Still Alive escrita por Jubs Malfoy


Capítulo 43
Seu pedido é uma ordem


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o último capítulo!!
Ainda falta o epílogo, mas... Tecnicamente... Acabou.
Espero q tenham gostado.



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O vento ruidoso nos quartos extras de Hogwarts fazia a pele de Lis arrepiar, embora ela não fizesse nada para se proteger do frio. Mesmo que estivessem no final da Primavera, a torre era alta o suficiente para amenizar a temperatura.

Era estranho voltar a Hogwarts depois de tudo o que havia acontecido nos últimos meses. Aquelas últimas semanas na França haviam sido tão caóticas quanto gratificantes, e estar de volta ao castelo era reconfortante, mas confuso. Era como entrar numa vida que não era mais dela.

— Não vai jantar junto com os outros, Lis? — ela se afastou da janela, usando o xale fino para cobrir os ombros, lembrando, pela primeira vez, de se esquentar um pouco.

— Não estou com fome. E não sei se estou preparada para ver todo mundo — àquela altura, toda Hogwarts já sabia de tudo o que havia acontecido no mês de Março, e ela tinha certa noção da quantidade de olhares que receberia.

Queria ver seus amigos, sentia falta deles, mas também queria que fosse um reencontro pessoal e privado, não na frente de todos. Mesmo que isso significasse esperar algumas horas a mais. Severo olhou pela janela que ela estava encostada, mirando o campo de Quadribol.

— Ainda quer ser jogadora? Sei que não conversamos sobre isso desde o seu quinto ano, mas Minerva disse que queria ter uma palavra com você a respeito — Lis apenas piscou, duas vezes, se voltando lentamente para a vista dos arcos onde ela tinha os melhores momentos de sua vida. Seu peito apertou. Como ela sentia falta de voar.

Para ser bem sincera, ela não pensava naquilo há meses e meses. Com o Torneio Tribruxo, eles não tiveram Campeonato de Quadribol naquele ano. E com tudo o que havia acontecido... De novo, aquela sensação de que aqueles desejos, aqueles sonhos, pertenciam a outra pessoa, a outra Lis. Era estranho.

— É... Eu vou conversar com ela. Em Setembro as coisas devem voltar aos eixos, não é? — a voz dela era baixinha, uma pergunta amedrontada. Severo a abraçou, fazendo aquele nó no peito dela se dissolver em calor e carinho.

— As coisas nunca mais vão ser as mesmas, mas estarão nos eixos, sim.

Ela assentiu, sentindo-se subitamente cansada. Psicologicamente, não no físico. Se estivesse em casa, teria o piano, ou alguma de suas mil tarefas para preencher seus pensamentos, e preencher aquela sensação meio estranha de vazio. Seu pai sempre lhe afirmava que melhoraria, e ela sentia as coisas ficando realmente não tão ruins assim. Mas ainda assim, longe das pessoas que a acompanharam por tanto tempo, ela se sentia... Sozinha. Oca.

Só aquele pensamento lhe fazia ter a compulsão de correr escada abaixo, jogar tudo pro alto e invadir o Salão. Ela estava sedenta do sorriso de Escórpio, das palavras mansas de Alvo, do reconhecimento e compreensão no rosto de Lily. E de James... Ela sentia falta dele inteiro. De seu cheiro, sua voz, sua pele, seus olhos.

Eles haviam trocado cartas desde aquele último dia na França, mas não era suficiente. Tinha algo não terminado, não resolvido, entre eles, e esse sentimento a fazia contorcer-se por dentro, lhe dando crises de ansiedade que a impulsionavam a intensificar os treinos ou a trabalhar e trabalhar. Graças a isso, mesmo que estivesse se alimentando tão bem quanto antes, seu peso perdido não havia retornado, apenas fora substituído por alguns músculos e um corpo mais atlético que antes, menos voluptuoso.

— Eles já chegaram?

Ela perguntou apenas para preencher o silêncio e a pressão que crescia em seu peito conforme seus pensamentos se embrenhavam nas memórias confusas e conflitantes de tudo o que havia acontecido desde janeiro.

Seu pai pareceu perceber o que estava acontecendo em sua mente — ele geralmente não precisava de legilimência pra isso — e trouxe consigo uma xícara de café quente com canela. A ruiva bebeu quase em êxtase, sentindo a cafeína agir rapidamente, e o cheiro da canela, seu novo aroma favorito, tranquilizá-la.

— Sim. Eles estão com algumas divergências quanto as medidas de segurança necessárias, mas os Pelletier já chegaram para a Terceira Prova.

Ela assentiu, bebendo mais um gole da bebida levemente adoçada. Ela era uma merda de Britânica, substituindo o chá pelo café, mas a cafeína estava se mostrando mais que necessária ultimamente. Suspirou, sentindo o vapor quente no rosto.

— Eu tenho sérias divergências quanto a essa prova, na verdade, mas se ninguém liga... — os dois riram rapidamente.

— Vai dar tudo certo. Você viu os planos, viu como tudo está sendo feito. É seguro. Não dá para cancelar, de qualquer forma — ela semicerrou os olhos para o pai, em uma expressão de descrença.

— Eu apenas estou tomando como base a experiência anterior do Torneio Tribruxo em Hogwarts. Espero, de verdade, que alguém tome juízo e desista completamente dessa sandice — ele riu mais do que deveria, e Lis o encarou ressabiada — O que é?

— Beauxbatons já confirmou o compromisso de sediar o próximo torneio em 2026 — ela levou uma mão para a testa, e por um instante, foi como se nada tivesse mudado. Apenas ela e o pai, rindo e conversando, dois xeretas da vida alheia, julgando a burrice dos outros. Aquele momento durou até o final do chá dele, do café dela, e dos biscoitos de leite em forma de desenhos. Teria durado mais, se o dever não chamasse Severo, que recolheu as louças, saindo para a reunião de professores daquela noite.

Duas horas depois, ele ainda não tinha voltado, e ela desistiu de esperar, vestindo um pijama de flanela confortável, que não usava há semanas, mas que a fazia ter alguma sensação de normalidade; fechou o livro que estava lendo, marcando-o com um ramo de alguma planta aleatória que achou junto das coisas de seu pai, e se deitou, preparada para dormir. Ou pelo menos para tentar se convencer a dormir.

Tudo ali era estranho. A cama que ela nunca usara, o vento ao qual não estava acostumada, o cheiro dos aposentos. Ela preferiria estar no quarto dela no Castelo D'Noir, no quarto do pai na ala dos professores, ou até nas masmorras, com o frio familiar e o comum ressonar das respirações ao seu redor. Deve ter ficado mais de quarenta minutos se revirando na cama quando ouviu alguém batendo em sua porta.

Levantou desconfiada. Quem seria àquela hora? Seu pai tinha a chave da porta, e todas as pessoas que sabiam onde ela dormia estavam na reunião junto com ele. Sua mão pairou sobre a maçaneta, enquanto ela cogitava seriamente não abrir. As batidas se repetiram, e uma voz baixinha acompanhou:

— Que esteja acordada, por favor... — então se elevou um pouco — Lis, abra a porta, eu te imploro.

Sua respiração falhou ao reconhecer aquela voz, e ela destrancou a fechadura de vez, escancarando a porta.

Ele estava mais magro, assim como ela, olheiras se acumulavam sob seus olhos no seu rosto cansado e triste, mas não parecia maltratado. E não estaria, mesmo, já que Nikolai ainda não fora julgado.

— Que diabos..? Como você..

— Eu preciso de sua ajuda, Lis. Eu juro que é a última vez que te peço algo, só... Por favor, me deixe entrar. Se descobrirem que eu saí, estou encrencado.

A ruiva o encarou, os olhos dourados quase opacos. Talvez fosse a forma como ele parecia desolado, ou o desespero em seus olhos, mas ela deu espaço na porta para ele passar.

— É bom que seja importante.

 

 

***


— Boa tarde, caros convidados. Bem-vindos à terceira tarefa do Torneio Tribuxo!

Provavelmente não havia ninguém cuja presença ali fosse tão forçada quanto a de James. Ele se esforçava para não demonstrar seu desinteresse, mas não tinha certeza de que estava sendo bem sucedido. Somente estava lá porque Lis lhe escrevera, na última carta, que estaria presente para o evento (embora ele não a tivesse visto ainda). E, claro, havia também a inconveniência de perder sua magia (e talvez a vida) caso não participasse da tarefa. Maldito contrato mágico.

— É um prazer receber os familiares dos campeões em nossa escola — Minerva continuou o discurso, mas a mente de James já não o registrava, rastreando a multidão.

Sua família completa, aparentemente, estava lá, e James passou os olhos rapidamente nos ruivos. Nenhum era ela. Logo ao lado deles, o garoto identificou um casal de pele negra, incrivelmente harmonioso, que olhava para Maia, à direita do Potter, com orgulho. No local da família do Pelletier, havia apenas soldados com expressões de enfado. Kaleen não estava lá, também.

Ao olhar para o francês, dez minutos mais cedo, James descobriu que não conseguia odiá-lo. Havia raiva, desprezo, e um tanto de irritação, mas imaginava que o ódio havia sido apagado pelas palavras em letras bonitas, que haviam sido sua única comunicação com Lis durante aqueles últimos meses. A garota lhe contara as motivações dele, e James se sentia incapaz de odiar alguém que colocava os interesses da própria irmã acima dos seus próprios.

— Para o desafio de hoje, nossos campeões receberão três dicas para resgatar duas coisas importantes dentro do castelo — ah, aquilo explicava a evacuação na hora do almoço — Para equilibrar, cada um entrará por um lado diferente, encontrará um símbolo da outra escola e, então, o que cada um tem de mas precioso. Por fim, deverão retornar para encerrar a competição.

O que têm de mais precioso... A falta de criatividade o decepcionou. Aquelas palavras certamente explicavam a ausência de Kaleen, Lis e, agora que havia parado para reparar, Alvo (que era namorado oficial de Maia há menos de um mês).

Enquanto ela continuava as instruções. James se forçou a reprimir um bocejo. Depois de tudo o que acontecera, perdera completamente o interesse naquele torneio. Se fosse sincero, não havia entrado naquilo por glória, ou dinheiro, mas para provar para seu pai, e para si mesmo, que era capaz. Os últimos meses lhe ensinaram que não precisaria de nada disso.

Ao seu lado, no entanto, Maia parecia ansiosa. James enviou, mentalmente, votos de boa fortuna para ela. Se havia alguém merecedor naquele torneio, era aquela menina: havia arriscado tudo para ajudá-los — seu pai lhe enviara longas cartas desgostosas por ter tido seu equipamento furtado por ela. Além disso, era a única que realmente se importava em ganhar. Era apenas em honra a ela que ele não desistiria. Ela não merecia ganhar daquele jeito, por desistência.

— Esses telões, como na última tarefa, nos mostrarão o que está acontecendo nos corredores principais — a diretora McGonagall terminou seu longo discurso — Que a sorte esteja com nossos Campeões.

 

 

***


A Sala de Adivinhação era muito mais confortável sem os incensos e a aura bizarra das aulas. Acabava por ser uma salinha de cor estranha, cheia de xícaras e orbes e poltronas. Ficava na torre mais alta de Hogwarts, e era mais adequada para receber o trio do que a sala aberta de Astronomia.

Alvo, Kaleen e Lis foram informados de seus papel naquela tarefa assim que acordaram (na verdade, a ruiva fingira ignorância a respeito do que já sabia), e receberam a instrução de permanecerem ali, quietos, durante duas horas. Ou até os campeões os encontrarem. Então, foram deixados a sós, se encarando com estranheza.

O momento constrangedor só durou alguns segundos antes de Alvo se lançar sobre Lis em um abraço apertado. Um nó afrouxou no peito dela. Não havia se dado conta do quanto sentira falta dele até o momento. O Potter não era conhecido por tagarelar, mas falou tantas coisas em tão pouco tempo que a garota se viu sufocada. Não demorou, no entanto, para reencontrarem um ritmo que era só deles. Lis não percebia, mas um sorriso leve iluminava seu rosto o tempo inteiro.

Kaleen percebeu, no entanto. Observou de longe aquela energia alegre entre os dois, subitamente sentindo falta de seus amigos, do castelo de Beauxbatons. Ela não era exatamente sociável, mas tinha pessoas queridas, que não via desde outubro do ano anterior. Provavelmente, não os veria nunca mais.

Lis reparou quando a outra garota levantou, rumando à janela, e interrompeu o amigo no meio de uma frase com um simples toque. Alvo a encarou, os olhos verdes confusos, mas ela apenas saiu do sofá, indo atrás da Pelletier. Se aproximou, e sentiu a lady ficar tensa com isso.

— Eu poderia supor que dois meses seriam suficientes para acabar com a amizade que construimos, mas me recuso a aceitar isso — Kaleen soltou um som, algo entre uma risada e um bufar, mas pegou a mão da Lis no parapeito, entrelaçando seus dedos. Para a surpresa de Lis, e de Alvo, que observava, ela apoiou a cabeça no ombro da outra, se aninhando.

— Senti sua falta — a voz dela era quase inaudível; de fato, Lis a sentiu contra seu corpo mais do que escutou — Era a única pessoa suportável naquele lugar.

— Também senti a sua, Kay... O castelo pode ser bem solitário, às vezes.

— Depois de tudo o que aconteceu, eu pensei...

Kaleen não precisou terminar a frase. Lis se afastou para encará-la diretamente nos olhos cor de carvão.

— Não foi atuação. Não com você — ela colocou uma mecha do cabelo negro atrás da orelha, e se Lis não a conhecesse bem, diria que eram lágrimas mal contidas brilhando em seus olhos — Nunca com você.

A Snape não estava esperando o abraço, e quase caiu com o peso de Kaleen sobre ela, fazendo ambas rirem, e Alvo olhar para a dupla, confuso. Lis sussurrou para a amiga antes de puxá-la de volta ao sofá:

— Vai ficar tudo bem, apenas espere.

Cinquenta e cinco minutos. Se Maia demorasse mais do que isso para abrir a porta, Lis teria ficado preocupada. No entanto, as coisas seguiram seu cronograma exato, e às 2h 55min da tarde, os cabelos cacheados despontaram pela moldura para dentro da sala.

— Alvo! Ah, oi Lis! Kaleen...

Assim que Maia pós um pé no lugar, um pedaço de pergaminho surgiu, flutuando entre os quatro. Hesitante, a americana o pegou.

— O que é isso? — questionou a ruiva, encarando o casal, que lia o papel juntos.

— Parece uma missão extra, não sei... — ela levantou os olhos para as outras garotas — Não sei se devo contar... Não me avisaram sobre isso.

— Não é longe daqui — Alvo a interrompeu — É melhor irmos se quiser ganhar esse Torneio, namorada. Vejo vocês duas lá embaixo — ele saiu, animado, deixando três garotas risonhas pra trás.

— Tá bom, namorado, estou indo! Tchau meninas.

Maia fechou a porta atrás de si, também indo embora. Lis contou até dez, e então, de supetão, arrancou a almofada de uma das poltronas, enfiando a mão no espaço vazio.

— O que está fazendo? — Kaleen arregalou os olhos ao ver a ruiva retirar duas bolsas de dentro dali.

— Temos que correr. Não vou conseguir cegar os telões por muito tempo — por fim, ela tirou um bolo de tecido dali. Uma capa da invisibilidade. Não era a dos Potter, mas serviria de qualquer jeito.

— Não estou entendendo nada, Lis — a ruiva parou, decidindo que valia a pena perder alguns segundos para explicar.

— Não existe tarefa extra. Eu estou ganhando tempo para vocês — Kaleen assentiu, ainda confusa, enquanto pegava uma das bolsas — Nikolai te explica o resto no caminho.

— Você está nos ajudando a fugir? — Lis sorriu com o tom incrédulo dela.

— Ele e eu temos um objetivo em comum — a ruiva beijou a testa da Kaleen, jogando a capa sobre as duas — Agora vamos, rápido!

Para garantir, Lis lançou um feitiço pra confundir os dispositivos que faziam o papel de câmeras para vigiar o corredor. Não podia correr o risco de alguém perceber a movimentação por ali. Não foi necessário muito tempo, no entanto: os passos das duas foram ligeiros e precisos, e logo depois a ruiva a estava empurrando para a passagem secreta mais próxima

Ela não se surpreendeu em encontrar o rapaz alto no corredor escondido, mas os olhos de Kaleen se arregalaram, e ela logo se lançou aos braços do irmão, em uma surpresa aliviada.

— Vocês não podem demorar — a ruiva alertou, à guiza de comprimento, recebendo um sorriso dos irmãos.

— Eu nunca vou conseguir te agradecer o suficiente por isso, Lis — ela semicerrou os olhos azuis.

— Não o faça. Não estou fazendo isso por você — a Snape tirou um rolo de pergaminho da capa, entregando-o a Nikolai — Entregue essa carta quando chegar às terras D'Noir. Já informei ao meu tio sobre vocês. Agora vão, antes que percebam que sumimos.

Kaleen a abraçou de novo, mas Lis não deixou que se demorasse.

— Vamos nos ver de novo, Kay. Não se preocupe. Agora, fora!

 

 

***


A Torre de Astronomia. Claro. Porque eles não podiam escolher um lugar com menos escadas para terminar aquela tarefa. Apesar de todos os exercícios que James se obrigava a fazer, estava ofegante ao vencer o último lance de degraus, e por isso não conseguiu ser muito delicado ao abrir a porta da Sala de Adivinhação. Estava muito ocupado quase caindo sobre ela.

Uma risada melodiosa o recebeu. James reconheceria aquele som mesmo depois de cem anos sem ouvir, ele tinha certeza. E nem mesmo sua respiração falha conseguiria aplacar a felicidade que o inundou ao ver aqueles olhos azuis.

— Não acredito que eu passo dois meses fora, e você fica relaxado o suficiente para quase morrer com esse tantinho de escadas! — Lis disse a frase andando lentamente em direção ao Potter.

— Talvez seus treinos tenham sido obliviados quando você apagou minha mente — ela arqueou uma sobrancelha, e ele avançou alguns passos lentos, acompanhando o ritmo dela.

— E eu aqui achando que você já tinha me perdoado — ela gargalhou quando estavam tão perto que seus pés se tocaram.

— Eu perdoei. Só precisava dizer isso pessoalmente — a ruiva respondeu selando os lábios dos dois em um beijo que dizia tudo o que não haviam conseguido pôr em palavras nos últimos meses. James sentia como se fogos de artifício estourassem em seu cérebro. Se é que era possível, a distância havia tornado o beijo dela ainda mais arrebatador.

Quando enfim, sem fôlego, ela se afastou, ambos analisaram-se mutuamente, como que investigando as mudanças que o tempo e os novos hábitos trouxeram. James estava mais forte e com os músculos mais definidos, consequência de seu maior empenho nos exercícios físicos; apesar disso, olheiras despontavam sob seus olhos, sinais dos estudos que precisava fazer para prestar os NIEM's. As bochechas dele também estavam coradas, e ela sentia o calor se espalhar por cada centímetro de seu corpo.

— Não tem comida na França, não? — ele perguntou após finalizar a própria análise.

Lis estava com uma aparência saudável. Com certeza estava dormindo mais, e parecia muito mais feliz do que da última vez que a vira, mas ele não deixou de reparar que ela havia perdido peso. Sua maçãs do rosto estavam mais proeminentes e suas curvas, mais angulosas. Parecia muito mais mulher que menina, agora.

— Quando você é herdeira de uma terra como o Condado D'Noir, descobre que não tem muito tempo para lanches e guloseimas entre as refeições — ela riu, inclinando a cabeça. O cabelo havia crescido alguns centímetros, também.

James acariciou sua bochecha rosada, e Lis se inclinou em direção ao toque, quase ronronando. Os dedos dele desceram para o pescoço, deixando uma trilha quente e formigante por onde passavam, fazendo-a arfar. Era impossível que apenas aqueles pequenos toques a fizessem desejá-lo tanto daquele jeito.

Ele abaixou o rosto, aproximando-se, sem beijá-la no entanto. Seus lábios roçaram a linha das sobrancelhas ruivas, seu nariz deslizou suavemente pelas bochechas, fazendo-a arrepiar pelo contato da respiração dele com sua pele. James precisou segurá-la pela cintura, rindo, quando as pernas dela estremeceram.

— Idiota.

— Eu senti tanto a sua falta — Lis sentiu as palavras contra os próprios lábios, embora ele não a beijasse de fato. Não queria ficar sem poder falar, mas não conseguia não tocá-la, também. Ela parecia sentir o mesmo, pois eliminou a distância entre eles ao abraçá-lo com força.

James podia sentir os batimentos dela contra o próprio peito, e a expressão "encontro entre dois corações" nunca fez tanto sentido. Não demorou para que seus lábios estivessem tão unidos quanto seus corpos, e a razão só retornou a James quando percebeu que o corpo dela estava prensado à parede, seu peso completamente apoiado nas pernas que ela enroscara em seu quadril.

— Lis... — ela o calou com o dedo indicador, e um sorriso nos lábios. James ouviu a tranca da porta ser ativada.

— Shhh... — ela o encarou, os olhos azuis mais escuros que o normal, enquanto a ponta do seu dedo traçava a linha dos lábios dele — Maia e Nikolai passaram aqui há muito tempo, Jay... E falta quase uma hora para o final da tarefa.

O Potter absorveu aquelas palavras enquanto a ajeitava em seus braços. Era surpreendentemente fácil carregá-la. Em resposta, ela moveu o quadril contra o dele, fazendo-o grunhir. Ela riu com o que sentiu entre as próprias pernas, e passou os lábios para o pescoço dele, provocando-o. O corpo dele reagia exatamente como ela desejava, embora fosse completamente contra a própria razão.

— Você tem certeza de que quer isso? — a respiração dele vinha em arquejos, e ele mal conseguia pensar direito, tentando não focar no fato que as mãos dele já haviam entrado em sua saia, encontrando a pele macia de suas coxas. Lembrava perfeitamente que a primeira vez dela havia sido na perspectiva de que talvez nunca mais o visse, e imaginava que talvez ela não estivesse pronta.

— Eu nunca quis tanto algo na vida, Potter — ela sussurrou contra o ouvido dele — e se você sequer pensar em me deixar aqui desse jeito, eu te desconvido do meu aniversário de dezessete anos.

James riu, espalmando a mão na bunda dela, fazendo-a engolir as próprias palavras.

Votre demande est une commande, ma dame.

Os dedos ágeis de Lis se ocupavam em refazer a gravata de James, enquanto os dele arrumavam os fios ruivos de uma forma menos selvagem do que estava. Ou pelo menos era o que ele fingia fazer: já havia alguns instantes que ele apenas enrolava as mechas nos dedos apenas pelo prazer de tocá-la.

— Está muito óbvio? — ela interrompeu o silêncio entre eles.

— Depende do que você está falando.

— Estou perguntando se está muito óbvio que eu acabei de sair de uma boa transa — James gargalhou, dando um selinho na namorada.

— É meio difícil esconder, quando se trata de mim. As mulheres costumam mostrar isso nos olhos — bufando, ela revirou os citados olhos, com um pequeno inclinar despontando nos lábios. James queria provar aquele sorriso direto de sua boca, mas o tempo deles já havia acabado.

— Temos que descer — ela o olhou como se lesse sua mente.

— Precisamos?

— Precisamos.

Os alunos do lado de fora já estavam em polvorosa quando eles sairam. Não fazia dez minutos que Maia e Alvo chegaram, segurando um pequeno cálice parecido com o usado em Outubro, que foi ignorado por todos. O que importava era que ela havia chegado, e ganhado o Torneio. James mal podia se conter de alegria, abraçando a pequena garota no instante que pôde se aproximar dela.

— Sem ressentimentos, certo, Potter?

— Você está brincando? Você é a que mais merece esse prêmio!

Ele precisava gritar para ser ouvido. Não fora um aluno de Hogwarts a ganhar, mas a Kringles já havia conquistado a simpatia de toda a escola, e todos faziam uma enorme algazarra para comemorar com ela.

James precisou de meia hora para reparar que algo estava errado. Seu pai estava agitado, McGonagall, tensa, e os guardas do Pelletier... Espera-

— Lis, onde está o Nikolai? — ele interrompeu uma conversa animada dela com os pais da vencedora, recebendo sobrancelhas ruivas franzidas em troca.

— Como assim, Jay?

— Você disse que ele passou na Torre antes de mim. Ele já devia estar aqui — ela não o respondeu, apenas olhou para o castelo, com os olhos arregalados. James nem reparou que ela não o seguia quando foi falar com o Chefe dos Aurores.

— Pai, o que está acontecendo, por que o Pelletier não saiu do Castelo ainda? — ele não precisou responder, pois um dos comandados do Potter chegou, ofegante, e assustado.

— Eles sumiram, Sr. Potter.

— Como assim sumiram, Bolt?! Os corredores estavam vigiados! — a raiva de seu pai desestruturou James. O oficial diminuiu o tom de voz, não amedrontado, mas respeitoso

— Não sabemos, senhor... eles apenas... fugiram.

 

 

***


James achava que não havia vista melhor do que Lis em sua cama vestindo nada além da camisa favorita dele. Ela passaria alguns dias, talvez uma semana, em Hogwarts, enquanto fazia os exames do sexto ano, mas não quis ficar no dormitório sonserino. Ele não a julgava: os únicos que ela gostava lá eram Scorp e Lorcan; nenhum dos dois dormiria no mesmo quarto que ela.

Desde que souberam da fuga dos irmãos franceses, o humor dela oscilara entre animação alegre e uma silenciosa introspecção. Se James piscasse, ela já havia mudado, e ele sabia o que a estava incomodando. No momento, estava encarando o castiçal perto da cama dele, as chamas refletindo em seus olhos azuis. De tempos em tempos, dava um suspiro que apagava uma das velas, que era reacendida com a magia dela instantes depois.

— Não se preocupe — ele tentou acalmá-la, a cama afundando um pouco ao sentar ao lado dela — Nikolai não vai ficar foragido por muito tempo.

Ela puxou fôlego para mais um suspiro, e dessa vez todas as velas se foram quando ela expirou. Apesar de não serem as únicas luzes do quarto, uma sombra cobriu o rosto dela ao se virar na direção dele. James não gostava de não entender seus lábios tortos sua testa franzida.

— Desse jeito vai ficar com rugas — ele esfregou o vinco entre as sobrancelhas ruivas, tentando aliviar um pouco o clima — Sei que você está nervo-

— James — ela o interrompeu, e então suspirou de novo — Não é isso — algo como dor passou nos olhos dela, e sua voz se reduziu a pouco mais que um sussurro — Por favor, não me odeie...

Milhões de coisas passaram na mente de James naquele momento, mas nenhuma delas chegou perto do que ela disse em seguida.

— Eu ajudei eles a irem embora.

Ele respirou uma vez. Duas. E então piscou três vezes. E seu cérebro ainda não tinha assimilado o que ela dissera.

— Você... O quê?

— Pra minha defesa, tive um bom motivo — James apertou a ponte do nariz, sentindo uma dor de cabeça surgir.

— Amor da minha vida, me diz: qual o motivo plausível para deixar um fugitivo ir embora? Alguém que prejudicou nossas famílias?

Ele nem conseguia olhar pra ela, mas se forçou, tentando encontrar em seus olhos algo que trouxesse sentido àquilo, ou a diversão ao dizer que tinha conseguido enganá-lo. Havia apenas determinação brilhando no azul escurecido pela sombra.

— Ele não seria julgado pelos crimes contra nós. O Ministério francês o colocou nas mãos da Corte — não havia um pingo de arrependimento em seu rosto — mas não fiz isso por ele. Fiz pela Kaleen. Nós dois fizemos.

James buscou a mão dela, encorajando-a a continuar. A ruiva abriu o menor dos sorrisos, mas seus ombros relaxaram, como se aliviados de algum peso.

— Eles iam forçá-la a casar com o lorde que o pai queria. Semana que vem. Já estava tudo marcado. Eu não podia deixar acontecer, não... — a voz dela ficou ainda mais baixa — eu ouvi coisas das criadas, nesses últimos meses, como a mãe e as irmãs dele apanhavam em lugares que não podiam ser vistos, e como ele não fazia nada para evitar — ela balançou a cabeça — Eu só não podia...

James enterrou o rosto no pescoço dela, o cabelo curto fazendo cócegas em sua pele. Até o cheiro dela estava diferente; ainda as rosas de sempre, mas... Havia algo mais marcante por trás, mais adulto.

— Eu entendo, também não permitiria. Mas para aonde eles foram? Não podem ser foragidos para sempre.

Lis lhe estendeu um pergaminho, que estava em seu colo sem que ele tivesse reparado. Ele arregalou os olhos, lendo as palavras em francês enquanto ela as explicava em voz alta.

— Eu falei com meu tio para recebê-los. Essa carta é ele avisando que já chegaram no palácio D'Noir.

— Desculpa perguntar, mas.. isso muda o quê, exatamente?

Lis se jogou para trás, aparada pela montanha de travesseiros e cobertas da cama dele. Se havia uma vantagem em ser Monitor Chefe era a cama extremamente confortável.

— Ele vai requerer um julgamento justo, talvez até pelo Ministério Inglês, ao invés do francês, e... Vai reinvidicar o direito de família sobre a Kaleen, pegar a tutela dela até que faça dezoito anos. A menoridade dela é o que permite que a forcem se casar dessa forma — ela bagunçou o cabelo, os olhos fechados — também vai ficar com as terras dos Pelletier, a parte do Nikolai, pelo menos, até ele cumprir a pena necessária. Apesar de tudo, não matou ninguém, e não receberá perpétua. Talvez nem fique efetivamente preso.

James balançou a cabeça, absorvendo o que ela jogara em seu colo ao falar tão rapidamente. Conhecia bem as leis da Grã-Bretanha bruxa, mas aquelas da Corte Francesa eram completamente estranhas para ele.

— Certo, acho que entendi — ele ainda olhava para o pergaminho, sem realmente ler as palavras.

— James — a voz baixinha dele o fez olhá-la, tão linda, deitada em suas cobertas, o corpo exposto da cintura pra baixo quando a camisa embolou — Você não me odeia, não é?

O Potter riu enquanto se inclinava acima dela, aspirando novamente o cheiro em seu pescoço.

— Lizy, querida — ele deixou um beijo em sua garganta, sentindo-a se arrepiar — Eu não odeio nem o embuste do Pelletier — um beijo na clavícula — Quanto mais você — ele a olhou nos olhos — Quanto mais você, que me tem completamente em suas mãos.

Ela não hesitou em unir seus lábios, nem reclamou quando parte do corpo de James pesou sobre o seu em um abraço de corações acelerados. As mãos de James haviam começado o trabalho de despir o que a camisa cobria quando a namorada o parou, se separando. Havia desejo em seus olhos, sim, mas havia algo mais urgente.

— Eu... Pode só me abraçar? Por favor.

Ele não respondeu verbalmente. Apenas deu um último beijo nela, enquanto dava a volta em seu corpo para deitar ao seu lado. O corpo pequeno e esguio de Lis já estava aninhado em seu abraço quando ele quebrou o contato de seus lábios e deu um beijo em sua testa.

— Seu desejo é uma ordem, milady — ela sorriu ao perceber como aquela frase era versátil — Te daria a lua em um cordão, se pedisse — Lis riu, passando um braço em sua cintura para uni-los mais.

— Mas eu só quero dormir uma noite com o namorado que eu não via há tanto tempo — ele riu, sentindo o cabelo dela cutucando seu nariz.

— Esse é um deafio maior que a lua, mas irei tentar. Você me chuta demais quando dorme — ela riu baixinho, e empurrou o abdômen firme dele, mas já havia certa letargia em seus movimentos.

— Você é um idiota.

— E você é linda.

Não era a primeira vez que ela pegava no sono no meio de uma conversa, o que só indicava o nível de cansaço que ela estava. James se esticou para alcançar a varinha no aparador, tentando não perturbá-la, e um gesto apagou todas as luzes do quarto. Ele cobriu melhor os dois com a coberta, e deu um beijo na testa dela antes de fechar os próprios olhos.

— Boa noite, florzinha.


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