Shiawaze escrita por Marylin C


Capítulo 1
Happiness


Notas iniciais do capítulo

Oooooooi!

Não tenho muito o que falar aqui, só desejar um feliz ano novo pra todo mundo (ainda bem que 2016 acabou, né. ô aninho).

Aproveitem a leitura!



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A moça ria, uma taça de champanhe em suas mãos e a elegante maquiagem fazendo-a brilhar um pouco. O vestido azul que ela usava ressaltava suas curvas, e o penteado no cabelo ondulado destacava as mechas platinadas que também podiam ser vistas nos cabelos do rapaz ao seu lado. Ela ajeitou os óculos de armação quadrada, ainda rindo, e levantou-se. Observou os milhares de arranjos de flores brancas e luzes refletidas dos exuberantes lustres daquele salão, encarou a multidão vestida em ternos e vestidos de gala e então pousou os olhos em seu melhor amigo, que sorria encorajadoramente para ela na cadeira do lado. A atenção de todos foi trazida direto para ela, que corou um pouco antes de falar:

— Estamos todos aqui reunidos para celebrar a união desses dois malucos que eu amo. — apontou a taça de champanhe para o melhor amigo, vestido em um terno branco e com o braço pousado nos ombros do noivo, cujo terno negro contrastava com o do outro — É culpa de eu amar o Bo-san tanto assim que tenho essa cor horrível de cabelo desde a adolescência. — ela piscou para ele, que riu escandalosamente enquanto assentia — Como madrinha, é necessário que eu faça um desses discursos melosos no casamento do meu melhor amigo. E, bom, cá estou eu. Por favor, não riam muito da minha tentativa desastrosa de discurso.

Beatriz Fernandez pigarreou, tentando limpar um pouco a garganta, e recomeçou:

— Como vocês sabem, todos temos aquele amigo destinado a permanecer conosco até o fim. E digo isso literalmente, porque o universo tratou de nos dar essa conexão estranha onde temos as primeiras palavras que nosso amigo diz para nós gravada em nossos corpos — ergueu o pulso esquerdo, mostrando as muitas palavras escritas nele — e, cada vez que decidimos pintar nossos cabelos, os do amigo também ficam dessa cor. Isso é muito inconveniente, devo admitir. — lançou mais um olhar para o melhor amigo, que deu de ombros ainda rindo — Mas, se essa ligação não existisse, eu provavelmente não estaria aqui hoje, porque teria enlouquecido com todas as minhas paranoias e maluquices muito tempo atrás. O Bo-san aparecer na minha vida, com aquele senso de humor animado demais e os cabelos porcamente platinados por mim mesma, foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Exceto talvez o dia em que o Akaashi-san veio me perguntar o que fazer para pedi-lo em casamento, o que foi extremamente importante para mim. — piscou para rapaz de terno negro, que abriu um pequeno sorriso para ela.

 

Bea nunca o tinha visto daquele jeito. O rapaz de cabelos negros parecia, pela primeira vez na vida, nervoso quando batera em sua porta naquela sexta-feira chuvosa. Ele entrou e sentou-se ereto no sofá de três lugares que ocupava boa parte da sala da moça, logo tirando do bolso uma caixinha preta de veludo e pondo em cima da mesinha de centro.

— Quero pedir o Bokuto-san em casamento. — falou simplesmente, olhando para o chão — O que eu faço?

Beatriz riu, finalmente entendendo.

— Faça o que quiser, Akaashi-san. É o Bo-san, ele ama toda e qualquer coisa que você fizer para ele. — ela tinha dito, em um japonês quase perfeito de quem vivera no país por muitos anos — Só me diga o que você fará, para que eu possa documentar propriamente.

— Com isso você quer dizer espionar e gravar diversos vídeos para usar no dia do casamento? — o moreno perguntou, um leve tom de sarcasmo em suas palavras.

— Sim, é claro. — Bea replicou, sorrindo como uma criança para quem o Natal tinha chegado mais cedo. Pôs uma das mechas platinadas atrás da orelha, então indagando — O que você está pensando em fazer?

— Algo simples. Em um restaurante, provavelmente. Mas obrigado pela falta de conselhos, Bea-san. — ele revirou os olhos, pegando a caixinha de veludo de cima da mesinha e se levantando.

— Ei, espera! Deixa eu ver as alianças? — pediu a moça, ao que Akaashi assentiu antes de entregar a caixa. Ela encontrou dois simples anéis de ouro, o símbolo do infinito gravado no interior deles. — Boa escolha, Akaashi-san. — elogiou, sorrindo. Ele assentiu, um de seus raros sorrisos se formando.

No telão do lado esquerdo, as diversas filmagens que Beatriz tinha feito naquele dia começaram a ser reproduzidas. Os dois rapazes riam enquanto um Bokuto extremamente animado e feliz gritava enquanto pulava sobre um Akaashi risonho, chamando a atenção completa de todos os presentes no restaurante em que o pedido tinha sido feito.

— Devo dizer que foi bem fácil filmar com quadros bons desse jeito, já que o Bo-san é muito distraído. — Bea comentou, ao que todos os presentes riram. Fotos dos dois posando com as alianças inundaram a tela, enquanto uma música romântica fazia o rapaz de terno branco cantarolar baixinho no ouvido do noivo. O vídeo acabou e, depois das palmas de todos, a madrinha continuou o discurso — Estou pessoalmente muito orgulhosa de estar aqui hoje, apesar de tantos desencontros e brigas. Principalmente brigas. — encarou o amigo, os olhares de ambos subitamente marejados.

 

“Você não vai estar aqui para o nosso aniversário de amizade?” a voz magoada de Bokuto no telefone provavelmente abriu um buraco no coração dela, que teve de replicar:

— Não vou, me desculpe. Tenho muito trabalho aqui, não posso deixar tudo para o alto.

“É, mas não tem problema em deixar o seu melhor amigo na mão, não é mesmo?”

— Bo-san, eu...

“Você só trabalha, Beeeea! Não estava aqui no meu aniversário, nem no seu, nem mesmo no Ano Novo! E agora no nosso aniversário de amizade! Você...”

— Essa é minha vida agora, Bo-san! É horrível, eu sei, mas...

E a ligação ficou em silêncio, indicando que já não havia ninguém na outra linha. Beatriz jogou o telefone em sua cama, lágrimas desmanchando completamente a maquiagem recém-feita. Tirou os óculos, jogando-os de qualquer jeito sobre a escrivaninha, e abraçou a coruja de pelúcia que seu melhor amigo a tinha dado na primeira vez que os dois saíram juntos.

— Eu agradeço todos os dias pelo Akaashi-san não ter deixado meu melhor amigo sozinho como eu estava naquela época. O período em que eu trabalhei em Osaka¹ foi bem difícil para nós dois. — ela sorriu-lhe, piscando freneticamente para espantar as lágrimas — Mas nossa amizade sobreviveu àquilo, não por causa de algum laço místico que o universo nos deu, mas por causa dos nossos esforços em melhorar e nunca realmente perder o contato. Como daquela vez que você foi ver o meu último jogo de vôlei como estudante, mesmo já estando na faculdade e tendo uma prova superimportante naquele dia.

 

Ela estava na linha de fundo, a bola do jogo em suas mãos. Sua vez de sacar. Faltava um ponto para o setpoint da equipe adversária. Ela precisava acertar aquilo.

Bea percebeu a mão que sacaria tremer de ansiedade. Droga.

— Você consegue, Beeeeea! — ouviu então um conhecido grito, acima do burburinho da multidão e da torcida do time adversário. Olhou rapidamente na direção que ouvira o chamado, para encontrar o largo sorriso de Bokuto encorajando-a a dar o seu melhor. Ele conseguira aparecer!

Ela respirou fundo, finalmente acalmando-se, e então jogando a bola para o alto. No milésimo de segundo em que pulou para sacar, calculou a parábola que a bola deveria fazer para cair na área adversária e a quantidade de força que tinha que imprimir para aquilo acontecer. E ela soube, no segundo em que bateu na bola, que aquele tinha sido o melhor saque que já havia feito em seus três anos como ponta direita do time feminino de vôlei de Fukurodani.

Ace.

— Eu ainda me lembro do dia em que você finalmente percebeu o que sentia pelo Akaashi-san. — Beatriz continuou, ao que Bokuto riu de seu jeito escandaloso como sempre, murmurando um ‘Hey, hey, hey! Você vai realmente falar disso aqui?’ e ela riu junto — É claro que vou falar sobre isso, Bo-san. É uma das melhores histórias que eu tenho para contar.

No projetor, apareceram várias imagens dos dois amigos usando pijamas, numa guerra de travesseiros ou se lambuzando de um doce brasileiro que Bea o tinha feito experimentar: brigadeiro. O rapaz se viciara naquilo, já que brigadeiro é algo tão brasileiro quanto universal.

— Foi algumas semanas antes de eu e o Akaashi-san nos formarmos no colégio. Eu já suspeitava de que ele sentia algo a mais pelo Akaashi-san, já que, de cada dez frases, nove eram sobre ele e a que sobrava era sobre vôlei. Os exames de admissão das universidades tinham finalmente acabado, e eu e o Bo-san saímos para comemorar. Ele tinha encontrado esse ótimo izakaya² perto da universidade dele e queria muito ir lá comigo. Então nós fomos.

 

— Bo-san, quantos copos de saque você já tomou? — Bea perguntou, levemente preocupada enquanto mordia um pedaço de seu takoyaki.

— Não sei, oya. Alguns. — riu ele, se servindo de mais bebida. — Bebe mais um, Beeeea.

— Estou bem, obrigada. — ela recusou, rindo um pouco. Os dois continuaram a comer, beber e conversar, sentados ao balcão do bar-restaurante. De repente, Bokuto parou de rir. Beatriz perguntou-o o que aconteceu, ao que ele respondeu com um sonoro:

— Quero o Kaaashi. Sinto falta dele.

— Você quer quem? — ela indagou, sem entender. Seu amigo estava claramente bêbado, mas ele era do tipo de pessoa que, quando bebia, ficava ainda mais honesto com os sentimentos que o normal.

— Você sabe quem é. Levantador, meio inexpressivo, do seu ano. Kaaashi.

Bea então sorriu, discretamente puxando o celular para gravar aquilo.

— Você quer quem mesmo, Bo-san?

— O Kaaashi. Ele cheira bem e é bonito.

— E eu não sou essas coisas?

— Você é menina. E é minha melhor amiga.

— Ele não é seu amigo?

— Sim, mas eu queria mais.

— O que você queria?

Ele pareceu pensar por alguns segundos, seu raciocínio nublado pelo álcool, até que respondeu:

— Eu queria abraçar ele e nunca mais soltar. E beijar ele, claro. Ele deve beijar muito bem.

— Por que você acha isso?

Bokuto tentou encontrar uma boa resposta para aquilo, mas acabou apenas pondo a cabeça no balcão e lamentando sobre a falta que Akaashi fazia. Beatriz achou por bem parar de filmar ali e levar o amigo para casa. O interrogaria na manhã seguinte, quando ele estivesse sóbrio.

Todo o salão, sem exceção, ria diante do vídeo que aparecera no telão. Beatriz tivera o trabalho de documentar e guardar aquele momento. O riso de Bokuto era escandaloso, ao mesmo tempo que ele tinha as bochechas e orelhas vermelhas com a vergonha. Akaashi, numa explosão de felicidade que reservara exclusivamente para aquela ocasião, ria de maneira discreta.

— E, bom, essa é a hora que eu devo terminar meu discurso dizendo o quão adoráveis esses dois são juntos. — Bea falou, depois de algum tempo gargalhando junto com os outros, apontando com a taça de champanhe para o casal — Mas vocês provavelmente já sabem disso, senão não estariam aqui. Então eu só vou dizer que os dois são duas das pessoas mais importantes que já passaram pela minha vida e que eu estou imensamente feliz de ver vocês aqui, nesse salão extremamente bem decorado, jurando amor eterno um ao outro. Porque eu sei que é de verdade, assim como eu sei que o sol nasce pelo leste. Contem comigo sempre, certo? Amo muito vocês.

E ela sentou-se sob os aplausos de todos, recebendo um dos abraços de urso de seu melhor amigo e um olhar aprovador de Akaashi. Depois de todos aqueles anos convivendo com aqueles dois, a única coisa que os desejava era toda a felicidade do mundo. Isso não era pedir demais pelo seu melhor amigo, certo? Principalmente porque ele já a desejara o mesmo tantas e tantas vezes, mesmo na primeira vez que realmente saíram juntos.

 

— Eu honestamente não sei para onde estamos indo, Bo-san. — ela falou enquanto era praticamente arrastada pelo atacante de cabelos platinados pelas ruas de Tóquio. Fazia uma semana que eles tinham se encontrado, e Bokuto insistira em levá-la para um lugar divertido naquele fim de semana. — Eu deveria estar em casa, fazendo meus deveres.

— Sua mãe deixou, não deixou? Vamos logo. — foi a resposta dele, continuando a puxá-la por um caminho tortuoso que ela não reconhecia mais. Ela o seguiu, finalmente aceitando que não iria estar em sua casa confortável por pelo menos mais algumas horas e esperando que o que quer que seu novo amigo estivesse planejando não fosse muito perigoso. Subitamente ele parou, fazendo-a estacar também. — Feche os olhos agora, sim?

— Para que eu tenho que... Bo-san! — ela reclamou quando ele próprio tapou os olhos dela com as mãos.

— Só confia em mim. — ele pediu, guiando-a daquele jeito por um caminho que ela não poderia mais nem sequer tentar reconhecer. Alguns metros e tropeções mais tarde, ele finalmente largou-a. — Chegamos!

Ela abriu os olhos para observar, maravilhada, as milhares de luzes que iluminavam os brinquedos coloridos do parque de diversões que aparecera diante dos dois. Crianças riam com seus pais enquanto jovens casais namoravam e amigos gritavam nos brinquedos mais radicais.

— Isso é incrível. — ela suspirou de divertimento, antes de Bokuto puxá-la para o primeiro brinquedo que chamara sua atenção: uma daquelas máquinas de pegar bichos de pelúcia.

— Só quero começar uma amizade com algo divertido e feliz, já que eu já sei que você merece toda a felicidade do mundo. — foi a explicação dele no final da noite, quando ela indagara o porquê de ele tê-la levado lá.

Aquela foi, sem dúvida, uma das noites mais divertidas da vida de Bea até aquele momento.

 

 

Dez anos atrás

A garota olhava-se no espelho de seu pequeno banheiro, o vidro de água oxigenada em suas mãos. O resto dos materiais que ela iria precisar estavam espalhados na pia, o celular já aberto na página da internet que ela encontrara para fazer o que queria. Tudo estava preparado. Só lhe faltava um pouco de coragem.

Sua mãe apareceu na porta do banheiro.

— Como é, Bea? Você vai fazer isso ou não? — ela perguntou, prendendo os próprios cabelos escuros em um rabo de cavalo alto.

— Você tem certeza de que eu deveria? — a mais nova indagou, olhando a mãe pelo espelho. A mulher sorriu.

— O cabelo é seu, quem vai viver com ele é você. Se quer saber, acho que vai ficar interessante. E vai ser mais fácil de encontrar seu melhor amigo, não é? Caso ele esteja na escola. — deu de ombros.

— Você não está ajudando, mãe. — afirmou, ao que a outra riu.

— Se precisar de ajuda, estou na sala assistindo o final da quinta temporada de Castle. — anunciou antes de deixar o banheiro. A garota respirou fundo e então assentiu para seu reflexo no espelho. Penteou o cabelo para trás, como o passo-a-passo dizia, e pôs a touca de silicone. Depois misturou a água oxigenada com o pós descolorante, pensando no quão maluca ela estava sendo.

Na manhã seguinte seria seu primeiro dia no Ensino Médio de uma escola próxima à sua casa. Mas o problema é que ela era uma brasileira, mineira de nascimento, no Japão. Japão!

A escola ficava em Tóquio, onde ela morava, e ainda não tinha decorado o nome da mesma. Só sabia que terminava em ‘dani’. Os anos de japonês que teve no Brasil não a tinham preparado psicologicamente para chegar numa escola nova já falando a língua. Mesmo que japonês fosse quase sua língua materna, do tanto que sabia. E mesmo que ela fosse metade japonesa, já que seu pai nascera na província de Miyagi e fora para o Brasil trabalhar. Ainda assim, a perspectiva de ser excluída ou de não entender uma única palavra do que eles diziam ainda a aterrorizava.

Ela pegou a agulha de crochê que pedira emprestado a sua avó, resolvendo que faria os fios platinados mais ou menos grossos e então puxando as mechas pelos buracos da touca. As palavras tatuadas em seu pulso direito a fizeram parar por alguns segundos, lendo-as mesmo que já as tivesse decorado há muito tempo. As primeiras palavras que seu futuro eterno melhor amigo a diria no dia em que se encontrassem pela primeira vez. A coisa maluca que fazia em seu cabelo era em prol disso: de encontrá-lo, caso estudasse na mesma escola que ela iria. Ele acordaria no outro dia com o cabelo da mesma cor que o dela, e não teria como remover a tintura até que ela a removesse. Quer dizer, caso ele não pensasse em pintar por cima. Então o cabelo dela iria atingir a cor que ele tivesse colocado e...

Bom, pensar aquilo tudo era inútil. Ela já tinha começado, e não pararia. Pôs a mistura de pó descolorante e água oxigenada nas mechas que tinha puxado para fora, pensando no dia em que ela tinha aceitado aquela maluquice de vir morar no Japão com sua mãe. Sendo que seu pai, japonês, tinha ficado no Brasil. Para que fazer sentido, não é mesmo?

A verdade é que iria a qualquer lugar com sua mãe, que era uma pessoa maravilhosa. Mas ela aceitara uma proposta de trabalho no Japão, então lá estavam as duas morando em um pequeno apartamento em Tóquio. Como a garota tinha tanta certeza de que seu futuro eterno melhor amigo era japonês? Fácil: as palavras escritas em seu pulso eram kanjis. Kanjis extremamente mal feitos, mas ainda assim kanjis.

— Já acabou, Beatriz? — Eleonora entrou novamente no banheiro. Ela parecia mais nervosa que a filha.

— Tenho que ficar quarenta minutos com essa coisa no cabelo para depois tirar. Já acabou Castle?

— Sim. Vou começar a sexta temporada agora. Vamos. — mãe e filha, esta parecendo que tivera o cabelo lambido por uma vaca, se aninharam juntas na cama do quarto de Bea e começaram mais um episódio da série enquanto a descoloração agia.

***

— Meu Deus, que coisa horrível! — Bea anunciou no outro dia de manhã, olhando-se no espelho. Acordara como um zumbi, sua mãe chamando-a e avisando que ela ia se atrasar para a escola no seu primeiro dia. Ela grunhira e só se arrastara até o banheiro para um banho rápido, finalmente acordando e então notando o terrível caos que seu cabelo se encontrava. — Eu pareço uma zebra!

Eleonora, da cozinha, riu sozinha com a comparação da filha e a esperou superar o choque para então apressá-la. As duas comeram juntas, sentadas à mesa da sala enquanto discutiam o que fariam com o cabelo da mais nova.

— Não dá tempo de tingir por cima. Vai ter que ficar assim, pelo menos até você voltar da escola. — a mãe afirmou, ao que Bea gemeu. Seu desespero era maior agora que o que sentira ontem, que a tinha levado a fazer aquela monstruosidade com seu cabelo. — Agora vá. Você vai chegar atrasada se não sair agora.

E assim Beatriz saiu, os cabelos presos em uma trança firme para disfarçar e os óculos de armação quadrada a impedindo de ficar cega. Não precisou andar mais de quatro quarteirões até a escola, e teve que parar alguns segundos para entender os kanjis que davam o nome a ela: Fu-ku-ro-da-ni.

Apresentou-se na coordenação, falando em um japonês rápido e nervoso, e a secretária a dera seu horário de aulas e a lista dos possíveis clubes que ela poderia entrar. Seus olhos saltaram para o clube de voleibol feminino. Parecia tentador.

Bom, deveria se apresentar logo na sala 2 do primeiro ano do Ensino Médio antes que as aulas começassem e ela estivesse oficialmente atrasada. O problema era: como encontrar a maldita sala naquela imensidão de escola?

Ela olhou em volta, finalmente deixando a sensação de estar perdida envolvê-la. Andou a esmo algum tempo, sem pensar que poderia simplesmente voltar na coordenação e pedir direções. Acabou indo parar no pátio da escola, onde grupos de alunos conversavam animadamente. Se sentindo mais sozinha do que nunca, virou-se para voltar pelo caminho que tinha vindo muito bruscamente e esbarrou em alguém mais alto que ela. Era uma garota de cabelos negros e olhos muito verdes que derrubara uma bolsa e uma bola de vôlei com o impacto.

— Me desculpe! — Bea pediu rapidamente, abaixando-se para pegar a bolsa enquanto a garota corria atrás da bola, que havia quicado para longe.

— Está tudo bem. — a desconhecida sorriu logo ao voltar. — Você também é nova aqui?

— Sim. Você sabe onde é o corredor do primeiro ano? — a de cabelos porcamente platinados perguntou à outra, que assentiu.

— Sei sim. Eu estava indo para lá agora. Quer ir junto?

— Claro! — ela falou, aliviada — Aliás, meu nome é Beatriz Fernandez. Sou da sala dois.

— Tsuji Miya. Também sou da sala dois. Prazer em conhecê-la. — foi a resposta da garota, o que tranquilizou Bea ainda mais. Ela mal começara e já tinha uma amiga! Ou pelo menos aquela Miya aparentava servir como boa amiga. As duas foram andando para cruzar o pátio, já entretidas em uma conversa sobre vôlei, sem notar o garoto de cabelos porcamente platinados que ria com os amigos a um canto.

— Hey, hey, hey! Eu estou falando para vocês! Adorei isso! — Koutarou Bokuto ria, passando a mão pelos cabelos — Eu acordei assim de manhã. Deve ter sido meu futuro eterno melhor amigo que fez isso no próprio cabelo.

— Você realmente tem algum problema, Bokuto. — um dos rapazes falou para o amigo, que não se deixou abalar e continuou animadíssimo com seu novo visual.

— Eu realmente espero que ele fique com esse cabelo por muito tempo, onde quer que ele esteja!

***

Era a hora do intervalo em Fukurodani, e as mesinhas de inscrição para os clubes já estavam a postos no pátio. Bokuto se dirigiu à mesa da equipe de vôlei masculina, cumprimentando o capitão que já estava lá e começando a chamar a atenção para as inscrições. Olhares estranhos para o atacante de cabelos platinados não foram dirigidos, já que a maioria das pessoas estava acostumada a ver pessoas desesperadas por encontrarem suas metades fazerem as maiores loucuras com o cabelo. Bokuto notou duas garotas com cabelos igualmente azuis passarem conversando, tentando não ficar animado demais com a possibilidade de encontrar quem quer que tivesse sido destinado a ficar junto com ele. Observou a única palavra escrita em seu pulso, um romanizado ‘Ah’. Uma interjeição que pode exprimir uma vasta gama de significados, como alegria, admiração, espanto, ironia, desejo, entre outras. Poderia significar qualquer coisa.

Ele cumprimentou as garotas da equipe feminina de vôlei, que tinham montado sua mesa de inscrições ao lado da dele, e então a viu. Andava apressadamente com outra garota para atravessar o pátio e, mesmo que a trança disfarçasse um pouco, as mechas platinadas ainda podiam ser percebidas. Bokuto sorriu. Finalmente tinha encontrado.

Começou a correr, tentando não perder a garota de vista em meio à multidão, quase atropelando um primeiranista de cabelos escuros que estava indo para a mesa da equipe masculina de vôlei.

Por fim alcançou-a, quando ela estava prestes a virar no corredor do primeiro ano. Tocou o ombro dela, que se virou para arregalar os olhos. A amiga riu, ambas sem dizer nada.

— Então é você que foi destinada a ser minha melhor amiga, já que ninguém aqui tem um estilo tão incrível quanto o seu, bom, o nosso, já que eu adorei esse platinado. Você vai mantê-lo, não vai? Ficou muito bom no meu cabelo, você não acha? — ele falou tudo isso muito rápido, em um fôlego só, de tão animado que estava. — Meu nome é Koutarou Bokuto, sou segundanista e estou no time de vôlei do Fukurodani, jogo de ponta. Qual o seu nome?

A garota de cabelos platinados estava embasbacada. Não conseguia arrumar as palavras certas. Simplesmente estava feliz demais e chocada demais em seu plano ter realmente funcionado. Ao ser acotovelada por Miya para dizer alguma coisa, tudo o que conseguiu emitir foi uma exclamação de surpresa:

— Ah!


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Notas finais do capítulo

Coisas importantes:
¹Osaka: uma das maiores cidades japonesas. Depois de Tóquio e outras, é claro. Escolhi ela porque fica do lado oposto a Tóquio, hehehe.
²Izakaya: é um bar japonês que serve porções para acompanhar as bebidas, principalmente o sake. Hm, digamos que é um pub japonês. Para saber mais: http://www.japaoemfoco.com/izakaya-os-bares-tradicionais-japoneses/
³Takoyaki: bolinho frito de polvo.

Acho que é isso. Espero que tenham gostado ♥



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