A Lista da Redenção escrita por Gab


Capítulo 3
Sofia — Submersa


Notas iniciais do capítulo

Faz muito tempo que não posto nada dessa história, me desculpem. Maaaas resolvi voltar! Deixo aqui a música que tem no capítulo.
https://youtu.be/RFtRq6t3jOo



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Chego em casa e fico refletindo em como poderíamos realizar todos os itens. É algo realmente motivador, pensar que temos todos esses objetivos durante o ano. Claro, existem outros pontos importantes na vida de uma adolescente do ensino médio, mas acredito que o que realmente anima é aproveitar o momento. Acredito que isso vai me distrair de tudo que ando passando…

Antes de começar o ano, meu pai saiu de casa e deixou minha mãe sozinha comigo. Acredito que foi algo positivo, uma vez que com ele aqui, existia muita agressão. Ele não tinha limites, na verdade, nunca chegou a conhecê-los. Mas mesmo depois do livramento que tivemos, ficamos com os efeitos colaterais. A casa sempre está uma bagunça, não temos ânimo para levantar e seguir adiante depois de tudo… por isso, me animei com a ideia de me redimir, de me livrar desse peso que é existir. 

—  Como foi o primeiro dia, meu amor?

—  Ah, foi bom, mãe —  respondo.

—  Seus amigos te esperaram com a “surpresa” de sempre?

—  Sim, esse ano variaram um pouco, em vez de bolo compraram coxinhas.

—  Coxinhas? Haha, que engraçado celebrar com coxinhas. Está com fome?

—  Um pouco só.

—  Pode almoçar, comprei comida pra gente.

— Obrigada, mãe.

 

*

 

Estive pensando no que poderíamos colocar como o décimo primeiro item, mas nada vinha em mente. Acredito que esse seria um muito especial para se realizar, já que seria o último da lista. É algo difícil de elaborar, por isso precisava estar com os meus amigos para conseguir fazer. Decido mandar uma mensagem para Lucas para saber se poderíamos sair junto de Pedro e Alice. 

 

Oi, amigo. Tudo bem?

Olá, tudo bem sim

E você? Tô aqui no Pedro, quer vir aqui?

Beleza, acho que vou sim

Na vdd, eu ia falar pra gente sair mesmo haha

Só tá vocês dois?

Ah, sim

Que bom, então venha 

Sim, só nós dois

 

Depois de mandar as mensagens, fui me arrumar para encontrar com eles e aproveitar o resto do meu dia de aniversariante. Paro diante do guarda-roupa e dou uma boa olhada, mas como de costume, pego a mesma camiseta e calça que uso toda vez que vou sair. Pego o fone e lembro de convidar Alice. 

 

Amigo, você manda mensagem chamando a Alice?

Eu vou pegar o ônibus e não vai dar tempo de mandar 

Vou ficar sem internet

Ah, sim, pode deixar que eu mando sim 

Até depois

 

Pego o ônibus e vou admirando toda as partes do trajeto. Observo cada ser que está do outro lado do vidro do ônibus, e por alguns segundos, tomo conhecimento de sua existência. Imagino quais são suas felicidades, suas dificuldades, suas fraquezas. Estão todos vivendo do seu jeito, com seus problemas, suas expectativas e desejos. Pensar em todas essas particularidades dos desconhecidos é algo bem assustador. Nós sempre pensamos nos próprios sofrimentos, que acabamos esquecendo que cada ser é subjetivo, cada um tem com o que se preocupar, com que pensar e agir. Mas também não é justo que muitos estejam aliviados de desgraças enquanto outros sofrem tanto. Acho que viver é uma questão de saber equilibrar os próprios sofrimentos com os das outras pessoas.

Por isso, agora, eu tento ficar mais leve, mesmo com o caos ao meu redor. Eu vivo os meus pesadelos sabendo que não sou a única. Eu tento melhorar por mim e por minha mãe. Acredito que a partir de agora, depois de voltar as aulas e finalmente estar em contato com os meus amigos, eu consiga esquecer de tudo que passou. Esquecer do passado retrógrado que me impedia de ser feliz.

Desço do ônibus e caminho até chegar na casa de Pedro. Não era muito longe do ponto em que parei, mas tinha uma distância o suficiente para escutar uma música. Coloco meus fones de ouvido e ligo a música movies da Weyes Blood. Eu sempre precisava andar escutando música, assim me ajudava refletir e me sentir viva. Ainda com a música certa, e ajuda do vento, poderia facilmente me imaginar num clipe. Com essa música eu me sentia submersa, como se eu fosse leve e nadasse livremente num oceano de possibilidades. E assim como a letra, eu sentia como se pudesse ser minha própria estrela, porque era o que eu mais queria...

Paro na frente do portão da casa de Pedro e grito para que eu alguém finalmente me receba. Quando vejo na esquina, Alice, que também está prestes a chegar. No mesmo momento, Pedro e Lucas saem da porta. 

— Olha só, chegaram juntas. — diz Lucas abrindo o portão. 

— Sim, deu muito certo de chegarmos juntinhas.

— Quem sabe estávamos juntas sem contar pra ninguém, assim como vocês estavam. — Digo com sarcasmo. — o que vocês estavam fazendo antes da gente vir pra cá?

— Ah… nada, na verdade… só jogando conversa fora e tentando achar algo realmente bom para o item onze da lista. — disse Pedro totalmente constrangido.

— Pois é, é isso mesmo que estávamos fazendo. Mas não concordamos em nada. — disse Lucas com semelhante desconcerto.

— Muito bem, mas agora estamos aqui para decidir isso, então. — disse ignorando o constrangimento. — então vamos entrar?

— Claro, entrem!

A casa de Pedro era muito grande, é por isso que sempre quando vão fazer uma festa, automaticamente pensam nele. Quando entramos, eu me perguntei onde será que os pais dele estavam. Acho que esse receio de saber disso é pelo fato que na minha casa eu não costumava receber muitas pessoas, por causa do meu pai. Agora eu penso que é mais fácil, pois somente vivo com minha mãe, mas quando ele estava presente era totalmente assustador receber qualquer amigo. Ele nunca tratou bem meus convidados, Lucas foi prova viva disso. Tentei por vezes levá-lo para passarmos a tarde conversando, mas meu pai sempre foi ríspido, ignorante e soltava comentários bestas que me fazia desistir de ficar em casa.

— Onde estão seus pais, Pedro?

— Ah, eles estão no trabalho, mas nem se preocupem que eles sabem que vocês estão aqui. Tá tudo bem. — disse Pedro sorrindo. 

— Ufa, que bom. Você sabe que me preocupo muito com isso. Obrigado por avisar eles. — digo sentando no sofá da sala.

— Bom, então vamos pensar no número onze e também, organizar os outros itens da lista. — disse Alice tirando uma sacola da sua mochila. — eu tive a liberdade de passar na farmácia e comprar essas tintas de cabelo pra gente.

— Alice? Você que parecia desanimada com os itens, agora está toda empolgada comprando as tintas para o primeiro da lista.

— Sim, Sofia, eu tava meio em choque com algumas das tarefas, mas agora eu estou animada. Bom, pelo menos para o primeiro, porque eu já tinha vontade de pintar meu cabelo. — sentando no chão para procurar com mais conforto.

— Ai, eu tô um pouco em dúvida do que eu faço. Eu nem falei com os meus pais ainda sobre pintar o cabelo. — disse Lucas um pouco preocupado. 

— Eu acho que os meus ficarão de boa, mas acredito que os seus também não vão reclamar, Lucas. — disse Pedro. 

— A minha não vai ligar muito, mas o que eu quero saber é como vamos pintar? Nós mesmos vamos arriscar? — digo.

— Acredito que sim. Não é muito difícil, eu já pintei o da minha irmã. — disse Alice remexendo a sacola. — eu só preciso encontrar o descolorante. 

— Espera, não podemos fazer isso hoje. — disse Lucas — eu preciso de um tempo para me acostumar.

— Calma, Lucas. Vai ficar tudo bem. — diz Pedro.

— Sim, aposto que vai ficar muito bom o seu cabelo enrolado com um lindo tom de rosa. — diz Alice, agora, remexendo a mochila.

Com um sorriso amarelo, ele agradece Pedro e Alice. Eu realmente preciso entender qual era o problema que Lucas anda tão preocupado. Eu costumo falar tudo para ele, mas não é tão comum ele se abrir do mesmo modo comigo. Eu sei que cada um é do seu jeito e eu não devo cobrar que ele seja diferente, pois todos tem seu tempo para conseguir expressar os seus demônios. Mas eu confesso que gostaria que ele conseguisse logo.

— Poxa, acho que não vai dar pra pintar hoje. — disse Alice, finalmente desistindo de procurar. — Acho que não comprei o descolorante. Podia jurar que havia pegado, mas pelo jeito não passei no caixa. 

— Poxa, que tristeza. — diz Lucas com alívio. 

— Mas não comemore já, pois vamos fazer isso nesse sábado então. — digo. — e podem deixar que eu mesma compro o descolorante. 

— Isso, eu posso deixar aqui as cores e sábado nos reunimos de novo para finalmente pintarmos.

— Podem deixar, eu guardo aqui e aviso meus pais que sábado vocês vêm aqui de novo. — diz Pedro.

— Acho que podemos nos decidir sobre o número onze com mais calma, no sábado. — digo agora levantando. — porque agora queria passar um tempo junto com vocês, eu estava com muitas saudades de vocês.

Comemorei meu décimo sétimo aniversário em boas mãos. Abraço todos em coletividade e sinto na pele o que é estar submersa de possibilidades. Me lotei de chances de construir memórias e conseguir fazer com que os momentos desse ano sejam só mais um dos que vamos recordar quando estivermos juntos novamente. Passamos o dia inteiro conversando, jogando vídeo games e fazendo vídeos bestas no instagram. Foi um dia perfeito, um dos vários que lembrarei com tanto carinho. 

Mas quando chego em casa, recebo uma mensagem de Lucas. 

 

Amiga, preciso te contar uma coisa.


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