Uncomfortable escrita por Girl Pocket


Capítulo 3
A arte de perder


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora ♥
Boa leitura.



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Me sentia jovem novamente, meu corpo havia recebido uma injeção de ânimo. O encontro dos ex -membros do BTS era como ter colocado alguma cor em minha vida, que desde o desmanche do grupo, havia se tornado cinza. Sempre marcávamos de nos encontrar no decorrer do ano, claro nem todos podiam ir, as vezes que alguém comparecia era, geralmente, os mesmos; eu, Namjoon hyung, Jin hyung e Hoseok hyung. Talvez por termos agendas menos compromissadas. 

Taehyung, após a separação, tornou-se um ator, que sempre estava nas telas da televisão em algum dorama de sucesso, continuou a cantar, apenas nas horas vagas e nas trilhas sonoras de seus aclamados dramas. O que o fazia estar viajando a todo momento. Suga, efetuou-se como um rapper prestigiado, constantemente fazendo shows nacionais e internacionais. 

Rapmon, Jin e Hoseok não desistiram da música, apenas deram outros caminhos a elas. Namjoon permitou que a música fosse o caminho de muitos jovens interessados em cantar, havia virado produtor musical. Hoseok utilizou a música para a sua outra paixão; a dança, eu o invejava, teve coragem o suficiente para abrir um estúdio de dança. E Jin hyung, além de constituir uma família maravilhosa, inaugurou um restaurante, em que cantava ás vezes, quando não estava com muitos pedidos, eu sempre soube que ele gostava mais da casualidade da música. 

Mas o que  realmente me deixava nervoso e com esse espírito jovem, como se ainda fôssemos um grupo musical, era a possibilidade de ver Jimin. Não o via há anos, também não o procurei. Soube por intermédio dos outros, que ele havia se assumido gay, estava noivo de algum francês, aliás ele se quer me contou que não morava mais na Coréia, agora residia na França.  

Mesmo depois de 12 anos ainda sinto que amá-lo é estar eternamente em um redemoinho, estou sempre perdido, esperando que ele venha me salvar desse vendaval, que me dê alguma direção. Porém ele não me direciona mais, desde que o disse palavras odiáveis e egoístas naquele hotel, no mesmo quarto em que eu o havia beijado pela primeira vez, após uma confissão um tanto quanto apressada e constrangida. Por medo eu perdi a única pessoa que amei e ainda amo, infelizmente esse medo ainda me assola todas ás vezes que ponho minha cabeça no travesseiro, quando vejo um casal andando nas ruas de Seul. Não é o mesmo medo de quando lhe disse que queria ser unicamente um amigo, nada mais. Depois de amadurecer e aceitar meus reais sentimentos, meu medo mudou para algo muito mais vergonhoso e até mesmo real; e se Jimin não me amar mais? Claramente ele já esqueceu nosso romance com frescor jovial, para meu pequeno hyung talvez tenha sido só isso; um romance entre adolescente, com um menino egoísta e muito perdido. 

Olhava-me no espelho do restaurante a cada cinco minutos, se não era no espelho, era na câmera do celular. Tae, após ter percebido minha impaciência, disse. 

—É por que Jimin vai vir hoje ou você está nessa ansiedade toda por ficar mais velho e ainda estar solteiro? Porque se for pelo fato de você estar solteiro, podemos dar um jeito nisso amanhã já.  

—É isso mesmo? Você está me cantando?- eu sabia que seu intuito não era me cantar, era apenas me deixar mais parecido comigo mesmo, ao possível. Tae tinha conhecimento de que era por causa de Jimin, ele sempre soube. 

—Idiota – me dirigiu em seguida um tapa no meu braço, notei que ele estava fazendo academia, pois seu tapa estava mais forte que o usual. 

Estava checando se meu braço havia  ficado vermelho, e ao levantar minha cabeça encontro um Jimin tão mais bonito, mais recheado de músculos, o cabelo preto demonstrava que não havia tintura cabelo. Todos o cumprimentaram, dizendo como estavam com saudades que ele havia mudado muito. Eu fui o último a cumprimentá-lo, não saia o que fazer, ainda estava desnorteado com sua beleza. Mas Jimin, mesmo morando em outro páis, mesmo sem o ver há anos, ele ainda o Jimin, sempre soube o que fazer. Ele me deu um abraço, e através do calor de seus braços que me rodeavam, eu pude constatar que ele não mudou nada.  

—Parabéns Jungkook- disse em sussurros no meu ouvido. 

Todos conversamos, comemos, brincamos, é como se voltássemos antigamente. Essa sentimento nostálgico deu um certo aperto no meu coração. O tempo passa, e a cada vez que memórias são revividas, me sinto rejuvenescido, somos ainda tão jovens como fomos há alguns anos atrás. As risadas, as lembranças, as piadas horríveis de Jin, Jimin ao meu lado, tudo me fazia entender o porque de amá-los muito, mesmo sem nos ver diariamente, como antes, ainda éramos amigos, e todo aquele momento preenchesse o tempo que havíamos ficado sem nos ver e conversar. 

Aos poucos os meninos foram todos indo embora, deixando-me apenas com Jimin, eu pensei que, no mínimo, seria constrangedor. Porém, o meu pequeno hyung sabe deixar tudo mais leve, dando continuidade a conversas banais e aos goles de soju. Como ele resolvia tranquilo de estar comigo, nem um pouco incomodado ou ressentido, resolvi perguntar aquilo que assolava minha mente há tempos. 

—E o seu noivo francês?  

Por uma fração de segundos, vi um misto de vergonha e surpresa passar pelo seu rosto, talvez tinha sido impressão minha, mas tive certeza de sua hesitação de falar sobre isso. Entretanto continuei a encará-lo, deixando minha face mais densa a algo novo que percebia em seu rosto, o sorriso de seus olhos continuavam os mesmos, pois ele deu uma leve risada antes de falar. 

—Bom, estamos passando por umas turbulências na relação. Estou pensando ultimamente se o que estou prestes a fazer é o certo, se é certo comigo e com ele. 

—Como assim. Jimin? Sabe, não vale a pena estragar anos de namoro, e agora um noivado, por uma dúvida que surgiu após uma briga- eu estava falando tão rápido que parecia os raps do Suga, provavelmente ele percebeu esse velho hábito meu, sempre que eu ficava nervoso dizia palavras sem pensar, atropelando algumas letras-  só se ele te traiu. Ele te traiu? Olha, você não devia perd- 

—Jungkook não é por nada disso. Desde que eu recebi sua mensagem dizendo para voltar à Coréia, aliás uma das poucas mensagens, eu fiquei aturdido. É claro Pierre percebeu, eu não tive mais como esconder, contei a ele tudo o que quase vivi com você, que possivelmente eu tinha ainda alguns sentimentos por você e nem o tempo, nem o amor dele poderiam desfazer. Eu o amo, mas esse amor nunca vai substituir o amor que eu sinto por você Jungkook, porém Pierre é quem me faz feliz e você é quem está nas minhas cicatrizes, e não na minha frente, em minha cama, dizendo que me ama.  

A medida que ele me dizia tudo o que estava passando em sua cabeça, eu via minha chance de falar tudo o que remoí todos esses anos, desde aquela noite, no entanto o medo crescia simultaneamente. 

Então tudo o que eu fiz foi abaixar minha cabeça. 

—Você não vai me dizer nada, Jungkook? 

Me ocorreu o poema de Elizabeth Bishop, ele parecia cair como uma luva. 

—"A arte de perder não é nenhum mistério;  
Tantas coisas contêm em si o acidente 
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.  
Aceite, austero, a chave perdida, a hora gasta bestamente.  
A arte de perder não é nenhum mistério.  
Depois perca mais rápido, com mais critério:  
Lugares, nomes, a escala subsequente da viagem não feita.  
Nada disso é sério.  
Perdi o relógio de mamãe.  
Ah! E nem quero lembrar a perda de três casas excelentes.  
A arte de perder não é nenhum mistério.  
Perdi duas cidades lindas.  
E um império que era meu, dois rios, e mais um continente.  
Tenho saudade deles.  
Mas não é nada sério. 

 Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.  
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério" 

Eu recitei, dessa vez olhando nos olhos de Jimin, que parecia mais confuso ainda. 

—Eu perdi muita coisa Jimin, a cidade natal que eu tive que deixar, pessoas que participaram da minha vida e hoje não lembro seus nomes, além de objetos. Nada disso faz falta para mim hoje, ou alguns anos atrás. Entretanto, perder você foi perda letal para mim, a única que eu ainda tento me lembrar e jamais esquecer. Ás vezes eu me pego pensando, se eu não tivesse dito que queríamos ser apenas amigos, estaríamos juntos hoje, seria sortudo a ponto de perceber que amo você com todas as minhas forças? Talvez não, talvez não percebesse o namorado extraordinário que você é. Só depois das palavras egoístas que eu disse há anos atrás eu entendi o quanto te amo, aquelas palavras ditas pelo calor do momento, que nunca vão se apagar da nossa memória e coração, podem ter machucado muito você mas me ensinou o quanto pode se amar uma pessoa. 

Meu pequeno hyung agarrou minha mão, senti sua urgência do toque, entrelaçou nossos dedos e assim ficamos por um tempo, em minha cabeça pareciam apenas segundos, todavia o pequeno relógio em meu pulso dizia outro fato. Não saber o que se passava em sua mente me deixava aflito, será que eu tinha perdido o alfabeto para lê-lo?   

—Eu queria poder ficar aqui para sempre Jungkook. Nossos dedos entrelaçados, essa euforia que não cabe no meu peito, essa atmosfera de que podemos começar de novo. Parece tudo novo para mim, até mesmo nossos toques. Só me deixe colocar meus sentimentos no lugar, resolver o que tem que ser resolvido com Pierre, e vou pensar na sua proposta. 

—Eu espero o tempo que for necessário Jimin, no meu coração só tem lugar para nosso amor. Eu te amo. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse último capítulo. Sempre temos que aprender com nossos erros, aprendemos com eles. Obrigada



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