HL: Nebulosa - O Despertar de Hypnos escrita por Mini Line, Heroes Legacy


Capítulo 2
Sonhos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Em primeiro lugar, peço desculpas pela demora em atualizar. Pra quem não sabe, sou mãe de três garotinhos, e nem sempre é facil ter tempo para escrever, mas nessas últimas semanas eatava quase impossível! Tanto q o pouco tempo que restava, eu usava para dormir!
Mas chega de drama pessoal.
Agradeço a todos que leram e comentaram. Vocês me alegraram de uma forma que nem posso expressar ♥
Espero que não me abandonem e gostem desse capítulo.

Boa leitura.



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Explosão.

Um processo caracterizado pelo aumento repentino de volume e grande liberação de energia, geralmente acompanhado por altas temperaturas, produção de gases e forte estrondo, provocando ondas de pressão ao redor do local onde ocorre.

Não importa qual a definição para essa palavra, em nenhum site de pesquisas ou livros científicos alguém encontraria o significado dela para Robin. As consequências da explosão causada pelos Neo-Humanos no Parque Nacional da Holanda, marcaram a vida dela com um “antes e depois”, um divisor de águas, um ponto chave na sua linha do tempo.

 

Setembro de 2016, Franklin, Nova York.

Três meses após o acidente.

 

Robin acordou lentamente, acostumando-se com a claridade do local. O quarto espaçoso e bem decorado lembrava os quartos do hotel onde trabalhava, exceto pelas janelas enormes, que permitiam o brilho do sol aquecer o cômodo. O cortinado da cama estava aberto, e o seu lado esquerdo, os lençóis e travesseiros estavam bagunçados.

Levou as mãos até a cabeça, sentindo-a latejar. A mesma sensação que se tem quando dormimos demais. Sentou-se devagar, observando cada detalhe do quarto. Um vaso de tulipas ao lado da cama, alguns quadros na parede à sua frente, a bela vista para o mar, que trazia uma brisa suave e com cheiro do oceano.

Caminhou até a janela, sentindo-se mais leve do que o normal. Era quase como se flutuasse ou como se a gravidade já não exercesse tanto poder sobre ela.

 

— Bom dia, aventureira. Pensei que não iria mais acordar — a voz familiar fez Robin sorrir, virando-se para Edwin.

— Ed! — Ela o abraçou com força, sentindo o coração disparar. — O que aconteceu? Onde estamos? E os Neo-Humanos?

— Calma! — Edwin riu baixinho, acariciando os cabelos da amiga. — Uma pergunta de cada vez. Você está bem. O resgate chegou rapidinho e conseguiram fazer um milagre com você. Não me perdoaria se não conseguisse ser seu herói, mas tudo deu certo.

 

Ele a guiou de volta para a cama, ajudando-a a se deitar novamente, enquanto ficava ao lado da garota.

 

— Aquela moça, a Athena. Ela está bem? Conseguiu deter o Kaboom?

— Infelizmente, não. — Suspirou e desviou o olhar, segurando as mãos da garota. — Ela desapareceu na explosão. Quando… quando ela fez a barreira, a primeira explosão foi direcionada para o corpo dela, então quando… quando ela morreu, a barreira não pôde ser controlada e foi para os ares também. Athena se foi, Robin, e o Kaboom continua por aí. Mas ele precisa ser detido.

— Isso é terrível! — Robin escondeu o rosto entre as mãos, sem evitar que as lágrimas escapassem. — Será que existe alguém poderoso o suficiente para parar esse monstro?

— Vai existir, Robin. Vai existir. E é seu dever encontrar essa pessoa.

— Eu? Por que eu? Onde vou encontrar essa pessoa, Ed? — Fitou o rapaz, confusa.

 

Com um sorriso gentil, ele acariciou a bochecha da garota, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. Aproximou-se lentamente, antes de beijar-lhe a testa e tocar seu peito, olhando no fundo dos olhos de sua amiga.

 

— Ela está dentro de você, Robin.

— Eu não entendo.

— Vai entender em breve. Mas agora, você precisa acordar. Eu queria ficar aqui, com você para sempre, mas não posso. Preciso deixá-la ir.

— Do que você está falando, Edwin? — Franziu o cenho, sentindo as lágrimas encherem seus olhos.

— Isso aqui é apenas um sonho, minha linda. Mas não se preocupe, quando acordar e tudo parecer um pesadelo, lembre-se que eu sou seu herói e sempre estarei ao seu lado quando precisar. Porque eu te amo, Robin. Te amo como nunca amei alguém e, bem, nunca vou amar.

— Edwin, o que está acontecendo?! — disse alto, sentindo todo o corpo amortecendo devagar.

— Chegou a hora da nossa despedida.

— Eu não quero ir para lugar nenhum! Eu não quero acordar! Só quero ficar com você! Por favor, me ajuda!

— Você vai ficar bem. Eu estou com você. Apenas feche os olhos e respire. Respire fundo.

 

Robin fez o que ele disse, embora estivesse com medo. Respirou devagar, sentindo os pulmões arderem um pouco. Seu corpo foi voltando ao normal, embora não pudesse se mexer, como se estivesse anestesiada. O som e o cheiro do mar foram desaparecendo, assim como o toque suave que sentiu em seus lábios, antes de cair em sua realidade, tão diferente do sonho doce que tivera.

Agora, sentia um cheiro incômodo e enjoativo, o gosto do respirador em sua boca, os braços com acessos e aparelhos ligados a ela, ouvia o som do monitor cardíaco em seu constante trabalho, contando cada batida regular e fraca de seu coração.

Abriu os olhos, sentindo mais uma vez a claridade cegar-lhe, antes de se acostumar com ela. Ao seu lado, enfermeiras e médicos faziam anotações e sussurravam, falando de sua melhora nos últimos meses.

 

— Edwin! — chamou baixinho, sem forças para erguer a mão e tirar os incômodos aparelhos.

— Srta. Hartley! Fico feliz de vê-la acordada. — O médico sorriu, fazendo mais anotações em sua ficha.

— Edwin!

— Não se esforce, senhorita. Todas as suas dúvidas serão sanadas em breve. Vamos cuidar da sua saúde primeiro. Okay?

 

Robin fechou os olhos por um momento, concordando com o médico. Havia tantas perguntas para fazer, mas não conseguia raciocinar direito, muito menos organizar seus pensamentos.

Não demorou para que ela voltasse a dormir, buscando o amigo em seus sonhos, sem sucesso.

Alguns dias se passaram e o quadro de Robin apresentava melhoras como o esperado. As visitas foram liberadas e todos os dias sua irmã mais nova ia ao hospital, levar doces escondidos em sua bolsa.

Aos poucos, foram explicando algumas coisas sobre o acidente para Robin. Mas nenhuma notícia a abalou tanto quanto as duas palavras ditas por seu avô: “Edwin morreu

Embora seu coração a alertasse sobre isso, ignorava com todas as forças esse pensamento, mas agora, já não tinha como fingir que estava tudo bem. Perdera seu melhor amigo, sem nunca ter-lhe dito como se sentia. O quanto o amava. O desespero tomou conta da moça, obrigando um enfermeiro a sedá-la, devido ao seus gritos que ecoavam pelo corredor do hospital.

Mais alguns dias se passaram, trazendo um sentimento de torpor para ela, embora sempre estivesse sorrindo para os funcionários e visitantes. Em uma das visita de sua irmã, o médico de cabelos grisalhos entrou no quarto, momentos depois de Robin esconder uma barrinha de cereais.

 

— Bom dia, Srta. Hartley. Vejo que está mais corada. Isso é um bom sinal.

— Eu já estou boa, doutor. É só parar de me anestesiar e já posso correr para casa. — Sorriu, segurando a mão da irmã.

 

O doutor trocou um olhar com a garota mais nova, respirando fundo, antes de encarar a paciente.

 

— Robin, lembra que eu disse que logo suas perguntas seriam respondidas, pois bem. Estou aqui para explicar algumas coisas sobre sua nova condição. — Tocou a perna esquerda da garota, olhando para ela. — Quando houve a última explosão, o seu amigo salvou sua vida, mas não pôde evitar que você saísse ilesa. O impacto arremessou vocês do mesmo jeito, e a queda te machucou muito. Seu coma durou quase três meses e cogitamos desistir de você, mas sua irmã e seu avô não permitiram.

— Só você mesmo, Layla. — Robin sorriu, derrubando algumas lágrimas, assim como a garota ao seu lado.

— Bem — ele prosseguiu —, além do trauma na cabeça, sua coluna foi atingida e… Robin, você não está anestesiada. Você ficou paraplégica. Eu sinto muito.

— O quê? Eu… Eu não posso mais andar? É isso?! Você sabia e não me contou, Layla?

— Eu sinto muito, Robin, mas o Dr. Rogers pediu segredo. Você estava fraca demais. Precisava se recuperar primeiro.

— Eu não acredito! Por que esconderam isso de mim e falaram sobre o Ed? — disse alto, soluçando entre as lágrimas.

— Porque você não parava de chamar por ele. Era impossível esconder isso de você.

— Doutor, eu vou voltar a andar, não vou? Eu sobrevivi, sou forte! Eu vou me recuperar, não é?

— As tecnologias estão cada vez mais avançadas, Srta. Hartley. A Nexus trabalha com várias próteses, tratamentos regenerativos… Creio que um dia encontrarão algum tratamento eficaz para ajudá-la. Mas, por enquanto, não há nada que possamos fazer.

 

Robin escondeu o rosto entre as mãos, chorando alto. Todos os seus sonhos, seus planos para o futuro, estariam presos, assim como ela, em uma cadeira de rodas. Questionava em seu íntimo qual foi seu pecado para estar passando por tudo aquilo. Não era justo!

“Se ao menos Edwin estivesse aqui, do meu lado”, pensou, sentindo-se cada vez mais vazia e sozinha.

Foi quando o sonho que tivera antes de acordar do coma veio à sua mente, fazendo-a chorar ainda mais. Ela não estava sozinha nem vazia. Ele sempre estaria com ela. Ele prometeu.

Layla abraçou a irmã, beijando sua testa em seguida. Vê-la daquele jeito cortava-lhe o coração.

 

— Temos uma boa notícia, Robin. Em duas semanas, se os exames estiverem okay, você pode ir para casa.

— Tem certeza que é boa? — Ela riu, secando o rosto. — Soa mais como uma má notícia.

— Poderia ser pior. Alguns meses, alguns anos… Quem pode dizer? — O Dr. Rogers brincou, caminhando em direção a porta. — Não vou descansar até vê-la de pé, Srta. Hartley, mesmo que isso demore. Eu prometo.

— Obrigada. — Foi tudo o que disse, antes de vê-lo sair.

 

Essas duas semanas poderiam ser pouco tempo, mas pareciam assustadoramente longas e intermináveis para Robin.

Seu tédio era incurável, assim como sua paralisia. A única coisa que conseguia distrair a (im)paciente, eram as visitas de sua amiga, Courtney, que não a deixava chorar, se não fosse de rir.

Quando finalmente chegou o dia da alta, uma onda de ansiedade tomou a garota, deixando-a inquieta. Com o olhar perdido, Robin tentava se lembrar de algum momento em que sua vida estivesse tão destruída quanto aquele. Tudo o que se lembrava era apenas momentos felizes em que corria atrás de seus sonhos. Agora, não poderia correr para lugar nenhum.

Tudo isso fugiu de sua mente quando o som de batidas na porta assustou-a, fazendo seu coração disparar. Autorizou a entrada, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

 

— Boa noite, Srta. Hartley. — Uma jovem mulher, trajando um macacão com uma estrela de oito pontas no peito esquerdo, entrou no local. — Meu nome é Hope Young e eu sou uma agente da Nexus. — Mostrou o distintivo. — Posso te fazer algumas perguntas?

— Claro. A enfermeira avisou que alguém viria. — Sorriu fraco, desviando o olhar.

— Bem, Srta. Hartley, antes de qualquer coisa, eu gostaria de saber do que você se lembra do acidente.

— Tudo! — Respirou fundo, tentando manter a calma. — Ed foi demitido e eu estava de férias, então resolvemos passear na Holanda e torrar cada centavo que ele recebeu. — Ela riu fraco, já com os olhos marejados. — Estávamos no parque e tudo parecia tão normal. Foi de repente. Algumas explosões bem atrás de nós. Nos escondemos e vimos dois daqueles Neo-Humanos, sabe. As pessoas com poderes. — Esperou a mulher assentir e prosseguiu. — Eles continuaram lutando e discutindo. A mulher, ela parecia tentar deter o homem, mas ele... Foi quando ela... — Por mais que tentasse, as palavras não saíam de sua garganta. — Ela explodiu — sussurrou, sem segurar as lágrimas. —, o Ed se jogou em cima de mim. Ele me salvou, mas eu não pude fazer nada para salvá-lo também. Por favor, agente Young, prendam esse homem. Eu sei que a Nexus faz esse tipo de coisa. Só faça ele pagar por tirar o Edwin de mim!

— Nós vamos fazer isso, Srta. Hartley, tem a minha palavra. E eu sinto muito pela sua perda, de verdade. — Hope assentiu, enquanto pegava um pequeno bloco de anotações. — Agora, eu preciso que você me dê uma descrição do Neo-Humano que fugiu. Ele foi esperto o suficiente para destruir as câmeras de vigilância pelo caminho.

— Eu estava longe, não o enxerguei muito bem, mas era alto, muito magro, cabelos escuros e estava sujo, como se acabasse de sair de um incêndio. Pelas roupas, creio que se trata de um médico ou cientista. — Assentiu, antes de fitar a mulher. — A heroína o chamou de Kaboom.

— Esses Neo-Humanos de hoje em dia — balançou a cabeça, negativamente —, cada vez mais loucos. — Suspirou. — Seria mais fácil chamá-lo de Michael Boom.

Michael Boom? — Franziu as sobrancelhas, inclinando a cabeça levemente.

— Na verdade é Michael Bay — corrigiu, rindo baixo. — Ele é um diretor de cinema que adora explodir coisas, por isso o Boom em seu nome.

— Entendi. — Ela riu fraco, abaixando a cabeça. — Pena que esse Boom não explode coisas de mentira. Ele mata e matou meu melhor amigo. O homem que eu mais amei. Desculpa. — Cobriu o rosto com as mãos, começando a chorar.

— Sinto muito, Srta. Hartley. — Hope assentiu, segurando em sua mão e a acariciando com o polegar. — Mas eu lhe prometo que a Nexus vai fazer ele pagar pelo que fez.

— Obrigada. — Robin esboçou um sorriso, se controlando. — Posso ser útil em mais alguma coisa?

— Não no momento. — Ela sorriu, se levantando. — Cuide-se, Srta. Hartley. — Hope sorriu, antes de anotar um número em um folha do seu bloco de notas e a entregar para a Robin. — Não pense duas vezes antes de me ligar caso algo aconteça.

— Vou ligar sim. Obrigada. — Cumprimentou a agente e sorriu, vendo-a sair.

Sentiu-se aliviada, de certa forma, pois sabia que seu amigo seria vingado.

 

~*~

 

O caminho de volta para casa foi animado, graças a sua amiga, que conduziu o veículo pelas ruas de Franklin. A garota gorducha e branquinha, olhos castanhos e cabelos abaixo dos ombros, tão negros, que contrastavam com sua pele, era dona de um sorriso contagiante, daqueles que fazem até estranhos na rua sorrirem.

Durante o caminho todo, ouviram o novo álbum do cantor britânico, Oliver Morgan, conhecido mundialmente com suas músicas de tirar suspiros até dos mais fechados. Robin quase gritou quando uma das faixas se iniciou em um belo cover de Give Me Love, de Ed Sheeran. Perguntou-se o quanto Edwin iria gostar daquelas músicas.

Ao chegar em casa, uma onda de ansiedade causou náuseas na garota, que precisou de toda ajuda para sair do carro e sentar-se na cadeira de rodas.

Ela observou, com certo desconforto, os vizinhos lançando-lhe olhares de pena e compaixão, enquanto fingiam ter algo importante para fazer ali no quintal àquelas horas da noite. Courtney apenas mostrou o dedo médio para eles, carregando a amiga para dentro da casa.

Na entrada da sala, ela já pôde ver seu avô, sentado em sua poltrona amarela, lendo uma antiga edição de histórias em quadrinhos. Ele olhou por sobre os óculos redondos e de armação fina, antes de sorrir para ela, levantando-se, já com certa dificuldade, embora a idade não lhe afetasse tanto como era esperado de um senhor de setenta e quatro anos, e sedentário assumido.

Conversaram um pouco e deram risada, já que era impossível alguém ficar triste na companhia do vovô Hartley e de Courtney. Eram dois palhaços sem maquiagem.

Mais algum tempo depois, a garota se despediu e voltou para sua casa, já que o trabalho como camareira do Hotel Stardust, o primeiro e único cinco estrelas do pequeno condado de Franklin, onde Robin também costumava trabalhar, estaria esperando-a pela manhã.

 

— Melhore logo ou o Senador não vai mais voltar para Malone! — Courtney provocou, bagunçando os cabelos de Robin, antes de ir até a porta.

— Não viaja! O velho só gosta dos meus serviços, não de mim! — protestou, cruzando os braços.

— Só resta saber quais serviços. — Ela ergueu uma sobrancelha e saiu rápido, antes que uma almofada voadora lhe atingisse.

 

Os Hartley conversaram mais um pouco até que Layla levou a irmã mais velha para o quarto. Muita coisa estava mudada, já que o vovô fez questão de adaptar a casa toda para as novas necessidades da neta, embora algumas coisas não tivessem sido tocadas, como a antiga penteadeira que pertenceu à sua avó, Stella. O móvel de mogno bem conservado tinha um espelho grande e oval fixado em um suporte, onde algumas fotos estavam coladas ao redor. Sobre ela, diversos produtos de beleza e uma caixinha de papelão bem lacrada, que chamou a atenção de Robin.

 

— O que é isso?

— Bem, isso são os pertences encontrados no local da explosão. — Layla suspirou, pegando a caixinha. — A Sra. Ferris não quis ver o que tem aí e mandou para você. Mas não precisa ver isso. Não agora, quer dizer, acho que está tudo muito recente. — A garota de cabelos castanhos claro e cacheados encolheu os ombros, abaixando a cabeça.

— Está tudo bem, Layla. Eu vou ficar bem. Só… me deixa um pouco sozinha? — Sorriu, tomando a caixa em suas mãos.

— Quer ajuda para deitar?

— Depois. Obrigada, maninha. Eu amo você!

— Eu também te amo, Robin. — Beijou a testa dela e saiu, como a irmã havia pedido.

 

Robin suspirou antes de pegar um abridor de cartas e deslacrar a caixa, revelando o que havia lá dentro. A câmera de Erwin, completamente danificada e retorcida. Ela levou a mão até a boca, contendo o som de seu sofrimento, embora as lágrimas deixassem seus olhos com certa velocidade. Pegou o objeto e o apertou junto ao peito, na esperança de que aquilo aliviasse um pouco sua dor, mas nada aliviava. Nada era o suficiente para isso, a não ser que pudesse trazê-lo de volta à vida. Impossível, pensou, secando o rosto e conferindo o cartão de memória da câmera. Não parecia estar danificado e, com sorte, recuperaria as fotos. Só não sabia o quanto isso seria bom ou ruim para ela.

Dentro da caixa havia também os chaveiros que ele deu de presente para ela, durante as viagens que faziam vez ou outra, a moeda da sorte que ela sempre carregava e, agora, já nem acreditava mais. Também tinha um objeto pelo qual nunca havia visto. Um colar fino, com uma pedra violeta envolta em uma rede de prata, assim como o colar. Observou-o com curiosidade e sorriu fraco, imaginando que seria um presente de Edwin, e que estava escondido em algum bolso.

Com certa dificuldade, guiou a cadeira de rodas até o espelho, onde reparou em seu rosto pálido e magro, com olheiras profundas marcando seus olhos.

 

— Eu sou um zumbi. Já posso trabalhar de figurante em The Walking Dead. — Riu baixinho, colocando o colar.

 

Ele realmente combinava com ela. Destacava-se em seu colo, entre os cabelos loiro escuros, que desciam em seus ombros.

Tudo estava normal, até que a pedra começou a brilhar intensamente, forçando-a a fechar os olhos com força. Incandescente, aquecia cada célula do corpo de Robin, embora não a queimasse.

Quando finalmente abriu os olhos, percebeu que a luz não havia se dissipado, mas não interferia em sua visão, embora tudo ao seu redor estivesse ofuscado pelo brilho, tornando o cômodo em um quarto branco e vazio.

 

— Isso deve ser algum tipo de sonho — sua voz ecoou, deixando-a com uma sensação extasiante.

Não, não é! — A voz masculina ecoou ainda mais forte,  fazendo-a a olhar ao redor.

— Quem está aqui?

Não importa quem eu sou. Apenas o que eu quero. Dê-me a pedra.

— Quem está aqui? — insistiu, assustada.

Eu sou seus sonhos, seus pesadelos e a ausência deles. Sou aquele que descansa há muito tempo, mas logo despertará. Dê-me a pedra e não precisará encarar minha fúria, garotinha.

Não escute, Robin. Lute!

— Ed? Você está aqui?

Eu sempre estou, aventureira. Sempre! Esse colar é um presente da Estrela. Cuide dele e volte para a realidade. Agora!

É. Volte, Robin. Volte e esteja alerta. Estarei esperando por você.

 

A garota puxou o ar com força, mas ele não existia em parte alguma. A luz já não estava em todo cômodo, apenas emanando da pedra, de seus olhos, de suas mãos e até das sardas de seu rosto, que pareciam estrelas incrustada em sua pele. Os cabelos flutuavam, coloridos como uma galáxia majestosa. Aliás, tudo em seu quarto flutuava, assim como a própria garota.

Levou a mão até o colar, sentindo o calor e o poder que aquela pedra misteriosa irradiava, roubando a gravidade do cômodo.

Lembrou-se de Athena. Aquele não era um presente de Edwin, era o colar que conferia os poderes àquela mulher.

Puxou-o com força, arrebentando o feixo, então tudo caiu, inclusive ela. O som assustou a todos que correram para ver o que havia acontecido. Encontraram a garota no chão e o quarto revirado, fazendo-os questionar como ela poderia ter feito tudo aquilo.

 

— Robin! O que aconteceu? — Layla correu até ela, erguendo-a com dificuldade para colocá-la na cama.

— Eu não sei — sussurrou, apavorada. — Eu não...

— Querida, descanse. Amanhã nós conversamos sobre isso. — O velhinho sorriu, acariciando a mão dela, que ainda segurava a pedra com força.

— Vovô, eu estou com medo!

— Vai ficar tudo bem, eu prometo. — Dando um beijo suave na bochecha da garota, ele se afastou, chamando Layla também.

 

Quando eles saíram, Robin olhou mais uma vez o colar e se ajeitou nos travesseiros. Foi quando algo impressionante aconteceu. Aos poucos, sentiu a ponta dos dedos dos pés dormentes, e os moveu, com certa dificuldade. Boquiaberta, observou a pedra, questionando se era aquilo que fizera tal coisa em seu corpo.

 

~*~

 

Ruínas de Hierápolis, Grécia

 

Kaboom caminhava devagar pelas ruínas, observando os últimos visitantes saírem do local, rumo aos hotéis de onde nunca deveriam ter saído, segundo ele.

O sol já estava se pondo e as sombras se projetavam no chão, indicando a passagem secreta para o Palácio de Hypnos. Certificando-se de que ninguém estava por ali, entrou na apertada fenda entre as rochas e caiu no hall de entrada, gemendo baixinho.

Levantou-se, limpou a poeira do jaleco imundo e caminhou até uma grande porta dourada, que se abriu com um rangido baixinho, revelando um grandioso salão.

Não havia nada ali, além de uma cama no centro, coberta por um cortinado de rendas negras. Do seu lado direito, vários aparelhos hospitalares, como respiradores e monitores cardíacos. Do lado oposto, uma garota de cabelos brancos como a neve, cortados acima dos ombros, estava sentada em um banquinho, observando o homem deitado ali. Ela usava um vestido preto e longo, lembrando um traje vitoriano. Enfeitando os cabelos, uma faixa da mesma cor do vestido, assim como o enfeite no pescoço.

 

— Hécate, querida. É tão bom vê-la novamente! — Kaboom falou, abrindo os braços ao caminhar até ela.

— Silêncio! — sussurrou, voltando o olhar inexpressivo para ele. — Poupe-me de sua falsidade, Henry.

— Não está mais aqui quem falou, Anastásia! — Revirou os olhos, levando as mãos até a cintura. — Como vão as coisas? Esse dorminhoco não acorda mais não? E o Thanatos já deu sinal de vida? — Riu alto, recebendo um olhar duro da menina.

— Thanatos disse que não fará parte nisso e pediu que continuássemos deixando-o viver em paz. — Ela suspirou, desviando o olhar.

— Você deveria ir com ele, Hécate. É mole demais para essa empreitada.

— Não posso abandonar o Hypnos. Não agora que ele mais precisa de mim! — Levantou-se, encarando o homem.

— Mas abandonou a Athena, pobre Athena. Você é uma irmã muito, muito cruel ao favoritar o Hypnos e deixar os outros se lascando sozinhos. — Kaboom estalou a língua, balançando a cabeça em reprovação.

 

Com um movimento rápido, a garota puxou com o pé, de debaixo da cama, uma foice de lâmina prateada e a ergueu com um chute, girando para pegá-la e encostá-la no pescoço do homem.

 

— Mais uma palavra e será a última antes de sua cabeça rolar pelo chão!

— Calma, Hécatezinha. Calma! — falou com dificuldade, sentindo o fio da foice apertando sua pele. — Isso altera o futuro. Você não quer que isso aconteça, quer? Vai deixar o Belo Adormecido muito furioso!

 

Anastásia encarou o homem por mais alguns instantes, antes de afastar sua foice, fazendo-a cortar o ar, repousando-a ao seu lado em seguida.

 

— Às vezes você me assusta mais do que o Super Boo, sabia?

Quem? — Ela questionou, franzindo o cenho.

— Super Boo! Do Dragon Ball! O que fizeram com os desenhos dignos de antigamente?! — Ergueu as mãos para o alto, assim como o olhar, questionando aos céus.

 

Hécate apenas revirou os olhos e voltou para seu lugar, embora mantivesse sua arma em sua mão. Olhou para o irmão mais velho, envolto nas trevas, e suspirou.  

 

— O futuro não pode ser alterado, por mais que eu quisesse. Saiba que o que está se aproximando não será uma briga de rua. Será uma guerra!

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Meus lindos, o que acharam desse capítulo? Espero que tenham gostado tanto quanto gostaram do prólogo.
Obrigada por ler até aqui e nos vemos em breve.

Quem está curtindo minha escrita, vou deixar o link da minha outra fic do Heroes Legacy. Aposto que vão descobrir alguns mistérios daqui lendo ela.

https://fanfiction.com.br/historia/686114/HL_Pocket_Girl_-_How_Heroes_are_Born/

Beijos da Mini e até o próximo =*



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