Leonardo Velasques, 25 de agosto.

Estava sentado à mesa tomando meu belo café da manhã que minha mãe havia preparado com carinho para mim. Com tantos pensamentos sobre uma garota que tinha tocado meu coração, era difícil prestar atenção na conversa da família por aquela manhã. Rose Velasques, minha mãe, estava em frente à geladeira procurando algo. Ricardo Velasques, meu pai, lia o jornal e murmurava algumas palavras baixinhas. Angeline, a irmã mais velha, saboreava seu cereal enquanto conversava com Rose. Jean, nossa cachorra, ficava olhando com carinha de dó para todos nós, sentada no tapete do corredor.

Mas faltava alguém sentada à mesa naquele momento, era a Cecília; minha irmã caçula de 13 anos. Sentindo saudades suas, perguntei:

— Onde está a Cecília?

— Foi dormir na casa da Luana ontem, eu falei para você – minha mãe respondeu.

— Está com a cabeça longe, Leo? – disse Angeline sorrindo discretamente.

Sim, eu estava com a cabeça longe. Eu não conseguia pensar em nada que não fosse relacionado aos olhos castanhos escuros de Amélia, seu sorriso, seu cheiro doce, e sua voz suave. Até nos meus sonhos ela ocupava meu tempo. Pensei tanto na mesma que acabei esquecendo os meus outros problemas, mas Ricardo fez questão de me recordar deles.

— Então filho, você vai entrar para o futebol? Eu ficaria tão orgulhoso por você estar seguindo meus passos! – disse Ricardo muito contente.

O que fazer? Se ele souber que estou em dúvidas entre basquete ou futsal, ele ficará tão furioso. É melhor inventar algo, depois penso em alguma solução.

— Han... Ainda não abriram as inscrições – falei engolindo seco.

— Sério? Que estranho... O normal é abrirem assim que começam as aulas. – disse meu pai confuso.

— Lá é, digamos, um pouco diferente – disse tentando achar as palavras corretas.

— Enfim, o importante é você entrar. – disse tomando um gole de seu café e se retirando – Bom, estou indo trabalhar – despediu-se dando um beijo nas mulheres e uma tapinha nas minhas costas.

Mentir não é algo que faço, mas eu não queria deixar meu pai magoado ou bravo, afinal poderia ser que eu nem fosse aceito no time. Ou até mesmo escolhesse futebol no fim das contas.

Já era quase nove horas, tinha perdido a noção do tempo com aquela conversa toda. Angeline estava indo trabalhar, então ela me deu carona para a escola, mesmo sendo pertinho de casa não daria tempo se fosse andando.
Chegando ao colégio, vi muitos adolescentes para lá e para cá andando pelos corredores, entrando em salas e saindo de salas. Eu não conhecia a escola toda, ela é enorme. O papel com meus horários diziam que teria aula de literatura às nove horas na sala B, segundo andar. Porém, eu não fazia ideia aonde era a sala B.

Subi as escadas para o segundo andar, ainda não tinha explorado aquele espaço. Notei que ali haviam algumas salas diferenciadas, umas eram normais como as que eu já tinha freqüentado ontem e outras eram de instrumentos, danças, etc. Estava distraído as observando que só deu para escutar um barulho de esbarrão, quando dei por mim, meus materiais estavam no chão igual aos do menino que havia trombado comigo.

— Foi mau cara – o garoto falou apanhando os objetos – eu estava correndo para minha aula, acabei não o percebendo.

— Sem problemas, eu estava distraído – falei o ajudando a pegar os objetos que estavam espalhados pelo chão.

— Me chamo Mike – apresentou-se – você é o novato, não é?

— Leonardo, mas pode me chamar de Leo. Sou o novato sim, está tão na cara? – disse dando uma risada.

— As meninas não param de falar sobre você, mas também você estava na minha turma de História ontem.

— Sério? Eu não parei muito para perceber as pessoas, quer dizer algumas... – lembrei de Amélia, nela eu havia prestado muita atenção.

— Não esperava que se lembrasse de todos os rostos mesmo – disse Mike rindo- Queria muito conversar, mas estou atrasado.

— Eu também estou, por falar nisto, você poderia me ajudar a achar a sala B?

— Estou indo para lá agora, vamos juntos!

Acompanhei Mike, ele era uma pessoa muito bacana pelo que percebi. É um tanto magricela dos cabelos encaracolados e olhos escuros. Entramos na sala de aula e sentamos juntos no canto da classe, já havia algumas pessoas por ali.
Estava conversando com ele quando percebo uma garota adentrar pela porta, era Amélia. Ela estava em companhia de duas meninas, provavelmente suas amigas. Conversava naturalmente, sorrindo em alguns momentos. Fiquei perdido em seu jeito delicado e meigo. E assim foi a aula que em vez de aprender sobre Literatura, eu aprendi a navegar nos olhos castanhos escuros da menina mais bela que já vi.