Sonâmbulos escrita por Black Wolf


Capítulo 14
Marta




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Thiago acordou com Júlia chutando-o para fora da cama em um de seus sonhos muito vívidos. Se perguntou se também se mexia durante a noite, mas suas noites vinham sido tão tranquilas que ele duvidava. Acordou no final da tarde e se dirigiu a cozinha para ver se encontrava alguma coisa para mastigar. Depois de comer um sanduíche sentou-se em frente ao computador mais uma vez e recomeçou sua navegação pelo submundo da internet. Júlia acordou cerca de trinta minutos depois e saiu do quarto com seus cabelos mais bagunçados e suas olheiras menos fundas.

— Você vai vir com a gente hoje de noite certo? – Disse Júlia entre um bocejo longo e cheio de dentes.

— Hoje de noite? O que tem hoje de noite? – Thiago andara tão ocupado com as últimas eventualidades que não tivera tempo para checar a sua agenda social, mas realmente tinha a impressão de que estava perdendo algo importante.

— O churrasco do papai! Não acredito que você esqueceu, eu te pedi mil vezes para não marcar algo no dia, vai ser terrível. – O tom de desapontamento na voz de Júlia era evidente e até cortante, mesmo que Thiago não fosse culpado.

— Eu não marquei nada, juro, só havia esquecido. Mas eu vou com você sim, não posso te deixar enfrentar os carnistas sozinha. – Thiago e Júlia tinha se tornado vegetarianos graças a Manu, era uma das muitas coisas boas que ela trouxera para a vida dos dois. As outras infelizmente não eram tão recorrentemente lembradas.

Mais tarde subiram os dois para o terraço do prédio, onde ficava o salão de festas e a churrasqueira onde seu pai iria dar uma festa para comemorar dois anos de namoro com a madrasta de Júlia. Marta era uma mulher alta alguns anos mais velha do que o pai de Júlia, tinha um princípio de cabelos grisalhos que tentava esconder com tinta preta e algumas rugas que tentava esconder com botox. Ela abraçava Otávio pelos ombros e ele abraçava sua cintura, seu riso era tão alto quanto ela, e aumentava cada vez mais conforme consumia mais e mais álcool. Thiago e Júlia passaram a noite ouvindo piadas de mau gosto e se esquivando de todas as tentativas de fraudarem com suas dietas vegetarianas. Acabaram por comer apenas arroz e pão com alho e sequer lhe foi oferecido uma lata de cerveja para amenizar todo aquele suor de pessoas cansadas de suas vidas rotineiras que afogavam suas memórias e atitudes na garrafa mais próxima.

Julia insistira para que ficassem até o final, pois tinha o intuito de conversar com Marta, se tornarem mais próximas, ela queria facilitar a relação da madrasta com o seu pai, exatamente ao contrário do que ele tinha feito quando soubera dela e Manu, talvez assim fosse mais fácil dele conseguir entender e aceita-la. A noite corria a dentro quando Marta e Júlia finalmente sentaram na mesma mesa para conversar, seu pai estava junto, ambos mais bêbados do que sóbrios, e falavam poucas coisas entre os beijos acalorados que trocavam. O assunto girava em torno do novo emprego de Marta, ela fora contratada por uma grande empresa multinacional para secretariar para o CEO, se gabava dos contatos que a fizeram chegar lá, e de como estar ao lado de pessoas tão grande como aquelas fortalecia sua gama de conhecimentos.

— Eu nem deveria estar falando esse tipo de coisa, mas recentemente a empresa foi atacada por um bando de hackers, eu fiquei sabendo. Aquelas pessoas que entram na internet e mexem em tudo que tá online sabe? A informação foi mantida em segredo, mas eu como Secretária Chefe posso ouvir por trás das portas das reuniões importantes. Hihihi –Disse Marta toda contente mais graças ao álcool do que à possibilidade de ouvir conversas por trás de portas. – Agora eles estão caçando na rede esses tais de Somânicos..., Semânticos..., Sonâmbulos! Esse era o nome.

Ao ouvir a palavra Sonâmbulos Júlia e Thiago se olharam instantaneamente e trocaram palavras mudas em segredo, Júlia tomou a frente da situação.

— Que incrível Marta, e você sabe se eles já descobriram alguma coisa sobre esse tal grupo? Eles parecem perigosos.

— Tudo que sei é que foram atrás deles, não consegui capturar mais nenhuma informação, - e por capturar ela quis dizer bisbilhotar – mas como eu disse não deveria estar falando isso, posso estar colocando meu novo emprego em risco hahaha. É a bebida falando, me cale, Otávio! – E os dois voltaram a se beijar e não tocaram mais em tópicos que envolvessem o emprego de Marta, por mais que Julia e Thiago tenham a incentivado o resto da noite.

Depois do churrasco Júlia foi obrigada pelo pai a ir direto para casa, mesmo querendo passar no apartamento de Thiago antes para discutir essa nova informação que lhes caiu de bandeja no colo. Então Thiago se encontrava agora sozinho na sua sala, com o telefone na mão, tentando ligar para Ana novamente, depois e oito vezes. Era tarde, ele sabia, mas não podia se controlar e sabia que essa poderia ser uma informação importante se fosse usada no tempo certo, as coisas costumavam desaparecer da rede com frequência. Uma busca de dados apagados seria muito mais complicada de ser realizada (Thiago andara estudando bastante a Deep Web em seu tempo livre). No quarto toque da décima segunda chamada Ana atendeu.

— Thiago, você tem noção de que horas são? Está no meio da madrugada e você milhares de chamadas suas aqui. O que está acontecendo?

— Graças a Deus você atendeu esse telefone, me desculpe pelo horário. Me escute, eu tenho uma informação importante sobre meus pais, sobre Sonâmbulos!

— Espero que seja realmente importante, eu estava querendo descansar agora, mas me conte, eu não tenho compromisso para amanhã mesmo, posso me estender um pouco mais.

E Thiago contou a Ana o máximo de detalhes que pôde sobre a empresa onde Marta trabalhava, entre outras perguntas que Ana lhe fez que pudessem ajudar ela a obter informações deles.

— Acho que isso é o bastante para eu começar, obrigado, Thiago, vai ser de grande ajuda mesmo.

— Então você vai invadir o sistema deles para pegar as informações para si mesma e achar meus pais?

— Eu poderia fazê-lo, mas tenho certeza de que não será preciso.

— Como assim? – Thiago parecia confuso, depois de toda aquela animação, Ana não faria nada?!

— Você não conhece a Sonâmbulos, meu filho, se eles estão tentando causar problemas para essa empresa assim como você me diz que estão, eles não vão parar até que ela esteja destruída. – A voz de Ana era séria, firme, experiente. – Ainda veremos eles em ação, então precisamos apenas monitorar a empresa, e quando chegar a hora, nós teremos mais algumas respostas. – O silêncio do outro lado da linha pareceu a deixa perfeita para Ana. – Então agora vá dormir, está tarde e você tem aula amanhã, eu sei. Eu vou trabalhar nas informações que você me forneceu, obrigada.

O telefone foi desligado na cara de Thiago, que não teve tempo nem de argumentar, muito menos de se despedir. Anúbis circundou seus pés e miou por mais comida, Thiago encheu sua tigela de ação e trocou sua água. Se perguntara como dormiria aquela noite, com o furacão de pensamentos que tomavam sua mente. Deitou-se então na cama, olhou para o teto e fechou seus olhos. A escuridão da noite era bem mais reconfortante que a escuridão das dúvidas.


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