Soundcheck escrita por polaris


Capítulo 1
Forget


Notas iniciais do capítulo

desculpa o angst logo no inicio? eu sou péssima em escrever fluff mas futuramente eu tento haha.
minha escrita é confusa e melodramática demais, mas isso faz jus ao Lance e seus fucking sentimentos, então nada mais fiel (hahaha jk).
não sei se tem algo mais para falar??? quaisquer erros por favor falem para mim, isso foi praticamente word vomit.
a musiquinha fofinha do cap é essa: https://open.spotify.com/track/5Beif929ynmxa0OwTkWAJF
enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/721999/chapter/1

Há muitas maneiras de descrever decepções amorosas.

Dolorosas. Difíceis. Passageiras.

Para Lance, elas significavam machucados. Lance já foi machucado de diversas formas: com palavras cortantes, com ações dilacerantes, com “eu não te vejo dessa maneira” perfurantes. De qualquer modo, ele era do tipo de pessoa que sangrava demais, sangrava em forma de lágrimas e de canções de desamor, até não ter mais sangue. Então ele se curava. Porém Lance nunca conseguiu se curar completamente de suas feridas, sempre carregando consigo suas cicatrizes e memórias.

Para Keith… Bem, para Keith as coisas eram complicadas (mais complicadas que o normal). Ele preferia entregar seus sentimentos a lugares fechados e barulhentos, aos dó-ré-mi-fás desconexos e às letras de músicas sentimentais demais para serem cantadas. Guardava os cacos de seu coração em um caderninho, de páginas encardidas e escrita borrada, e Keith o escondeu — por medo, por indecisão, por amor. O seu caderninho não foi achado, por enquanto.

Tristes. Torturantes. Eternas.

Não há maneiras de descrever decepções amorosas. Só há maneiras de sentir.

[...]

Lance havia beijado alguém.

Gramma Loretos só sobrevivem em água alcalina, além de serem caros” Hunk falou, se aproximando mais ainda do aquário onde os peixes amarelos-roxos nadavam entre corais artificiais rosas. “Mesmo assim, eles são bem bonitos.”

“Aham”, Lance não estava realmente ouvindo.

Na verdade, Lance só estava presente fisicamente ali. Ali, no caso, era ele em pé ao lado de seu melhor amigo, fingindo estar interessado em peixes coloridos mantidos em grandes estruturas de vidro cujo conjunto formava o Bakku Gardens.

Bakku Gardens era o único aquário da cidade e, mesmo sendo um empreendimento local, era espaçoso e relativamente bonito. Estava sempre cheio de turistas, oceanógrafos, famílias e casais e pessoas obrigadas a estar ali. Lance se encaixava nesse último grupo.

Hunk — seu companheiro de quarto e eterno melhor amigo — era um admirador de faunas em geral, principalmente dos peixes exóticos que brotavam do nada em Altea e quando este soube da chegada de novas espécies à coleção da madame Luxia, mal hesitou em ir até lá e arrastar Lance consigo. Normalmente, Lance iria sem reclamar, afinal, Hunk sempre o acompanhava (nas festas, nos shows, nos encontros duplos), mas naquele dia ele realmente não estava com o humor certo. Ou os pensamentos certos.

Com um bloco de anotações, Hunk anotava tudo que podia sobre as novas espécies e Lance apenas andava atrás dele.

“Então o que você acha?” Hunk perguntou.

“Como?” Lance piscou múltiplas vezes, despertando do modo automático.

“De ter um aquário, no dormitório. Uma boa, não?”

“Eu que vou cuidar dos peixes?” Lance disse em um tom agudo. Tradução: tu tem certeza que quer que eu cuide deles?

“Eles morreriam.” Afirmou Hunk. Tradução: claro que não.

“Então tudo bem.”

Hunk ronronou de satisfação e isso fez Lance sorrir.

Eles foram em direção ao setor de peixes abissais cuja única iluminação era proveniente de lâmpadas fluorescentes azuis. Lance lembrou de Hunk falando que tinha a ver com adaptação para os peixes ou coisa do género. Ele também lembrou do seu último final de semana, das luzes psicodélicas e dele. E essa era a última coisa que ele queria lembrar naquele momento. Grunhiu.

“Hm, já terminou?” Lance perguntou. Ele precisava ir embora dali.

Você fica absurdamente bonito debaixo dessa luz.

Urgentemente.

“Quaaaa-” Hunk continuou a estender o “a” enquanto finalizava de escrever uma palavra. “Pronto. Vamos?”

“Por favor”

Eu não estava lúcido. Eu não conseguia enxergar. Eu...

“Rolou alguma coisa?” Hunk questionou.

Eles passaram pelos cavalos-marinhos.

Lance hesitou. “Não.” Involuntariamente colocou as mãos nos bolsos do casaco. Foi assim que Hunk teve certeza que algo ocorreu.

“Você tá mentindo”

Lance não era bom com mentiras. Não que isso fosse ruim, a sua sinceridade absurdamente natural. No entanto, era irritante e, muitas vezes, inoportuna.

“Eu acho que não podemos ter um aquário”, e tentou fugir.

Hunk deixou de ficar do lado de Lance e se virou de frente para ele, esticando seus braços e fechando a estreita passagem entre os peixes-leão e os betas azuis.

“Foi durante o Komar, né?”

Afundou as mãos nos bolsos mais ainda.

“Não…”

Hunk arqueou a sobrancelha. Anotação mental: eu odeio meu melhor amigo.

“Meu Deus, Hunk. Depois eu te falo, tipo daqui a uns dez anos, okay?” Lance tentou passar por debaixo de um dos braços, mas logo foi detido.

“Então rolou.”

“Você é insistente demais” Apontou o indicador no rosto do outro e eles tiveram uma mini batalha de olhares e, como de costume, Lance perdeu. Ele soltou um ‘aaaa-’ de insatisfação. “Vamos embora antes que a Allu–”

O celular de Hunk vibrou e ele atendeu. “Alô, Allura” Lance rapidamente tentou passar pelo lado direito já que o braço  de Hunk não estava mais ali para o impedir. Não conseguiu. O outro o agarrou com o esquerdo e desde quando ele era tão forte? “Sim, ainda estamos no aquário.” Lance tentava se soltar usando as mãos “Aham, eu sei que estamos atrasados. Sim, sim. Só que sabe o Lance…”

Não, Allura não. Altura era um monstro e sabia muito bem como arrancar os segredos dos outros e, para piorar, utilizá-los com perversidade contra a pessoa. Lance sabia disso por experiência própria. Então, subitamente parou de se debater e olhou para Hunk em súplica. Rendição. Hunk sorriu vitorioso.

“Nada. Nós estamos indo. Por favor não coma meus chocolates.”

Hunk desligou o celular e o colocou no bolso.

“Sabia que eu te odeio?” Lance foi liberto da chave de fenda de Hunk. “Olha só agora minha camisa favorita tá toda amassada!”

“Sua camisa favorita é a de– não tenta mudar de assunto! Vamos, desembucha.”

Lance choramingou, fazendo sons que provavelmente cachorrinhos fazem quando querem algo.

“Eu preciso mesmo?”, sua voz pedia piedade.

“Absolutamente.” Ele choramingou mais. Hunk revirou os olhos, porque lidar com Lance McClaim era extremamente difícil. “Qual é, não deve ter sido tão ruim assim!”

Respirou. Abriu a boca, mas nada saiu. Não deveria ser díficil, mas era difícil. Porque o que ocorreu com Lance foi incrível e ele provavelmente nunca esqueceria daquele momento. Porque talvez tenha sido a primeira vez que ele se sentiu cem por cento correspondido.  Porque tudo aquilo foi tão acidental que o peito de Lance queimava só de pensar nisso. E porque tinha sido:

Keith Kogane.” Hunk não esperava ouvir esse nome. Lance não esperava falar esse nome. “Eu beijei Keith Kogane.”

[…]

Lance culpou a solidão, a cerveja barata e os arranjos de guitarra absurdamente bons demais para serem ignorados.

Todo ano em Doom, a cidade vizinha (e rival) de Altea, realizava o segundo maior evento musical daqueles arredores, o Komar Experiment. As bandas e cantores eram escolhidos e selecionados pelos Galras, uma trupe de musicistas profissionais e altamente seletivos, ou seja, se você fosse para o Komar, estava garantido que no mínimo acharia bandas “boas”. E como qualquer amante frenético e enlouquecido de acordes perfeitos e música de qualidade, Lance não deixava de ir nenhum ano. Aquele ano não foi diferente. Mas nem Hunk, nem Allura e nem Coran puderam ir com ele e Lance percebeu que era realmente solitário ir a shows sem seus companheiros.

Foi em algum ponto aí que ele conheceu Rolo e Nyma. Nunca prove bebidas de estranhos, essa foi a segunda maior lição de vida que Lance aprendeu naquele final de semana.

Honestamente, Lance não se lembrava de muitos detalhes do que aconteceu, apenas cenas aleatórias e coisas aleatórias e beijos aleatórios. Muitos beijos aleatórios.

“Você fica absurdamente bonito debaixo dessa luz”, foi o que ele tinha falado para o garoto segundos antes de seus lábios — e dedos, e batimentos, e línguas — se encontrarem brutalmente e começarem a dançar ao som de um solo icônico do guitarrista dos Galras.

Corpos unidos. Sons abafados. Mãos tateando.  Próximo. Mais próximo. Não próximo suficiente. Não havia sido gentil, foi apaixonante e lancinante e inebriante e Lance poderia ter ficado para sempre daquele jeito.

Ele daria tudo para ter de volta aquele momento.

Não se recordou sequer de como ou com quem chegou em casa. Ele apenas chegou. Amanheceu na manhã de segunda com a pior dor de cabeça, mas uma das melhores recordações que poderia  ter.

Em seu resto de memória, o rosto do garoto era embaçado, porém Lance sentia que ele era belo — não do estilo agradável de se ver, mas sim do estilo que não se podia parar de olhar quando se via. Ele queria ver aquele rosto de novo.

Ele viu aquele rosto de novo na terça feira, no clube Kerberos, seu dono subiu no palco, sendo aplaudido pela plateia. Puxou o baixo das costas segurando-no com uma mão e com a outra o microfone:

“Nós somos The Space Pilots e esse é o nosso último show, espero que gostem.”

Ele sorriu. Um sorriso de matar.

Primeira lição de vida: não beije seu maior rival.

Lance não conseguiu ficar até o show terminar. Lance não conseguiu aceitar aquilo. Lance não queria reconhecer que era ele. Não podia ser ele.

Mas esse era o problema: ele reconheceria aquela mullet em qualquer lugar.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

então foi isso? espero que tenho gostado deixem reviewzinhos please, ou falem comigo no tt tipo "nossa muito bom!" ou "que merda hein", eu aceito: @kiwlua
beijos estrelados ♥

(nota: alterações feitas com base na s02 de voltron)