A Senhora da Sorte escrita por Ana Letícia


Capítulo 2
Espero que esse dia não seja uma droga!




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Com o passar das gerações, como a líder Abigail ordenou, as relíquias foram passadas de mães para filhas e assim foi por muitos anos. Até que um dia, as pessoas começaram a acreditar em uma velha lenda.

Isso. Uma lenda, que dizia que se todos as joias da sorte fossem unidas para apenas uma mulher, esta seria a Senhora da Sorte, a mulher mais poderosa e infalível do mundo, então as famílias portadoras dessas relíquias planejavam roubar umas as outras, a fim de que a sua herdeira fosse a mais poderosa.

O anel da persuasão, os brincos da telepatia, o bracelete da super inteligência ,e o colar da sorte. As pessoas acreditaram que unindo-os teriam o pleno poder da sorte, mas conforme a história foi contada de geração para geração, a essência da sorte, que foi recebida pela jovem Alexandra Montenegro, e isso também era uma das relíquias, foi sendo esquecida. Dessa forma, nenhuma moça jamais seria a Senhora da Sorte mesmo com todas as outras joias, se a mesma não fosse a descendente legítima da própria Alexandra.

Em tempos atuais, a história das joias da sorte está um pouco adormecida, mas nada que um pouco de ambição não possa mudar.

 

***

Bipbipbipbipbip.

O barulho do despertador pareceu ensurdecedor e tomou conta do quarto.

Andrômeda rosnou para o despertador e teve vontade de atirá-lo para longe. Levantou-se lentamente e caminhou até o banheiro, onde se largou embaixo do chuveiro e deixou a água fria bater em seu rosto. Ela definitivamente odiava acordar cedo.

Saiu do chuveiro alguns minutos depois. Os longos cabelos negros estavam encharcados e pingavam água no carpete.

Andrômeda vestiu o uniforme do trabalho e pôs a toalha no cabelo enquanto ia tomar café da manhã. Quando passou pelo corredor, olhou-se no espelho e viu os grandes olhos verdes amendoados, as sobrancelhas escuras e o rosto pálido cheio de sardas. A blusa social preta de botões da clínica combinava bem com seu tom de pele, ela deu um sorrisinho amargurado e murmurou para si mesma.

— Espero que esse dia não seja uma droga.

Quando chegou à cozinha, sua mãe, sua irmã Ádria, e sua sobrinha Alison estavam tomando o café da manhã.

— Bom dia. - disse Andrômeda e deslizou para sua cadeira.

Sua sobrinha tinha três anos, e estava comendo papinha e fazendo uma grande sujeira. Sua mãe, Afrodite, colocou em seu prato torradas e geleia. Ela serviu-se de suco e começou a comer rapidamente.

Bem, teoricamente Andrômeda não precisava trabalhar, sua família era rica, mas desde que sua irmã mais velha engravidara aos 17 anos e seu namorado deu no pé e se mudou para o Canadá, seus pais sugeriram que ela se mantivesse ocupada para não ter tempo de pensar em namorar.

Ela agora tinha dezesseis anos, e tinha certeza de que nenhum cara queria namorar ela.

Ela trabalhava no período da manhã como recepcionista em uma clínica odontológica, a amiga de sua mãe era a dona. Logo no seu primeiro dia, a dona a advertiu sobre ter muita atenção com a papelada dos pacientes, pois era bastante comum ter erros e enganos. Mas Andrômeda nunca se enganou, e sequer perdeu uma folha, a dona, Patrícia Gusmão, mais conhecida como sua chefe, ficara impressionada por ela ser tão eficiente.

Pela tarde Andrômeda estudava, como o ano acabara de começar, ela estava no início do segundo ano do ensino médio. E a noite ela praticava, o sonho de seu pai era que ela se tornasse uma boa violinista, e ela achava o instrumento fantástico.

Enquanto engolia a comida perguntou:

— Cadê o pai?

— Teve que sair cedo para a fábrica. - respondeu sua mãe.

— Te dou carona hoje. - disse sua irmã – Tenho mesmo que levar Alison para fazer uma consulta.

— Tudo bem, só vou ajeitar o cabelo e pegar minha bolsa. - ela sorriu para a irmã e saiu da mesa.

Voltando para o quarto, ela viu tudo na mais perfeita ordem, exceto pela cama. O chão perfeitamente limpo, os closets arrumados por ordem de cor das roupas, os violinos pendurados na parede branquíssima, e seu computador de monitor enorme sem nenhum grão de poeira.

Ela retirou a toalha dos cabelos e passou o pente, depois o prendeu em um coque alto, pegou dinheiro para suas refeições, sua bolsa e saiu.

Sua irmã a esperava na garagem arrumando Alison na cadeirinha.

Elas entraram no carro, sua irmã começou a dirigir, e elas ficaram em silêncio por alguns minutos.

— Então. Como vai a faculdade? - disse Andrômeda para puxar assunto.

— Ah, vai bem, já estou atolada de coisas para estudar. - ela deu um sorriso.

— Você ama isso mesmo, não é? - disse Andrômeda.

— Com toda certeza. Engenharia química. - ela deu um suspiro – Sabia que papai vai me contratar quando eu me formar?

— Você já disse. - Andrômeda riu.

Elas chegaram à porta do consultório.

— Tenha um bom dia de trabalho. - desejou Ádria.

— Obrigada, boa sorte no médico. - disse Andrômeda.

***

Como esperado, Andrômeda teve uma manhã monótona na clínica, era como se ela estivesse no piloto automático. Acessava a ficha de clientes antigos e preparava as novas para novos clientes, lidou com algumas pessoas estressadas com a demora do atendimento, nada de mais.

No final de seu expediente ela foi até o banheiro e se arrumou para a escola. Pôs o uniforme: a blusa branca impecável. Soltou os cabelos e lavou o rosto.

Se dirigiu até o restaurante que ficava na esquina e pediu seu almoço, ela comeu distraidamente, pagou a conta e foi para a escola.

“Tem algo mais chato que marcar presença na escola mesmo você já sabendo a maior parte do conteúdo do ensino médio?”

Ela pensou enquanto atravessava os grandes portões. Quando chegou ao pátio, já estava tão distraída que parou abruptamente ao perceber que tinham várias pessoas na sua frente, e de repente veio a dor.

— Aii!! - gritou Andrômeda com os olhos lacrimejando.

— Ah, querida, desculpe. - disse Lana com um sorriso cínico.

Andrômeda revirou os olhos.

Ela simplesmente detestava a Lana. Tudo começou há cinco anos, e Lana sempre arrumava briga com Andrômeda e ela sempre mordia a isca, o problema era que sempre que elas brigavam sempre sobrava apenas para Andrômeda. Lana fazia parecer que Andrômeda era uma louca encrenqueira e pagava de vítima, e o absurdo maior? Todo mundo acreditava nisso, a diretora da escola, os colegas, e o pior, seus pais também.

— Qual seu problema hein, Lana? Ficou cega por acaso? - disparou Andrômeda com o pé latejando.

— E você é surda por acaso? Porque eu já me desculpei. - ela sorriu com desdém e foi embora.

Andrômeda seguiu mancando até sua sala de aula, desabou na cadeira e começou a tirar o sapato para verificar se precisava ir à ala hospitalar. Como já esperava seu pé estava roxo, ela não sabia como uma garota magra como Lana tinha causado aquele estrago no seu pé.

A dor era tão intensa que Andrômeda não percebeu que a professora mais chata de todas havia entrado na sala.

— Você acha que está em casa, senhorita Allen? - ouviu a voz estridente da professora.

— Hã? Senhora? - disse Andrômeda rapidamente.

— Ponha já o seu sapato! - bufou ela.

— Desculpe. - disse Andrômeda – Eu me machuquei.

— Para isso existe a ala hospitalar. - disse a professora secamente.

Andrômeda se encolheu na cadeira e apanhou o livro. Levar uma bronca da professora de literatura não estava na sua lista afinal.

***

Andrômeda saiu correndo da aula de literatura assim que o sinal tocou, eles tinham 10 minutos livres antes da próxima aula. Seu pé ainda doía, então ela pensou em ir até a ala hospitalar, no caminho ouviu alguém chamar seu nome.

— Ei, Andy? - era seu amigo Pablo.

O.K., Pablo não era só um amigo. Andrômeda meio que gostava dele, mas não sabia se ele sentia o mesmo, ele sempre agia feito idiota quando estava com seus amigos do time, mas quando estavam sozinhos ele era um amorzinho.

Ao ver aquele sorriso, Andrômeda rapidamente se lembrou do que acontecera no último dia de aula no ano passado.

Ela estava indo para casa quando Pablo a chamou, ele deu aquele sorriso estonteante e ela parou para ver o que ele queria.

— Estava pensando, - ele começou – quando as aulas voltarem, você gostaria de tomar um sorvete comigo?

— Por quê só quando as aulas voltarem? - ela tentou parecer indiferente diante do convite.

— Vou viajar durante as férias. - ele disse calmamente.

— Ah, certo.

Andrômeda meio que criou uma expectativa, achou que eles se veriam durante as férias, se tornariam namorados quem sabe.

— E então? - ele perguntou esperançoso.

— Claro, pode ser. - respondeu ela com um meio sorriso.

Ele arrumou a jaqueta do time como sempre fazia, passou a mão nos cabelos negros e sorriu, e ela achava aquilo muito charmoso.

— Andy? - a voz de Pablo a trouxe de volta pro presente.

— Oi, - respondeu ela depressa – oi, Pablo, tudo bem?

— Eu estou ótimo, estava com saudades, como você está?

“Dolorida”, Andrômeda pensou.

— Bem, estou bem.

Ela pôs o cabelo atrás da orelha, o sol estava queimando seu rosto.

— Eu tenho que ir à um lugar antes da aula. - disse ela.

— Ah, tudo bem. Nos falamos depois?

— Sim sim. Até mais.

E então ele se afastou, mas ela ficou lá parada como se fosse feita de concreto, segundos depois, um vulto cor de vinho corria na direção dela e a derrubou no chão.

— Mas que diabos foi isso, Derek? - ouviu a voz de Pablo gritar.

— Eu não esperava que ela ficasse aí parada. - gritou Derek em resposta.

Pelo som, Andrômeda percebeu que ele já estava longe. Ela sentou-se e limpou as palmas das mãos, quando olhou na direção da voz de Derek, ela o viu dando um soquinho na mão da megera da Lana. Aquele encontrão não foi um acidente.

 

 


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