Nunca brinque com magia! escrita por Lyana Lysander


Capítulo 5
Lâmina dos mortos!


Notas iniciais do capítulo

Pulei um cap, armaria, mas enfim aqui está ele!!!



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—Queria começar nossa conversa me desculpando, deveria ter-lhe procurando a alguns dias para termos essa conversa. -dobrei os joelhos e coloquei meu queixo ali, descansando-o e focando meus olhos na escuridão a frente.

—Não há motivos para desculpas, palavras só devem ser ditas quando necessárias, e histórias só devem ser contadas quando nos sentimos confortáveis para isso. -ri leve com seu modo sábio de falar.

—Talvez não acredite no que vou lhe contar, mas peço que tente ao máximo me escutar até o final, prometo-lhe em contrapartida não mentir, omitirei sim, algumas coisas que não se fazem necessárias dizer agora. -ele apenas afirmou com a cabeça, e mirou-me sério. -Não pertenço a Terra Média, mais conheço um pouco sobre ela e sobre a guerra que está por vir. -ele levantou uma sobrancelha, como que surpreso com minhas palavras. -Uma prova disso é que sei que és descendentes dos grandes reis, os reis dos reis. -ele pareceu querer dizer algo. -Não comentei e nem pretendo comentar o que sei e como sei sobre o senhor com meus amigos, e prometo-lhe aqui e agora que esta foi a primeira e ultima vez que o fiz. -ele afirmou. -Não sei como vim parar aqui, mas não posso voltar para minha casa porque não conheço o caminho. -disse cansada.

—Se é assim, porque os acompanha, porque correr tanto perigo, a senhorita podere...

—Aura, apenas Aura por favor. -lhe sorri fraco. -Viajo com eles para encontrar Gandalf, pois ele pode ser o único que saiba o caminho de minha casa. -ele pareceu refletir sobre minhas palavras.

—Ainda me resta uma dúvida, uma que pesa em meu coração. -ele me olhou e sorriu de um jeito que eu sempre sonhei que meu pai fizesse.

—Como eu sabia sobre os Cavaleiros Negros? 

—Sim.

—Eu apenas senti. Posso sentir as vezes quando coisas ruins estão para acontecer, é um dom de nascimento. Mas aquela foi a primeira vez que me senti tão fortemente, que me senti fraca. -tentei explicar o que nem mesmo eu entendia. Eu despreguei meu queixo e passei a mão nos cabelos para arruma-los um pouco, que por causa do vento, estavam caindo sobre meus olhos. -Das outras duas vezes, eu apenas pressenti o perigo, que estavam se aproximando. -fiquei um bom tempo pensando, mas foi Aragorn que me fez perceber o real motivo.

—Quanto os perseguiam?

—Um da primeira vez, e da segunda... -o olhei abismada. -Será que a quantidade me afeta? 

—A maldade e a cobiça que os nove carregam talvez seja o que lhe afete. Se sente quando coisas ruins se aproximas deve ser muito pior quando os nove estão juntos, já que eles são feitos apenas de cobiça e maldade.

—O que eles realmente são Passolargo? -perguntou Frodo que se levantava, me deixando aturdida. -Me desculpe se a assustei Aura, acabo de acordar e escutar o que diziam, me perdoem a intromissão. -Aragorn sorriu tranquilo.

—Não há intromissão meu pequeno companheiro, estava apenas ajudando a sua jovem amiga à tentar entender o que houve. -Frodo se aproximou e Aragorn nos estendeu sua capa. -Está ficando frio. -lhe sorri agradecida e a dividi com Frodo quando este sentou ao meu lado. -Eles já foram homens. -começou ele a contar como se aquilo fosse extremamente doloroso -Grandes reis dos homens. Então Sauron o trapaceiro lhes deu Nove Anéis de poder. Cegos pela cobiça eles o receberam sem questionar, e um por um caíram na escuridão. E agora são apenas escravos da vontade dele. Conhecidos hoje como cavaleiros negros ou os Nazgûl. Espectros do anel, nem vivos e nem mortos, e a todo momento sentem a presença do anel, atraídos pelo poder do UM. Eles nunca vão parar de caçar você enquanto o possuir.

—Mas como eles nos acharam tão rápido na estalagem, e não nos encontram agora? -perguntou um Frodo aflito.

—Eu só posso supor meu bom amigo, então não ouso proferir palavras que possam não ser verdade. -Aragorn se resignou.

—Eu sei. -Frodo me fitou e seus olhos azuis brilhavam de ansiedade. -Agora que ouvi sobre eles e como agem consigo entender o porque de não nos terem encontrado até agora. Não que a sua ajuda não tenha sido o que definiu nossas vidas até agora Passolargo, não posso diminuir jamais o que tem feito por nós.

—Não está, de forma alguma.

—Eles provavelmente sentem o poder, o chamado do anel, mas enquanto não o usar eles não saberão nossa localização, porém quando o anel é usado ele clama por seu verdadeiro mestre, e os cavaleiros sentem o seu poder, o seu chamado. -Frodo abaixou a cabeça. -Sabemos que não colocou o anel por querer lá na estalagem.

—Ele simplesmente caiu no meu dedo, como se tivesse vontade própria. Eu não queria, não tive a intenção. -me olhou como se pedisse desculpas, e eu o abracei, e ele a mim.

—O anel é traiçoeiro Frodo, ele quer o seu mestre e fará de tudo para voltar para suas mãos. -ditou Aragorn. -Mas por horas estão seguros meus amigos, durmam um pouco, que amanhã será um longo dia. -Frodo se afastou e se levantou me estendendo a mão para me ajudar a levantar.

Nos despedimos de Aragorn e fomos dormir. Me sentia leve, como se tirasse um peso de mim, e mesmo com a expectativa de mais um dia de caminhada eu não conseguia parar de sorrir enquanto me deitava sobre o chão.

Na manhã seguinte partimos logo após o nascer do sol. O ar estava gelado e o céu ostentava um azul claro pálido. Os hobbits se sentiam reconfortados, como se tivessem tido uma noite de sono contínuo, e eu me sentia da mesma forma. Já estávamos nos acostumando a fazer longas caminhadas sem muita comida, comida essa bem menos generosas do que aquelas que meus amigos diziam ser o suficientes para manter um hobbit em pé no Condado. Eu passei um bom tempo rindo de suas brincadeiras, principalmente as que comentavam seu rápido emagrecimento, e até Aragorn riu quando um Sam choroso comentou que se continuasse assim se transformaria num espeto. 

Êl síla ned lû e-govaded vín.—ele falou devagar para que eu acompanhasse. -Uma estrela brilha na hora do nosso encontro.

—Mas da ultima vez você tinha me dito de outra forma. -eu choraminguei. Tinha virado um passa-tempo nosso Frodo me ensinar a língua dos elfos.  -Elen síla lúmenn omentielvo.

—São dois dialetos elficos diferentes Aura, o segundo é mais antigo, era usado pelos Alto Elfos, que estão agora em Além Mar. -Frodo me explicou risonho.

—Não imaginava que soubesse falar as duas línguas. -comentou curioso Aragorn.

—Não sei muito, apenas conheço algumas palavras e frases que meu tio Bilbo me ensinou.

—Você também fala a língua dos elfos Passolargo? -curiosa como sou, não podia deixar de perguntar.

—Assim como meu jovem amigo também conheço um pouco, posso te ensinar também se quiser.

Hantalë. -agradeci animada e ele sorriu. -Será um prazer aprender com você também.

Úman ná. -ele se curvou e eu fiz o mesmo. -De nada. -traduziu para Pippin que o observava sem entender.

Já estava entardecendo quando chegamos perto da caverna que Aragorn nos falou. 

—Bem, aqui estamos! -disse Merry. -A aparência do lugar é triste e nem um pouco convidativa! Não há água nem abrigo, E nem sinal de Gandalf. Mas não o culpo por não ter nos esperado, se é que passou por aqui.

—Também gostaria de saber. -Passolargo, falou pensativo enquanto olhava em volta. -Mesmo que ele tivesse chegado a Bri um ou dois dias depois de nossa partida, poderia ter chegado aqui primeiro. Ele pode cavalgar muito rápido quando há necessidade.

Depois de algum tempo de discussão sobre o que faríamos, Aragorn quis subir na frente para verificar o lugar, a caverna onde deveríamos passar a noite, ali seria mais seguro do que no sopé da montanha, e Frodo e Merry o seguiram. Ficaram muito tempo lá, mas do que eu esperava, porém não estava preocupada com eles, Aragorn cuidaria deles. Eu estava discutindo sobre plantas que poderiam ser usadas como tempero com Sam, que me mostrava algumas que ele tinha consigo, trazidas do Condado, quando os senti. Meu estômago embrulhou, e minha cabeça começou a girar atordoada.

—Senhorita Aura. -Sam me amparou e me ajudou a sentar em segurança no chão.

—Eles estão vindo Sam, avise aos outros. -a ânsia de vômito ficou mais forte e eu comecei a sentir um calor quase insuportável, como uma pressão quente que comprimia meu corpo.

Vi quando Sam jogou pedras para chamar a atenção dos que estavam na caverna, mais resolvi fechar os olhos e me deitar, o chão do entardecer era frio.

—Aura, Aura você está bem? O que está sentindo? -Frodo tocou meu rosto desesperado e puxou-me pela nuca para o olhar. Mas eu tinha medo de falar e meu estomago me trair.

—Como eles nos acharam? -Pippin perguntava aturdido.

—Fui muito descuidado no topo da colina. -respondeu Aragorn apressado. -Estava muito ansioso por encontrar algum sinal de Gandalf, mas foi um erro nós três ficarmos lá em cima tanto tempo. Pois os cavaleiros negros podem ver, e os Cavaleiros podem usar homens e outras criaturas como espiões, como vimos lá em Bri. Eles próprios não conseguem enxergar o mundo da luz como nós, mas nossas formas lançam sombras em suas mentes, que apenas o soldo meio-dia pode destruir, e no escuro eles percebem muitos sinais e formas que ficam escondidos de nós, nessas ocasiões é que devemos receá-los mais. E a qualquer hora, sentem o cheiro do sangue de criaturas vivas, desejando-as e odiando-as. Sentidos também, existem outros além da visão e do olfato. Podemos sentir a presença deles, preocupa nossos corações desde que chegamos aqui, e antes que os víssemos, eles sentem a nossa presença de forma mais aguda.Além disso!- acrescentou ele, e nesse momento sua voz se reduziu a um sussurro. -O Anel os atrai..

Eu não sei dizer o que ocorreu depois daquilo, formas disformes passavam por meus olhos e minha mente estava cansada, mas não demorou para o alivio da inconsciência me levar, e eu me sentia grata por isso.

—Se sente melhor? -Aragorn falava calmo ao meu lado, mas ao observar melhor seu rosto banhado pelo fogo baixo e pela lua, eu podia perceber a preocupação ali.

—Um pouco, mas ainda me sinto enjoada. -olhei ao redor, estávamos no que me parecia ser o topo da colina, cercados por grandes pilares de pedra branca. O vento que perpassava minha pele era forte e frio, mas eu agradecia por ele, ainda me sentia quente.

—A febre cedeu um pouco, mas vejo que ainda está fraca. -ele tocou minha testa com sua mão gelada e eu quase suspirei aliviada pela sensação. 

—O que houve, o que fazemos aqui? -perguntei preocupada, ainda me sentia mal apesar de estar melhorando aos poucos, ainda os sentia próximo.

—Estamos encurralados, não havia outro lugar para irmos. Eles nos perseguiram por metade da noite. Resolvemos que se nos alcançassem lutar seria nossa única chance. -ele alisou minha cabeça carinhoso ao perceber minha preocupação. -Também não gosto daqui, mas não consigo pensar em nenhum lugar melhor que pudéssemos chegar antes de amanhecer. Pelo menos aqui estamos escondidos por enquanto, e se sairmos é muito mais provável que sejamos vistos por espiões. 

—Então não há saída. -sibilou Frodo, olhando à sua volta furioso. -Se sair daqui, serei visto e caçado! Se ficar, vou atraí-los para mim! Passolargo se afastou de mim e foi até ele se curvando para colocar a mão no ombro dele. 

—Ainda há esperança. -disse ele. -Você não está sozinho. Vamos considerar como um sinal esta lenha que está colocada aqui, pronta para uma fogueira. Aqui não há muito abrigo ou defesa, mas o fogo deverá servir como ambos. Sauron pode usar o fogo em seus desígnios maléficos, como pode usar todas as coisas, mas esses Cavaleiros não apreciam muito o fogo, e temem os que se defendem com ele. O fogo é nosso amigo em lugares ermos.

—Pode ser. -murmurou um cansado Sam. -Também não consigo pensar numa maneira melhor de dizer "ei, estamos aqui!", sem gritar. Aliás, acho que é a mesma coisa. -eu ri leve de seu comentário e todos me acompanharam.

—Confio minha vida a você, sei que está fazendo tudo que pode. -Aragorn me olhou agradecido. Após isso ficamos quietos. 

Eles acenderam um pequena fogueira e começaram a cozinhar. Em dado momento Sam me trouxe um chá para acalmar meu estomago, e me contou que foi Aragorn quem tinha me carregado até ali, e que todos ficaram preocupados comigo, não sabiam o que fazer. Mas que do mesmo jeito que começou, meu mal estar passou. Segundo ele minha cor começou a voltar enquanto subiam. 

—Imagino que seu corpo já esteja se adaptando. -Aragorn comentou descascando uma maçã.

—Espero que sim. Seria um problema se isso acontecesse toda vez que essas criaturas se aproximassem. -dei de ombros e ele me deu um pedaço para comer.

—Apesar de tudo somos gratos a você, se não tivesse nos aviso da aproximação deles, eles teriam nos visto na caverna. -Merry disse.

—E no mais, o que importa é que agora a senhorita está bem, nos deu um belo susto. -gracejou Pippin.

—Peço desculpas pela preocupação que lhes causei.

—Está tudo bem, não há motivos para desculpas. -Frodo sorriu.

O frio aumentou ainda mais com o avançar da noite. Olhando da borda do valezinho  não conseguíamos enxergar nada, a não ser um terreno cinzento que agora desaparecia rapidamente na sombra. O céu ficou limpo de novo e lentamente se enchia de mais e mais estrelas piscando majestosas. Frodo e os outros se aconchegaram em volta do fogo, embrulhados em todas as roupas e cobertores que tinham, mas continuei em meu lugar e Aragorn parecia satisfeito com uma única capa, ele se sentou um pouco separado, fumando seu cachimbo, pensativo.À medida que a noite caía e o fogo brilhava mais forte, ele começou a contar-nos histórias para afugentar o medo de nossos corações. Sabia muitas histórias e lendas de antigamente, de elfos e homens e dos feitos bons e malignos dos Dias Antigos. E nesse momento acho que todos ficaram imaginando qual seria a real idade dele, e onde ele tinha aprendido toda aquela tradição. Era lindo e ao mesmo tempo triste, eu me lembrava vagamente de sua história, de seus pais, e sua criação. 

Não sabia se ficava feliz por não me lembrar de tudo que deveria saber desse mundo ou se ficava feliz por várias coisas ainda me serem uma grande surpresa e aventura. Sinceramente nunca dei muita atenção para aquilo quando mais nova, meu tio Alisson que era um aficionado por aquele mundo, mas eu, eu tinha muita coisa o que estudar e me preocupar. Porém agora eu entendia, eu sentia, o mundo era mais amplo e misterioso do que eu jamais sonhara, havia tanta coisa para se ver e entender que provavelmente mesmo que vivesse mil vidas eu não deixaria de me surpreender, de descobrir algo novo. Eu não podia mentir, estava mais do que feliz pela sorte que tinha, por ter conhecido aquele mundo, aquelas pessoas e seres, que cuidavam de mim com um zelo que apenas minha avó me tinha dado.

—Conte alguma outra história de antigamente. -pediu Sam, me arrastando de meus pensamentos. Pude notar que eles estavam discutindo sobre uma possível nova história, a qual desejavam ouvir. -Uma história sobre os elfos antes que começassem a desaparecer. Gostaria muito de escutar mais sobre os elfos, a escuridão está caindo sobre nós com tanta força...

—Vou contar-lhes a história de Tinuviel. -disse Passolargo. -Resumida, pois essa é uma longa história da qual não se sabe com certeza o fim, e ninguém atualmente, com exceção de Elrond, pode lembrá-la exatamente como era contada há tempos. É uma bela história, embora triste, como todas as histórias da Terra-média, mesmo assim ela pode animar seus corações. -e ele me fitou com uma sombra de sorriso em seus lábios.

—Há uma canção muito bonita que fala sobre o encontro de Beren, filho de Barahir, e Lúthien Tinúviel.  Mas eu não a conheço por completa, assim, quando chegarem em Valfenda peçam a Elrond  que a cante para vocês. -ele respirou fundo e olhou para o céu, e  recomeçou a falar. -Beren era um homem mortal,mas Lúthien era a filha de Thingol, um Rei Élfico da Terra Média, na época em que o mundo era jovem. Ela era a mais bonita entre todas as donzelas daquele mundo. Sua graciosidade se comparava à das estrelas sobre a névoa das terras do Norte, e em seu rosto brilhava uma luz.Naqueles dias, o Grande Inimigo, de quem Sauron de Mordor era apenas um servidor, morava em Angband no Norte, e os elfos do Oeste, voltando à Terra Média, guerrearam contra ele para reaver as Silmarils que ele havia lhes roubado, e os pais dos homens ajudaram os elfos. Mas o Inimigo foi vitorioso e Barahir foi assassinado. Beren, escapando de grandes perigos, veio pelas Montanhas do Terror e chegou até o escondido Reino de Thingol na floresta de Neldoreth. Ali viu Lúthien, cantando e dançando numa clareira ao lado do rio encantado Esgalduin, ele a chamou de Tinúviel, que quer dizer Rouxinol na língua antiga. Muitas coisas tristes aconteceram a eles depois disso, e ficaram separados por muito tempo. Tinúviel resgatou Beren dos calabouços de Sauron e juntos eles passaram por grandes perigos, até mesmo destronando o Grande Inimigo e pegando de sua coroa de ferro uma das três Silmarils, as mais brilhantes das jóias, para usá-lacomo dote de Lúthien a ser pago a seu pai, Thingol. Mas no fim Beren foi assassinado pelo Lobo que veio dos portões de Angband, e morreu nos braços de Tinúviel. Mas ela escolheu a mortalidade, aceitando desaparecer do mundo, para poder segui-lo. Conta-se que eles se encontraram de novo além dos Mares Divisores, e depois de andarem juntos e vivos outra vez nas florestas verdes, por um curto período, juntos passaram, há muito tempo, para além dos confins deste mundo. Desse modo, Lúthien Tinúviel foi a única, de todo o povo Élfico, a realmente morrer e deixar o mundo, e eles perderam a que mais amavam. Mas, a partir dela, a linhagem dos Elfos -senhores de antigamente- teve uma descendência entre os homens. Ainda vivem aqueles de quem Lúthien foi ancestral, e afirma-se que essa linhagem nunca vai terminar. Elrond de Valfenda faz parte dela. Pois de Beren e Lúthien nasceu o herdeiro de Dior Thingol, e dele nasceu Elwing, a Branca, que se casou com Earendil, aquele que conduziu seu navio das névoas do mundo para dentro dos mares do céu com a Silmaril em sua testa. E de Earendil nasceram os Reis de Númenor, quer dizer, de Ponente.

As lágrimas caíram, mas eu não as impediria nem se pudesse, não só a história mas a voz dele tocou meu coração, minha alma. E eu podia ver que não era a única a me sentir assim. Por isso odeia aquelas criaturas, odiei tanto que não quis me permitir abalar por elas e as coisas horríveis que traziam. Todos perceberam sem que eu dissesse algo, e antes que chegassem Aragorn deu a cada um de nós uma espada. 

Ouvimos o silvo, o prelúdio horrendo de sua chegada, nos organizamos apressados, costas com costa. Nada precisava ser dito, nenhum comando, estávamos encurralados, e teríamos que lutar pela primeira vez em nossas vidas com aquelas criaturas por nossas vidas. Aragorn retirou uma das madeiras do fogo, e segurou habilmente em uma mão e a espada na outra, enquanto nós mal sabíamos como segurar a espada. Ele nós havia dado espadas pequenas, provavelmente haviam sido feitas com antecedência para os Hobbits, mas ainda assim seu peso era demasiado para mim, que mal conseguia segura-la. 

Minha respiração estava acelerada assim como meu coração, meus olhos corriam todo o lugar em busca de meus inimigos, mas foi com o chiado de medo de Frodo que os vi. Nove sombras negras cobertas por capas, por baixo apenas a pesada armadura que um dia deveriam ter sido esplendorosas, mas que agora apenas a escuridão continham. Suas espadas longas possuíam um brilho prata fosco. Eles andavam vagamente em nossa direção, seus passos e movimentos eram tão sincronizados que pareciam uma só criatura.

—Para trás demônios. -gritou um valente Sam cruzando espadas com um deles. 

Aragorn foi a frente lutando com 3 de uma vez, e sempre que ele brandava a tocha eles gritavam gerando sons que doíam meus tímpanos. Fui a frente com Merry e Pippin, mas Frodo parecia amedrontado demais. Tentei usar a espada segurando-a com as duas mãos, e com sorte consegui aparar um golpe que certamente me cortaria a cabeça. Mas a força dele me fez cair com tudo para trás. Os cavaleiros puxaram Pippin e Merry pelas capas e os jogaram com força nas pilastras, e como eu Sam estava no chão. Eles não se voltaram para nós, apenas desejavam nos tirar do caminho, sua gana era o anel, e era para ele que seguiam. Ouvi Aragorn gritar algo, mas não entendi, meu foco era Frodo eu precisava lhe ajudar, então quando o vi tropeçar nos próprios pés de medo e cair corri para ele, mas assim que o toquei tudo mudou ao meu redor.

—Ajin omanae... -eu conseguia ouvir uma voz de comando.

Ao me virar percebi imediatamente que o mundo havia de certa forma mudado, embora tudo continuasse como antes, escuro e sombrio, as figuras se tornaram terrivelmente claras. Eu podia ver através de suas roupas pretas. Havia nove figuras altas: três ainda lutavam com Aragorn, duas em pé, na saliência do valezinho, e três avançando sobre nós. Nos seus rostos brancos brilhavam olhos agudos e impiedosos, sob as capas havia grandes túnicas cinzentas, sobre os cabelos branco, elmos de prata, nas mãos magras, espadas de aço. Seus olhos caíram sobre nos e o penetraram enquanto corriam em nossa direção. Desesperado, Frodo puxou sua espada,tive a impressão de que dela emanava um brilho vermelho, como se estivesse em brasa. Duas das figuras pararam. A terceira que era maior que as outras: o cabelo era longo e brilhante, e sobre seu elmo estava uma coroa. Numa mão segurava uma longa espada, e na outra uma faca, tanto a faca quanto a mão que a segurava brilhavam com uma luz fraca. Ele pulou para frente e avançou sobre Frodo. Não tive reação alguma, estava tomada pelo mais completo terror, e agora eu podia ouvir claramente o que a voz dizia.

—O poder de Isengar já me pertence, venham a mim, venha agora, para que o senhor do escuro possa se levantar com todo o seu poder, para que possamos subjugar todas essas criaturas. Mordor logo terá um exército jamais visto, criaturas da escuridão e das trevas logo marcharão em meu nome. Venha para mim, venha agora. -eu podia ver o olho, eu podia sentir seu grande e terrível poder, mas foi nesse momento que percebi a mão fantasmagórica se aproximando do anel que brilhava como nunca, e Frodo que fazia um grande esforço para tentar afasta-ló da criatura.

Ele me olhou como se pedisse auxilio, e mesmo com medo aquilo me tocou o suficiente para que eu criasse forças e o ajudasse. Puxei o seu braço com tudo afastando o anel da criatura, que com raiva se levantou, e com um golpe certeiro empalou o ombro de Frodo que gritou como nunca. Puxei o anel de seu dedo desesperada mas foi só conseguir tirar de Frodo, que por um milésimo de segundo o grande olho se virou para mim e me viu. 

Aragorn pulou a nossa frente e lutou sozinho com as criaturas afastando-as de nós. Os gritos de dor de Frodo atraíram os hobbits para seu lado preocupados.

—Frodo. -gritou um Sam assustado.

—Ô Sam, Aura. -ele chorou torturado. Aragorn agora queimava a capa das criaturas que fugiam loucas.

—Pegue minha sacola Sam, tem algumas ervas lá que podemos usar para tentar ajudá-lo. -eu me sentia fraca, o medo parecia que corria em mim junto com meu próprio sangue, e eu ainda podia sentir aquele olho maligno tentando furar o meu ser.

—Ele foi perfurado por uma espada de Morgul. Está além das minhas habilidades, ele precisa de tratamento elfico. -Aragorn o colocou no colo e saiu apressado em ele e nós o seguimos para fora daquele lugar.

—Estamos a dias de Valfenda. -Sam chorou. 

Merry entregou-me minha pequena sacola, e eu comecei a buscar a erva correta.

—Ele vai morrer? Seus olhos estão ficando de uma cor estranha. -Pippin também chorava, e eu não estava diferente.

—Ele está passando pelo mundo das sombras. -Aragorn o colocou no chão assim que descemos a montanha, sobre algumas raízes . -Virara um espectro como eles. -ele passou as mãos no cabelo e depois no rosto nervoso.

—Achei. -umas flores brancas, minha vó chamava de folhas do rei, era a erva mais forte contra maldições que havia encontrado naquela região.

—Athelas? -ele olhou surpreso. -Isso ajudará a retardar o veneno.

Aproximei-me de Frodo, e depois de mastiga-las um pouco coloquei sobre seu ferimento que estava escuro, como as veias ao seu redor. Ele não estava melhorando, de seus lábios saia uma espuma esquisita e suas veias já se dilatavam negras correndo por seu corpo. Chorei copiosa, não queria vê-lo morrer assim, eu precisava fazer algo.

—O que faremos? Não podemos deixa-lo assim! -ouvi Merry dizer.

—Não a nada que possamos fazer meus amigos, agora só depende dele. -Aragorn disse numa voz cheia de pesar.

Fechei meus olhos, respirei fundo para me acalmar e coloquei minhas mãos sobre o ferimento dele mais sem o tocar. Sabia que a música só aliviaria meu coração, mais minha família sempre dizia que era a força que colocávamos nela ao canta-la que realmente curava, que realmente trazia a cura ao enfermo.  Eu quis realmente acreditar naquilo naquele momento, e preferia isso a ficar apenas olhando ele morrer, ou coisa pior. Concentrei-me, concentrei-me na vontade de cura-lo, de trazer aquele rosto o sorriso de volta, a ter novamente aquele maravilhoso brilho no azul de seus olhos.

—"Eu carrego você em meu coração, e dobro você com força e amor". -comecei a canção baixa e leve, sentindo a brisa da madrugada nos banhar, e entendi aquilo como um bom sinal, então mais forte continuei a cantar. -"Meu circulo descendente, agora coloco sobre ti, e envio por ele minha energia. Que ela tire de ti todo mal, toda dor, e dissipe a enfermidade. A doença deve desaparecer, e o teu medo deve minguar, e escorrer por teus dedos como água. O vazio de teu corpo eu substituo por vitalidade, e o de tua alma preencho com meu poder. Assim você prosperará mais uma vez sobre a terra." -meu corpo começou a ficar mole, eu me sentia fraca. Ouvi vagamente ao longe meus amigos exclamando algo, mas não ousei abrir meus olhos, ou quebrar minha concentração, faltava pouco para acabar. -"Feliz no amor e na alegria. Benção mais brilhantes  e boa saúde, meu amigo Frodo, agora te envolvem. E peço que eles olhem por você, e o mantenham bem e forte." -ao terminar de sibilar a ultima estrofe tentei abrir meus olhos, mas eles estavam tão pesados, eu me sentia tão cansada. Meus pensamente se tornaram incoerentes e disformes, e eu só queria agora descansar.

—Aura... -ouvi uma voz conhecida me chamar.

 


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