Obscuro escrita por Benihime


Capítulo 13
Capítulo 12




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James bateu de leve na porta entreaberta, atento a qualquer ruído suspeito. Um leve movimento foi feito na cama, e em seguida olhos azuis o fitaram de sob os cobertores pesados.

— James?

A voz soou arrastada e exausta, mas ainda era inconfundivelmente a voz de Nia.

— Olá, Nia. — O homem mais velho disse delicadamente, sentando-se na beira da cama. — Vim apenas ver como você está.

— Muito cansada. — Foi a resposta. — James, eu … Preciso pedir um favor.

— Claro. — Ele afastou algumas mechas negras do rosto da jovem, num gesto fraternal. — O que você precisar.

— O Nick me contou que você sabe hipnotizar pessoas. É verdade?

— Sim, é verdade. Aprendi hipnose quando viajei pela Rússia.

Ela o observou de sob os cobertores, seus olhos azuis vivos e brilhantes apesar das olheiras que os decoravam.

— Gostaria que você tentasse comigo.

— É perigoso demais. — James balançou a cabeça em negativa. — Se há mesmo uma entidade do mal nessa casa, isso a deixará ainda mais vulnerável.

— Por favor, James! — Ela fracamente estendeu uma das mãos para agarrar as dele, dirigindo-lhe um olhar suplicante. — Eu quero lembrar do meu passado. Tem … Lacunas em minha memória. Lacunas enormes que eu preciso preencher, mas não vou conseguir sem a sua ajuda.

— Está bem. — James cedeu enfim, gentilmente se soltando da mão que o segurava. — Verei o que pode ser feito. Mas os riscos são grandes, não posso prometer nada.

O rosto pálido e muito magro sob os cobertores relaxou, seus lábios descoloridos se curvaram em um sorriso.

— Obrigada, James.

A última coisa que o homem viu antes de sair do quarto foi a figura magra e pequena sob os cobertores voltando a se enrodilhar na cama. Aquela visão fez seu coração parecer se partir em mil pedaços.

Alguns minutos depois, sentado com Nick na varanda da frente, os dois irmãos se envolveram em um intenso debate sobre a questão.

— Ela pediu pela hipnose, Nick. — James contou. — E está ciente dos riscos.

— Mas Nia disse o motivo de não se lembrar do passado?

— Não, não disse. Ela só insistiu que precisava preencher as lacunas. Parece ser importante para ela.

— Isso é algo que incomoda minha irmã desde sempre. — Cassie informou ao se juntar aos dois com canecas fumegantes de chocolate quente. — Ela acha que, se fizer isso, vai lembrar o motivo pelo qual nossos pais nos abandonaram.

Os dois irmãos trocaram olhares sombrios e o trio ficou em silêncio por alguns minutos.

— Talvez tenha um jeito de fazer isso dar certo. — Nick declarou. — Nós lhe damos calmantes, mas não o suficiente para fazê-la dormir. Isso deve deixá-la suscetível sem torná-la vulnerável demais.

— Por que Nia não pode dormir? — Cassie quis saber.

— Em primeiro lugar, porque isso arruinaria todo o exercício de hipnose. — James respondeu. — E também porque, enquanto acordada, ela ainda pode manter o controle. Se sua irmã estiver dormindo, suas defesas cairão e a entidade maligna que está à espreita poderá tentar uma possessão, talvez assumir completamente.

— E como faremos para dar o calmante a ela?

— Que tal no chocolate quente? — Nick sugeriu. — Aposto que ela nem vai sentir o gosto.

Cassie pensou por um breve momento antes de assentir e se pôr de pé, indo até a cozinha para fazer uma xícara extra de chocolate quente. Meia hora depois, já com todos os preparativos prontos, os três subiram para o quarto de Nia.

— Isso vai mesmo funcionar? — A loira perguntou enquanto subiam as escadas.

— Claro. — James respondeu. — Pelo menos eu espero que sim.

— Mas é seguro? — Cassie insistiu.

— Tudo indica que sim, Cass. Não podemos prever com certeza.

Cassie mordeu o lábio inferior, preocupada.

— Não se preocupe. — Nick disse, dando um tapinha de conforto no ombro da jovem. — Já tomamos as providências caso algo saia errado.

— Tudo bem, então. — A jovem assentiu, já empurrando a porta do quarto de sua irmã. — Vamos acabar logo com isso.

— Cass … — Nia disse, sentando-se devagar na cama. — Meninos. Já está tudo pronto?

— Está, sim. — James respondeu. — Olhe, Nia, vamos precisar lhe dar algo para fazer isso funcionar. Um calmante.

Os olhos muito azuis da jovem se arregalaram de medo.

— Mas … É seguro?

— É sim. — Nick garantiu. — Apenas beba e deixe que nós cuidemos do resto. Inclusive de você. Está bem?

Nia meramente assentiu e aceitou o chocolate quente, tomando pequenos goles da bebida. Não muito tempo se passou antes que James descesse com Nia nos braços. A jovem se encontrava mais dócil do que havia sido em qualquer momento dos últimos dias, apoiada quase imóvel contra o peito do amigo.

A morena foi levada para a sala das quatro poltronas cor de marfim e acomodada em uma delas. Nick rapidamente fez um largo círculo de sal grosso ao redor da jovem.

— Sal grosso prende espíritos do mal. — James explicou ao ver o olhar atônito de Cassie. — O círculo é nossa proteção. Não podemos quebrá-lo sob nenhuma circunstância.

A loira assentiu para indicar que compreendera no exato momento em que Nick terminava o círculo e se acomodava na poltrona livre.

— Quantas câmeras tem nessa sala, Cassie?

— Três, se não me engano.

— Então podemos começar.

James tirou um pêndulo de prata do bolso da jaqueta e começou a balançá-lo na frente do rosto de Nia, cujos olhos foram atraídos pelo movimento do objeto. O hipnotizador disse algo em tom baixo e gutural, uma frase que continuou repetindo por vários minutos até os olhos da morena se fecharem e seu rosto perder toda a expressão.

— Está confortável, Nia? — James inquiriu, recebendo um lânguido aceno positivo em resposta. — Ótimo, então farei algumas perguntas. Tudo bem?

Outro aceno positivo com a cabeça.

— Quantos anos você tem?

— Vinte e cinco. — A voz dela era lenta e suave, sem qualquer traço de emoção.

— Você se lembra de alguma coisa das últimas semanas?

— Lembro … De estar cansada. Tão cansada … O tempo todo …

— Nia, você se lembra de ter beijado o Nick?

— Eu … Sim. Eu vi o vídeo.

— Mas você se lembra de ter feito aquilo? — James insistiu.

— Não.

— Então quem fez aquilo?

— Eu não sei. — A morena suspirou pesadamente, um gesto de cansaço e desalento. — Outra pessoa.

— E essa pessoa está aqui agora?

— Sim. Sempre … Aqui.

— Você permitiria que essa pessoa falasse comigo?

—  Não!

Pela primeira vez os olhos dela se mostraram atentos, brilhantes e enormes de medo.

— E por que não?

— Tenho … Medo. — A voz dela voltou ao tom suave e monocórdio. — Ela … Má.

— Ela?! Então é uma mulher? — Nia fez que sim em resposta. — Como sabe disso, Nia?

— Eu… Simplesmente sei. Posso sentir.

— E você sabe o nome dela?

— Não.

— Prometo que é seguro permitir que ela fale. — James assegurou gentilmente, tomando as mãos da jovem entre as suas. — Você permite, Nia?

Nia o encarou com aqueles olhos opacos por um longo momento, e então suspirou novamente.

— Está bem. — Ela aquiesceu. — Eu permito.

James recomeçou a balançar o pêndulo e dizer as mesmas palavras guturais. Não demorou muito para a atmosfera mudar, ficar mais densa. As feições antes vazias da jovem hipnotizada endureceram e seus olhos adquiriram um brilho de maliciosa astúcia.

— Quem é você?

— Logo você saberá, James. — Ela respondeu num ronronar sedutor. — No momento certo.

James logo percebeu que algo estava errado. A hipnose não funcionara. O ser dentro de Nia assumira completamente o controle.

— Por que Nia? — Cassie inquiriu. — Por que você escolheu minha irmã?

— Que feio, pequena Cassie. — A entidade dentro de Nia provocou com uma risadinha. — Você não devia sentir ciúmes de sua irmã.

— Eu não tenho!

— Ah, tem sim. — A coisa protestou no mesmo tom sedutor. — A vida toda Nia foi uma “luz que brilha”. Você sempre esteve na sombra dela, e isso te incomoda. Te deixa completamente louca.

Nick e James viram Cassie corar e seus olhos lampejarem, prova de que havia alguma verdade, por menor que fosse, naquela acusação. Não haveria raiva se a declaração não houvesse tocado em uma ferida.

— Cale essa boca! — A loira rebateu, quase gritando.
— Admita, Cass, você estava até gostando da possibilidade de Nia ter ficado louca.

— Eu disse … — Cassie rosnou em resposta. — Cale essa boca!

— Sua irmã vem mantendo um segredo, sabia? — A entidade ronronou em resposta, totalmente inabalada. — Uma coisa importante. Ela tem mentido para você desde que chegaram aqui.

— Eu já disse pra calar a merda dessa boca!

Cassie avançou contra o demônio, rápido demais para que pudesse ser impedida, pulando em cima dela e derrubando-a. Imobilizada e presa em um corpo combalido, a entidade lutou como pôde para se libertar, mas a loira não cedeu, estapeando e arranhando com vigor. 

— Cass, sou eu! — Era a voz de Nia, ligeiramente aguda no esforço de se fazer ouvir, cheia de dor, porém alerta. Em total controle. — Pode me soltar agora.

Cassie parou de bater na irmã, mas a manteve imobilizada, encarando-a com desconfiança.

— Prove.

— Seu primeiro beijo. — Os lábios de Nia se ergueram em um sorriso brincalhão. — Não, não acho que eu deva falar sobre isso agora. A menos que você não se importe que Nick e James saibam, claro.

— Não! — Cassie corou e se pôs de pé, estendendo uma das mãos para ajudar sua irmã a fazer o mesmo. — Desculpe, Ni. Eu precisava fazer isso.

— Eu sei. — A morena viu a surpresa nos rostos de todos com suas palavras. — Eu … Perto do final … Consegui assumir o controle. A … Coisa … O demônio ou seja lá o que for … Queria ferir você. Eu sabia que tinha que impedi-la..

— Como você conseguiu fazer isso, Nia? — James quis saber.

— Eu sei lá. — Nia deu de ombros, parecendo ainda mais pálida e exausta do que antes. — Eu só … Não podia deixar aquela coisa machucar a minha irmã. Foi isso que me deu forças para lutar contra ela.

— E como se sente agora? — Nick inquiriu.

— Muito melhor. — A jovem abriu um sorriso brilhante em resposta. — Eu me sinto … Quase normal de novo. Me sinto eu mesma.

Nick e James se entreolharam, surpresos. Nia suplantara o demônio. Ela tivera forças para lutar. Aquilo definitivamente não era normal, não em um ser humano comum.


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