Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 28
Capítulo 26 – Live and Let Die (Parte II).


Notas iniciais do capítulo

PARABÉNS PRA VOCÊ, NESSA DATA QUERIDAAAAA ♪♫ ~emoji de aplausos~ VIVA A CLAIRE (VIVA!), PRA ELA NADAAAA (TUDO!), E COMO É QUE É? É BRIGA, É TRETA, É DOR É DOR É DOR, NO GREY-SLOAN! Eeeeeeee
Okay, vou me recompor. Como prometido, aqui estou eu postando a parte 2 desse capítulo, em comemoração ao aniversário dessa queridíssima fanfic! Há 1 ano atrás, eu decidi compartilhar com vocês meus devaneios. A ideia para essa história veio meio do nada, e eu relutei para começar a escrever, afinal seria sobre medicina, e eu não sei absolutamente nada sobre o assunto, então seria muito trabalhoso ficar pesquisando kkkkk mas recebi alguns incentivos, e decidi não deixar essa ideia simplesmente ser mais uma engavetada, e os enredos e personagens vieram naturalmente, nem precisei me esforçar tanto. De repente tudo se encaixou, e pareceu um desperdício não pôr no papel e compartilhar com o "mundo". E aqui estamos nós, 1 ano depois! Quanta coisa já aconteceu com nossos personagens, hein? Como eles mudaram desde o primeiro capítulo... E eu só tenho que agradecer a todos vocês, que leem e me inspiram a escrever cada vez mais. Nem todos comentam, mas contribuindo com suas leituras, já é um grande presente! Queria deixar meu agradecimento especial a quem comenta, e mais ainda às duas pessoas que recomendaram a fic. Nunca imaginei que conseguiria atingir as 3452 leituras, 66 comentários, 37 acompanhamentos, 13 favoritos e 2 recomendações. Eu sei que para muitos pode parecer flop, mas para mim é uma grande vitória, e cada número que aumenta me faz mais feliz. Obrigada por tudoooo!
Enfim, já falei demais. Essa é a segunda e última parte do capítulo, espero que gostem! a música é a mesma de ontem, link: https://www.youtube.com/watch?v=6D9vAItORgE.
Para quem leu tudo até aqui, parabéns. Boa leitura!



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— Okay, antes de revelar quem foi o escolhido, gostaria de dizer que eu avaliei cada um, e alguns de vocês já foram eliminados logo de cara. Não vou dizer porquê, mas os critérios foram como vocês se relacionaram com o paciente, e sua atividade como médicos, do ponto de vista dos próprios pacientes. Então reflitam um pouco sobre como agiram hoje. Depois terei que conversar com alguns, mas isso será num outro dia. – expliquei, alternando olhares entre eles. Notei que alguns já retraíram-se um pouco, provavelmente perdendo as esperanças – Depois de muito pensar, eu decidi que a melhor de vocês hoje foi a Sud. Os outros, podem refletir o que fizeram de errado, e estão dispensados por hoje. Se quiserem, podem também assistir à cirurgia da galeria, mas eu recomendo que vão logo, porque aquilo vai lotar. Vejo vocês amanhã. Sud, pode vir comigo. – finalmente revelei, e os três bufaram, enquanto Daniel apenas me encarava com ódio.

Adentrei o quarto com a interna, que estava radiante, e nem tentava disfarçar esse fato. Encontramos Callie conversando alguma coisa com Derek, que já estava vestido para a operação.

— Hey, preparem-no para a cirurgia. Eu volto já. – ordenou a ortopedista, antes de deixar o quarto.

— Boa tarde, Dr. Shepherd. Você já conhece o procedimento, então vamos lá. – sorri e aproximei-me dele, começando a prepara-lo.

—-

Estávamos lavando as mãos, enquanto encarávamos Derek através do vidro. A tensão no ar era palpável, pois aquela seria uma cirurgia decisiva para o médico que seria operado. Ele poderia voltar a operar e salvar vidas com seu brilhantismo, ou poderia perder a capacidade até mesmo de escrever.

Sud parecia realmente feliz por estar ali, enquanto Callie aparentava estar um pouco insegura. Eu não tirava sua razão, mas confiava na cirurgiã. Estava imaginando-me em seu lugar, e se eu teria coragem de prosseguir com a cirurgia. Até eu chegar onde ela estava, eu amadureceria muito, então talvez mudasse de ideia até lá. Mas naquele momento, só de pensar eu me tremia toda.

— Está na hora. – falou Torres, acabando de enxaguar as mãos.

— Está na hora. – concordei, respirando fundo. Enxaguei minhas mãos também e segui a cirurgiã para dentro da SO, assim como minha interna.

Colocaram nossas luvas, ajudaram-nos a vestir as roupas cirúrgicas, e nós três nos aproximamos da mesa, onde Derek ainda estava acordado.

— Derek, eu... – a mulher começou a falar, mas o homem a interrompeu.

— Você consegue. Eu acredito em você. – disse, calmamente. Mesmo com a máscara cobrindo seus rostos, eu deduzi que ambos sorriram, e Callie fez um sinal para o anestesista, que começou a aplicar a anestesia.

— Vejo você depois da cirurgia. – segurou na mão dele, enquanto o mesmo apagava – Okay, vamos começar. – afirmou, sentando-se de frente para onde a mão do homem estava esticada. Sentei-me na cadeira à sua frente, enquanto Sud ficou em pé, perto de nós duas.

— É um belo dia para salvar vidas. – sorri fraco, depois de fazer minha oração de sempre.

— Essa não pode faltar. – riu levemente, mas logo retomou a pose séria – Bisturi. – estendeu a mão para receber o objeto, e logo começamos a operar.

Depois de nem sei quanto tempo operando juntas, finalmente chegou o grande momento. Era hora de colocar o enxerto. Nos entreolhamos e depois Torres olhou para a galeria, onde Meredith assistia a tudo. As médicas sorriram uma para a outra, e a ortopedista voltou sua atenção à mão do paciente.

— Enxerto, por favor. – pediu, encarando a mão aberta.

— Sim, senhora. – a enfermeira aproximou um pote de aço com um pouco de água, onde o enxerto boiava. Callie então pegou-o com a pinça e analisou-o.

— Perfeito. Isto parece... perfeito. – riu-se, provavelmente tentando disfarçar o nervoso.

De repente, Karev adentrou a sala rapidamente, com um ar preocupado.

— É Arizona. Houve um problema. – afirmou, fazendo a cirurgiã à minha frente arregalar os olhos.

Entreolhei os dois, engolindo em seco. Aquilo poderia arruinar totalmente a cirurgia, que estava caminhando tão bem. E isso era preocupante.

— O quê? – questionou a mulher, paralisada.

— Ela está parando. – respondeu o rapaz, parecendo nervoso.

— Parando? – indagou Torres, incrédula.

— A temperatura é de 40 graus e o lactato está em 6. Ela está em choque séptico. – explicou Alex, apressadamente.

— Cale a boca, cale a boca. – ordenou, ficando confusa – Você deu vasoconstritores?

— Sim, e antibióticos triplos, fui agressivo nos fluídos...

— Deu oxigênio suplementar?

— Eu a entubei. Ela está parando!

— Você deu... – procurou algum antídoto, perturbada – ...hidrocortisona?

— Sim.

— Vasoconstritores?

— Eu já disse que sim! – rebateu, impaciente – Ouça, ela ainda está se deteriorando. Ela está morrendo.

A mulher ficou em silêncio por longos segundos, e eu encarei-a, esperando uma reação. Sua esposa estava morrendo, e ela estava com a mão valiosíssima de seu amigo aberta na mesa de cirurgia. Tinha como piorar?

— Torres? – chamei, tentando trazê-la de volta à realidade.

— É a perna. – afirmou com certeza, desolada.

— É a perna. – confirmou o médico.

Callie calou-se por mais um tempo, e pude ver sua respiração descompassada. Ela encarava Karev intensamente, mas estava pensativa. Aquela seria uma decisão extremamente difícil, que teria que ser tomada o mais rápido possível. Fiquei alternando olhares entre os dois, torturando-me por não poder fazer nada. Somente a cirurgiã poderia decidir.

— Corte-a. – finalmente disse, seriamente – Vá, faça o seu trabalho. Faça o melhor.

Alex apenas assentiu e apressou-se para fora, quando de repente Meredith surgiu, adentrando o local com velocidade.

— Callie, o que precisa? O que posso fazer? – questionou, elétrica.

— Nada, estou bem. – respondeu a mulher, negando com a cabeça. Olhei bem para ela, e era mais do que óbvio que ela não estava bem. Contudo, apenas ela poderia fazer aquele serviço. Ergueu o olhar da mão do paciente para o rosto de Grey, que olhava-a com súplica – Estou bem mesmo. – disse com mais certeza, respirando fundo.

— Eu sei. – concordou a loira, com empatia, e deixou a sala.

— Okay. – Torres olhou-me rapidamente e voltou a encarar a mão que estava sendo operada.

Continuamos o resto da operação em silêncio, com um clima que parecia que íamos explodir a qualquer momento. À partir dali, comecei a ficar mais atenta aos movimentos da médica, além de dobrar a atenção nos meus também. E tudo, é claro, sob o olhar minucioso de Meredith Grey, que não arredou o pé da galeria durante toda a cirurgia.

—-

A cirurgia terminou bem, pelo menos na medida do possível. Só saberíamos se realmente funcionara, depois que Shepherd acordasse.

Saí da sala exausta, e mal conversei com Sud, que pareceu estar assustada com tudo. Logo que coloquei o pé para fora da SO, já ouvi a notícia de que Mark Sloan entrara em coma novamente, e que Karev havia realmente amputado a perna de Arizona. Aquele definitivamente havia sido um longo dia, e um dos piores.

Dirigi-me até uma Sala de Descanso novamente, onde joguei-me na parte de baixo de uma das beliches, sem forças para nada. Desde quando minha vida se tornara tão complicada? Parecia que eu nunca teria sossego novamente. Que eu nunca mais seria feliz de verdade. Que eu nunca mais conseguiria deitar minha cabeça no travesseiro sem ter um turbilhão de problemas me assombrando.

E foi aí que lembrei-me de Lexie. A vida dela também não parecia ser muito fácil. Tanto que ela surtou totalmente depois do tiroteio, mais do que eu mesma, que sofri tanto com aquilo. Como ela fazia? Como ela era uma boa professora, mesmo sofrendo tanto? Afinal, lidar com meu grupo não deveria ser fácil. Mas mesmo assim, ela nos treinou tão bem que passamos todos na prova da residência.

Meu coração apertou com o pensamento de que nunca mais a veria. Nunca mais a teria por perto, para pedir conselhos e ter um apoio moral. Nunca mais presenciaria seus momentos constrangedores, como quando ela falava alguma coisa sem pensar, e recebia olhares feios de todos. E com essas coisas na cabeça, senti a primeira lágrima escorrer por meu rosto, assim como outras várias que vieram depois. Apertei o travesseiro contra minha cara, tentando abafar o som de meus soluços, que saíam altos, e eu não os conseguia controlar.

— Desculpe-me. – ouvi uma voz atrás de mim e dei um pulo, virando-me rapidamente para ver quem era. Deparei-me com Darla observando-me com pena, enquanto segurava a maçaneta da porta.

— Tudo bem... – sequei o rosto na manga do jaleco e funguei, tentando disfarçar.

— Você está bem? – perguntou, franzindo o cenho.

— Na verdade, não muito... Mas eu ficarei. – neguei com a cabeça e forcei um sorriso – É só que... minha residente morreu, sabe? Ela foi minha professora, ela que me ensinou quase tudo que eu sei. Não só na parte médica, mas sim coisas da vida, sabe... Como lidar com os pacientes, como lidar com as perdas, como manter a cabeça no lugar... Vocês não tiveram a oportunidade de conhece-la, mas Lexie Grey? Ah, ela era uma das melhores pessoas que poderiam cruzar suas vidas... Ela era engraçada quando podia, e séria quando precisava, ela entendia os nossos problemas, ela tinha empatia, e sem contar que tinha um futuro promissor como uma médica de pôr qualquer um no chinelo. Só de ter memória fotográfica, já a colocava disparada na frente dos outros. Ela salvaria muitas vidas. Se eu for para vocês metade do que ela foi para mim, eu já ganharia a vida. Eu espero tocar as vidas de vocês assim como ela tocou a minha. Ela foi mais que uma professora, ela foi uma das melhores amigas que já tive. Definitivamente vai fazer muita falta... – desabafei, encarando o nada, enquanto lembrava das situações que nos envolvemos. A interna ficou olhando-me calada, provavelmente sem saber o que dizer, e eu finalmente pousei meus olhos sobre ela – Desculpe-me por isso. – ri fraco e sequei as lágrimas novamente – Precisa de alguma coisa?

— Não, eu só estava procurando um lugar para descansar mesmo. – deu de ombros e fez que não com a cabeça – Bom, eu vou indo. Sinto muito por sua perda. – despediu-se com uma expressão triste e fechou a porta depois de sair.

Suspirei e joguei-me para trás, deixando minhas costas chocarem-se com o colchão. Fechei os olhos e tentei dormir, inutilmente. Decidi levantar-me e procurar outro lugar para ficar, até que lembrei-me de um lugar que dificilmente alguém me acharia. Saí da sala e peguei um elevador até o heliporto, de onde podia observar a cidade toda. Sentei-me no chão e fiquei apreciando a vista, ainda pensativa.

— O que você está fazendo aqui? – indagou uma voz feminina, que eu logo reconheci ser de Rebecca – Eu te procurei nesse hospital inteiro, achei até que tivesse ido embora, mas como você está de carona comigo, imaginei que não tivesse ido não. – aproximou-se de mim e parou ao meu lado.

— Só estou pensando mesmo. Precisava de um lugar que ninguém fosse me achar. Creio que quase acertei. – respondi, sem tirar os olhos das luzes da cidade.

— Eu ouvi falar sobre a “badalada” cirurgia do Shepherd. – falou, e eu olhei-a com o canto dos olhos, vendo que ela também observava a cidade.

— Sim, eu acho que foi tudo bem, mas sei lá... – suspirei, abaixando o olhar para o chão.

— Bom, eu queria mesmo era te chamar para ir no Joe’s com o resto do pessoal, o que você acha? – perguntou, e eu concordei com a cabeça.

— Parece bom. Vamos nos trocar. – finalmente virei-me para ela, e esbocei um sorriso leve.

A mesma imitou meu gesto e eu estendi meu braço em sua direção, e ela logo entendeu o que eu queria e ajudou-me a levantar do chão. Seguimos até o vestiário e colocamos nossas roupas normais rapidamente, encontrando com Anastasia e Diego no saguão.

— Aleluia, hein! Achei que vocês tivessem se perdido. – exclamou Gomes, levantando-se da cadeira que estava sentado.

— Vamos logo, eu estava quase dormindo aqui. – disse Lewis, seguindo seu amigo.

— A culpa não é nossa se somos pessoas ocupadas e que trabalham até tarde! – brincou Rebecca, fazendo os dois revirarem os olhos.

Caminhamos até o bar sem muita pressa, com os três tagarelando e rindo o tempo inteiro. Eu ainda estava muito pensativa, afinal fora mais um dia intenso, então não prestei atenção em praticamente tudo o que eles falaram.

Entramos no bar e penduramos nossos casacos no cabideiro atrás da porta, seguindo para uma mesa vazia. Sentamo-nos e começamos a olhar o cardápio, que já sabíamos quase de cor, mas ainda assim líamos a ele toda vez. Decidi pedir algum álcool para beber, já que fazia meses que não colocava uma gota na boca.

— Já sabem o que vão pedir? – questionou o rapaz, olhando-nos.

— Sim. – respondemos em conjunto.

— E para comer, vamos pegar alguma coisa? – indagou a loira, antes de mastigar um amendoim que ficava para petisco na mesa.

— Uma porção de anéis de cebola? – sugeriu Rebecca, e todos assentimos – Ótimo, então vamos pedir. Que tal uma rodada de tequila para dar uma esquentada? – sorriu, e nós imitamos seu gesto.

— Só se for agora! – Diego assobiou e ergueu as mãos, numa tentativa de chamar a atenção do garçom.

O moço veio até nós e anotou nossos pedidos, trazendo primeiramente quatro doses de tequila, junto com limão e sal.

— A nós, médicos talentosos para um caralho, e aos nossos internos, e que eles não nos superem em talento! – o jovem ergueu seu copo, e todos fizemos o mesmo, rindo de seu minidiscurso.

— Saúde! – exclamamos e encontramos nossos copos no alto do centro da mesa, lambendo um pouco de sal e chupando o limão antes de virarmos a bebida.

Os outros três mal fizeram caretas, por já estarem acostumados a beberem aquilo, contudo eu contorci meu rosto todo, sentindo o líquido descer queimando até meu estômago, e fazendo-os rirem.

Os risos foram diminuindo com o tempo, e logo todos estávamos em silêncio. Provavelmente, a ficha de todos caíra sobre como aquela época estava sendo difícil. 3 meses desde o acidente de avião já tinham passado, e ainda estávamos sofrendo suas consequências. Mesmo sem estarmos diretamente envolvidos, somente de ver nossos colegas de trabalho sofrerem, já era de cortar o coração.

— Vocês ouviram falar que o Sloan entrou em coma de novo? – perguntou Anastasia, olhando para a mesa, tristemente.

— Sim... – respondemos juntos, suspirando.

— Infelizmente, eu acho que dessa vez ele não volta. – disse Gomes, nos entreolhando.

— É, provavelmente não... – a loira concordou, ainda com o olhar baixo.

— Arizona perdeu a perna. – afirmei, rindo de tristeza.

— Oh Deus... – Lewis fitou-me, franzindo o cenho.

— Callie mandou o Karev cortar enquanto ela operava no Derek. Robbins estava morrendo. – expliquei, relembrando a cena.

— E como foi a cirurgia do Shepherd? – perguntou Ana, curiosamente.

— Eu acho que deu certo, mas só saberemos quando ele acordar. – dei de ombros, tentando mostrar-me calma, mas estava aflita com os resultados.

— Gente... A Lexie está morta. – falou Rebecca, depois de tanto tempo quieta – Vocês realmente acreditam nisso? – questionou retoricamente, deixando-nos ainda mais tristes – Eu fico pensando, como será que ela estaria reagindo a tudo isso, se tivesse saído ilesa igual a Meredith, por exemplo. Vendo o Mark morrer... – ficamos todos em silêncio, refletindo sobre suas palavras.

— Eu gosto de pensar que se o Mark realmente morrer depois desse coma, eles vão se encontrar em algum lugar. Não sabemos o que há do lado de lá, mas e se? Não custa imaginar as coisas desse jeito, para pelo menos nos sentirmos um pouco confortáveis. – afirmei, quebrando o silêncio.

— Você anda vendo muitos filmes infantis com seus filhos, Claire. A vid- ou melhor, a morte, não é bem assim. – a morena riu fraco, negando com a cabeça.

— Eu sei, é só uma forma de pensar. Suavizar os fatos. – dei de ombros, tentando defender-me.

Não falamos mais nada por mais algum tempo, até que finalmente decidi pronunciar-me novamente.

— Eu dei uma tarefa aos meus internos igual a Lexie nos deu em nosso primeiro dia. – disse, sorrindo de leve – Designei um paciente do pós-operatório para cada um, e o melhor participou da cirurgia no Derek. Eu não sei como ela conseguiu fazer isso... como ela escolheu entre vocês? Bom, eu logo fui eliminada, porque deixei minha paciente morrer, e eu tive um interno que fez a mesma coisa. Mas e vocês?

— Ela me disse que eu não ganhei porque fui mal-educada com meu paciente. Aquele velho desgraçado, a culpa não era minha se ele é um pé no saco! – falou Cooper, revirando os olhos e fazendo-nos rir.

— Eu não levei porque não pude nem mostrar serviço, era um caso muito simples. E a Lexie me disse que minha paciente falou para ela que eu não fiz nada o dia todo. Não vou dizer que é mentira, mas tive meus motivos. – a loira deu de ombros.

— Pelo jeito eu ganhei porque fui o menos ruim. – Gomes riu, fazendo que não com a cabeça.

— Por que será que o Akira não ganhou...? – questionei pensativa, passando a ponta do dedo em volta da boca do copo, e senti a tensão aumentar no ar. Ninguém respondeu, então eu decidi continuar – Bem, nunca saberemos não é, afinal as duas pessoas que sabiam estão mortas. – sorri falsamente, deixando todos ainda mais desconfortáveis.

Novamente, um silêncio constrangedor reinou entre nós quatro. Eu me sentira um pouco arrependida de meu comentário, mas era a verdade, mesmo que ela fosse dolorida.

— Vocês lembram do dia que o Akira foi participar da primeira cirurgia? – o jovem soltou um sorriso nostálgico, encarando o nada – Foi uma cirurgia de Neuro também, e ele teve um mini surto antes de entrar na SO.

— Eu lembro. – concordou Rebecca, rindo fraco – Lexie teve que sentar com ele no chão e conversar. Eles ficaram naquela por um tempão, e eu aposto que o Derek começou a odiá-lo mais ainda depois daquilo. – complementou, olhando para nós.

— E mesmo assim, ela nunca desistiu de nós. Convenhamos que todo mundo aqui deu trabalho para ela, e mesmo assim ela deu o melhor para nos manter na linha. – afirmei, brincando com as cascas de amendoim sobre a mesa – Eu sentirei saudades.

A vida é um ciclo. Ontem você era uma criança que recebia ordens e comandos dos mais velhos, mesmo nem sempre os obedecendo. Hoje, você pode ser um adulto, que dá as ordens aos mais jovens, esperando com que eles obedeçam, porque você quase sempre sabe que é o melhor para eles. Ontem, nós éramos os internos, que recebiam ordens dos mais experientes na carreira, e mesmo sabendo que estávamos errados – Okay, nem sempre sabíamos –, às vezes desobedecíamos as regras. Mas hoje nós somos os residentes, somos mais experientes que nossos internos, e devemos prezar pelas carreiras deles. Agora nós temos que pegar nossos antigos superiores e utilizá-los como modelo, assim nos aperfeiçoando. E assim é na vida em geral. Lembre-se da sua época. Seja para os outros o que você gostaria que tivessem sido para você. Independentemente se você vai reproduzir ou envelhecer, pelo menos cresça. A morte pode estar esperando na esquina. Contudo, isso não é uma desculpa para continuar estagnado. Viva! Cresça! Mude! E não esqueça de passar para o próximo as coisas boas que você sabe. Afinal, a vida é um ciclo, e o que você fizeram para você, você fará para o próximo, e o próximo fará para outro. Então certifique-se que será uma coisa boa.


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Notas finais do capítulo

A morte da Lexie realmente abalou geral, tanto nossos personagens como nós mesmos. E que comecem os problemas pós queda do avião... Será que a Claire vai conseguir dar um jeito nesses internos? Quais são suas expectativas para essa "temporada"? Comentem, por favor!
E que venha mais um ano de Claire's Anatomy!
Beijos, gente! Até mais!