Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 25
Capítulo 24 – Constant Craving.


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal? Como estão as coisas?
Como o prometido, aqui estou eu, sem sumir dessa vez hahaha amém, férias!
Semana passada, eu estava tão corrida na hora de postar, que até me esqueci de agradecer à linda da Ariane Munhoz, que comentou TODOS os capítulos da fic, além de RECOMENDAR! Eu amei tudo AAAAA e recomendo vocês lerem a recomendação, ficou muito linda. Já aproveito aqui para agradecer a todos, pois a fanfic atingiu 3000 visualizações, o que eu sei que não é um número lá muito grandioso, mas que me deixa muuuuuito feliz! Obrigada por todo o carinho de vocês, que leem essa história que eu escrevo com tanto amor.
Sobre o capítulo: é o maior que foi postado inteiro até agora, e eu preferi não dividi-lo. E ele coincide com um episódio da série que faz um crossover com o spin-off da série, Private Practice. Em Grey's Anatomy, é mostrado apenas a parte que eles praticam a cirurgia, mas a operação em si só aparece mesmo em PP, então eu fiz uma fusão dos dois, por isso ficou bem comprido. Eu não preciso nem falar que contém SPOILERS do spin-off, que eu totalmente recomendo, é muito boa mesmoooo, tão boa quanto GA. Amo muito. E é nesse capítulo que minha nenê Amelia aparece pela primeira vez na história, e eu sei que tem muita gente que não gosta dela, mas ela é uma das minha favoritas, então acostumem-se a vê-la sempre por aqui! Hahaha
A música de hoje eu acho que nem é muito conhecida, mas é bem bacana. Link: https://www.youtube.com/watch?v=oXqPjx94YMg
Enfim, eu sei que estou falando demais, mas é que é muita coisa para avisar. Para acabar logo com isso, eu gostaria de desejá-los um Feliz Natal para quem comemora, e para quem não, apenas mais um dia agradável de final de ano. Espero que tenham um feriado incrível!
Agora chega mesmo. Espero que gostem do capítulo. Boa leitura!



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Medicina é toda sobre desafios. Todos os dias, por mais simples que seja o caso, nós, médicos, principalmente cirurgiões, estamos enfrentando novos desafios. Afinal, são vidas que estão em risco, e um mínimo erro pode matar um paciente, ou deixa-lo em péssimas condições de vida. Mas é isso que nos mantém vivos. Essa sensação de sermos desafiados. A pressão. Testarmo-nos todos os dias. É por isso que nos tornamos médicos, e amamos tanto o que fazemos. E é também por isso que muitas pessoas desistem da carreira.

Encontrava-me no vestiário dos residentes, trocando de roupa. Havia somente meus outros três colegas e eu, e um silêncio trucidante reinava no local. Desde a morte da mãe de Rebecca e nosso beijo, o clima estava pesado entre nós, e a gente mal se falava. Enquanto isso, os outros dois apenas observavam, pois obviamente já sabiam do que acontecera. Menos da parte do beijo.

— Então, com quem vocês estão hoje? – indagou Diego, provavelmente tentando quebrar o silêncio.

— Arizona. – respondeu Anastasia, mexendo em seu armário.

— Torres. – afirmou Rebecca, amarrando seus sapatos.

— Shepherd. – falei, e virei-me para eles – Falando nisso, tenho que ir. Vejo vocês no almoço. – despedi-me, querendo sair dali o mais rápido possível. Não aguentava mais ter que ficar no mesmo cômodo que Rebecca.

Saí do vestiário e segui pelo corredor, perguntando a uma enfermeira o paradeiro de Derek. Caminhei até uma Sala de Exames, onde encontrei o neurocirurgião, Lexie Grey e uma mulher que não conhecia.

— Bom dia... – cumprimentei, mas ninguém realmente deu a mínima.

— Você nem olhou! – exclamou a moça desconhecida.

— Amy, estou dizendo, não pode ser ressecado. Esqueça. – rebateu Derek, parecendo impaciente.

— Vim de LA só para te mostrar isto. Poderia perder mais de 30 segundos. – reclamou, olhando desafiadoramente para o médico.

— Estou olhando direto para ele! – retrucou o homem, apontando para as imagens de um exame – É um gliossarcoma que invadiu a artéria carótida. Se for removido, ela terá um derrame.

— Deixe de ser um imbecil! – disse a jovem, e Lexie olhou para mim impressionada.

— Uau. – murmurou Grey, rindo fraco, e eu apenas prendi o riso, fazendo cara de paisagem. Os outros dois voltaram-se para ela, que corou – Ela chamou você de imbecil. – explicou sem jeito, dando de ombros.

— Dra. Grey, Dra. Scofield, nos deem licença. – pediu o cirurgião, e ela e eu fizemos menção de sair da sala.

— Dra. Grey, Dra. Scofield, fiquem. Preciso de ajuda. – contestou a mulher.

— Tudo bem. – Shepherd ergueu as sobrancelhas e intercalou olhares entre nós três – Você acabou de sair da reabilitação. Quero que se recupere, mas você não pode ajuda-la.

A moça fechou a cara e procurou algo em meio a uma pasta que segurava, tirando de lá a foto de um garotinho, e encaixando-a sobre as imagens do exame.

— Olhe para ele. – mandou, e todos voltamo-nos para a foto – O nome dele é Mason. Esse gliossarcoma é da mãe dele, Erica. Ele é um ótimo garoto. Não o conheço muito bem, mas parece ótimo. – tentou apelar para o emocional, e Derek suspirou – Conheço bem o pai dele. O nome dele é Cooper, e trabalha comigo. É um cara legal. Um bom pai. E ele é quem terá que contar ao Mason que a mãe morreu. Que ele não tem mais mãe porque não fizemos nada.

— Diga ao Cooper que sente muito, que você tentou. Esqueça. – o cirurgião cortou-a, friamente – Tenho uma cirurgia.

O homem deixou a sala, e a jovem olhou Lexie e eu com cara de inconformada. Grey ergueu as sobrancelhas como quem dissesse que sentia muito e seguiu Shepherd, enquanto eu continuei ali com ela. Seu discurso realmente tinha me atingido, afinal aquela era uma situação delicada, e eu me imaginei no lugar daquela mãe. Eu iria querer que fizessem o possível para me manterem viva, pelos meus filhos. Afinal, eu já até tinha passado por algo parecido.

— O que eu posso fazer para ajudá-la? – perguntei, tentando parecer segura, mas no fundo, estava morrendo de medo de ir contra a palavra de Derek.

— Você realmente vai ficar contra meu irmão? – questionou, aparentemente surpresa.

— Ele é seu irmão? – arregalei os olhos, chocada.

— Você é corajosa, gostei de você. Dra. Amelia Shepherd, neurocirurgiã. – sorriu e estendeu a mão para mim.

— Dra. Claire Scofield. – apertei sua mão.

— Talvez você deveria ir atrás do Derek, para não se encrencar tanto. Mas eu gostaria de vê-la assim que tiver um tempo livre. Não se esqueça de tentar entrar na mente dele. – afirmou, e eu assenti.

— Claro, te vejo mais tarde. – sorri fraco e despedi-me, correndo para acompanhar Shepherd e Grey. Aquele dia tinha tudo para ficar interessante.

—-

Depois de participar de uma cirurgia com Derek, juntei-me novamente a Amelia, que continuava na mesma sala, observando as imagens.

— Hey, voltei. – cumprimentei, adentrando a sala.

— Eu encontrei uma solução. – disse, vidrada nos exames – Vá contar ao meu irmão, talvez para você ele não negue.

— Eu acho melhor você pedir para a Dra. Grey, porque ela tem mais influência com ele do que eu... Eu sou só uma residente em meu segundo ano, ela já está no quarto. – falei, insegura. Quem era eu para pedir tal coisa ao Shepherd?

— Então bipe a Dra. Grey. Estou com um bom sentimento sobre isso. – pediu, esfregando uma mão na outra, aparentemente satisfeita e animada.

Concordei com a cabeça e fiz o que ela pediu, e ficamos esperando a jovem aparecer.

— Você gosta de casos complicados, igual seu irmão? – tentei puxar assunto, curiosa em conhecer aquela mulher.

— Eu amo. Neuro é o maior barato. As incertezas, os desafios... Simplesmente a melhor área. – afirmou, transbordando paixão na voz.

— Você parece meu namorado falando... – ri fraco, lembrando-me de Akira.

— Seu namorado é neurocirurgião? – questionou, finalmente virando-se para mim.

— Não, na verdade ele morreu antes de conseguir chegar lá. Mas tenho certeza que se tornaria, se estivesse vivo. – dei de ombros, tristemente.

— Eu sinto muito... – suspirou, com uma expressão de pena – E você, não se interessa?

— É claro que sim! Eu ainda não me decidi qual área vou seguir, mas Neuro ainda está na lista. – respondi, desviando o olhar para as imagens atrás dela.

— Você tem cara de neurocirurgiã. Garanto que não vai se arrepender, se escolher esse caminho. – sorriu, virando-se de volta para os exames, e eu imitei seu gesto, um pouco constrangida. Eu realmente fui com a cara daquela médica.

— Oi, vocês me biparam? – indagou Lexie, adentrando a sala.

— Consigo remover o tumor e a carótida juntos. – afirmou Amelia, ainda de costas para nós – Só preciso inserir cateteres de balão pela femoral, coloca-los na posição exata, inflá-los para parar o fluxo sanguíneo, fazer duas arteriotomias, colocar um shunt heparinizado no lugar e restabelecer o fluxo sanguíneo. – explicou, deixando Grey e eu impressionadas.

— Só isso? – ironizou a residente.

— E tenho que fazer tudo em 90 segundos. – adicionou a neurologista – Mais que isso, ela terá um derrame.

— Isso sequer é possível? – questionei, franzindo o cenho.

— Não sei. Adoraria testar. – respondeu Shepherd, virando-se para nós, entusiasmada.

— Vamos montar um simulador. – sugeriu a outra residente.

— Não precisamos da aprovação do Derek? – perguntou a cirurgiã.

— Sim. Mas não será um problema. – a irmã de Meredith deu de ombros.

— Ele adora dizer não para mim. É o passatempo preferido dele. – disse Amelia, sorrindo sarcasticamente.

— Talvez não devesse chama-lo de imbecil. – Lexie falou, imitando o sorriso da outra.

— Não consigo evitar. Ele é mesmo. – a irmã de Derek fez cara de culpada.

— Acho melhor eu pedir a ele. – ofereceu-se Grey, finalmente indo onde queríamos chegar.

— Faria isso? – Shepherd fingiu estar um pouco surpresa, e a jovem assentiu – Ele está em cirurgia, na SO 2. – apontou na direção da sala, e Lexie seguiu para saída, parando na porta e virando-se para nós antes de sair.

— Você me chamou aqui só para eu falar com o Derek. E fazer parecer que foi minha ideia. – deduziu, finalmente.

— Eu não sou boa? – Amelia riu-se, e eu acompanhei-a.

— Incrível. – concordou, parecendo impressionada – Você deveria ir comigo, Claire. Seríamos duas para tentar convencê-lo. – olhou-me, e eu abri a boca para negar, mas fui interrompida por Shepherd.

— Boa ideia. Vá também, Scofield. – assentiu, e eu encarei-a boquiaberta, sentindo-me traída.

— É... claro. – sorri falsamente, saindo dali com a outra residente.

Adentramos a SO em que Derek se encontrava operando, e ambas colocamos máscaras, aproximando-nos da mesa. Olhei para Lexie como se insinuasse que ela é quem ia falar, e a mesma revirou os olhos, cedendo.

— Dr. Shepherd, posso falar com você? – indagou, aparentemente insegura.

— Estou ouvindo. – respondeu, sem tirar os olhos do cérebro de seu paciente.

— Sua irmã pode ter encontrado uma forma de curar aquela mulher, mas para isso ela precisava montar um simulador. – disse Lexie, um pouco sem jeito.

— Como? – questionou, parecendo desacreditar.

— Ela só tem que inserir cateteres de balão pela femoral, coloca-los na posição exata, inflá-los para parar o fluxo sanguíneo, fazer duas arteriotomias, colocar um shunt heparinizado no lugar e restabelecer o fluxo sanguíneo. Em 90 segundos. – explicou a residente, deixando-me impressionada em como ela lembrou das exatas palavras usadas por Amelia. Até que me lembrei de sua memória fotográfica, o que fez sentido para mim.

— Impossível. – Shepherd negou com a cabeça.

— Já operamos coisas piores. – disse Grey, tentando convencê-lo.

— Lexie, ela nos mostrou a foto de um garotinho. – rebateu o cirurgião, concentrado na cirurgia.

— Eu sei, está claro que ela está entusiasmada. – a moça deu de ombros.

— Minha irmã está envolvida demais com essa paciente para ver com clareza que não pode ajuda-la. – afirmou Derek, enquanto trabalhava.

— Isso me diz que ela tem entusiasmo suficiente para se esforçar mais. – argumentou Lexie.

— Nem todo o entusiasmo do mundo fará o plano dela dar certo em 90 segundos. – retrucou o médico – Quer ver por si mesma? Tudo bem, prepare tudo.

— É você quem vai ver uma coisa. – murmurou a doutora, provavelmente sem pensar e parecendo estar de saco cheio da arrogância do homem, que virou-se para ela com uma sobrancelha erguida – Quer dizer, obrigada. – agradeceu antes de virar as costas e sair da sala.

Dei de ombros e fui atrás dela, feliz por não precisar ter dito uma palavra sequer.

—-

Lexie e eu estávamos numa Sala de Simulador, observando Amelia performar o procedimento sozinha, enquanto cronometrávamos. Eu tentava intercalar o olhar entre o relógio e a cirurgiã, que trabalhava apressadamente.

— Bum! – comemorou ao terminar, levantando-se e erguendo os braços.

— 97 segundos. – disse Grey, deixando-a tão aborrecida que pegou o relógio da mão da jovem e atirou na parede, quebrando-o em vários pedaços.

— Droga! – amaldiçoou, fazendo-nos ficarmos surpresas.

— Uau. – murmurou a residente, observando os pedaços que sobraram do cronômetro.

— Desculpe. É que... desculpe. – pediu a Shepherd, respirando fundo enquanto tentava se acalmar – Terminei em 97 segundos nas últimas oito tentativas. – reclamou, nervosa.

— Talvez não na nona. – encorajou Lexie, sorrindo – Se eu encontrar outro cronômetro.

— Derek provavelmente está certo. Vou desapontá-la. Ele deve saber. Eu o desapontei muitas vezes. – suspirou, tristemente, e eu troquei olhares com a outra médica, preocupada.

— Vamos fazer um intervalo. – sugeri – Vamos... – tentei pensar em alguma coisa, mas não consegui.

— Quer algo para comer? – perguntou Grey, ajudando-me.

— Quero alguma coisa. – respondeu Amelia, agindo estranhamente – Não é comida. – completou, e depois de um certo tempo que eu liguei os pontos e entendi que ela se referia a drogas.

— Há um cara que prendeu a mão em um moedor de carne. – falou Lexie, rindo fraco.

— Eu não me importaria de ver isso. – a neurologista deu de ombros, e partimos para a galeria da SO onde Meredith Grey, Callie Torres e Rebecca estavam trabalhando no caso.

Sentamo-nos ao lado de Alex Karev e Jackson Avery, que nos olharam curiosos. Eles conversaram sobre algo que eu realmente não prestei atenção, pois estava concentrada no procedimento de Amelia. Meu cérebro estava fervendo, e eu sentia que teria alguma boa ideia a qualquer momento.

— Isso deve ser tão mais difícil... – disse a Shepherd, referindo-se a não sabia o que, mas acabou me trazendo a ideia que procurava.

— Sabe o que também seria mais difícil? Entrar pela carótida. – pensei alto, franzindo o cenho.

— Para os dedos? – riu-se Karev.

— Seria mais difícil, mas haveria maior controle do que entrar pela femoral. – afirmou a cirurgiã, olhando-me animada. Nós três trocamos olhares e nos levantamos ao mesmo tempo, e eu pude sentir o olhar cortante de Rebecca, que me observava de dentro da SO. Nossos olhos se encontraram por um segundo, mas logo desviei-me, mais preocupada com o caso do que com a morena.

Voltamos ao simulador e Lexie deixou-nos sozinhas por alguns minutos, nos quais eu cronometrava e observava Amelia atentamente. Aquilo estava sendo melhor que terapia para mim, porque estava me deixando extremamente animada e concentrada. Ela estava certa quando disse que era um barato.

— Certo, diga o que está tentando fazer. – falou Derek, adentrando a sala no meio de uma tentativa.

— Vou entrar pela carótida com dois cateteres, um na proximal... – ela pareceu hesitar, e foi interrompida pelo homem.

— Pela carótida? Vai matá-la mais rápido. – questionou o médico, e eu me senti culpada por ter sido minha ideia.

— Derek! – reclamou, olhando-o surpresa.

— Amy, não dá para restabelecer o fluxo sanguíneo em 90 segundos. Eu não consigo fazer em 90 segundos. – apontou para si mesmo, como se insinuasse ser melhor que a outra.

— Bem, o grande deus da neurologia falou. – ironizou Amelia, deixando-me sem graça por estar no fogo cruzado.

— Estou tentando ajuda-la. – defendeu-se o cirurgião – Por favor, não faça isso. Você é frágil demais.

— Não sou frágil. Sou uma viciada. Tive duas recaídas e consegui me recuperar. Isso não me faz ser frágil, Derek, me faz ser muito forte. Estou em um prédio cheio de pílulas neste exato momento, um fato do qual tenho plena consciência, mas estou fazendo isto. Isso não é ser frágil. – retrucou, prendendo o choro. Seu irmão ficou um pouco indeciso, e ameaçou sair da sala, mas voltou e aproximou-se mais dela.

— Certo. Mostre o que está tentando fazer. – cedeu, cruzando os braços e observando-a.

— Acha que existe um jeito? – perguntou, esperançosa.

— Acho que não. – respondeu Derek – Mas não posso impedi-la, então... – deu de ombros – Estou aqui com você. Mostre o que está tentando fazer.

Amelia olhou-o e sorriu, fazendo minha ficha cair de que aquele era para ser um momento entre irmãos, então eu simplesmente deixei-os a sós, saindo dali sorrateiramente. Encontrei Lexie no corredor, e aproximei-me sorridente.

— Acho que conseguimos. – afirmei, animadamente.

— Derek só está relutante porque é a irmã dele. Se não fosse, ele já teria levado o caso a diante há tempos. – falou a residente, e suspirou – Eu estou orgulhosa de você. Parece que treinei bem meus internos. – riu fraco, olhando-me carinhosamente.

— Você treinou. – assenti, retribuindo o olhar – Obrigada, Lexie. Não seria a mesma médica se você não tivesse sido minha professora.

— Sempre achei que você tinha potencial, Claire. E parece que acertei. – disse com um sorriso no rosto – Vem aqui. – abriu os braços e envolveu-me.

Correspondi ao abraço, um pouco surpresa. Grey e eu nunca havíamos passado do nível de relacionamento professora-aluna, então aquilo não era algo muito comum de se acontecer. Ficamos naquela posição por um tempo, até que realmente começou a ficar estranho.

— Okay... – murmurei, afastando-me dela.

— Derek me mandou cuidar dos pós-operatórios dele. Vamos? – chamou, e eu dei de ombros.

— Claro. – segui-a pelo corredor.

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Adentramos a sala do Simulador, onde Derek e Amelia praticavam.

— O Sr. Price está acordado e alerta. O pós-operatório está concluído. – afirmou Lexie – O que estão fazendo? – franziu o cenho, observando-os.

— Precisávamos de dois cirurgiões. Um na carótida interna, o outro na externa, controlando os balões. Quase chegamos em 90 segundos. – respondeu Amelia, focada no que fazia.

— Acham que vai funcionar? – perguntei, analisando-os.

— Não vamos nos apressar. É um passo em um tumor muito complicado. – disse o Shepherd.

— Ele acha que não vai dar certo. – disse a Shepherd.

— Mas vamos continuar tentando. É só isso, obrigado. Podem ir. – falou o homem, sem tirar os olhos do simulador.

— Eu não vou arredar o pé daqui. – afirmei, aproximando-me mais deles.

Lexie deu as costas e seguiu para a porta, mas parou e ficou encarando a foto do garotinho, que estava pregada na madeira. Virou-se e voltou para perto de nós.

— Eu quero continuar tentando. – disse, parando ao meu lado.

— Pegue o cronômetro. – ordenou o cirurgião, e ambas continuamos assistindo a eles.

Depois de muitas tentativas frustradas, ainda permanecemos firmes, com esperança de que daria certo. Algumas vezes, os dois médicos passaram pouca coisa dos 90 segundos, o que aumentou nossas expectativas. A cada tentativa, todos vibrávamos, com a tensão crescendo a cada segundo que se passava.

— Pronto! – os dois irmãos exclamaram juntos.

— Temos fluxo sanguíneo. – disse Derek, observando o monitor.

— 86 segundos. – anunciou Grey, fazendo todos nós sorrirmos.

— Ligue para a paciente. Diga para ela vir. – o neurologista virou-se para sua irmã, sorridente.

Ergui a mão para eles baterem, e apenas Lexie correspondeu ao meu gesto. Abaixei-a sem jeito e continuei rindo fraco, extremamente empolgada. Fazia muito tempo que não me sentia daquela forma.

— Calma, vamos tentar de novo, para ver se estamos bem mesmo. – ordenou Derek, e nós arrumamos tudo para começarem novamente do zero.

— Pronto! – ambos disseram juntos, e Lexie e eu sorrimos novamente, vendo o tempo gasto.

— 88 segundos. – falamos juntas, animadamente.

— Já posso ligar para o Cooper? – perguntou Amelia, parecendo ansiosa.

— Já pode ligar. – autorizou seu irmão, e a jovem pulou em seu pescoço, abraçando-o alegremente.

—-

Depois de tanto treinamento, eu passara a noite toda pensando em como seriam as coisas, e ansiosa pela cirurgia. Isso acabara reduzindo mais ainda minhas horas de sono, no entanto, não me importei muito, pois estava elétrica. Eu nunca ficara tão animada assim por algum caso, e estava estranhando meu comportamento.

Adentrei a mesma Sala de Exames que estávamos no dia anterior, e já encontrei Amelia, Derek, Lexie e outras três pessoas, um homem e duas mulheres, das quais eu deduzi que uma seria a paciente.

— Bom dia. – cumprimentei, sorrindo simpática.

— Essa é a Dra. Scofield, ela está nos ajudando com o caso. – Amelia apresentou-me, também sorridente – Esses são Cooper, Charlotte e Erica, nossa paciente. – apontou para o homem, uma loira e uma morena, respectivamente.

— É um prazer. – assenti, e os três responderam com um sorriso.

— Pois bem, como a Amy lhe disse, gliossarcomas são tumores agressivos, que não respondem bem a tratamento. – afirmou Derek, entreolhando as pessoas.

— E qual é o plano? – perguntou Cooper, segurando os ombros da paciente, protetoramente.

— Colocaremos balões vasculares no seu cérebro e contornaremos o vaso sanguíneo que está infiltrado pelo tumor. – explicou a Shepherd.

— Esperamos preservar o tecido cerebral saudável e remover o tumor. – completou o Shepherd.

— Qual é o problema? – questionou Charlotte, que apenas observava de braços cruzados, com um tom meio desconfiado.

— Temos só 90 segundos para fazer isso. – respondeu a neurocirurgiã, um pouco receosa.

— O que? – indagou o homem, parecendo desacreditar no plano.

— Depois de 90 segundos sem sangue, o tecido cerebral da Erica começa a morrer. – afirmou o médico.

— Causaríamos um derrame. – complementou sua irmã.

— 90 segundos? Consegue fazer isso? – disse a loira, encarando Amelia.

— Sozinha não. Mas trabalhando juntos... – a mulher intercalou o olhar entre Derek e os outros, mas foi interrompida por Lexie, que até então estava num canto quieta, ao meu lado.

— Eles conseguiram no treino. Duas vezes. – tentou ajudar, mas acabou deixando-os ainda mais receosos. Fechei os olhos e suspirei ao ver suas expressões faciais, sentindo que minha tão esperada cirurgia estava prestes a ir por água abaixo. Os dois cirurgiões a olharam feio, repreendendo-a com o olhar.

— Duas vezes? – finalmente a paciente se pronunciou, parecendo desacreditada.

— Duas vezes até agora. E continuaremos praticando. – Amy tentou confortá-la – Erica, não mentirei para você. Isso nunca foi feito. É arriscado. Mas creio que podemos fazer. – continuou, demonstrando sinceridade.

— Talvez queiram praticar mais alguns dias, tentar elevar esse número? – sugeriu Charlotte.

— Infelizmente, não há tempo. Temos que remover o tumor antes que aumente. – retrucou Derek.

— Quando? – questionou Cooper.

— Hoje. – respondeu o neurocirurgião, deixando-os ainda mais apreensivos.

— Quer testar em mim uma cirurgia que nunca foi feita, hoje? – a paciente riu fraco, provavelmente de nervoso – E se falhar, tenho morte cerebral. É isso que estamos dizendo?

— Tem dois excelentes cirurgiões dizendo que tem uma chance. Dois dias atrás, não tinha nenhum. – afirmou o homem, numa tentativa de convencê-la.

— Tem que aproveitar essa chance. – aconselhou a loira, aproximando-se bem dela.

— Preciso de um dia. – pediu Erica – Tenho um filho assistindo TV com uma enfermeira, sem ideia do que está acontecendo, então... Preciso de um dia.

— Tudo bem. – concordou Derek, que olhou para sua irmã, que também assentiu.

— Agende um SO. Primeiro horário amanhã. – ordenou a médica, encarando Lexie e eu. Nós duas balançamos a cabeça positivamente e sorrimos fraco. Aquela poderia ser uma cirurgia muito interessante, mas o caso era extremamente complicado.

Todos deixamos a sala, e Grey e eu fomos conversar com as enfermeiras para agendarmos a SO. Eu estava muito pensativa sobre o caso, e comecei a me colocar no lugar daquela mulher. E deduzi que eu faria o mesmo, pois lutaria com todas as minhas forças para poder me manter viva, pelos meus filhos.

Voltamos à Sala da Simulação, e ficamos ali cronometrando a prática dos dois pelas horas seguintes.

— Pronto. – os dois cirurgiões disseram em conjunto, largando os instrumentos.

— 92 segundos. – disse Lexie, deixando-nos desapontados.

— Filho da puta. – praguejou Amelia, bufando.

— Foram cinco vezes seguidas em menos de 90. – tentei animá-los, dando de ombros.

— Não se pratica até acertar, Dra. Scofield. – rebateu Derek, aparentemente estressado.

— Pratica-se até não errar mais. – adicionou sua irmã, suspirando.

— Certo, de novo. – assenti, um pouco sem graça, e os dois recomeçaram.

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Desfilei alegremente até nossa mesa de sempre e pousei minha bandeja sobre ela, deixando transparecer meu contentamento.

— Viu um passarinho azul, Claire? – perguntou Diego, com um certo deboche na voz.

— Muito melhor. Conheci uma mulher, Amelia Shepherd, irmã do Derek, que fez meu dia. – respondi, toda sorridente.

— Eu não sabia que você jogava para esse time, estou feliz por você, amiga. – o jovem sorriu maliciosamente, e eu revirei os olhos.

— Não é nesse sentido, bobo. – ri fraco, negando com a cabeça – Ela é neurocirurgiã como o Dr. Shepherd, e ela trouxe um caso de um gliossarcoma que invadiu a artéria carótida, que eles vão remover em... rufem os tambores... 90 segundos. – expliquei, empolgada – E adivinha quem vai poder participar da cirurgia...

— Impossível. – o rapaz arregalou os olhos e negou com a cabeça – Eles não vão conseguir.

— Eu nem sabia que o Derek tinha uma irmã, quem dirá que ela é neurocirurgiã. – disse Anastasia, aparentemente surpresa – E o Shepherd topou fazer?

— Sim, os dois passaram o dia praticando. E eles conseguiram fazer em 86 segundos. – afirmei, concordando com a cabeça – Essa cirurgia vai ser o máximo!

Estava tão focada em me gabar, que nem notara a ausência de Rebecca na mesa. Ao me lembrar que o clima estava mais leve do que deveria, senti sua falta, e olhei em volta confusa, procurando-a.

— Ué, onde está a Rebecca? – questionei, franzindo o cenho.

— Você não ouviu falar? Ela e Roger King estão firmes. Eu vi-a almoçando com ele lá dentro. – falou a loira, apontando para dentro do refeitório.

— Sério?! – ergui as sobrancelhas, chocada. Se realmente estivéssemos bem, eu seria a primeira pessoa a saber daquilo, mas, ao invés disso, eu estava sendo a última. E se ela estava com Roger, qual teria sido o sentido de nosso beijo um mês antes? Eram muitas perguntas, que eu queria que fossem respondidas, no entanto, somente ela poderia fazê-lo, e conversar com a morena estava longe da realidade.

— Vocês duas ainda estão sem se falar? – indagou Gomes, parecendo sem graça.

— Sim. É complicado. Mais do que parece. – suspirei, encarando meu prato.

— Eu imagino. – concordou o homem, e um silêncio estranho passou a reinar.

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Mais um dia e uma noite se passaram, e para minha felicidade, o dia da cirurgia finalmente chegara. Acordei bem cedo e cheguei no hospital antes de todo mundo, já me preparando para o procedimento. Fiquei observando a grossa chuva cair, escorada no guarda-corpo da “ponte” que cortava o hospital por dentro.

Fui despertada dos meus pensamentos quando meu bipe disparou, e era Lexie chamando-me para ajudá-la a preparar a paciente. Segui para o quarto e ambas trabalhamos na mulher, que parecia extremamente tensa. Saímos do quarto e deixamos os três adultos e um garotinho a sós, enquanto preenchíamos os prontuários. Pouco depois, Cooper deixou o cômodo com seu filho, e, depois de terem uma conversa, Charlotte também saiu, aparentando estar prendendo o choro. Observei-a apressar-se em direção ao banheiro, e senti-me na obrigação de fazer alguma coisa.

— Eu já volto. Vejo você na SO. – falei à residente e segui a loira. Adentrei o banheiro e notei que a mulher estava dentro de um dos boxes, e pude ouvir o som de seu choro.

— Charlotte? – chamei, sem saber muito bem o que fazer – Você está bem? – perguntei, encarando o box em que ela estava.

— Quem é? – questionou de volta.

— É a Dra. Scofield, que está trabalhando no caso da Erica. – respondi, e escorei-me em uma das portas – Olha, eu sei que provavelmente não deveria estar aqui, e que talvez esteja sendo um pouco... invasiva. Mas eu só quero deixar bem claro que ela está nas mãos dos melhores neurocirurgiões, e que eles andaram praticando por várias horas a fio e está dando certo. Vai funcionar. – continuei, escolhendo as palavras certas.

Um silêncio trucidante foi estabelecido durante alguns instantes, até que a loira abriu a porta e aproximou-se do espelho, enxugando as lágrimas.

— Eu confio em minha colega de trabalho e em seu irmão. Eu confio na medicina. Eu só não confio na vida. – disse antes de abrir a torneira e jogar uma água no rosto, provavelmente tentando disfarçar a cara de choro. Então Amelia e ela eram colegas de trabalho?

— Olha, eu não vou mentir, o caso de sua irmã é grave, mas um pouco de esperança cairia bem para você. – dei de ombros, realmente tentando ajudar.

— Ela não é minha irmã. – riu-se tristemente, negando com a cabeça.

— Oh... Desculpe-me, é que eu deduzi que ela fosse esposa do Cooper, e você fosse irmã dela. – arregalei os olhos, ficando sem graça pelo erro.

— Está tudo bem. Erica é a mãe do filho de Cooper, o Mason. Eu sou a esposa do Cooper. – afirmou, olhando-me pelo espelho – Nós trabalhamos junto com Amelia em uma clínica em LA. – explicou, e eu assenti, finalmente compreendendo.

— Entendi. Agora tudo faz sentido. – ergui as sobrancelhas, encaixando as peças. Ela provavelmente estava preocupada em assumir o garoto como filho, caso Erica morresse – De qualquer forma, não se preocupe, nós vamos fazer tudo ao nosso alcance, okay?

— Eu sou médica, eu sei como funciona. – ela sorriu fraco e virou-se para mim – Obrigada pela preocupação.

— Por nada... – falei, e ficamos novamente em silêncio. Olhei em meu relógio de punho e caí em mim, notando já ter passado da hora da cirurgia – Oh meu Deus, eu tenho que ir! – exclamei, surpresa – Eu os manterei informados. Até mais.

— Tudo bem, obrigada. – agradeceu, e eu deixei o local, correndo até a SO.

Encontrei os três médicos lavando as mãos, já com os coletes cirúrgicos. Vesti um e juntei-me a eles, que pareciam tensos. Amelia encarava através do vidro a paciente, que já estava apagada, com um olhar de preocupação, e podia-se notar sua respiração descompassada.

— Você consegue. – afirmou Derek, tentando dá-la apoio.

— Não há margem para erro. – disse a moça, com a voz um pouco trêmula.

— Nem para dúvidas. – retrucou seu irmão.

— Acha que eu não sei? – indagou a cirurgiã, com uma pitada de sarcasmo.

Lexie e eu trocamos olhares desconfiados, sentindo o momento tenso. A residente desligou a torneira e virou-se, dirigindo-se para o cômodo da cirurgia.

— Vejo vocês na SO. – falou antes de sair. Eu sabia que deveria segui-la e deixá-los a sós, mas como ainda não terminara de me lavar, teria que presenciar o momento, mesmo que fosse inconveniente.

— A última vez que operei um amigo, estava chapada. Foi um milagre que nada deu errado. – disse a Shepherd, com um olhar distante – E se minha vingança cármica for agora, e Erica morrer?

— Está com medo. Isso é bom. – afirmou o Shepherd, com calma na voz.

— Como isso difere de não ter autoconfiança? – questionou a jovem.

— Você não duvida de suas habilidades como cirurgiã. Eu não a deixaria operar, se duvidasse. – respondeu o homem.

— Bom, não vejo diferença. – a médica deu de ombros, negando levemente com a cabeça.

— Depois que o papai morreu, sempre que havia um som alto, como um tiro, você se apavorava. Você pegou um monte de bombinhas, e eu a encontrei no jardim, e você estava jogando todas, uma por uma, até não se assustar mais. – Derek explicou, nostálgico – Quando está com medo, você luta. Encara seu medo e vai à luta. E luta para vencer. Você luta com mais força que qualquer vingança cármica. – ligou a torneira e enxaguou as mãos e braços – Você consegue, Amy. Nós conseguimos. – finalizou e deixou-me sozinha com ela.

Fiquei encarando a pia, enquanto prevalecia um silêncio um pouco constrangedor. Eu estava sem jeito, pois presenciara um momento que era para ser apenas dos dois, e de quebra ficara sabendo de um lado demasiadamente íntimo de Amelia. Portanto, tentei ao máximo parecer invisível, enquanto a mulher ainda se esfregava.

Meu disfarce foi arruinado quando, de repente, senti minha mão perder a força e, em uma fração de segundos, foi possível ouvir o som de meu sabonete chocando-se com o metal do qual a pia era feita. A médica ao meu lado deu um pulo de susto, provavelmente sendo acordada de seus devaneios, e meu rosto erubesceu-se, mostrando meu constrangimento.

— Desculpe-me. – falei e tentei pegar o sabonete, mas minhas mãos não responderam, e senti a dor típica de meus espasmos. A moça ao meu lado olhou-me preocupada e franziu o cenho, parecendo curiosa.

— Você está bem? – perguntou, medindo-me com o olhar.

— Sim, é normal, nada demais. – dei de ombros na tentativa de disfarçar minha situação.

— Não parece nada demais. – rebateu, erguendo uma sobrancelha.

— É que... – hesitei por um momento, indecisa se deveria contar sobre meus problemas – Eu tenho uma filha e um filho, gêmeos, e durante o parto deles, eu tive algumas complicações e fiquei em coma por alguns meses. Quando eu acordei, como o esperado, estava com algumas sequelas, e essa é uma delas. – expliquei, tentando fazer aquilo parecer bobagem.

— Eu sinto muito. – ela disse num tom um pouco triste – Mas você tem sorte de ter sobrevivido a um coma, e com poucas sequelas.

— É, você está certa. Com terapia e fisioterapia, Derek disse que eu posso até voltar ao normal um dia, então... – forcei um sorriso e abri a torneira, finalmente recuperando o movimento das mãos, mesmo sentindo-as ainda um pouco dormentes – Vamos? – chamei-a ao acabar de me enxaguar, deixando o cômodo.

A cirurgiã veio logo atrás de mim, e ambas fomos vestidas com nossas luvas e aproximamo-nos da mesa de cirurgia, ela claramente mais do que eu. Antes de começarmos, fiz minha corriqueira oração rápida, e olhei para cima, pensando em como Akira reagiria àquela cirurgia se estivesse vivo. Sorri tristemente ao pensar nisso e respirei fundo, sentindo um leve aperto no coração.

— Okay, vamos começar. É um belo dia para salvar vidas. – disse Derek – Bisturi. – pediu, e as enfermeiras entregaram-no o objeto.

Lexie chamou-me para ajudar com o enxerto, e depois de um tempo estava tudo pronto para começarmos a parte mais difícil.

— O enxerto está pronto. – avisou Grey, virando-se para os neurocirurgiões.

— Pronta para inflar. – afirmou Amelia, focada no que fazia.

— Cronômetro ligado. 90 segundos. – anunciei, olhando para eles e depois para a tela na parede.

— Pronto? – indagou o Shepherd, voltando-se para sua irmã ao seu lado.

— Pronto. – a mulher assentiu.

— Um, dois, três. Vai. – contou o homem, e em seguida os dois começaram a agir, e o cronômetro começou a funcionar.

Meu coração estava a mil, enquanto intercalava atentamente observa-los trabalhando, os movimentos rápidos da equipe de enfermagem e os números vermelhos do relógio.

— Pronto. – disse Derek.

— Está colocado. – afirmou Amelia, ao mesmo tempo que seu irmão.

— 85 segundos! – Lexie e eu exclamamos, como se comemorássemos, mas logo retomamos a postura séria devido aos olhares feios dos cirurgiões – 85 segundos. – repetimos, agora mais calmas – Novo recorde, vocês conseguiram.

— Conseguimos. – falou o médico, desviando o olhar do microscópio para sua irmã.

— Conseguimos. – concordou a Shepherd, e eu podia apostar que ambos sorriam por debaixo das máscaras.

— Certo. Ótimo. Continuando. – Derek voltou a focar na cirurgia – Dra. Scofield, por favor vá avisá-los que a primeira parte da cirurgia foi um sucesso.

— Okay, Dr. Shepherd. – assenti e enrolei uma toalha nas mãos, deixando a SO.

Segui para a Sala de Espera, e encontrei Cooper, Charlotte e Mason sentados, todos com rostos apreensivos. Ao ver-me, o homem pulou da cadeira e aproximou-se de mim rapidamente, olhando-me curioso.

— E? – questionou com os olhos vidrados em mim.

— A primeira parte da cirurgia foi um sucesso. Eles conseguiram completa-la em 85 segundos, novo recorde. – respondi sem delongas, para acabar com a apreensão. Desviei o olhar do homem para os outros dois, que também já encontravam-se de pé, e os três suspiraram aliviados e sorriam. Cooper passou a mão na cabeça com poucos cabelos e Charlotte abraçou o menino, comemorando – Agora temos mais uma longa cirurgia pela frente, então se vocês me dão licença... – sorri simpática e dei as costas para eles, seguindo de volta à SO. Eu sentia como se um peso houvesse sido eliminado de minhas costas, e mesmo não tendo feito muito, sentia-me orgulhosa pela operação.

Adentrei a sala e deparei-me com os alarmes disparados, indicando o aumento da pressão, e os médicos um pouco desesperados.

— Que diabos aconteceu? – questionei chocada e aproximei-me mais.

— A pressão subiu do nada. – respondeu Lexie, com a voz preocupada – Ela está tendo um derrame. – explicou, deixando-me ainda mais chocada. Os dois Shepherd agiam rapidamente, e o clima voltara a ficar tenso – Pressão está 179 por 105. – avisou, desesperada.

— Cale a boca. Nós sabemos – retrucou Amelia, impaciente.

— O coágulo está preso no terço proximal do shunt. – afirmou Derek.

— Estou vendo, vou retirar o shunt. – disse a médica, um pouco hesitante.

— Sem ele, não há fluxo sanguíneo. – rebateu Grey, como se eles não soubessem.

— Se não tirarmos o coágulo, ela morre. – revidou o Shepherd, também sem paciência – Faça. – ordenou à mulher.

— Microtesouras. – pediu a cirurgiã – Através da sutura. – indicou a seu irmão, que a ajudava a cortar – Quase lá. – falou, fazendo a residente ao meu lado suspirar de nervosismo – Consegui. – anunciou, afastando-se um pouco.

— A pressão está... – começou Lexie, mas hesitou pois sabia que muito provavelmente levaria uma bronca – ... do jeito que está. – deu de ombros.

— O desvio vai sair... – disse Amy – Agora. – puxou a pinça, fazendo espirrar sangue na enfermeira asiática que estava na reta.

— Acho que isso desfez o coágulo. – afirmou Derek, com uma pitada de ironia.

— Ótimo. Reinserindo o shunt. – a cirurgiã voltou a colocar o aparelho.

— Artéria está pulsátil. – avisou o médico.

— E a pressão está diminuindo. – completou Grey, encarando a tela.

Todos suspiraram e se entreolharam, e o clima aliviou um pouco.

— Certo. Vamos continuar? – indagou o Shepherd, voltando a olhar o microscópio.

— Preciso do enxerto, e de outro Micro-Driver. – a Shepherd estendeu a mão, esperando que alguém a entregasse – Temos mais cinco ou seis horas pela frente. – continuou ao pegar o que precisava – Estamos bem agora. Aquilo me assustou demais.

— A mim também. – concordou o homem, olhando para sua irmã.

Troquei um olhar cúmplice com Lexie e sorri, extremamente satisfeita. Aquele dia estava sendo um dos melhores, com certeza.

—-

— Erica. Erica. – chamou Derek, encarando a paciente. Várias horas já haviam se passado, e a mulher estava finalmente acordando, em seu quarto na UTI – É o Dr. Shepherd. Pode me escutar?

— Dói. – afirmou a paciente, encarando o teto.

— Certo. Vamos dar algo para a dor. – disse o médico.

— Pode mexer os dedos do pé? – pediu Amelia, tocando-os por cima do cobertor. Olhou-nos e assentiu, deixando a entender que a mulher havia os movimentado.

— E os da mão? De ambas. – perguntou o cirurgião, olhando as mãos dela, que se mexeram normalmente – Muito bem. – suspirou, provavelmente aliviado – Retiramos o tumor. Por completo.

— Eu sobrevivi? Estou viva? – questionou Erica, um pouco surpresa.

— Se isso é o paraíso, irmã, quero meu dinheiro de volta. – brincou Charlotte, sorrindo sarcasticamente e fazendo a paciente rir fraco.

— Isso dói. – reclamou, fazendo cara de dor.

— O remédio para dor fará efeito em alguns segundos. – o Shepherd aplicou-o no fio do soro.

Ouvimos um barulho vindo de nossas costas, e ao nos virarmos, vimos que era Cooper batendo no vidro da janela, acompanhado de Mason.

— Erica, Mason está olhando pela janela. – avisou Charlotte, e a mulher fez menção em levantar-se.

— Não levante a cabeça. – ordenou Amelia.

— Apenas acene. – sugeriu a loira – Você consegue. Levante a mão e acene.  – a paciente seguiu a recomendação e assim o fez, e ela e seu filho começaram a chorar, emocionados. O garoto colocou a mão no vidro e encarou-a, colando seu corpo à janela – Perfeito. – a mulher sorriu satisfeita.

— Estou viva. – disse Erica entre o choro, e todos esboçamos sorrisos e trocamos olhares. Tinha dado certo. A tão perigosa cirurgia tinha dado certo.

Deixamos a família a sós e eu segui alegremente pelo corredor. De repente, todos os meus problemas haviam desaparecido, e minha vida parecia um mar de rosas. Aquele caso me relembrou o porquê eu amava medicina e tinha escolhido aquela carreira.

Avistei Rebecca no final do corredor, que não pareceu muito feliz em me ver, mas mesmo assim corri até ela, totalmente cega de contentamento.

— Deu certo! A cirurgia deu certo! – exclamei e aproximei-me dela, brecando em seco ao receber seu olhar gélido. Lembrei-me de nossos problemas e fechei o sorriso, perdendo um pouco do encanto que estava sentindo. Ficamos em um silêncio trucidante por alguns instantes, até que eu decidi quebra-lo – Desculpe-me.

— Que bom que você está feliz. – sorriu ironicamente e me contornou, afastando-se de mim.

— Eu estou cansada disso. – falei antes de virar-me para ela, que parou ainda de costas para mim – Eu sei que eu te magoei, mas eu estava apenas fazendo meu trabalho. Ou vai me dizer que você não faria o mesmo? – confrontei-a, perdendo um pouco da paciência – E tem mais, você me deve uma explicação... – fui interrompida por um movimento repentino dela, que puxou-me para uma Sala de Estoque, igual àquela que ela beijou-me havia algumas semanas – Por que você me beijou? – finalmente perguntei, encarando seus olhos, que poderiam cortar uma pessoa ao meio – Se você está com tanta raiva de mim, por que você me beijou?

— Porque eu estava desesperada. Eu não estava pensando direito. Eu agi no calor do momento. – respondeu, hostilmente – Eu estava apaixonada por você, Claire. Desde o nosso primeiro caso juntas. É por isso que te tratei tão mal no começo, porque eu percebi que não teria chances. – soltou, deixando-me em choque – Mas depois notei que mesmo sem a possibilidade de ficarmos juntas romanticamente, nós daríamos boas amigas. No entanto, aquele sentimento nunca sumiu. E depois de tudo o que aconteceu, eu decidi descontar minha raiva fazendo algo que eu sempre quis, contudo, se foi estranho para mim, quem dirá para você. Eu estou tentando seguir em frente, porque nós simplesmente não temos química como amantes. Talvez seja porque você gosta de homens, e não tem problema nenhum nisso, eu também gosto. É por isso que estou dando um chance ao Roger. Ele é um cara legal, e sinto que com ele posso desencanar de você. – finalizou, abaixando um pouco a guarda.

— Rebecca, desculpe... Eu não sabia... – falei, depois de passar algum tempo tentando digerir tudo o que ouvira. Algumas coisas estavam finalmente começando a fazer sentindo, de uma forma um pouco estranha.

— Sim, você sabia. Não tinha como não saber, Claire. Mas você preferiu ignorar, para não estragar nossa amizade. E eu entendo isso, de verdade. – disse com firmeza. Ficamos alguns segundos em silêncio, ambas pensativas. Eu realmente não sabia o que dizer, mas ela tinha razão. Eu desconfiara algumas vezes, mas preferi guardar minhas dúvidas para mim, evitando momentos estranhos como aquele que estávamos vivendo.

— Nós vamos voltar a sermos como antes? – indaguei, quebrando o silêncio, um pouco melancólica.

— Talvez demore um pouco, mas sim, nós vamos. É um processo. – afirmou, e eu assenti, voltando a calar-me. Nós duas ficamos quietas mais um pouco, até que ela continuou – Esse processo pode começar agora. – sentou-se no chão e deu alguns tapinhas ao seu lado, convidando-me a sentar-me – Relaxa, eu não vou te beijar de surpresa dessa vez. – brincou, e eu soltei uma risadinha sem graça. Talvez ainda estava muito cedo para zoar aquilo.

Sentei-me ao seu lado e encostei a cabeça na parede atrás de nós, encarando o teto em silêncio. Eu tinha um milhão de perguntas, que provavelmente eu nunca perguntaria. Então decidi esperar ela começar, já que aquilo era tudo culpa dela.

— Eu ouvi falar que seu paciente conseguiu um apartamento aqui. – disse, atingindo-me em meu ponto fraco logo de cara.

Tentei disfarçar a cara de tristeza, mas era quase impossível, já que aquilo vinha me atormentado por todo o mês. O fato de não ser mais bipada por aquele homem todos os dias, e de não tê-lo visto desde que dera um fora forçado nele, faziam meu coração apertar. Eu sonhava com ele todos os dias, mesmo lutando com todas as minhas forças contra aquele sentimento. Suas palavras, implorando-me para não deixa-lo ir, repetiam-se nitidamente em minha cabeça, e, de certa forma, eu me arrependia de não ter aberto meu coração e dito tudo o que sentia. Por outro lado, eu não podia contar a ela sobre metade das coisas pelas quais estava passando, porque eu sabia que ela iria me repreender, e não precisava daquilo.

— Sim, estou feliz por ele. – dei de ombros e forcei um sorriso, na tentativa de parecer imparcial quanto àquilo. Ela analisou-me com um olhar desconfiado, mas pareceu deixar aquela passar.

— Hm... – ergueu uma sobrancelha – Conte-me mais sobre seu caso de hoje. – sorriu com o canto da boca, e eu imitei seu gesto, voltando a animar-me. Comecei a conta-la nos mínimos detalhes, e parecia que todos os nossos problemas haviam sumido novamente.

Eu tinha certeza: tudo voltaria ao normal.

Nós, médicos, acordamos todos os dias torcendo para algo novo acontecer. Um novo desafio. Isso é bom, mas também pode ser destruidor. Porque quando nós falhamos, sentimo-nos um grande fracasso, e não é apenas nossa vida que é impactada. Por outro lado, quando obtemos sucesso... Ah, a sensação é incrível. Ver a felicidade de nossos pacientes e de suas famílias, não tem preço. Nem o maior salário do mundo se compara. Ir para casa sabendo que salvamos uma vida, é a melhor coisa do mundo. Nossa vida pode estar um caos, mas um desafio médico bem sucedido é até capaz de anular nossos problemas pessoais. Pelo menos por um tempo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Eu sei que sobre o relacionamento entre Claire e Rebecca, não é muito bem o que todos esperavam, mas eu realmente não as vejo como um casal em potencial. Perdão por fazê-los shippar as duas de alguma forma kkkkkk
Espero que tenham gostado, e um Feliz Natal! Beijos!
Sem querer ser chata, mas: Então é Natal, e o que você fez? Hahaha