Um pequeno Charmander percorria a planície coberta de grama em passos largos, em busca de uma vista bela do mar que cercava a pequena ilha aonde os Charizard, espécie rara naquele mundo, iam para se reproduzir. Era intocada por humanos, portanto, bela. O lagarto mantinha uma chama acesa na ponta de sua cauda, esta que simbolizava sua vitalidade e saúde. Se viu maravilhado e hipnotizado pela vista da luz trêmula do luar batendo no mar e ficou assim, apenas observando o que, até agora, era a coisa mais bonita que já vira, por bons minutos, até que ouviu um farfalhar nas folhas atrás de si. Não temeu. Só temia ao mar.

Se virou num único movimento, e viu uma sombra pulando para fora em sua direção. Fechou os olhos por um breve momento, e, quando os abriu, percebeu que agora estava no ar. Um lagarto mais desenvolvido do que ele, com duas grandes asas que batiam no ar fazendo barulhos que lembravam o som de sua cauda batendo numa rocha o carregava nos braços, por cima do mar, que lhe maravilhava a ponto de fazê-lo temer sua imensidão.

A figura era totalmente laranja, mas ao redor de seus olhos era possível ver cicatrizes vermelhas. A ilha agora parecia um pequeno inseto, que voava cada vez mais longe, quando na verdade eram eles que se moviam.

— Vou lhe mostrar a coisa mais bela que já vi. — Anunciou o ancião Charizard, em pleno voo. Os olhos do pequenino brilharam com a ideia. — Respire fundo. — O velho pediu, e ele obedeceu, com medo do que aconteceria em seguida.

Assim, o ancião se virou para o mar e avançou contra ele, adentrando as ondas como um torpedo e chegando até um estreito abismo submerso após alguns segundos. Era profundo, mas não tão largo. Conseguia portar o Charizard ancião junto a Charmander um ao lado do outro, mas não muito mais que isso. Charmander não sabia o que era tão belo naquele lugar, era um simples abismo. O pânico tentava invadir seu corpo. Mas então, algo aconteceu. Pequenas esferas brilharam ao seu redor, uma a uma, e acenderam toda a fenda, cada pequenino espaço foi iluminado pelo que Charmander chamaria depois de "as estrelas submersas".

Cada uma delas brilhou cada vez mais e mais, até que o brilho se tornou um só, e depois se apagou, estrela por estrela. O pequenino Charmander, quando fosse um poderoso Charizard assim como o ancião que lhe segurava, mostraria este abismo para um outro jovem e sonhador Charmander, e este para outro, fazendo assim a chama da tradição nunca morrer.

 Ele não sabia, e talvez nunca soubesse, mas o Charizard que o trouxera ali, um dia, também seria parte daquelas estrelas, e traria esperança para todos os que o olhassem, as cinco da manhã do primeiro dia da primavera, naquela terra remota, que muitos chamavam de lar.