"Ainda não chegou!" Itachi reclamou ao passar outra vez pelo corredor e ver a mesa da secretária vazia.

Ajeitou o terno bege claro e a gravata azul escura. Regressou à sua sala com o intuito de continuar a analisar os contratos. Já eram duas vezes seguidas que Hinata não chegava no horário. Porém, hoje, ela tinha acumulado uma hora e meia de atraso.

Sua raiva estava prestes a fazê-lo explodir. Não havia recebido nenhuma notícia dela. Principalmente hoje que necessitava da sua ajuda. Tudo parecia ir de encontro com seus objetivos naquele dia. Além disso, lembrava-se a cada momento o fracasso da noite anterior ao procurar a mulher da boate. E a junção desses acontecimentos não lhe faziam bem.

"Alguma coisa grave aconteceu! Não é possível!" Ele proferiu irritado.

Cobriu a boca com a mão direita e soltou um suspiro forte. Fechou os olhos na tentativa de se acalmar. Seu corpo estava cada vez mais agitado chegando ao ponto de não aguentar ficar sentado. Levantou-se da cadeira giratória e foi até a janela. Enquanto caminhava, esfregou seu rosto. Ao chegar, visualizou a paisagem da cidade, as pessoas, as ruas, os carros. Isso o distraiu um pouco até que ouviu a porta ranger e, em seguida, a voz calma de Hinata.

"Desculpe, senhor Uchiha."

"Você está, outra vez, atrasada! Isso é inadmissível, Hinata!” Ainda de costas, reclamou soltando um urro de pura irritação. “Eu tinha te avisado que não demorasse hoje!"

Querendo observar as feições de sua secretária quanto a sua repreensão, virou-se. Sua mente preparou-se para vê-la como da outra vez, cansada e vermelha por ter se apressado para chegar. Mas não a encontrou desse jeito. Seus olhos se arregalaram ao contemplar, com surpresa, quem realmente se encontrava naquela sala. Piscou algumas vezes, sem acreditar na sua visão. Ela estava a sua frente em uma pose majestosa.

"Hinata?" chamou, ainda surpreendido. "Era você o tempo todo!?"

"Você só percebeu isso agora?" Deu uma risada antes de dizer.

Os olhos do Uchiha se arregalaram ainda mais. Como pôde ter sido tão burro para não ter notado!? Tudo se encaixava, os atrasos, o pedido para sair mais cedo e o motivo de ter encontrado características semelhantes nas duas no outro dia, ele pensou, sentindo sua respiração se intensificar junto as batidas do seu coração.

"Mas, como você…?" Ele disse, visualizando Hinata caminhar para mais perto de sua mesa.

"Sabe, eu fiquei muito chocada quando tudo saiu como eu planejei." Ela possuía um olhar distante ao falar. "Mas, do que importa os planos e as metas se não se alcança o objetivo.”

Itachi estreitou seu campo de visão e movimentou um pouco a cabeça, demonstrando curiosidade. O moreno queria entender o significado por trás de todas aquelas palavras. Com passos lentos, refez o caminho que fez até se aproximar de sua mesa. Deu toda a sua atenção à Hinata para saber o que ela falaria em seguida. E, por fim, escutou-a dizer:

"A vida nem sempre é como esperamos.” Hinata deu alguns passos, se aproximando da mesa dele também. “Por isso, estou pedindo demissão."

As sobrancelhas do Uchiha arquearam ao escutar as palavras de Hinata. Os cantos de sua boca subiram formando um sorriso. Colocou as mãos nos bolsos da calça social e direcionou seu campo de visão a Hyuuga. Suavizou as próprias feições e tentou não transmitir arrogância ao dizer:

"Você pode pedir demissão quantas vezes quiser." Tentou mostrar toda a sua sinceridade ao falar. "Mas, somente a terá se eu assinar o seu pedido. E convenhamos, depois do que você me revelou, acha mesmo que irei fazer isso?"

Os braços da Hyuuga se cruzaram enquanto ouvia Itachi falar. Sua cabeça balançou para cima e para baixo, como se demostrasse entender o que ele queria lhe dizer. Com calma, ela descruzou os braços e soltou um suspiro fraco. Abriu uma fresta do blazer verde escuro para enfiar sua mão em um dos bolsos internos. Retirou um papel dobrado, abriu-o com cuidado, deixando a folha cada vez maior. Quando o papel se encontrou em seu tamanho máximo, ela o direcionou para o homem. Eram nítidas as letras e, principalmente, a assinatura de Itachi no final dela.

Ele observou sem acreditar no que via.

Tentou apanhar aquele documento, mas Hinata o retirou de sua direção. O Uchiha relembrou em suas memórias se realmente havia assinado aquele documento. Mas, nada lhe apareceu em confirmação. Então, tentou achar alguma coisa, qualquer detalhe que pudesse acabar com aquela situação. E logo, uma ideia surgiu:

"Assinatura falsa." proferiu tranquilo, mas Hinata contraiu as feições do seu rosto.

"Eu não sou idiota o suficiente para tal artimanha." Apressou-se em guardar o papel novamente.

"Então, como você conseguiu minha assinatura?”

"Lembra-se de uns papeis que Sasuke pediu que assinasse?"

Itachi balançou a cabeça em confirmação, em seu rosto um sorriso incrédulo apareceu. Nem precisava raciocinar muito para descobrir que ela havia colocado aquele papel entre os demais. Maldito dia, justamente nesse dia não havia tomado o cuidado de ler os documentos, refletiu ele.

"Não preciso explicar, não é?" Ela o chamou atenção quando se virou. "Até nunca mais!"

Ao escutar a despedida de Hinata, algo no interior do moreno o deixou inquieto. Sem pensar, o Uchiha rodeou o móvel a sua frente e se apressou em direção a ela. Pegou-lhe o braço e a impediu de se afastar. Como resultado, recebeu uma encarada da mesma. Sem se importar com esse fato, agarrou o outro braço e a girou para posicioná-la diante de si. Esforçou-se para fazê-la parar enquanto ela tentava resistir aos seus comandos.

Nesse tempo de disputa, o presidente viu que a força bruta não adiantaria. Por isso, ele a prendeu como podia e pressionou sua boca na dela. De imediato não surtiu efeito. No entanto, aos poucos, sentiu o corpo da mulher relaxar e as mãos pequenas dela acariciarem o seu peitoral coberto. Itachi pousou seus dedos no rosto de Hinata e experimentou, com mais intensidade, todas as sensações que lhe eram transmitidas. A hipótese de não a ter mais perto dele se apoderou em sua mente causando, em seu interior, um vazio. Quando se separaram, Itachi levou seu olhar para o dela. O Uchiha alisou os lábios de Hinata com o polegar e arrastou o toque para as bochechas até chegar a nuca. Aproximou os rostos e grudou as testas uma na outra. Fechou os olhos para escutar as respirações se interligando. Suas feições, antes neutras, agora tinham as sobrancelhas cerradas e as pálpebras fortemente fechadas. Com a testa franzida, ele segurou o pescoço da Hyuuga com mais força. Mas, ao ouvir um suspiro desolado, decidiu libertá-la de seus braços.

Agora, afastados, ele reparou em sua, agora, ex-secretária.

Hinata se encontrava com os olhos fechados. Uma lágrima escapou, caindo pelo seu rosto enquanto seu corpo tremia pelo tamanho das emoções. Fungou ao levar sua mão para limpar a face na tentativa de se acalmar e ordenar seus pensamentos. Itachi retirou seu olhar de Hinata para procurar as mãos dela, segurou-as entre as suas e voltou a visualizar a mulher. Esse contato fez a Hyuuga ficar surpresa e a única opção que teve foi encará-lo.

“Hinata… Eu preciso que você continue aqui comigo.” Ele umedeceu os lábios. “Eu não tenho certeza do que é, mas… Eu sinto alguma coisa por você.” Itachi disse, acariciando a pele das mãos dela.

Eles se encaravam. O moreno tinha seu coração palpitando forte. Sentiu sua garganta tapar e as veias pulsar ao redor de seu pescoço. O silêncio somente agravou sua situação. Procurou alguma coisa que pudesse mostrar o que Hinata pensava. Conseguiu ver os olhos dela cerrem e ganharem um brilho feroz. Ele a notou recolher as mãos com agressividade e dar, mais ou menos, quatro passos para trás.

“Você não vai me enganar.” falou com um sorriso ríspido e balançou a cabeça.

"Hinata…"

Itachi intensificou sua visão em direção ao rosto dela. Nunca havia reparado antes, mas ao ter observado bem, a íris de Hinata tinha uma tonalidade meio lilás. Também podia ver e perceber a raiva emanando do corpo pequeno da Hyuuga. Uma voz em sua cabeça lhe dizia que ela iria embora para sempre e, ao constatar as reações de Hinata seguirem esse caminho, tal sensação só aumentou.

“Você não sabe o quanto eu te amo.” Hinata falou se movimentando para se retirar do local. As lágrimas começavam a rolar e suas mãos cobriam a boca para evitar qualquer barulho sair da mesma.

Itachi tentou agarrá-la, mas ela foi ágil ao desviar de suas investidas. Correu atrás dela, porém foi impedido de continuar quando a porta foi fechada por ela. Socou a madeira e, sem demora, se aproximou de sua mesa. Apanhou, meio desajeitado, as chaves de seu carro para depois sair da sala. Seus olhos caçavam a silhueta de Hinata em agitação. O Uchiha relembrou a confissão dela e isso lhe deu forças para ir atrás dela. Chegou na área onde ficava o elevador e conseguiu vê-la caminhando para entrar no equipamento. Pôs mais velocidade em seus passos, no entanto, seu esforço não o fez chegar antes das portas se fecharem.

*******

Hinata escorava-se no banco do carro.

Já se encontrava longe da Zona Masculina. Ela levou a mão para cobrir o rosto, este direcionado ao teto do automóvel. Os soluços do choro eram os únicos sons que se ouviam. Abaixou a cabeça e soltou um suspiro afastando as mãos da face. Pôs os dedos na direção do veículo desligado para recuperar os sentidos. Sorriu triste e ajeitou sua expressão como podia.

"Foi melhor assim." Hinata disse, girando a chave para ligar o carro.

Ela dirigiu sem saber ao certo para onde iria. Mas, de uma coisa teve certeza, não voltaria para casa. Itachi a procuraria por lá, sem sombra de dúvidas. Averiguou em seu cérebro alguém que pudesse ajudá-la. Sua mente estava tão concentrada que quase não percebeu o semáforo iluminar a cor vermelha. Bateu os dedos no volante forçando a sua cabeça a lembrar de qualquer pessoa. Exaltou-se, de repente, com um sorriso pequeno no rosto. Pegou sua bolsa e retirou de lá o celular. Analisou os nomes na lista de contato e parou em um deles. Arrastou o dedo na tela para iniciar a ligação. Demorou um pouco até que a pessoa atendesse.

"Alô!" Uma voz feminina respondeu do outro lado da linha.

"Alô, Tenten?"

"É ela mesma. Quem fala?"

"Sou eu, a Hinata." disse verificando o semáforo.

"Hinata, que bom! Quanto tempo menina!" A agitação da outra chegou aos seus ouvidos.

"Pois é, faz muito tempo." Nessa hora o sinal vermelho passou a ser verde. Hinata não teve outra opção senão apoiar o aparelho no ombro e acelerar o carro.

"Então, o que quer falar comigo Hinata?"

"Eu queria saber se você está em casa. Quero conversar com você." A Hyuuga disse verificando se vinham carros ao atravessar a rua.

"Estou sim, pode vir."

"Obrigada. Chego em alguns minutos. Tchau!"

Depois de ouvir a amiga se despedir também, não conseguiu, de imediato, se livrar do telefone. Quando pôde largá-lo, seus olhos arderam. Todos os acontecimentos haviam retornado como uma bomba em sua mente. Sentiu uma lágrima trilhar a lateral de seu rosto. Ela sabia que um dia aquela situação iria acontecer. Porém, nunca tinha pensado quão grande e violenta seria a sua dor. Retirou uma das mãos da direção para se limpar.

Tudo vai passar, Hinata fixou essa ideia na cabeça para depois direcionar sua atenção para o trânsito.