Nunca brinque com magia! escrita por Lyana Lysander


Capítulo 15
O monstro do lago!


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...



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—Olhem! -disse ele. -Podem ver alguma coisa agora? -a lua agora brilhava sobre a face cinza da pedra, mas  por um tempo nós não vimos nada de diferente, por mais que procurássemos com afinco. Então, lentamente, sobre a superfície, onde as mãos do mago tinham passado, linhas claras apareceram, como veias finas de prata correndo na pedra. No início, não passavam de uma teia de prata, tão fina que apenas piscava oscilante nos pontos onde a luz da lua batia, mas gradativamente as linhas ficavam mais largas e visíveis, até que podemos adivinhar o desenho que formavam.

Na parte superior, numa altura que o braço de Gandalf podia alcançar, via-se um arco de letras entrelaçadas, letras que pertenciam à língua dos antigos elfos. Abaixo, embora as linhas estivessem ao que me parecia em alguns pontos borradas e quebradas, podíamos ver o contorno de uma bigorna e um martelo, abaixo de uma coroa com sete estrelas. Abaixo destas estavam duas árvores, cada uma carregando luas crescentes, Mais nítida que todo o resto brilhava, bem no meio da porta, uma única estrela com muitas pontas.

—Lá estão os emblemas de Durin! -gritou Gimli.

—E ali está a Árvore dos Altos-elfos! -comentou Legolas.

—E a Estrela da Casa de Fêanor. -disse Gandalf. -Estão gravados em ithildin, que reflete apenas a luz do sol e a da lua, e fica adormecido até que seja tocado por uma pessoa que pronuncie palavras há muito esquecidas na Terra Média. Faz tempo que as ouvi, e tive de pensar muito antes de trazê-las de volta à mente.

—Ainda bem que temos você aqui Gandalf, ou estaríamos perdidos. -Pippin se pronunciou.

—O que diz a inscrição? -perguntamos juntos eu e Frodo, que tentava decifrar a inscrição no arco.

—Pensei conhecer as letras dos elfos, mas não consigo ler estas. -continuou o Hobbit habilidoso.

—As palavras estão na língua élfica do Oeste da Terra Média dos Dias Antigos. -respondeu Gandalf. -Mas não dizem nada de importante para nós. Dizem apenas: As Portas de Durin, Senhor de Moria. Fale, amigo, e entre. E abaixo está escrito, em letras pequenas e apagadas: Eu, Narvi, as fiz. Celebribor de Azevim desenhou estes sinais.

—Que quer dizer a frase fale, amigo, e entre? -perguntou Merry .

—Exatamente isso! -respondeu Gimli. -Se você é amigo, pronuncie a palavra secreta, e as portas se abrirão, e você poderá entrar.

—Sim. -disse Gandalf. -Estas portas provavelmente são comandadas por palavras. Alguns dos portões dos anões só se abrem em ocasiões especiais, apenas para pessoas determinadas, e alguns ainda têm fechaduras e chaves que são indispensáveis, mesmo quando as ocasiões e as palavras necessárias são conhecidas. Estas portas não têm chave. Nos dias de Durin, não eram secretas. Geralmente ficavam abertas, e guardas ficavam aqui a postos. Mas se estivessem fechadas, qualquer um que conhecesse a palavra correta poderia pronunciá-la e entrar. Pelo menos assim registrou a história, não é, Gimli?

—É sim. -disse o anão. -Mas ninguém se lembra da palavra. Narvi, seu ofício e todo seu povo desapareceram da terra.

—Mas você sabe a palavra, Gandalf? -perguntou Boromir surpreso.

—Não! -disse simples o mago.

Os outros o olharam desolados, apenas Aragorn, que conhecia bem Gandalf, permaneceu em silêncio e imóvel, e quando me viu o olhando deu um pequeno sorriso calmo, e eu sorri tranquila.

—Então, de que adiantou nos trazer até este ponto maldito? -gritou Boromir, voltando-se para olhar a água com um calafrio. -Disse-nos que uma vez tinha passado através das Minas. Como pode ser, se você não sabia como entrar?

—A resposta à sua primeira questão, Boromir. -falou o mago. -É que eu não sei a palavra, ainda. Mas logo veremos. E. -acrescentou ele com um brilho nos olhos sob as sobrancelhas grossas. -Você pode perguntar qual a utilidade de meus feitos quando eles demonstram ser inúteis. Quanto à sua segunda pergunta: dúvida do que contei? Ou não lhe sobra nenhuma inteligência? Eu não entrei por aqui. Vim pelo Leste. -ele podia dormir sem essa. Legolas assim como eu mantinha um leve sorriso nos lábios.

—Se quiser saber, vou dizer que essas portas se abrem para fora. De dentro, pode-se abri-las com as mãos. De fora, nada poderá movê-las, a não ser o encanto de comando. Não se pode forçá-las para dentro.

—Que vai fazer então? -perguntou Pippin, não se assustando com as sobrancelhas grossas do mago.

—Bata nas portas com a cabeça, Peregrin Túk. -disse Gandalf. -Mas se isso não as abalar, e se me permitirem um pouco de paz, sem perguntas tolas, procurarei as palavras para abri-la. -eu não me aguentei e rir alto, fazendo os mais próximos fazer o mesmo, e até o mago se acalmou um pouco.

—Caram. -ele tossiu fazendo novamente a cara séria, e eu tentei me controlar. -Certa vez eu sabia todos os encantamentos em todas as línguas, de elfos, homens ou orcs, que eram usados para esse propósito. Ainda posso lembrar um grande número desses encantamentos sem ter de vasculhar minha mente. Mas serão necessárias  algumas tentativas, eu acho, e não precisarei chamar Gimli para lhe perguntar as palavras secretas dos anões que eles não ensinam a ninguém. As palavras secretas eram élficas, como a inscrição no arco: isso parece certo.

Voltou-se para o rochedo outra vez, e tocou de leve com o cajado a estrela de prata que ficava no meio, abaixo do sinal da bigorna.

—Annon edhellen, edro hi ammen! Fennas nogothrim, lasto beth lamment! -disse ele numa voz de comando. As linhas de prata desapareceram, mas a pedra cinzenta não se moveu.

Muitas vezes repetiu essas palavras em ordem diferente, ou variando-as. Então tentou outros encantamentos, um após o outro, falando algumas vezes mais rápido e alto, outras vezes baixo e devagar. Depois pronunciou muitas palavras isoladas, da língua dos elfos. Nada aconteceu.

O penhasco se erguia na escuridão, as incontáveis estrelas estavam acesas, o vento soprava frio, e as portas continuavam cerradas.

Mais uma vez, Gandalf se aproximou da parede rochosa, e levantando a voz falou em tons de comando e ira crescente.

—Edro, edro! -gritava ele, e batia na pedra com o cajado. -Abra, abra!

Berrou, e pronunciou o mesmo comando em todas as línguas que provavelmente já tinham sido faladas no Oeste da Terra Média. Depois jogou o cajado no chão e sentou-se em silêncio.

Resolvi que precisava fazer algo e me aproximei da porta tocando as inscrições. 

—Isso não é uma charada, ou se é, não pode ser tão difícil, tem de ser algo simples já que qualquer pessoa poderia ir e vir. -sussurrei para mim, e o mago me olhou.

Naquele momento, o vento começou a trazer, de um ponto distante, até nossos ouvidos atentos, o uivo de lobos. Bill, o pônei, teve um sobressalto, e Sam pulou para perto dele, sussurrando baixinho aos seus ouvidos.

—Não o deixe fugir! -disse Boromir. -Parece que vamos precisar dele ainda, se os lobos não nos acharem. Como eu odeio esse lago nojento! -abaixou-se e, pegando uma pedra grande, jogou-a longe para dentro da água escura, Pippin e Merry fizeram o mesmo, mas Aragorn os parou.

—Não agitem a água. -avisou o sábio guardião.

Eu me movi rapidamente e fui um pouco a frente sentido uma fome crescente no lago.

—Sinto algo sombrio nas profundezas do lago. -Legolas, Gimli, Boromir e Aragorn se aproximaram de mim, todos com armas em punho. 

As últimas pedras desapareceram com um ruído abafado, mas, no mesmo instante, ouviu-se um zunido e água borbulhando. A superfície da água se encrespou em grandes círculos, que se originaram no ponto onde a última pedra havia caído, e que se aproximavam lentamente do pé do penhasco.

—Por que fez isso, Boromir? -perguntou Frodo. -Também odeio este lugar, e estou com medo. Não sei do quê, não é dos lobos, ou do escuro que nos espera atrás das portas, mas de alguma outra coisa. Tenho medo do lago. Não o incomode!

—É para se ter mesmo. -disse me afastando vagarosamente. 

—Gostaria que pudéssemos sair deste lugar. -disse Merry .

—Por que Gandalf não faz alguma coisa logo? -disse Pippin. 

Gandalf não prestava atenção em nós. Estava sentado, com a cabeça curvada. Ou em desespero ou num pensamento ansioso. Ouviu-se outra vez o uivo lamentoso dos lobos. Os círculos na água cresciam e chegavam mais perto; alguns já batiam contra a margem.

Num rompante, assustando a todos nós, o mago pulou de pé. Estava rindo!

—Consegui! -gritou ele. -É claro, é claro! Absurdamente simples, como a maioria dos enigmas quando você descobre a resposta.

Pegando o cajado, parou diante da porta e disse numa voz clara: Mellon! A estrela brilhou por uns instantes e desapareceu outra vez. Então, silenciosamente, surgiu o contorno de um grande portal, embora nenhuma fenda ou fissura estivesse visível antes. Dividiu-se ao meio e se abriu para fora, pouco a pouco, até que ambas as portas se encostaram contra a parede rochosa. Através da abertura, podia-se ver uma escada sombria, subindo inclinada; mas além dos degraus mais baixos, a escuridão era mais profunda que a noite. Todos nós observávamos, estupefatos.

—No fim, eu estava errado. -disse Gandalf. -E Gimli também. Merry e Aura, quem diria, estavam na pista certa. A palavra secreta estava inscrita no arco o tempo todo! A tradução correta era: Diga “Amigo” e entre. Eu só tinha de pronunciar a palavra élfica correspondente a amigo e as portas se abririam. Simples demais para um erudito mestre nas tradições nestes dias suspeitos. Aqueles eram tempos mais felizes. Agora vamos!

Foi na frente, e colocou o pé no primeiro degrau. Mas, nesse momento, várias coisas aconteceram. Eu gritei puxando pela primeira vez a espada de minha cintura. Frodo foi agarrado pelo tornozelo, e caiu com um grito.

Bill, o pônei, soltou um relincho alucinado de medo e, virando-se, disparou margeando o lago, para dentro da escuridão. Sam se atirou no encalço dele e então, ouvindo o grito de Frodo, correu de volta, gritando e praguejando. Os outros se voltaram e viram as águas do lago fervilhando, como se um exército de serpentes viesse nadando da extremidade sul.

Um longo e sinuoso tentáculo tinha saído da água, era de um verde-claro, luminoso e úmido. A extremidade em forma de dedos prendera o pé de Frodo, e agora o arrastava para dentro da água. Sam, de joelhos, golpeava a garra com uma espada que mais parecia uma faca, e logo Pippin e Merry se juntaram a ele pedindo socorro.

Um tentáculo tentou me pegar, mas eu o cortei com minha espada o fazendo se afastar. Porém outro logo vinha para o ataque pela minha lateral, mas foi parado por uma flecha certeira de Legolas.

O braço soltou Frodo, e Sam o puxou para fora com a ajuda dos outros Hobbits, gritando ainda mais por socorro socorro.

Vinte outros braços apareceram, avançando na direção deles e se agitando. Eles derrubaram os outros e puxaram Frodo com tudo para o ar, como se esse levitasse de cabeça para baixo. Boromir e Aragorn adentraram o lago cortando todos os tentáculos que encontrava. Gimli se juntou a mim atacando os tentáculos que estavam na margem, e Legolas dando cobertura a Aragorn e Boromir que lutavam dentro do lago.

—Eu me concentrei e passei a mão na minha espada pronunciando o feitiço. -Náre! -a espada logo ficou em chamas e eu parti para a água, cortando tudo que podia.

A água escura fervia, e um cheiro medonho se espalhava no ar.

—Para dentro! Subam a escada! Rápido! -gritou Gandalf, pulando para trás.

A besta emergia do lago e uma grande boca medonha e cheia de dentes afiados se abria para engolir Frodo, mas Aragorn foi mais rápido e cortou o tentáculo que o segurava, e quando Frodo caiu, Boromir o segurou nos braços.

Respirei fundo e me preparei para fazer uma loucura.

—Nárëlókë. -gritei com todas as minhas forças, batendo a espada na água e a fincando no chão para invocar o dragão de fogo. 

Nesse momento Gandalf também gritou algo, e das margens do rio um dragão de fogo e água começou a se formar batendo com tudo no mostro o arastando para dentro da água novamente.

—Vamos, corram, entrem. -gritou o mago novamente. Despertando-nos do terror que parecia ter aprisionado ao solo nossos pés, com a exceção de Sam, que conduziu Frodo adiante.

Eu tentei andar mas minha vista estava turva, e comecei a cambalear caindo dentro da água.

—Aura, fale comigo AURA. -Aragorn me pegou na água e me carregou nos braços para dentro, e meu corpo todo estava frio. 

—Estou bem, só um pouco cansada. -eu já batia os dentes. Mas logo uma manta foi jogada sobre mim, a qual Aragorn me ajudou a me enrolar, e me colocou nos braços novamente. Apesar de por um momento eu achar o cheiro diferente.

Mas não era hora de se preocupar com isso, pois quase não deu tempo deles subirem as escadas. Sam e Frodo tinham subido apenas alguns degraus, e Gandalf mal começava a subir , quando os tentáculos ávidos novamente serpentearam em direção à margem estreita e tatearam a parede do rochedo e as portas. Um deles chegou maneando até a entrada da passagem, reluzindo à luz das estrelas.

Gandalf se voltou e parou. Ele estava pensando numa palavra para fechar a porta outra vez, de dentro, não havia necessidade. Muitos braços sinuosos se agarraram às portas dos dois lados, e com uma força terrível as empurraram. Com um eco ensurdecedor elas se fecharam, e perdeu-se toda a luminosidade. Através da rocha sólida ouvia-se o ruído de algo se quebrando, ou sendo rasgado.

Sam, pendurado ao braço de Frodo, tropeçou num degrau devido à escuridão negra.

—Pobre Bill. -disse Sam numa voz sufocada. -Pobre Bill, lobos e serpentes! Mas as serpentes foram demais para ele. Tive de escolher, Sr. Frodo. Tinha de vir com o senhor.

Escutamos Gandalf voltar descendo os degraus, e bater nas portas com o cajado. Houve um tremor na pedra e a escada oscilou, mas as portas não se abriram.

—Muito bem!-disse o mago. -A passagem atrás de nós está bloqueada agora, e só existe uma saída do outro lado das montanhas. Receio, pelos ecos, que haja um monte de pedras contra o portão e que as árvores tenham sido arrancadas e atravessadas diante dele. Sinto muito, pois eram bonitas e estavam ali havia muito tempo.

—Senti que algo horrível estava próximo desde o primeiro momento em que meu pé tocou a água. -disse Frodo.-O que era aquela coisa, ou havia muitas delas?

—Não sei. -respondeu Gandalf. -Mas os braços estavam todos sendo guiados por um único propósito. Alguma coisa se arrastou, ou foi trazida para fora das águas escuras sob as montanhas. Existem seres mais velhos e repugnantes que os orcs nos lugares profundos do mundo.

—Eu sei o que é, apesar de nunca ter visto deste tamanho, nem tão próximo. -todos me olharam. -É um único ser, mas ele só deveria ter oito tentáculos até onde sei, e viver nas profundezas mais escura do mar. -eu ainda tentava recuperar o folego. Falei tudo de uma vez, mesmo com a garganta ardendo.

Não falei em voz alta o que estava pensando, pois fosse o que fosse a criatura habitante daquele lago, ela tinha agarrado Frodo antes de qualquer outro, e logo depois buscou por mim.

Boromir murmurou em voz baixa, mas o eco da rocha amplificou o som para um sussurro alto que todos pudemos escutar:

—Nos lugares profundos do mundo! E para ali estamos indo, contra minha vontade. Quem agora vai nos guiar nessa escuridão mortal?


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