Fênix Negra escrita por FireboltVioleta
Renato andava inquieto desde que o seu impensado gesto com Hermione havia acontecido.
Sua interação com a bruxa havia se reduzido apenas a diálogos curtos, completamente voltados à viagem e aos próximos passos da incursão. Além disso, mal se pronunciava, mantendo-se silencioso e reflexivo à maior parte do tempo.
Neste momento, o grupo havia finalmente voltado a seguir viagem, atravessando o território francês, em direção ao norte. Algumas pistas – interceptadas através de conversas de Rayane com moradores, ao longo do vilarejo de Coquelles, enquanto haviam se hospedado na pensão – levavam a crer que encontrariam algo significativo próximo à Bélgica.
Assim como havia sido exortada, Blink nada havia dito sobre Hermione à Cavallone. Sabia o dilema que isso causaria na mente do rapaz, e tampouco queria se arriscar a receber novamente a fúria de Weasley sobre ela.
Nora, portanto, era a única parte que se mantinha levemente otimista, embora tudo levasse a crer que fosse apenas efeito do momento íntimo que havia tido com Rayane. Ainda assim, a ex-Comensal aparentava tentar manter qualquer atitude positiva diante daquela jornada.
Porém, ela impossível não perceber a desagradável tensão pairava entre os quatro.
Mesmo velado, o fato de Hermione estar grávida havia começado a interferir completamente no equilíbrio do grupo.
Aproveitando que Nora e Rayane estavam alguns metros adiantes, Renato posicionou-se de modo quase tímido ao lado de Hermione, caminhando silenciosamente ao lado da garota.
— Diga.
Cavallone ergueu o olhar em sua direção.
— Scusa?
— Eu não sou idiota, Cavallone – sibilou, sem olhar para ele, continuando a andar – aquilo não foi acidental.
Um arrepio percorreu a espinha de Renato.
— Dolcezza… - sacudiu a cabeça – eu imaginei que estivesse… encolerizada comigo. Quer mesmo…?
— Sim – Hermione finalmente o encarou – eu quero saber. Por que fez aquilo?
O rapaz fechou os olhos por um momento, emitindo um longo e exasperado suspiro.
Ele odiava retornar ao passado.
Mas precisava fazer isso.
— Xion Zheng era filha de Yin Zheng – disse em tom baixo – chefe da Wūpó Bāng, uma das famílias da máfia bruxa chinesa. Eu… por outro lado.. - sussurrou – era Consigliere da Famiglia Stregone, a maior máfia italiana mágica – um sorriso triste brotou em seu rosto – nos encontramos pela primeira vez… em Veneza – riu fracamente, de maneira sofrida – sempre em Veneza.
Hermione ergueu uma sobrancelha.
— O que Xion fazia lá?
O bruxo a fitou com um misto de sarcasmo e desolamento.
— Havia sido enviada… para me matar.
Weasley quase interrompeu a caminhada.
— Te matar? - repetiu, num leve tom de incredulidade.
— Sim – assentiu – como… um ritual de passagem. Caçar um alvo, abatê-lo… e voltar para a China. Capisci? Para honrar a família e a organização… toda a burocracia que eu já entendia de certa maneira– prosseguiu – eu estava… viajando em férias. Havia parado para tragar um sigaretta em um beco… e ela me pegou – deu de ombros, saudoso – que técnica, dolcezza. Que técnica. Me imobilizou... antes mesmo que eu me desse conta. Sua varinha em uma mão… e uma adaga na outra… enquanto comprimia minha traqueia com os braços. Um mínimo movimento… e Xion teria me executado.
A garota franziu o cenho.
— Mas ela.. não te matou.
— Não… embora não tivesse sido por falta de esforço – Renato gracejou – foi… estranho. Xion me fitou por alguns segundos….como se quisesse ver a vida se esvaindo de meu olhar. E então… sem aviso… - piscou – ela largou as armas no chão… - Hermione saltou o olhar, espantada – ajoelhou-se… e ficou ali. Prostrada… e soluçante.
Os olhos amendoados de Weasley estavam repletos de confusão.
— E o que…?
— Eu lhe disse, Weasley. Xion era… meiga. Estava fazendo aquilo… pelo pai. Pela máfia. Mas não queria aquela vida. Era sonhadora… forte… determinada. Mas incapaz… de matar alguém inocente – o homem careteou – não que eu pudesse ser descrito desta forma.
— Renato… - Hermione contraiu os lábios – mas o que é que isso tem a ver com..?
Percebeu uma angústia brilhar nos olhos do bruxo.
— Senti, tesoro – pela primeira vez, Cavallone parecia estar desnorteado – Xion nunca retornou á China. Abandonou tudo… virou as costas para a família… e procurou sua própria felicidade. Ela lutou pelo que realmente acreditava. Ficou ao meu lado… a despeito de tudo que os demais poderiam ter esperado. Era apaixonada, e tinha uma determinação inabalável.
A bruxa sacudiu a cabeça, incomodada.
— Cavallone…
Ele pousou a mão sobre seu ombro, sussurrando baixo.
— E então… eu vi você. Aquela jovem protegida do Ministério da Magia… a heroína de guerra. Alguém cuja alma… refletia a de minha Xion – pousou a mão sobre o próprio peito por um momento - con un cuore ferito, pouco tempo depois da morte dela… compreende? Não foi difícil me encantar… e deixar sentimentos tolos me dominarem.
Estacou quando o braço de Hermione se interpôs em seu caminho.
Embora o gesto tivesse sido discreto, havia sido intimidante o bastante para que ele desacelerasse o passo.
— Por acaso você está insinuando… que se apaixonou por mim?
Ela ofegou, perplexa, quando o rapaz riu amargamente.
— Insinuando? Não… - declarou – eu estou afirmando – antes de receber qualquer retaliação, acrescentou – mas eu sei que é algo impossível. Assim como Xion… você virou as costas para todos… para acertar as coisas… e salvar quem realmente ama. Não poderia ter fugido… deste deslumbramento. E admito… que jamais deveria ter alimentado esse desejo. Espero que entenda… que não conseguirei suprimir isto tão cedo… - concluiu - mas tampouco deixarei que esse sentimento fútil desvie nossa atenção desta jornada.
Por um segundo, Renato jurou ver um laivo de compreensão e empatia relampejar nas íris escuras e inexpressivas de Hermione.
O brilho desapareceu com a mesma velocidade que surgiu.
— Xion teve sorte em te encontrar…. - continuou a andar, acompanhando-o, sem olhá-lo outra vez – você a amava, não é?
Uma dor angustiada invadiu o peito de Renato.
— Sim… - sua voz saiu embargada – amava muito… assim como amei Tim… e como ainda amo nosso pequeno Fon – a expressão dele endureceu repentinamente, enquanto contraía os punhos – talvez… seja o único sentimento… que eu ainda deva permitir que exista em mim…
Renato adiantou-se, unindo-se à Nora e Rayane na caminhada, sem voltar-se para trás.
Hermione baixou uma das mãos, tocando a pequena elevação que começava a crescer sobre seu ventre.
Pois bem, Cavallone. Pensou, vincando as sobrancelhas de maneira irredutível. Já não será mais o único…. por que também não deixarei mais nada me enfraquecer.
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