Apenas mais uma história de amor escrita por calivillas


Capítulo 5
Depois daquele beijo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720826/chapter/5

No seu quarto, na mais completa escuridão, deitado na cama, Gabriel encarava o vazio, sem conseguir dormir, pois sua cabeça rodava, perdida e confusa em um turbilhão de emoções, relembrando a sensação da boca macia, suave e salgada pela pipoca de Nina na sua. Por tanto tempo, guardou aquele sentimento escondido e sufocado que poderia chamar de amor, sempre pensando que seria unilateral, que ela o considerava apenas como um bom amigo, um irmão, mas, agora, depois daquele beijo, tinha muitas dúvidas, uma leve esperança que Nina também sentisse o mesmo por ele. Mal podia esperar pelo dia seguinte para conversar com ela, esclarecer seus sentimentos, apaziguar com esse emaranhado de medos e receios que o afligia, já que não conseguiria continuar vivendo assim.

Nina entrou correndo no seu quarto, atirou-se na cama, agitada, querendo acalmar seu coração inquieto, enquanto a cabeça rodopiava, tonta, procurando uma explicação lógica para o que acabara de acontecer, mas não encontrava nenhuma resposta racional. Só tinha uma certeza, aquele beijo foi um erro, não podia ter sucumbido aquele momento cheio de emoções pairando a sua volta, relevar seus sentimentos dessa maneira. Teve vontade de beijar Gabriel, como já tivera tantas vezes antes, mas, sempre foi forte para não se deixar cair em tentação, porque tinha medo de perdê-lo e a sua amizade, que era tão importante para ela, deixando-se levar por um sentimento equivocado, naquele instante carregado de intensas emoções, aquilo não podia ser amor. Não sabia como poderia encarar Gabriel agora, seria melhor dar um tempo, esperançosa que logo ele esqueceria aquele beijo e tudo voltaria como era antes. Ela mesmo precisava de um tempo para pensar, tão perdida em relação aos seus próprios sentimentos, que não sabia explicar.

Assim a noite se arrastou, insone, para os dois, e quando a luz do dia chegou, atravessando as frestas das janelas, os encontrou com pensamentos e reações antagônicos sobre aquele beijo.

Por isso, no dia seguinte, começaram um jogo de gato e rato. Ele decidido a falar com ela de qualquer maneira, abrir e expor o seu coração e suas emoções, enquanto ela sem coragem de encará-lo, sem saber o que dizer ou entender o que estava sentido, se esquivava. Mas, é muito difícil fugir de alguém quando se mora no mesmo lugar. Então, para conseguir seu objetivo, Nina evitava ficar sozinha em casa, mesmo que seus horários na escola não ajudassem, usava vários subterfúgios para impedir um possível encontro, estava sempre na cozinha com a empregada, ia para casa das amigas, havia sempre muito trabalho a fazer e pesquisas na biblioteca, só voltava para casa quando sabia que um dos pais estaria lá. Várias vezes, ao longo do dia, Nina, acompanhada de alguém, encarava o olhar inquisitivo e de decepção de Gabriel, que a magoava bastante, mas tinha que resistir, pois não podia enfrentá-lo, não agora.

Nessa época, Nina andava meio distraída, seus pensamentos sempre estavam em outro lugar, procurando uma resposta, que jamais encontrava. Não revelou seu segredo para mais ninguém, nem mesmo para sua melhor amiga Lia, não queria explicar aquele sentimento, que ela mesmo não entendia o que era.

— Nina! Nina! – Durante o intervalo das aulas, Lia a chamou depois de fazer uma pergunta que pareceu não escutar. - O que está acontecendo com você?

— Como assim?

— Você anda esquisita! Muito estranha! Parece estar fora do mundo.

— Não é nada – Nina deu de ombros, fingindo indiferença.

— Eu conheço você. Tem algo errado – Lia deu um sorrisinho malicioso. – Você está gostando de alguém? Por que se estiver e não me contou nada, vou ficar muito zangada com você.

— Claro que não! – Nina bancou a ofendida. – Não é nada disso. Você está inventando coisas.

— E o seu irmão? – Lia perguntou, casualmente.

— O que? – Nina a encarou, assustado, achou que Lia desconfiasse de algo, pois era assim que ela chamava Gabriel. Aliás, a maioria das pessoas achavam que eles eram, realmente, irmãos.

— Há um tempão que não o vejo. Ele está cada vez mais gatinho – Lia declarou, com um sorrisinho maroto, Nina sentiu um aperto no peito.

Porém, naquele começo de tarde, não teve como fugir, achando que estava sozinha em casa, pois sabia que Gabriel teria aulas extras até mais tarde, os adultos estavam no trabalho e João na creche, estudava atenta aos seus exercícios e levou um susto ao perceber que era observada, olhou em direção da porta, para encontrar Gabriel ali, parado, de pé, fitando-a.

 - Você não deveria estar na escola? – Nina questionou, dissimuladamente casual.

— Deveria – ele respondeu, sem tirar os olhos delas.

— Como deixaram você sair sem autorização?

— Sai mais cedo, disse que estava doente, meu pai autorizou pelo telefone – Fez um breve silêncio. - Preciso conversar com você sobre a outra noite – ele disse e ela percebeu que caiu em uma armadilha sem saída.

— Não há nada para falar, aquilo foi um erro – Nina foi direta, tentando se proteger.

— Um erro? – Gabriel não podia acreditar naquelas palavras, avançou na sua direção, ela se levantou, ficaram parados frente a frente, olhos nos olhos.

— Sim, um erro. Não devíamos ter feito aquilo. A gente estava meio que envolvido, você falando da morte da sua mãe, criou um clima e aconteceu – Juntando toda a sua coragem e força de vontade, Nina respondeu, dando de ombros.

— Você está me dizendo que me beijou porque teve pena de mim? – ele questionou, abismado com aquela possibilidade.

— Não, mas você é o meu melhor amigo, meu irmão, parecia que estava sofrendo, então, não sei o que deu em mim, não pude resisti, mas foi errado – reafirmou, mesmo sabendo que era mentira, não era isso que sentia.

Ao percebeu uma nuvem de desilusão passar pelos olhos dele, ela sentiu um aperto no coração, no entanto, seria melhor assim.

— Entendo – Gabriel murmurou, sua voz era fria.

— Por favor, eu quero muito continuar a ser sua amiga! Não sei o que faria sem a sua amizade – ela suplicou.

— Tudo bem, eu ia falar a mesma coisa para você, que aquele beijo foi uma besteira, que não era para rolar. Que nós somos amigos e só isso – Gabriel reiterou com fingida animação. – Eu estava preocupado que você estivesse pensando outra coisa.

— Não, claro que não – Nina deu um sorriso que não refletiu nos seus olhos.

— Viu! Era por isso que precisávamos conversar, para esclarecer tudo, não ficar nenhum clima ruim entre a gente. Vamos esquecer toda essa história toda? – Ele lhe deu um sorriso torto e maroto, o coração da menina bateu mais forte.

— Já está esquecida! – Nina confirmou, demonstrando uma falsa segurança.

Mesmo com tantas promessas, nunca mais a relação deles foi como era antes, perderam aquela cumplicidade e a intimidade dos amigos, tornaram-se distantes, já que, entre eles, aquelas mentiras e sentimentos escondidos estavam sempre pairando, cresciam como um muro invisível, afastando-os cada vez mais. Seus olhos nunca se encontravam e quando faziam, mesmo em um breve instante, havia magoa e tristeza neles, apesar de tentarem disfarçar.

Sentindo-se cada vez mais incomodada com aquela condição de falsa indiferença dele, que a sufocava e a magoava, fingindo que estava tudo bem, uma ideia brotou na cabeça de Nina, e tomava vulto a cada olhar frio e no jeito insensível de Gabriel.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Apenas mais uma história de amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.