos sobre... abortos espontâneos.

— Ele dará um jeito de descobrir a verdade com algum médico, aliás, tenho certeza de que contratará um especialista para cuidar de mim.

— Subornaremos um. – a cada ideia sua, meu coração se apertava ainda mais.

— Seria mais fácil se nós dois tomarmos veneno, como aquele casal que estudamos na aula de literatura quando estudávamos. Imagine a manchete “os amantes desafortunados bebem veneno juntos”. – meu sorriso irônico não fez jus ao olhar que ele me lança.

— Ele mandaria matar nossas famílias. Já pensou nessa parte? – sua voz é calma e ao mesmo tempo firme.

— Mas que coisa, Peeta! – me desvencilho dele e dou alguns passos para trás -  Como chegamos a isso?

— Desde que, sua teimosia quis salvar minha vida, na arena. – ele caminha alguns passos à frente e não deixo de olhar em direção a sua prótese coberta pela calça. Por algum impulso que não consigo explicar avanço envolvendo seu pescoço com meus braços.

— Eu não me perdoaria se te deixasse morrer. – minha voz sai fraca quando afundo meu rosto na curvatura de seu pescoço inalando seu cheiro. Seus braços me envolvem e me trazem para mais perto de si e quando seus lábios beijam levemente a pele do meu pescoço sinto uma tremenda descarrega elétrica por todo meu corpo, provocando um forte arrepio. Um misto de sentimento se torna presente dentro de mim.

— Quero que se acalme. Vou proteger você e nada de mal vai te acontecer, eu prometo. – eu queria dizer que confiava em suas palavras, mas ainda assim não acreditei que o presidente deixaria isso escapar tão facilmente.

O presidente havia dito que o sistema era frágil e que eu deveria ser mais convincente para evitar os levantes. Será que o casamento não foi o suficiente para convencer os distritos? A Capital acreditou rapidamente, mas e agora? Teria que engravidar de Peeta, para virar o jogo? Para convencê-los mais, aliás, acima de tudo convencer ao presidente. Para eu não surtar mais ainda, deixaria Peeta falar ou agir por mim. Antes de sair para terminar de se arrumar me abraçou forte, como se quisesse carregar todo o fardo por mim.

(...)

 Fomos todos juntos para o local da entrevista. Cinna e Portia fizeram um trabalho espetacular e as roupas estavam perfeitas.  Nos sentamos com os demais mentores, próximo ao palco onde acompanhamos cada entrevista. Os tributos dos Distritos carreiristas estavam confiantes. O menino do Distrito 4 agia ligeiramente parecido com Finnick Odair e conseguiu tirar alguns suspiros na plateia.

— Agora vamos conhecer um pouco mais dos tributos do Distrito 12, que esse ano tem como mentores nosso casal mais querido. – Peeta rapidamente passou o braço em meus ombros e no instante seguinte uma das câmeras se voltou em nossa direção. – Olha que lindo... Ouvi dizer que vocês tem novidades, Peeta.

— Não estou sabendo de nada Caesar. – respondeu com naturalidade quando um daqueles microfones presos em haste chegou próximo de onde estávamos.

— Katniss, você anda escondendo coisas do seu marido? – meneie a cabeça negativamente e tentei sorrir. – Certeza? Porque um certo programa veio com certas notícias.

— Quando tivermos algo a contar, você será um dos primeiros a saber Caesar, garanto.

— Vou cobrar Peeta, vou cobrar. – com toda naturalidade do mundo ele se virou para outra câmera e continuou. – Mas agora vamos conhecer aquela que alguns estavam chamando de nova garota em chamas, mas será que ela faz jus ao título da sua mentora? Vamos receber, Narah Kess.

Ela entrou em meio a aplausos e senti Peeta apertar minha mão mais forte. Durante os três minutos que ficou no palco ela respondeu tudo que lhe foi perguntado e embora estivesse nervosa, seguiu a maioria dos conselhos que recebeu. Quando a vez de Johan chegou, por outro lado ficou claro que, ele estava uma pilha de nervos. Embora estivesse maquiado, era possível notar a falta de cor em seu rosto como se fosse desmaiar a qualquer momento.

Enquanto voltávamos para o centro de treinamento alguns repórteres nos cercavam para perguntar sobre minha suposta gravidez, que neguei rapidamente. Naquela noite não havia muito a se fazer, então jantamos e após assistir a reprise das entrevistas nos reunimos com os dois separadamente para lhes desejar sorte.

Olhar para cada um deles me fez sentir como se fosse a pior pessoa do mundo. Em algumas horas ambos estariam por conta própria, dentro de uma arena, e na melhor das hipóteses só um deles voltaria com vida.

— Peeta, você está acordado? - perguntei baixinho sem tirar os olhos da parede a minha frente.

— Estou. – assim que ouvi a voz dele me virei em sua direção, ele estava deitado olhando para o teto, as mãos atrás da cabeça.

— Me sinto a pior pessoa do mundo. As entrevistas, as roupas caras, festas até mesmo nossa casa me faz sentir como se fossemos como eles.  – confessei e o vi suspirar antes de olhar na minha direção. – Não consigo parar de pensar que, na melhor situação um deles não vai voltar com a gente e na pior os dois não vão sobreviver a arena.

— Eu sei, também me sinto péssimo por tudo isso, mas isso só prova que não somos como eles, não somos como as pessoas da Capital Katniss. Não acho que conseguiríamos, nem se quiséssemos. Vivemos um inferno naquela arena e vamos ser assombrados a vida inteira por isso. Talvez nossa cota de assombrações só aumente. Mas, não somos como eles e nunca seremos.

 - Ando com medo de dormir. – sussurrei. – Sinto como se os pesadelos ficassem cada vez pior, ainda mais agora. Johan e Narah precisam de nós, eu sei, mas não sei se consigo Peeta. – ele se ajeitou um pouco mais na cama ficando ligeiramente sentado e abriu seus braços me convidando para um abraço.

Meu lado racional sabia que não era certo. Que isso só iria deixar as coisas mais complicadas. Que essa proximidade poderia confundir as coisas pra ele, mas a angústia do meu peito era maior, então me aproximei e o abracei. Por mais errado que parecesse o abraço era reconfortante. Ouvir as batidas ritmadas do peito dele me dava uma sensação de paz momentânea, mas muito agradável.

— Vamos conseguir. Iremos passar por isso juntos. – disse por fim antes de beijar o topo da minha cabeça.

(...)

 A sala onde iríamos assistir o início dos jogos era enorme. Todos os mentores estavam sentados em poltronas que ficavam ao redor da televisão exageradamente grande que pegava a maior parte da parede. Alguns mentores dos Distritos carreiristas estavam apostando quem seria o vitorioso daquele ano e senti um embrulho no estomago ao ouvi-los. Peeta apertou minha mão instantes antes da imagem, do que parecia ser uma montanha de pedras aparecer na tela. A imagem foi abrindo e logo a cornucópia cheia de armas e mantimentos apareceu. No canto à direita, a contagem regressiva começou e um a um os tributos foram aparecendo. No canto à esquerda da tela um pequeno quadradinho mostrava o rosto de cada um deles. Havíamos instruídos os dois a correrem o máximo possível assim que a contagem acabasse e olhei fixamente para os dois quadradinhos que mostravam Johan e Narah.

 Tudo aconteceu muito rápido, quando o cronometro chegou no zero. A correria foi geral, vi Narah congelar por instantes antes de começar a correr atrás do Johan. Como em câmera lenta pude ver um machadinho ser arremessado na direção dos dois, atingindo Johan em cheio e o derrubando no chão. Tenho certeza que gritei naquele momento. Narah parou olhando para ele quase em choque, a parada dela não levou mais do que alguns segundos, mas foi o suficiente para que um dos carreiristas a alcançasse com uma pedra na mão.

Dois minuto e quarenta e seis segundos, foi o tempo que eles ficaram vivos na arena. Dois minutos e quarenta e seis segundos que atormentariam meus sonhos durante toda minha vida.  E, isso era só o começo.


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Notas finais do capítulo

É isso, dessa vez o Distrito 12 não chegou nem perto de ganhar os Jogos e infelizmente Johan e Narah foram mortos na arena.
Bom a Bel e eu estamos adorando a interação de vocês com a fic, então fiquem a vontade para dizer o que estão achando.
Uma ótima semana a todos.
Beijos