Apenas mais uma história de amor escrita por calivillas


Capítulo 21
No dia seguinte




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No dia seguinte, o pior dos pesadelos aconteceu, o colégio foi infestando de mensagens nas redes sociais, com um aluno repassando para o outro, a notícia sobre o bizarro e pecaminoso caso de incesto entre dois irmãos que estudavam ali, sem saber se era verdadeira ou não.

 “Vaca”

“Piranha”

“Pecadores”

“Vocês vão para o inferno”

Eram algumas das mensagens que abarrotavam os telefones de Nina e Gabriel, todo o dia, chegando a obrigá-los a mantê-los desligados.

Havia aqueles opositores que eram mais acintosos e os xingavam, pessoalmente, mas a grande maioria deles só lançava olhares rancorosos e de desaprovação. Assim ir para o colégio tornou-se um martírio ara os dois.

— Nós não somos irmãos de verdade – Nina repetia constantemente para as amigas, porém, era difícil acreditar, depois de tanto tempo achando o contrário.

Consequentemente, os alunos do colégio se dividiram em duas facções, uma menor que era a favor do amor do casal proibido e outra maior, comandada por uma nova Lia, renascida no ódio alimentado pela intriga e com sede de vingança, que era, ferrenhamente, contra a eles, quase como uma caça às bruxas, e que conseguia mais e mais seguidores a cada dia.

Isolados, acuados e sem saber como agir, Nina e Gabriel mantinham uma certa distância um do outro quando estavam na escola, para não alimentar ainda mais as intrigas e as especulações. E como nunca estavam juntos, essa atitude ajudava a diminuir as fofocas sobre o possível romance incestuoso, pois, sempre restava o benefício da dúvida. Mesmo assim, não tinham paz, havia sempre cochichos nas suas costas, olhares atravessados, irados ou de espanto, eram constantemente observados e julgados.

Naquele intervalo de aula, quando tudo parecia relativamente normal, havia uma certa tolerância velada no ar, que foi quebrada por uma brincadeira de mau gosto.

— E aí, Nina, por que a gente não pode ser como irmãozinhos e eu dou uns beijos e amassos em você? – Um dos garotos, mais atrevido, zombou, com sarcasmo, mesmo magoada, fingindo não escutar, a garota passou direto, sem olhar para trás, mesmo com as lágrimas lhe ardendo os olhos. – Vaca! – murmurou nas costas dela.

Porém Gabriel ouviu, havia chegado no limite de toda aquela situação humilhante, aguentando calado, todos os insultos e agressões, já que só faltavam alguns poucos meses para o ano letivo terminar e eles irem embora dali de vez, começando uma nova fase das suas vidas, no entanto, os nervos estavam à flor da pele e a paciência no limite.

— O que você disse?! – Ele se postou na frente do outro garoto, desafiador, os olhos em brasa, peito inflado, os punhos fechados.

— Qual é, Romeu? Vai defender a vaca da sua Julieta? – o garoto o instigou, com jeito debochado e queixo erguido, com ar prepotente.

Daí para frente, foi tudo muito rápido, o punho de Gabriel voou direto para a cara do outro garoto, que balançou para trás, perdendo o equilíbrio, segundos depois, recuperado da dor e da surpresa, ele se atirou sobre seu atacante e os dois rolaram no chão do pátio, entre socos e pontapés, cercados pelos os outros alunos que gritavam, torcendo contra ou a favor de um ou de outro, até que dois inspetores separaram os brigões, colocando-os de pé, em um estado lastimável, cheios de arranhões e hematomas e com as roupas rasgadas. Foram levados para a sala da diretora.

Na sala com um ar impessoal revestida de estante de livros multicoloridos e cartazes sobre educação, os dois garotos, lado a lado, olhavam para a mulher de cabelos curtos e escuros e uma expressão severa e desaprovadora, por trás dos óculos de aro preto.

— Eu, realmente, queria entender o que foi que aconteceu de tão sério para os vocês dois se engalfinharem, no meio do pátio, durante o intervalo, comportando-se como cães de briga, ao invés de alunos de uma das melhores e mais respeitáveis escolas da cidade? – a diretora questionou, mas os dois permaneceram calados, encarando o chão de linóleo verde.

— Eu não esperava isso de você, Gabriel – ela declarou, desapontada, porque sempre foi um aluno exemplar, porém, ele permaneceu impassível e em silêncio, encarando o vazio.

— Se é assim! – Ela se deu por vencida. – Os dois estão suspensos por três dias. Levem essa notificação para os seus responsáveis e tragam assinada por eles – ordenou, entregando uma folha de papel para cada um. – Agora, vão para casa!

À tarde, assim que chegou em casa, Nina correu para o quarto de Gabriel, que encontrou deitado na cama, olhando para o teto.

— O que aconteceu? – questionou, aflita

— Eu fui suspenso por três dias - informou, sem emoção na voz.

— O seu rosto! – Assustou-se ao ver o hematoma na bochecha esquerda dele, aproximando-se para ver melhor.

— Não está tão ruim assim! – ele desdenhou, com um sorrisinho cínico.

— E o que você vai dizer para os nossos pais?

— Que eu briguei na escola – Deu de ombros, com falsa indiferença.

— Mas, eles vão querer saber o porquê.

— Eu invento uma história.

— Por quanto tempo a gente vai poder esconder deles que estamos juntos, Gabriel? – Nina questionou, cansada de tantas mentiras e subterfúgios.

— Você viu como Lia agiu e o pessoal da escola, Nina.

— Mas, com Lia foi diferente, ela descobriu que nós mentimos, mesmo que fosse por uma boa causa, e ficou magoada e com muita raiva.

— Você é muito boazinha, Nina – Gabriel lhe deu um sorriso triste. - E se nossos pais, também, não entenderem? Eu tenho medo que queiram separar a gente –confessou, sentando-se na cama para encará-la.

— Separar a gente? Mas como? – Aquela ideia não passou pela cabeça de Nina, era absurda, mesmo assim dividiu o medo com ele.

— Eu não sei! Mandar você de volta para o Canadá para viver com seu pai.

— Não, minha mãe não faria isso comigo! – Nina balançou a cabeça em negativa, como se quisesse afastar aquele pensamento ruim, entretanto, sem muita certeza.

Naquela mesma noite, assim que chegou em casa, Rui foi direto para o quarto do filho, que já esperava por ele, quando bateu na porta e entrou com um jeito solene, o olhar sério e inquisidor caiu sobre o rosto marcado do filho, transformando-se em espanto.

— A escola me ligou, me disseram que você foi suspenso. O que houve, Gabriel? – perguntou, com falsa calma, sentando-se na cama diante do filho.

— Eu briguei na escola – Gabriel respondeu, sem rodeios.

— Mas por que? Você nunca foi assim! – Rui estava confuso.

— Divergências de opinião – deu de ombros, como se não fosse nada demais, rolar no chão da escola aos socos com outro garoto, Rui sentia-se, completamente, perdido diante daquele rapaz indecifrável.

— Eu sei que você está passando por uma fase difícil da sua vida, com a escolha da sua futura profissão, entrar na idade adulta, cheia de responsabilidades. Sei, também, que a culpa é um pouco minha, por andar um tanto distante, trabalhando demais. Mas, quero que entenda que sou seu pai, amo muito você e que pode contar comigo para o que der e vier, Gabriel – Rui disse, com sinceridade, olhando dentro dos olhos do filho.

Por um segundo, Gabriel teve vontade de contar toda sua história com Nina para o pai, revelar a verdade sobre o amor dos dois, mas não teve coragem, pois não conseguia sequer cogitar a hipótese de perdê-la.   

No meio da madrugada aproveitando o resto da casa adormecida, Nina foi ao quarto de Gabriel, deitou-se ao lado dele na cama, ficaram ali, quietos, abraçados, sem falar nada, apenas aproveitando a companhia e o calor do corpo um do outro, até o raiar do dia.

Esgotada e aflita, Nina chegou ao colégio, na manhã seguinte, sem saber o que aquele dia lhe reservava. A surpresa veio ao se aproximar do seu armário, havia algo escrito nele, em letras grandes, com batom vermelho. PIRANHA. Ela correu até lá e esfregou, com força e raiva, na tentativa inútil para apagar, borrando as letras e sujando a mão, queria segurar as lágrimas que insistia em correr pelo seu rosto. Atrás dela, ouviu indisfarçáveis risinhos debochados, sabia que eram suas algozes, Lia e outras garotas com quem andava ultimamente. Podia fazer como Gabriel, se atirar sobre elas e socá-las, arranhar suas caras, arrancar os seus cabelos, mas não adiantaria nada, só seria suspensa e os fatos chegariam mais rápido aos ouvidos dos seus pais.

— Não ligue para elas, Nina – ela ouviu a voz da sua amiga Maria ao lado dela. – Isso só as deixam mais forte. Vamos para a aula.


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