Still Alive escrita por Jubs Malfoy


Capítulo 3
Vá em frente




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Risadas de crianças e o barulho da sineta da porta eram altos o suficiente para se ouvir do porão, onde cinco figuras se reuniam sentadas em caixotes, na escuridão iluminada apenas por um fogo mágico de chamas azuis que estava armazenado em um pote de geleia entre elas. Todos riam da história que a única menina estava contando sobre o dragão que criou por alguns meses.

Naquela escuridão, e com seus amigos, Lis sentia-se segura, embora estivesse quebrando mais uma das várias regras impostas pela diretora. Quase ninguém conhecia as novas passagens de Hogwarts como ela, e isso garantia que não corresse risco ao sair escondida para o vilarejo que ficava perto da escola.

Ao seu redor estavam Alvo Potter: amigo de longa data e companheiro de várias detenções; Teddy Lupin: que se tornara seu amigo quando ela era apenas uma criança e ele, o aluno preferido de seu pai; e os gêmeos Lorcan e Lysander Scamander: que se gabavam sempre por seu avô, Newt, ter escrito um dos livros utilizados para as aulas, achando que por isso tinham o direito de pôr a escola abaixo sem receber qualquer punição (coisa que eles reivindicavam toda vez, mas que nunca era aceita).

— Quantos pontos vocês perderam?

— Cinquenta. Cada um. — ela respondeu ao Alvo, e completou — Mas ainda temos a vantagem dele ser completamente nerd e recuperar esses pontos tão rápido quanto perdemos.

— Falar nisso, cadê o primo Malfoy? — Indagou o Teddy, cujo cabelo estava azul como o mar.

— Ele não tem coragem de sair escondido de Hogwarts. E pra falar a verdade, é até melhor. Ele é péssimo em passar despercebido, já até desisti de chamá-lo para os passeios noturnos, sempre somos pegos – seus olhos reviraram e então pousaram nos gêmeos ao seu lado — ei, Lorcan.

— Eu — responderam os dois em uníssono, abrindo um largo sorriso.
— Pode estar escuro, mas, com certeza, eu sei quem é quem — apontou o que estava logo à sua direita — você é Lorcan, e você será quem pegará doces para mim. O de sempre. Pode deixar o saco aqui, perto do alçapão — e, deixando algumas moedas com o loiro, abraçou Teddy e subiu as escadas do porão.

Lis quase deixou que os cheiros e cores das delícias da Dedos de Mel inebriassem sua mente, pois eram tantas coisas ao seu redor: pirulitos que brilhavam ou mudavam de cor e sabor com o tempo, chocolates com cheiro espetacular, jujubinhas que pulava de um pote para outro... As cores saltavam aos seus olhos, que se tornavam infantis, não importava sua idade, sempre que pisava naquele lugar. Balançando discretamente a cabeça, marchou para a porta, se misturando à multidão; o capuz cobrindo a cabeça abaixada para não verem seu rosto.

Com passos rápidos, atravessou a vila até o bar Três Vassouras, que estava relativamente cheio, já que quase todos os alunos a partir do quinto ano preferiam passar seu tempo lá, por ser um lugar aconchegante e divertido, além de servir bebidas deliciosas até mesmo para menores de idade. Mesmo cheio, havia uma mesa vazia no fundo do bar, o que, com certeza, era bastante oportuno para ela, que aproveitou e se sentou à mesa.

— Au! — sussurrou alguém perto dela; mas ao olhar para todos os lados, assustada, não viu ninguém — Aqui, Snape. E você está sentada na minha mão.

Uma capa caiu ao lado dela, no banco acolchoado, revelando um garoto branco de cabelos escuros e espetados, que, visualmente, não estava ali antes.

— James? O que está fazendo aqui? E pra que a capa da invisibilidade?

— Estou proibido de vir aqui, assim como você, pelo que eu saiba.

— Mas... O que você fez?

— Nada tão grande ou dramático quanto um dragão entrando no Salão Principal. Na verdade, mocinha — apontou para o nariz dela — você poderia ter feito essa cena antes, não é? Assim, eu teria levado, no máximo, uma bronca e perdido uns dez pontos.

— Não entendo o porquê.

— Porque em face ao que você fez, o que eu aprontei pareceria brincadeira de criança.

A menina revirou os olhos e olhou, nervosa, ao redor. De súbito, lembrou de algo.

— Você não me disse o que está fazendo aqui.

— Pedi pro Teddy me trazer algo... Algo que não devo ter. Minha tia descobriu e guardou na própria bolsa; e eu vou pegar de volta.

— Certo, mas... Cadê sua tia?

Na mesma hora, a porta abriu, deixando entrar alguns dos professores de Hogwarts e, junto a eles, estava Hermione.

— Bem, acabou de chegar. E essa é a minha deixa. Onde nos encontramos?

— Porão da Dedos de Mel. Não demore.

Mais que rapidamente, Lis saiu do banco, dando espaço para o garoto, agora invisível, ir atrás das pessoas que seguiam para uma porta que dava na sala particular do pub, e foi para o bar, sentando em um dos bancos altos, entre bruxos desconhecidos. Ninguém teria notado a estranha figura sentada lá, mas uma senhora, que aparentava ter bastante idade, mas era ainda muito bela, a notou de onde estava, detrás do balcão, e se dirigiu a ela, sorrindo.

— O de sempre?

— Uhum. E seis amanteigadas, para viagem, por favor.

Virando para a estante às suas costas, pegou uma garrafa de aparência velha e derramou parte de seu conteúdo (um liquido caramelo e fluido) numa caneca de estanho, que colocou na frente da menina.

— Pronto, seu hidromel. Acho meio cedo para uma garota como você estar bebendo, mas você que sabe. Vou pegar suas cervejas.

— Rosmerta — interrompeu a menina, recebendo a atenção da senhora — isso é cheiro de torta?

Rindo, a mulher confirmou (“carne e abóbora, vai querer?”). Após a menina pedir algumas, madame Rosmerta se virou e entrou numa porta de vai e vem que, Lis já sabia, dava na cozinha. A menina olhou, preocupada, para a porta da sala particular, imaginando se o amigo estava tendo sorte com seu objetivo. Curiosa, levantou do seu banco, e espiando ao redor, chegou perto da porta, usando um feitiço para ouvir melhor.

— Devemos comemorar! Hermione, Ministra da Magia — falou uma voz masculina, fazendo Lis arregalar os olhos. A Weasley seria ministra? E por que não estava sendo anunciado nos jornais?

— É só uma indicação, Neville. O Kingsley quer se aposentar e deveria indicar alguém para o cargo, mas apenas o conselho poderá dizer se serei ou não.

— Você será, Hermione. É a bruxa mais inteligente que conheço, depois da McGonagall. Você é brilhante. O cargo já é seu.

— Tome, menina — a ruiva deu um salto com a voz atrás de si — é feio ouvir a conversa dos outros, sabia?

— Perdoe-me, madame — pegou a sacola de papel nas mãos da bruxa — eu estou esperando alguém, não estava interessada na conversa, exatamente.

— Interessada ou não, a senhorita deveria ir embora — a mulher falou em um tom mais sério — sei quando você não deve estar aqui, e acredito que seus professores não ficarão satisfeitos se derem de cara com você quando abrirem a porta.

Acenando com a cabeça, ela deixou algumas moedas de bronze (nuques) com a bruxa e saiu do bar, voltando para a loja de doces, mas parando antes na vitrine de uma das lojas para olhar o Teddy (cujos cabelos estavam de um tom alegre de amarelo) com uma garota loira ligeiramente menor e mais nova que ele, experimentando um vestido branco de baile. Aparentemente, a menina pensou, eles não ligam muito para a tradição de que o noivo não pode ver a noiva com o vestido antes do casamento. E com um sorriso, e um último olhar para o casal, foi para a Dedos de Mel, onde se escondeu debaixo do alçapão.

***

A luz entrou provocando um susto no coração da garota, mas que se acalmou quando viu o rosto familiar do Potter.

— Não entendo por que vir para cá, Snape, a passagem da bruxa de um olho só não funciona há anos.

— A bruxa não, mas a passagem, sim. Só se tornou mais longa. Siga-me, Escorpio está me esperando, e eu trouxe doces, tortas e cervejas amanteigadas pra gente.

Ambos acenderam as varinhas com um “lumus” e seguiram em silêncio por boa parte do túnel, que era tão escuro que o garoto tropeçava a cada dez passos. Já a menina desviava dos obstáculos e solavancos com destreza e propriedade do caminho.

— Então... — ela começou quando estavam longe o suficiente da loja — sua tia será ministra, não é?

— Você estava ouvindo?!

— Talvez. Sim, um pouco. O que você acha disso?

— Acho muito bom. Ela é inteligente, dedicada... Vai ser boa no governo, imagino.

— Entendi... Que bom então.

— ...

— Conseguiu o que queria?

Como que respondendo a pergunta, o garoto tirou da sua capa um pedaço de pergaminho velho, e os dois pararam de andar.

— Isso é o que estou pensando?

— Sim — acenou com a varinha para o papel — eu juro solenemente não fazer nada de bom — e o pergaminho deixou de ser vazio, revelando um desenho de Hogwarts por fora e as palavras “Rabicho, Aluado, Almofadinhas e Pontas têm o prazer de apresentar o Mapa do Maroto”. A menina o pegou, maravilhada, e eles continuaram a andar enquanto ela o abria e examinava os desenhos que descreviam cada parte do castelo, e pegadas com nomes de pessoas, embora parecesse estar incompleto ou borrado em algumas partes.

— Não funciona muito bem desde a guerra de Hogwarts. Muitas mudanças, sabe? Principalmente as passagens secretas. Mas acho que descobri uma forma de refazê-lo... Ou atualizá-lo, pelo menos. Preciso tentar.

Murmurando um “malfeito feito”, que apagou todos os rastros de tinta do pergaminho, a menina o devolveu para o garoto, a quem, em seguida, bombardeou de perguntas, descobrindo que James achara um diário antigo de Sirius Black (ou, Almofadinhas) que continha instruções de como o mapa havia sido feito, além de referências e livros que foram usados para isso; e o garoto esperava reconstruir os passos dos antigos marotos para criar um novo mapa.

Quando chegaram ao fim do túnel, já haviam concordado em estudar as possibilidades juntos e marcado data, hora e lugar. Ao final, havia uma porta minúscula, que James não teria visto se sua companheira não a apontasse.

— Essa é a nossa saída? Uma porta menor que meu pé?

— James, você estuda numa escola de magia e bruxaria. É serio que tudo o que enxerga é apenas uma porta pequena? 

Com um gesto de varinha e uma expressão de “eu te avisei”, Lis aumentou a porta para que os dois passassem, chegando a um dos corredores vazios do quarto andar. Enquanto o garoto escondia sua capa, ela pegava uma pequena peça de metal, do tamanho de uma moeda de ouro bruxo (galeão), com uma coruja entalhada, e tocava nela com a varinha. Sabendo estar sendo observada, virou-se para o moreno ao seu lado.

— É um comunicador. Os gêmeos Scamander fizeram para mim há uns dois anos. O Escórpio tem um também; estou avisando pra ele ir à sala comunal da Grifinória.

— Mas, por que Grifinória?

— Acredito que você não queira ir para as masmorras conosco, ou quer?... É, imaginei que não.

***

— Saúde!!

O som de garrafas batendo acompanharam as risadas dos três jovens embriagados pela euforia de estarem juntos. Claro que ter a calorosa e aconchegante sala da Grifinória toda para eles também contribuía para essa sensação, isso e as garrafas de cerveja amanteigada: bebida inocente, mas que alegra os ânimos e aquece o estômago.

Lis, Escórpio e James experimentavam os doces trazidos da loja, desde os mais tradicionais feijões de todos os sabores (James pegara um de chulé), até os inovadores beijos de nuvem (que impediram a Lis de sequer tocar no chão durante quase meia hora), e riam muito dos resultados. Eram momentos como aquele que faziam a menina Snape se sentir em casa, mesmo que não tivesse uma fixa há muito tempo.

O sol já se punha pelas janelas da torre, intensificando o tom já avermelhado do ambiente, e duas crianças com cabelos que combinavam com as cores do brasão que traziam nas capas entraram na sala, sentando junto aos jovens já presentes. Lily Potter e Hugo Weasley. Lis ficava admirada com o quanto o número de Weasleys em Hogwarts aumentava a cada ano.

A Snape entregou alguns bombons a Lily; gostava dela desde que a vira pela primeira vez: uma garotinha de 11 anos super empolgada por estar indo para a tão sonhada Hogwarts, e se identificou com ela logo de cara. Os cabelos da menina eram iguais aos dela, ruivos, mas bem mais claros que os dos outros Weasley, e seus olhos, castanhos e meigos, transmitiam inocência. Apesar disso, a pequena Potter demonstrava a mesma tendência a travessuras que seus irmãos, mas, por ser bastante mais nova, eles deixaram que ela descobrisse sua própria maneira de arranjar problemas. Hugo, o fiel escudeiro de Lily, era bastante inteligente e, provavelmente, o único que impedia a amiga de se meter em encrencas maiores do que poderia lidar.

A chegada dos dois indicava que o passeio para Hogsmead já havia acabado, e logo a sala estaria cheia. Então, Lis e James se adiantara e subiram, correndo, as escadas para o quarto dele, a fim de pegar o diário do falecido padrinho de Harry Potter.

— É, dá pra fazer — ela disse, sentada na cama do garoto, após uma boa olhada no diário — mas com os NOM’s se aproximando e todo o resto, acredito que não estará terminado antes de outubro, no próximo ano letivo.

— Tudo bem, vale a pena. Será meu último ano aqui e eu quero deixar minha marca. O mapa será essencial. E também, você, Alvo e Lily poderão usá-lo por mais alguns anos.

— Certo — levantou-se da cama — Vou estudar um pouco mais sobre isso, espero que você também. Avisaremos os meninos quando estivermos prontos.

— Quais?

— Duas opções: Alvo e Escórpio ou os gêmeos. O fato é que tem de ser quatro pessoas para fazer isso.

— Vou ver com os gêmeos, mas acredito que eles estão meio ocupados com seus próprios projetos.

— Certo. Nos vemos depois então.

***

As três semanas praticamente voaram do calendário de Lis Snape, que se via completamente atarefada entre estudar para as provas que chegavam, treinar para os dois jogos de Quadribol que faltavam: um na semana anterior (450 x 140, para a Sonserina) e a final contra a Grifinória, na semana seguinte; e ainda havia as detenções que a diretora a fazia cumprir quase todos os dias. Apesar de tão pouco tempo, havia conseguido pesquisar sobre o Mapa do Maroto e enviava a James tudo o que encontrava, mas as manchas escuras embaixo de seus olhos eram, no mínimo, um indício de que isso não estava sendo fácil para ela.

— Oi, ruivinha. Acho que temos o suficiente para começar a trabalhar.

— Certo, James. Quem chamaremos?

— Os gêmeos recusaram. Credo! — disse após segurar o braço dela e virar para olhá-la — há quanto tempo você não dorme?

— Se eu dissesse, você não acreditaria. A nossa sorte é que sou boa em poções energizantes.

— Mesmo assim. Terá um jogo importante semana que vem, além das provas, tente dormir um pouco, ok? Quanto à operação patas, quando vai ser?

— Operação patas? Que nome ridículo! De qualquer forma, amanhã à noite, pode ser? Tenho aula com a Grifinória agora, então aviso os meninos. Olha! — um aviãozinho de papel atinge a cabeça do James — parece que eles adotaram o sistema de memorandos do ministério. O que diz?

— Parece que a diretora lembrou-se da minha detenção. Vai ser hoje à noite, após o jantar.

— Ih, a minha também. Vamos cumprir detenção juntos. Menos mal. Pelo menos essa é a minha última, assim eu arranjo tempo para descansar um pouco.

— Sim. Mas pequena, é aqui que nos separamos.

E com um aceno de mão, o garoto subiu correndo a escada mais próxima, deixando Lis sozinha, seguindo para a aula de feitiços.

— Muito bem, crianças! A aula acabou!

Todos os alunos guardavam suas coisas e se dirigiam à saída, ou ao professor Flitwick (que embora muito inteligente, sempre lembrava a Lis uma toupeira de cabelos brancos) a fim de fazer perguntas; todos, menos três, que se reuniram na carteira de Lis.

— Alvo, Escórpio, tenho uma missão especial. Não posso falar muito agora, mas amanhã, à noite, após o jantar, aguardem o movimento diminuir, subam e permaneçam nas escadas para o sétimo andar, e aguardem minhas instruções, certo? Acredito não ter muito tempo para conversas amanhã, então já fiquem avisados.

— Certo — ambos responderam, acostumados com as informações evasivas.

— Essa é a última aula do dia. Preciso tomar um banho e comer bem. Tenho uma detenção ainda para cumprir. Escorp, não me espere acordado. Beijos.

Aquela menina mais parecia um raio que uma pessoa, e em segundos, seus amigos já não viam mais seus cabelos acobreados em meio à multidão de estudantes, e decidiram que era melhor não fazer perguntas.

***

Nunca era uma coisa boa quando a diretora aparecia para te guiar ao lugar de sua detenção. Geralmente acabava virando algo perigoso, o que era sem sentido, já que eles eram punidos por fazer coisas perigosas. Ainda assim, ninguém nunca questiona quando é levado pela Minerva McGonagall em pessoa para a orla da Floresta Proibida, que margeava os terrenos de Hogwarts, guardando seus segredos e monstros, que não eram sempre tão secretos nem monstruosos assim.

Naquela noite, para a surpresa dos dois jovens, labaredas de fogo surgiam do lugar que, aparentemente, era seu destino. Labaredas inconstantes e agressivas que indicavam apenas uma coisa:

— Um dragão? Está brincando, né?

— Receio que não, Sr. Potter. Esse é o dragão que sua amiga, a Srta. Snape, que aparentemente está ocupada demais admirando o fogo, trouxe para o castelo há nove meses.

— Ele... Ele ainda está aqui? — o coração de Lis batia descompassado ao olhar para a linda fera à sua frente.

— Sim. O processo de legalizar a saída dele tem demorado mais que o previsto, infelizmente. E como podem ver — os braços mostraram parte das árvores queimadas ou chamuscando — ele tem feito estrago. O trabalho de vocês é ajudar a limpar, e como é uma detenção, sem magia.

— Diretora... McGonagall, por que não usaram a poção? Três semanas com um dragão nervoso e soltando fogo complica um pouco.

— Acredito que apenas você saiba fazer essa poção aqui em Hogwarts, nem mesmo seu pai pôde nos dar esse prazer.

— E não me chamaram? Quero dizer, olha o tamanho que ele está. Deve estar dando trabalho.

— E como! — a voz veio de um homem com os cabelos ruivo-Weasley e marcas de queimaduras em toda parte de sua pele — Hoje é a primeira vez nesse tempo todo que ele se aquieta. Se não conhecesse bem dragões, diria que é por sua causa. Carlos Weasley, ao seu dispor. Pode me chamar de Carlinhos.

A menina se aproximou do dragão, que abaixou seu pescoço gigante para cumprimentá-la com uma baforada quente pelas narinas, e aceitou a mão dela em seu focinho. Seus dentes estavam com o dobro de tamanho, e o seu corpo, no mínimo três metros mais alto. Com uma olhada sobre o ombro, a menina viu a expressão de pavor que seu amigo fazia ao vê-la tão perto do drago sem nenhuma proteção, sendo que ele mesmo estava coberto da cabeça aos pés por uma roupa anti -chamas (“Que é? Ele pode me matar!”).

— Quando ele vai embora..? — a voz da garota era baixa e reverente.
— Amanhã cedo. Só não descobri ainda como colocá-lo na caixa expandida magicamente. Ele não aceita de jeito nenhum, e meu aprendiz já não quer chegar perto dele para tentar novamente.

Com um sorriso, e uma ideia em mente, a menina conversou com o bruxo ao seu lado e em menos de dois minutos, um acordo havia sido feito: ela faria a poção para ele e lhe daria também a receita, se fosse autorizada a colocar o dragão dentro da caixa no dia seguinte. E como ela levaria horas para fazer a poção, foi dispensada do trabalho braçal, deixando o amigo, com um encolher de ombros e um "desculpa" sussurrado, cuidar de toda a bagunça sozinho.

No céu, o sol começava ainda a dar as caras e os passarinhos faziam uma arruaça nas árvores quando uma sonolenta Lis desceu o caminho do castelo até o lugar de onde levariam seu dragão, vestindo nada mais que um pijama de mangas longas e um robe verde escuro ao redor do corpo, que nada faziam para esconder as curvas que vinha ganhando desde o ano anterior, ao contrário do uniforme meio largo que usava todos os dias (não pudera ajustá-los por falta de tempo durante as férias).

Em uma das mãos, trazia um frasquinho com um líquido azul mais escuro do que o último que fizera, pois era mais concentrado. E com a outra afastava as mechas de cabelo que insistiam em açoitar seu rosto junto ao vento. Ela, obviamente, não era a única a ter passado a noite em claro; tanto o dragão quanto seus cuidadores pareciam cansados e irritadiços. Os galhos queimados do dia anterior tinham sumido, mas vários outros continham marcas de um incêndio recente. Amarrada a quatro vassouras, uma caixa, que mais parecia uma mala, e que daria a menina dentro, esperava, aberta, pelo seu hóspede.

— Uma mala?

— Uma técnica que pegamos de Newt Scamander. O couro é mais propenso a expandir magicamente, e pudemos criar um espaço do tamanho da floresta proibida para ele aí dentro. Só que ele não quer entrar.

Lis sorriu de lado, e deu uma balançada no frasco, mostrando-o ao homem., que inclinou a cabeça.

— Vá em frente.

Ela, então, pegou um naco enorme de carne crua e sangrando que estava em uma cesta próxima e abriu o frasco em sua outra mão, cujo conteúdo derramou na carne, que balançou à frente do dragão, atraindo-o para perto dela. Com apenas um gesto, a carne já estava sendo mastigada e engolida pela fera, que a cada mordida ficava visivelmente mais mansa, fechando as asas e abaixando a cabeça e a cauda quase rentes ao chão, sendo facilmente guiado à grande mala pelas mãos habilidosas da menina.

— Você tem talento. Já pensou em seguir algo no ramo?

— Não é talento, apenas tenho as ferramentas corretas. Pra onde o levará?

— Há um centro de estudo perto da fronteira da Inglaterra com a França, separados apenas pelo mar. Ele é perfeito, pois cresceu em cativeiro e é visivelmente apegado a quem o criou, e isso é algo extremamente raro.

A mala já estava fechada e as vassouras levantaram voo. Lis ficou parada, olhando, seguindo a maleta com os olhos até que ela não passasse de um simples pontinho no horizonte. Tirando a receita do bolso, entregou a ele, que foi deixá-la em uma tenda; e ela esperou ali, lembrando que em alguns minutos estaria treinando arremessos no campo de Quadribol. Seu estômago roncou com a frustração de não ter tempo para tomar café-da-manhã. Como que adivinhando isso, Carlinhos chegou com bolinhos e suco de abobora.

— Quer comer comigo? Geralmente não tenho companhia — sentaram-se em tocos, que serviram de cadeiras — aliás, no nome de quem eu devo patentear a poção?

— Clarissa D’Noir, minha mãe, ela que inventou a fórmula.

— Certo... — alguns minutos se passaram em silêncio — o que vai fazer depois daqui?

— Treino de Quadribol, sou artilheira.

— Ah, massa, eu era apanhador. Teria jogado profissionalmente se minha paixão não fosse os dragões. Mas é melhor você ir, para não se atrasar.

Pegando dois bolinhos, Lis se despediu do simpático homem, e saiu marchando de volta para o castelo, quando ouviu uma voz distante gritar:

— Ainda nos veremos de novo, Snape!

E qualquer que tenha sido sua resposta, se perdeu ao vento.


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