Still Alive escrita por Jubs Malfoy


Capítulo 26
Certo, isso não era o que eu esperava




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Lá estava ele. Jogado no chão. Os cortes derramando o sangue precioso a cada vez que tossia. Ela conseguia ouvir cada som e tentava freneticamente se mover, mas seus músculos não a obedeciam. Aqueles olhos brilhantes e difusos a encaravam, um misto de desculpa e aviso. As lágrimas, prova de seu desespero, desciam em seu rosto, enquanto seu cérebro tentava, em vão, forçar seus membros a uma ação.

Então ela caiu no chão, aquela força soltando-a. Rastejou até o corpo ensanguentado que conhecia tão bem. Ele precisava estar vivo, precisava… Mas os olhos estavam vítreos. O sangue escorria por toda parte, molhando suas vestes, suas mãos, era tanto sangue…

— Lis! Lis, por favor.

Um arquejo. Ela abriu os olhos. Estava escuro, algo pegajoso em seu corpo a lembrava do sangue e a garota se debateu, querendo levantar, mas mãos fortes a seguraram na cama. Uma delas recuou por alguns segundos, e uma palavra trouxe uma luz fraca, permitindo que enxergasse. Pôde ver os olhos castanhos que estavam mortos em seu sonho… Porque fora isso, um sonho. Seu corpo estava coberto de suor, não de sangue, e James não estava no chão, mas em cima dela, o peso maciço pressionando seu corpo.

— Calma… Respira. Eu estou aqui.

Ela respirou, enchendo repetida e sofregamente o seu pulmão com o ar frio que entrava na janela. Quando percebeu que Lis voltara a si, James a soltou e puxou pela mão, fazendo-a se sentar, então a abraçou forte, a mão calejada deixando carícias calmantes em suas costas. Lágrimas rolaram pelo rosto da garota. Ainda tinha tanto medo…

Mas James beijou suas bochechas, lambendo as lágrimas, fazendo-a quase rir com o absurdo. Seus olhos encararam por segundos antes que ele colasse os lábios dos dois, sabendo que ela precisava daquilo, daquela familiaridade, então ela se abriu para ele, sentindo o gosto salgado de suas lágrimas em sua língua e boca.

Ele não disse mais nada, apenas deitou, puxando-a  para cima de si, apesar da dor na pele recém curada. A mão dele fazia círculos leves e vagarosos na pele exposta de suas costas, e ela se concentrou naquilo. Se concentrou no toque e na respiração dele. Vivo, ele estava vivo, e aquilo era real. Com o ritmo constante do coração de James, ela adormeceu novamente.

Lis acordou sozinha, a luz preguiçosa do sol saudando-a. O lado de James ainda estava quente e ela inspirou o cheiro dele ainda no travesseiro. As lembranças do dia anterior e da madrugada voltaram em sua mente. O humor de seu namorado flutuara bastante em apenas algumas horas, e Lis queria muito saber o que acontecera, planejara pressioná-lo quando saísse do banho, até que ele a beijou.

Um beijo diz mais que mil palavras, era o que diziam. Lis aprendera o significado real dessa frase muito cedo, ao vê-la acontecer com seus pais. Ela tinha cinco anos, e sua mãe chegou em casa, sorrindo como sempre, cantarolando e trazendo doces e bolos, como prometera; Lis não sabia, mas ela havia tido uma briga feia com os pais mais cedo, que foram à Inglaterra atormentá-la, a garota não sabia o porquê, mas o que importava é que naquele momento ela estava destruída por dentro, mas perfeita por fora.

Foi preciso apenas um beijo, um selar de lábios com menos de quinze segundos, ela se lembrava como se fosse  ontem, O olhar de seu pai escureceu, e ele fez a esposa sentar em seu colo, alisando os cabelos que ela cortara naquela semana e estavam na altura de seus ombros.

— Clary, o que aconteceu?

Foi o suficiente para que a ruiva caísse em lágrimas, o rosto escondido nas mãos em meio a soluços; a menina se lembrava de pular do banco do piano e se juntar aos pais no sofá, abraçando a mãe. Ela só soube o motivo daquelas lágrimas anos depois, mas aquela cena ficou para sempre em sua memória. Um beijo dizia mesmo muito mais que mil palavras. Talvez, só talvez, ela passasse a duvidar daquela frase no futuro, se não fosse pela noite passada, por aquele beijo.

Havia muito mais que luxúria na forma como ele a segurava, na intensidade com que tomava seus lábios e língua, havia um pedido desesperado de fuga, de distração de todos os problemas, ele tinha demais sobre seus ombros naquele momento, e ele precisava daquilo, então Lis deixou. Ela permitiu que ele a usasse, que a tocasse como não havia sido há meses. Pra ser sincera, ninguém a tocava daquele jeito desde o festival, ela geralmente não permitia, e quando o fazia, aquele momento seria o encerramento do curto relacionamento, as únicas exceções foram Nikolai e, agora, James.

Apesar do que muitos pensariam, ela nunca havia ido para a cama com ninguém, não no sentido completo da palavra. Sempre que chegava perto, ela não sabia se daria conta, se conseguiria ir até o fim, então recuava; não era louca de se meter em algo que não pudesse dar conta, algo que pudesse se arrepender e que não havia volta.

Ainda pensava nisso quando a porta para o banheiro abriu e James saiu, com o uniforme de quadribol. Era o dia da Prova, ela quase havia esquecido. Ela deslizou dos lençóis e o envolveu, beijando-o. De novo, seus lábios unidos disseram a ela o que as palavras não haviam: ele estava mal, abatido, mas agora estava disposto a conversar. Ela se afastou, com uma sobrancelha erguida.

— Tudo bem, o que aconteceu, querido? O que se passa nessa sua cabecinha? — ele se fingiu de desentendido, mas suspirou perante seu olhar afiado, se virando para a janela.

— Eu estou me sentindo inútil, Lis… Estou aqui, preso, enquanto minha prima está desaparecida, enquanto poderia fazer algo para ajudar — ela suspirou e se aproximou, ficando ao lado dele, sem olhá-lo — Eu sei o que vai dizer…

— Sabe mesmo? — ela o interrompeu, e ele a encarou — Pelo seu tom de voz, eu duvido — Lis se lançou para alcançar e sentar no parapeito da janela, encarando-o de frente — Eu estou sentindo exatamente o mesmo, James. Todos os dias eu me seguro para não fugir de Hogwarts e ir para França, mesmo sem ter algo que resolva as coisas para dar. Eu fui criada e treinada para a ação, não para sentar e olhar.

— Certo, isso não era o que eu esperava — ela riu e o olhou como se dissesse eu não falei? — E eu ainda acreditei no meu pai quando ele disse que você não aceitaria eu querer me colocar em perigo.

— Ele disse o quê?!

— Vou dizer exatamente as palavras dele: “Mas você acha que sua namoradinha vai querer um homem que se joga na frente do perigo todos os dias?  Só para avisar, mulheres gostam de homens que chegam para o jantar todas as noites e não dos que elas nem sabem se irão voltar vivos.”

— Tudo bem, a parte de voltar vivo é verdade — ambos riram — Mas você me conhece, sou eu quem pulo na frente do perigo, acenando para escapar por pouco. Caramba, estou pendurada em uma janela com, no mínimo trinta metros de altura, se não for mais. Eu não sou uma mulher convencional. Provavelmente, nem estarei em casa para jantar todas as noites — ela deu de ombros e ele riu antes de abraçá-la.

— Tudo bem, querida, não entre em pânico com o que eu vou dizer agora, ok? — ele a afastou, o coração dela disparou enquanto ele a encarava e sussurrava — Eu te amo — por sorte, ele a havia avisado, pois ela quase realmente entrou em pânico — Não precisa responder, não… Não é uma cobrança, é apenas… Eu precisava te dizer isso — ela assentiu, sem dizer nada, e ele a beijou — Estão me esperando lá embaixo. Seu pai deixou roupas pra você, ok? Até logo.

James se virou, mas parou na porta.

— Olha, caso você for apostar, não aposte em mim, nós dois sabemos que não vou, nem quero, ganhar, então não gaste seu dinheiro — ela não encontrou voz para dizer que não entrava em apostas sem a certeza de que ganharia, mas o garoto não estava esperando por respostas mesmo.

Ele saiu e a porta fechou suavemente. Lis apenas ficou ali, parada, as palavras ecoando em sua mente. Eu te amo. Ela foi ao banheiro, encheu a banheira com bolhas lilases com cheiro de rosas (Eu te amo) e afundou na água profunda, permanecendo submersa até seus pulmões gritarem, mas as palavras continuavam a rodar e rodar de novo, acompanhadas do olhar dele. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.

Era impossível que ele a conhecesse tão bem. Ela apenas havia dito aquelas palavras para três pessoas em toda a sua vida, e uma delas estava morta há anos. Ela nunca tivera um namorado, nunca ficara com ninguém tempo suficiente para entender esse amor, para saber se o amava ou não, para saber se deveria dizer, pois só diria quando tivesse absoluta certeza. Ela queria ele, isso ela sabia; ela o desejava, muito, disso ela também estava ciente; ela morreria por ele, é, talvez morreria e também morreria se ele morresse, tamanha a dor. Será que o amava? Isso ela não sabia. Ela achava que sim, mas achar não bastava. É, não bastava.

Sua roupa, uma blusa de manga creme e uma calça jeans, esperava em cima do baú, e ela mal sentiu o gosto do pão e chá que engoliu antes de deixar o quarto, praticamente correndo pelas escada em direção ao campo de Quadribol. Seus amigos a esperavam na arquibancada, um lugar guardado para ela. Broches brilhantes piscavam com as palavras “Potter Campeão” nas roupas deles, e apenas os gêmeos pareciam animados naquela manhã.

— E aí, Snape, vai apostar no seu homem, hoje?

— Com certeza, não, Lorcan. Ele não estaria em condições de ganhar nem se quisesse.

— Pois eu acho que ele ganha daqueles dois até com as mãos amarradas nas costas — ela revirou os olhos e cumprimentou Escórpio, Alvo, e Lily que pareciam tão apáticos quanto ela. Um murmúrio começou nas arquibancadas quando três animais entraram, junto com os campeões.

— Aquilo é um testrálio? — Fora Escórpio quem perguntara e, de fato, era. Haviam três seres alados: Um testrálio, um hipogrifo e um Abraxana. Lis avaliou os três competidores, e percebeu que apenas Nikolai o enxergava. Reparou também no quanto ele parecia doente, abatido; ter sua família na guerra devia estar afetando ele mais do que a ela, e ela fez uma nota mental de ir falar com ele mais tarde naquele dia, provavelmente à noite, pois tinha várias tarefas para fazer após a prova.

— Sim. Isso vai ser ótimo.

 

***

 

James viu dois seres serem trazidos, um hipogrifo e um cavalo alado que guia a carruagem dos franceses. Ele viu Maia, ao seu lado, franzir a testa; os competidores eram três, e haviam apenas dois animais, as contas não batiam; James olhou para o francês, mas ele não parecia confuso. A diretora McGonagall se dirigiu aos outros alunos na arquibancada, aumentando a voz com um Sonorus.

— Bem vindos à segunda prova! Vocês, assim como os Campeões, irão descobrir agora o que ela consiste. Aqui, nós temos três seres alados: um Hipogrifo, contribuição da escola Ilvermorny, Um Abraxana, da escola Beauxbatons e, para os que não estão vendo, ou seja, a maioria, nossa contribuição: um Testrálio — exclamações de compreensão vieram da plateia — a prova será o seguinte: Cada um de vocês terá um dos seres para voar pela propriedade, ou seja, ao redor do castelo e no começo da Floresta; haverá três ovos espalhados, sinalizados com bandeiras coloridas; cada Campeão terá uma cor: azul, vermelho ou amarelo, que serão sorteadas com o animal, cada um tem uma faixa amarrada à pata.

Ela deu uma pausa para eles assimilarem as instruções. James olhou para os seres e calculou que nenhum deles teria uma grande vantagem: os Testrálios eram invisíveis, mas relativamente dóceis; os Abraxana eram fáceis de lidar, mas um pouco inconstantes e os Hipogrifos eram temperamentais, mas bastante habilidosos. A diretora pediu que eles tirassem os apitos dos bolsos; eles iriam assoprá-los ao mesmo tempo, e os animais iriam se aproximar da pessoa destinada.

Os três obedeceram, e por alguns segundos, nada aconteceu, mas logo os animais se agitaram e andaram em direção aos três, trocando de posição. O Abraxana veio ao James, em um galope elegante, o Hipogrifo estava hesitante e desconfiado enquanto caminhava para Maia, e o Testrálio foi, calmo, para o Nikolai. James olhou a americana, e pensou ter visto algo em seus olhos; esperava que não fosse medo, pois ela era a favorita dele naquela prova. Parando para reparar, as cores foram divididas dessa maneira: Nikolai - Azul; James - Vermelho, Maia - Amarelo.

— O tempo começa a contar a partir de agora; vocês têm uma hora, mas a ordem de chegada importa na pontuação. Para os que estão na plateia, estão vendo esses tecidos? — de fato, haviam tecidos gigantes pendurados perto das arquibancadas, como os telões que tinham nos jogos de Quadribol — Eles captarão e projetarão parte da prova. Existem captores estratégicos, mas somente poderemos ver os campeões se passarem pela área que eles abrangem. Torçamos para que não se desviem muito não é? — ela riu — Agora, Campeões, prontos? Valendo!

James se aproximou do cavalo, que recuou; certo, aquilo seria divertido. Quando conseguiu pegar suas rédeas, Nikolai já estava montado no seu próprio, e quando James conseguiu se alçar para a sela, causando dores em diversos pontos de seu abdome, o francês já alcançava vôo. Maia, que havia acabado de fazer uma reverência, se aproximava temerosa do outro ser.

O Potter sabia cavalgar um pouco, então se forçou a lembrar das lições que tivera na infância e acertou de leve a barriga do animal com os calcanhares enquanto agitava as rédeas. Ele começou a galopar, e ia aumentando a velocidade progressivamente enquanto suas asas fortes se agitavam e os elevavam do chão. Momentos depois, ele estava no ar, soltando um grito de animação. Como sentia falta daquilo, do vento batendo e seu rosto e a sensação de estar bem longe do chão e dos problemas.

O Abraxana era maior e mais forte que o Testrálio, então James logo avistou Nikolai em sua montaria logo à frente. O Potter o teria seguido apenas de provocação, mas viu um brilho vermelho desviando à direita, em direção ao Salgueiro lutador. Não em direção, no Salgueiro lutador. Ele virou seu animal para voar para lá, e gemeu em frustração ao ver onde a bandeira estava. Ele teria que descer do cavalo para alcançá-la.

Deixou o animal fora do alcance dos galhos, para que não se assustasse e saísse voando. Existiam dois modos para parar a árvore: atingindo um feitiço paralisante nos galhos próximos ao alvo ou… seu pai havia mencionado algo sobre um nó que tranquilizava a árvore. Logo, ele viu, um pequeno ponto em tinta azul sinalizado em um galho baixo. James pegou um graveto, pois não queria arriscar perder a varinha e se agachou para se aproximar.

Em condições normais, ele teria desviado do galho que chicoteou seu tórax, mas ele não estava em suas condições normais. Todo seu corpo doeu com o esforço vão, e logo James estava no chão, rastejando de costas na grama, em direção ao nó. O Salgueiro atacava, deixando arranhões no braço e no rosto. Ele estava quase desistindo quando viu de novo o ponto azul, e acertou o graveto nele. Instantaneamente, os galhos desaceleraram, como em transe, e ele se ergueu rapidamente, pegando o pequeno ovo sem olhar. Saiu sem hesitar do campo de ataque e praticamente correu, apesar da dor. O cavalo pareceu ter se acostumado com ele, pois ficou parado enquanto o garoto corria em sua direção e montava nele bruscamente. Isso lhe custou, é claro, e ele teve que parar alguns instantes para respirar. James tomara um analgésico mais cedo, mas fraco, para não apagar durante a prova, e não era suficiente para acabar com a dor, apenas diminuía.

Aproveitando o tempo, olhou para o que carregava na mão; não parecia ser um ovo, pesava como uma pedra, mas tinha um formato de um ovo, era branco e leitoso. James olhou o relógio, apenas quinze minutos haviam se passado; pelo menos não perdera muito tempo. Recuperado, estimulou o cavalo a voar novamente. McGonagall havia dito ao redor do castelo, então ele começou a varrer com os olhos as paredes e janelas em busca do brilho vermelho, que encontrou em uma das torres, a do relógio. O lugar era grande o suficiente para caber o cavalo. A bandeira estava ao lado de um quadro que retratava uma mulher de aparência sábia.

— Rowena Ravenclaw..

— Eu mesma, jovem cavalheiro. Imagino que viestes buscar a tua pedra — sua voz era suave, e um sorriso enervante beirava seus lábios.

— Sim, eu vim. O que é necessário para que eu o consiga?

— Ah, é simples. Apenas tens de responder um enigma, ou… dar-me o que carrega de mais precioso… é uma troca justa.

Mais precioso… Provavelmente seria o relógio que Lis lhe dera, e existia a chance de ser devolvido quando a prova acabasse, mas ele não iria arriscar.

— Diga-me o enigma, por favor, Sra. Ravenclaw.

— Muito bem, então, ouça com atenção. Um bruxo, antes de morrer, deixou um presente para cada um dos seus três filhos. O mais velho recebeu um espelho, através do qual ele podia ver qualquer pessoa no mundo. O segundo, ganhou um cavalo que ele poderia montar e ir a qualquer lugar no mundo em apenas um dia. O terceiro, recebeu uma maçã mágica que nunca iria apodrecer, e que quando ingerida, iria curar qualquer doença.

“Um dia, os irmãos ouviram falar sobre uma princesa em uma terra distante que estava morrendo de uma doença desconhecida. Rumores falavam que o rei deixaria o homem que salvasse sua filha se casar com ela. Os irmãos entraram em ação. O primeiro olhou no espelho e viu a princesa doente e o lugar onde ela morava. Todos os três montaram no cavalo do segundo irmão, e rumaram tão rápido que chegaram à terra da princesa na manhã seguinte. Em seguida, o terceiro filho levou sua maçã para a princesa, que a comeu toda e recuperou a saúde plena instantaneamente.

“O rei era grato, e de fato tinha a intenção de deixar um deles se casar com a princesa. Mas foi necessário a cooperação de todos os três irmãos para salvá-la. Qual deles o rei escolheu para se casar com sua filha? Deve-me dizer o porquê.”

James parou um pouco para pensar. Nesse tipo de história, o terceiro irmão sempre se dava melhor. Se fosse arriscar uma resposta, seria aquela, mas porquê? Um tinha um espelho… o outro um cavalo… ambos também ajudaram o terceiro, mas… o que ele não estava vendo. Ele pediu para à senhora que repetisse a charada, e ficou atento aos detalhes. Sua mente quase saltou em uma frase específica, e um sorriso surgiu em seu rosto.

— Descobriu a resposta, rapazinho?

— Acredito que sim. O rei escolheu o terceiro irmão.

— Por quê?

— A princesa comeu sua maçã inteira, ou seja, ele foi o único que sacrificou seu presente para salvá-la, enquanto os outros dois mantiveram os seus — ela abriu um sorriso satisfeito e seu quadro saiu do lugar, chegando para o lado e revelando outra pedra como a anterior, que agora estava em seu bolso, ela cabia facilmente na palma de sua mão.

— De que casa você é, jovem rapaz? Pelas cores, imagino que Grifinória.

— Sim, senhora.

— Que pena, se daria bem na Corvinal… Agora, vá, garoto, não perca seu tempo.

James olhou o relógio, teria vinte e cinco minutos para encontrar a próxima e resolver o problema. Subiu novamente no cavalo e alçou vôo. Tinha a forte impressão de que o próximo estaria na Floresta, então guiou o animal pela orla da Floresta Proibida. McGonagall nunca colocaria em algum lugar profundo, então era só ficar atento. Não foi o brilho vermelho que ele viu primeiro, e sim um azul, quase roxo; teria achado que era a bandeira do Nikolai, se não fosse o outro, da mesma cor, que o acompanhava e o barulho agudo, quase um zunido, que chegou aos seus ouvidos pelo vento.

— Diabretes… Droga.

Ele pousou e tentou chegar perto deles devagar, silenciosamente, como Lis faria. Mas ela era uma sombra, ele era um artilheiro alto e barulhento, gritar e pular não teriam chamado tanta atenção. Era de se esperar que anos saindo durante a calada da noite debaixo da Capa de Invisibilidade o tivessem treinado naquela habilidade, mas não. Era sempre Lis quem silenciava seus passos, e não era à toa que ele pegava castigos com frequência.

Um dos seres alados o beliscou no rosto e outro mordeu-lhe a mão, e então, juntos, agarraram suas orelhas e o levaram para a árvore mais alta. Ele havia sacado a varinha, mas não tivera tempo de proferir o feitiço, e caso o fizesse, tudo o que ganharia era uma bela queda de uns três metros; talvez Lis conseguisse lidar com aquilo, mas ele apenas ficaria com um pé quebrado e mais alguns dias de cama.

Um pensamento passou por sua cabeça, fazendo-o rir. Provavelmente aquele era um dos lugares transmitidos para os outros alunos, e agora todos eles o viam sendo carregado por seres de trinta centímetros. James segurou o impulso de procurar os transmissores e dar uma piscadinha, ao invés disso, percebeu que os diabretes estavam fazendo um favor. A bandeira vermelha estava justamente no topo da árvore, embora aquela não fosse, na verdade, a melhor maneira de subir.

Mesmo ali, ele conseguiu ouvir alguns gritos de euforia e uma batida de duas notas constante: alguém havia chegado de novo ao campo. Ele torcia que fosse Maia, embora desconfiasse que não. Os bichinhos o soltaram no galho mais alto e resistente ao mesmo tempo, e dessa vez ele foi mais rápido ao dizer:

Immobilus! — Todos eles pairaram no ar, enquanto James pegava o último ovo e usava o apito para chamar o cavalo. O animal voou até a árvore, deixando que James subisse nele e voou em velocidade máxima para o Campo de Quadribol

 

***

 

A arquibancada vibrou em excitação quando Nikolai surgiu, muitos deles vendo-o voar no nada. Não estavam exatamente comemorando, afinal ele era da escola rival, mas era o primeiro a chegar, então havia uma certa animação nisso. Ele parecia orgulhoso, e olhou sorrindo para um lugar nos bancos baixos, onde Kaleen estava. Lis ficou feliz por ele, pois era uma coisa boa no meio de tudo o que estava acontecendo. Imaginou que não faria mal ir falar com ele.

A ruiva se levantou e desviou das pessoas para descer ao Campo. Já estava em seus limites quando outra onda de aplausos e gritos começou. James estava chegando, e ela desistiu de ir falar com o francês para correr em direção ao cavalo que pousava. Seu rosto estava fechado, de dor, ela percebeu; então o ajudou a descer e o abraçou.

— Analségico? — ela sussurrou. Carregava um frasco no bolso.

— Agora não — ele desvencilhou do abraço e fez uma mesura para os que assistiam, arrancando mais gritos e vivas, então a envolveu no ombro, não para abraçá-la, mas para se apoiar sem que ninguém percebesse.

Eles foram para a tenda e ela lhe deu o frasco com o remédio diluído, apenas o suficiente para amenizar. Com ele sentado e melhor, ela se virou para procurar Nikolai, mas ele parecia ter o mesmo pensamento, pois vinha em sua direção. Ele olhou do James para ela, com o rosto inescrutável. O francês se aproximou, os olhos dourados fixos nos dela, então seus lábios se abriram em um sorriso triste, enquanto ele tirava algo do bolso. Parecia uma pedra, em formato de um ovo. Era lilás leitoso, o que ela achou apropriado, já que aquela era a cor da família Pelletier.

— Me disseram que podemos ficar com elas, mas, eu queria que uma ficasse com você — ele lhe entregou a pedra e a abraçou de um jeito embaraçado — me desculpa.

Ela queria perguntar o porquê, mas sua voz sumiu quando ele a olhou e passou a mão em uma de suas bochechas antes de se virar e simplesmente ir embora sem dizer mais nada.

— O que foi aquilo?

— Eu não sei. Cadê a Maia?

Assim que ela perguntou, o hipogrifo trouxe uma confusa e bagunçada Maia para o Campo. Era parecia ter passado por uma revoada de pássaros. Ela desceu dele com dignidade, embora, e tinha conseguido os três ovos dentro do prazo pedido. Palmas foram dedicadas a ela antes que o grupo deles descesse para parabenizar os dois e convidá-los para uma festa.

— Sinto muito, mas perdi as últimas aulas, tenho que recuperar. Vão vocês, guardem um pouco de comida e whiskey pra mim, ok?

Naquele momento, pareceu a coisa lógica a fazer, gastar a tarde estudando e pondo em dia os assuntos não vistos, mas alguns dias depois ela desejaria ter participado daquela última festa.

 

***

 

James havia pedido que ela passasse a noite com ele de novo. Lis sabia que isso era mais por ela do que por ele. O garoto tinha a habilidade de saber quando ela mentia, e sabia que ela não dormira muito sem ele aqueles dias. Então, ela foi ao quarto do pai no auge da noite para pegar algumas coisas para a mudança provisória para o quarto do Potter. Claro que nenhum dos outros professores sabia daquilo, era contra as regras.

Seu pai ainda não havia chegado, provavelmente estava preparando aula ou arrumando a sala nas masmorras. Lis já havia arrumado suas coisas em uma pequena mochila, mas algo, um puxão que ela não entendeu bem, a impediu de descer o andar para o quarto dos monitores chefes e a fez olhar pela janela. A lua estava cheia e iluminava a noite fresca. A neve não havia ido completamente.

A janela ampla dava para o lado esquecido da Floresta Proibida, onde os Testrálios ficavam. Era uma parte extensa da Floresta, e guardava vários mistérios. Estava prestes a se virar quando viu dois vultos, um deles parecia usar um vestido; ela não os teria visto se não fosse a luz da lua naquela noite. Tateou a cômoda sem tirar os olhos deles e pegou seus onióculos, ampliando a imagem até ver quem era. A descoberta quase a fez derrubar o objeto. De repente, ela lembrou o que ficara preso em sua memória nos últimos dias: ela sabia a quem pertenciam aqueles olhos brilhantes.

Lis mal se lembrou de pegar sua mochila enquanto saía correndo e quase se atropelando pelos corredores. Ela nem desceu a escada, ao invés disso, sentou no corrimão e deslizou até o próximo andar, quase se lançando pro quarto do James. Sua batida ecoou, enervante, denunciando seu desespero e quando ele abriu a porta ela estava ofegante e paralisada.

— Mas o que…?

— James, eu sei quem sequestrou a Rose.

 


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